Por que o dólar subiu
tanto? Fácil: porque passei 10 dias no exterior (Portugal, participei de prova de ciclismo no Douro, incrível, obrigado
por perguntar) e sempre que viajo para fora o dólar dá um jeito de subir, pelo
menos até que pague a fatura do cartão do crédito...
Entendo, porém, que nem
todo mundo compartilhe minha opinião. Neste caso, o melhor é olhar o que está
acontecendo globalmente com o dólar, que tem se valorizado face às demais
moedas mundiais, embora, é claro, não na mesma proporção. Um euro, por exemplo,
comprava cerca de US$ 1,24 há cerca de um mês; hoje compra menos do que US$
1,20.
Parte do fortalecimento
da moeda norte-americana se deve às tensões geopolíticas. O dólar costuma ser
visto como um porto seguro para aplicações, mesmo quando os EUA estão no centro
da turbulência, seja ela política, como hoje, seja econômica, como, por
exemplo, durante a crise financeira no final de 2008.
Outra parte da história se deve à
percepção que a inflação americana, ainda que permaneça em patamares
relativamente baixos, finalmente começou a se mover.
Assim, o IPC, deduzidos
alimentos e combustíveis, ultrapassou a marca de 2% nos últimos 12 meses pela
primeira vez desde fevereiro do ano passado. A medida favorita do Federal Reserve, o deflator do consumo
(também livre de alimentos e combustíveis) segue um pouco abaixo disto (1,9%
nos 12 meses até março), mas a tendência de elevação é também visível.
Obviamente não se trata
de aceleração descontrolada, longe disto, mas tais números se traduzem em
probabilidades mais elevadas de aumentos da taxa de juros americana além do que
era esperado no começo do ano. Assim, a taxa de juros de 10 anos do Tesouro
americano, que embute as perspectivas de alterações das taxas de juros mais
curtas, veio de 2,5% aa para 3,0% aa do começo do ano para cá.
Aos poucos, portanto,
as condições financeiras vão finalmente se normalizando, 10 anos depois da
crise de 2008. Isto significa que a enorme liquidez mundial que caracterizou
este período deve declinar gradualmente, processo liderado pela economia cuja
recuperação foi mais longe, os EUA, o que, naturalmente, implica dólar mais
forte.
A reação de cada moeda,
contudo, não deve ser, a princípio, a mesma, muito embora o impulso original o
seja. Características específicas de cada país, como a extensão do seu
desequilíbrio externo (portanto a necessidade de recorrer a capitais internacionais),
ou problemas fiscais, modulam a resposta das moedas à mudança internacional.
Assim, moedas de países
com elevados desequilíbrios externos, como a lira turca, sofreram forte
desvalorização.
Já no caso do Brasil o
problema é, como de praxe, fiscal. A dívida governamental já ultrapassou 75% do
PIB e o déficit operacional recorrente do setor público permanece na casa de 5%
do PIB.
Mais relevante, porém,
do que os números é a noção que o quadro político não colabora para a solução
dos desequilíbrios nas contas públicas. Pelo contrário, o que se vê é o
predomínio da hostilidade ao processo reformista e, portanto, a desvalorização
da moeda.
Prevalece, apesar
disto, o fato do país ser credor em moeda estrangeira, fenômeno que limita a
realimentação da fraqueza do real para os balanços dos setores público e
privado. Isto não soluciona a questão fiscal, mas ganha tempo para o país
decidir se irá (ou não) tomar o rumo correto.
(Publicado 9/Mai/2018)
5 comentários:
Sobre Estados que regrediram Turquia pode virar uma Venezuela ou uma Argentina, qual seria o cenário, uma ditadura quebrada ou um país cambaleante?
É uma questão trivial, mas gostaria de saber: você levou a sua bicicleta daqui ou comprou uma lá?
"você levou a sua bicicleta daqui ou comprou uma lá?"
Aluguei lá. Ano passado levei a minha para o Granfondo NY e dá muito trabalho, ainda mais se for esticar depois da prova.
Olá Alex! Parabéns pelo artigo! Está excelente e muito explicativo!
Apenas uma curiosidade trivial também, o senhor ainda é professor universitário? Alguns meus falam muito bem do senhor
Abraço do admirador,
Roberto Luís
Alex, chegaremos a 5,00 R$/USD?
Obrigado.
Postar um comentário