O Comitê de Política
Monetária (Copom) se reúne esta semana em situação menos tensa do que em meados
de junho, quando havia apostas no mercado de renda fixa acerca de uma iminente
elevação da Selic. O encarecimento do dólar, que chegou próximo a R$ 4,00, os
problemas de abastecimento devidos à crise dos transportes, agravados pela
elevação das tarifas de energia sugeriam a possibilidade de aceleração da inflação,
motivando operadores – nem tanto os economistas – a acreditarem na necessidade
de reação imediata do BC.
Houve, é claro, efeitos
bastante negativos sobre a inflação de curto prazo. Os números relativos a
junho foram feios, para dizer o mínimo. O IPCA, índice oficial de inflação,
chegou a 1,26%, não só o mais alto desde janeiro de 2016, mas também o maior
para o mês em todo o período do regime de metas, levando a inflação em 12 meses
para 4,4%, bem próxima ao objetivo deste ano (4,5%).
Apesar disto, o virtual
consenso, ao menos entre os economistas, aponta para a manutenção da taxa Selic
agora, bem como nas próximas reuniões. Esta relativa tranquilidade resulta, em
parte, de indicações que sugerem que o choque de junho vem se dissipando
rapidamente.
De acordo com o Boletim
Focus, por exemplo, a inflação deve ficar próxima a 0,3% em julho e
0,1% em agosto. Da mesma forma, medidas de inflação menos sujeitas aos humores
de preços voláteis (“núcleos” de inflação, segundo o jargão) mostraram números
bastante inferiores aos registrados pelo IPCA propriamente dito, sugerindo que
a maior parte da feiúra de junho esteve relacionada a fenômenos que não devem
contaminar a inflação de maneira persistente nos próximos meses.
No entanto, a calma não
vem apenas do comportamento da inflação no curto prazo, mas crucialmente do
desempenho das expectativas para prazos mais longos. É claro que o número de
junho pesou na previsão da inflação para 2018, que veio de 3,5% em maio para
4,1% em julho. Todavia, as projeções para 2019, 2020 e 2021 se mantiveram
praticamente inalteradas (houve leve aumento da expectativa para 2019, de 4,0%
para 4,1%), e muito próximas às metas para aqueles anos.
Para usar a expressão
consagrada pelo Copom, as expectativas de inflação se mantiveram “ancoradas”,
isto é, estáveis e ao redor das metas, fenômeno que, auxiliado pela
considerável ociosidade na economia, limita em muito o potencial de repasse dos
efeitos inflacionários do dólar mais alto e dos demais choques que se
materializaram em junho.
Expectativas ancoradas
marcam a diferença do ocorrido agora e do observado em 2015 e 2016, quando,
apesar a queda abrupta de atividade, houve repasse tanto da deavalorização da
moeda como da correção de preços administrados. Naquele momento as expectativas
para os anos posteriores se afastaram ainda mais da metas, apontando para a
percepção de perda de controle por parte do BC, estimulando desta forma o
contágio da inflação.
Conseguir, porém, que
as expectativas permaneçam estáveis e próximas à meta não depende de sorte, mas
de um conjunto de decisões anteriores que revelaram o compromisso do BC com a
meta.
A atual diretoria o
fez, assim como a diretoria que antecedeu a desastrosa gestão de Alexandre
Pombini. Não por acaso ambas conseguiram reduzir a taxa de juros em face de
crises severas, enquanto Pombini teve que fazer o oposto.
A virtude se paga, mas
é necessário exercê-la.
(Publicado 01/Ago/2018)
1 comentários:
Bem, considerando o perído eleitoral e os tenbrosos debates de candidatos que, salvo erro, deverão ainda ocorrer, as expectativas sobre a economia não podem ou não conseguem atingir as menores, pior, as menos otimistas expectativas sobre o que há por vir. Ou há de vir, dado o que se ouve em tais eventos, em leituras de entrevistas, opiniões de apoiadores e até mesmo de contrários. Em suma, seria lícito pensar que teremos mais do menos infelizmente a sair das próximas eleições. Estas já às portas.
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