Quando falamos do
mercado de trabalho no Brasil há números para todos os gostos: a taxa de
desemprego, que havia caído a 11,8% em dezembro, subiu para 13,1% em março,
culpa, claro, da reforma trabalhista. Por outro lado, houve criação de 195 mil
postos de trabalho formal no primeiro trimestre do ano, prova inequívoca que a
reforma trabalhista teve resultados extraordinariamente positivos. Onde está a
verdade?
Ora (direis), se buscamos
a verdade nos dados, é preciso entendê-los. A começar porque, como escrevi uns meses atrás, o comportamento do
mercado de trabalho não é uniforme ao longo do ano, o que, aliás, é uma
característica de quase tudo que interessa na economia.
Não tenho dúvida, por
exemplo, que ririam de quem afirmasse que a economia estava “bombando” no final
do ano passado porque as vendas no varejo em dezembro cresceram 23% na
comparação com novembro (“e o Natal, cara-pálida?”), ou de quem tomasse a queda
de quase 11% da produção industrial no mesmo intervalo como evidência de uma
profunda recessão em curso (“e o Natal, cara-pálida?”).
Fato óbvio, mas
negligenciado quando se fala do mercado de trabalho, é que há um comportamento
sazonal visível nas variáveis econômicas: vendas crescem no Natal, a produção
industrial cai durante o carnaval e, no caso do emprego e do desemprego, as
coisas não são diferentes.
Tipicamente a taxa de
desemprego sobe de dezembro a março e aí cai gradualmente para atingir o menor
nível do ano em dezembro, quando então reinicia o ciclo. Processo semelhante
ocorre com a criação de empregos formais, exceto que, por questões de registro,
é em dezembro que costuma haver forte queda do emprego formal, mesmo em anos de
grande expansão (em 2010, por exemplo, ano em que foram criados mais de 2
milhões de postos, houve retração de cerca de 400 mil em dezembro).
Há duas formas de lidar
com o problema. Ou comparamos sempre com o mesmo mês do ano anterior (e perdemos
a informação do que ocorreu no meio do caminho), ou fazemos o que se
convencionou chamar de ajuste sazonal, isto é, “limpamos” por meios
estatísticos as flutuações puramente sazonais, o que nos permite concentrar no
comportamento “real” da série.
No caso, o desemprego
de 13,1% em março deste ano compara-se a 13,7% no mesmo mês de 2017, redução de
487 mil no número de desempregados. Já fazendo o ajuste sazonal notamos que o
desemprego atingiu um pico de 12,9% no primeiro trimestre de 2017, caiu para 12,8%
no segundo trimestre, 12,6% no terceiro, registrou um leve aumento para 12,7%
no quarto, e voltou a cair para 12,3% no primeiro trimestre deste ano.
Da mesma forma, a
geração de empregos formais foi negativa até o terceiro trimestre do ano
passado, voltando a terreno positivo no quarto trimestre (134 mil postos) e no
começo deste ano (106 mil).
Houve, portanto,
redução modesta do desemprego desde o começo de 2017, e retomada, também
moderada, das contratações formais, esta última fenômeno mais recente, desenvolvimentos
que reforçam a percepção de uma economia que se recupera lentamente.
A propósito, nada disto
guarda qualquer relação com a reforma trabalhista, cujos efeitos só devem se
materializar em prazos bem mais longos, mas serve para ilustrar como o debate
econômico não progride se não houver um pouco mais de entendimento dos números
e um pouco menos de desonestidade por parte de alguns analistas.
(Publicado 2/Mai/2018)
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