De 1980 para cá,
período para o qual dispomos de dados razoavelmente consistentes para o PIB
trimestral, o Brasil passou por oito recessões, segundo o belo trabalho de datação dos ciclos
econômicos realizado pelo CODACE. Em 49 destes 151 trimestres estivemos em
recessão, instabilidade que, se não é causa última do nosso fraco desempenho do
ponto de vista de crescimento, certamente ajuda a entender fenômenos como a
cautela empresarial no que diz respeito a decisões de investimento.
Parafraseando Tolstói, porém, a cada
recessão somos infelizes de uma maneira. Das oito mapeadas pelo CODACE, cinco
foram ou breves, ou pouco profundas, quando não breves e pouco profundas. Apenas três delas, portanto, tiveram a honra de
serem, simultaneamente, longas e profundas: a associada à crise da dívida
externa no início dos anos 80; a que conjugou o desastroso fim do governo
Sarney à não menos desastrosa política econômica do governo Collor; e,
finalmente, a herança da Nova Matriz do governo Dilma, da qual emergimos apenas
no começo do ano passado.
Nesses três casos a
queda do PIB ficou ao redor de 8,5%, e sua duração variou de 9 a 11 trimestres.
Já no que tange as recessões menos graves, a queda do PIB variou de 1% a 6% (a
recessão de 2008-09, mas que durou apenas dois trimestres), média de 3%, com
duração entre dois e seis trimestres (em média pouco menos de um ano).
Não chega a ser
surpreendente, portanto, a diferença entre os dois tipos de recessão no que se
refere à recuperação da economia.
Definindo, de maneira
um tanto arbitrária, a recuperação como o retorno aos níveis de produto
observados imediatamente antes da recessão, observa-se que, no caso das
recessões moderadas, o prazo fica entre 2 e 3 trimestres após o fim da recessão,
ou seja, uma recuperação bastante rápida.
Contudo, nos dois
exemplos de recessões longas e profundas, a retomada dos níveis de produção
anteriores à crise demorou 7 e 10 trimestres. Em que pese o tamanho limitado da
amostra, nossa experiência com as grandes recessões aponta para uma recuperação
bem mais demorada, em parte pela própria distância maior em relação ao pico
anterior, mas também por conta de uma velocidade de escape que parece ser bem
menor do que no caso das recessões moderadas (com somente duas observações a
média deve ser tratada com muita cautela).
O motivo por trás da
lentidão aparente requer um tanto mais de estudo (a começar por dados mais
detalhados de contas nacionais), embora haja candidatos óbvios ao papel de
vilão da história (enorme capacidade ociosa, elevado endividamento de famílias
e empresas, e crises políticas, entre outros).
Isto dito, porém, à luz
da história dos últimos 38 anos, não parece razoável imaginar uma saída rápida
da recessão de 2014-2016. Pelo contrário, os dados disponíveis até agora
apontam para um padrão de recuperação muito semelhante ao das grandes recessões
de 1981-83 e 1989-92, isto é, o retorno ao pico anterior à crise provavelmente
apenas em 2019.
Neste sentido, apenas a
famigerada desonestidade daqueles mesmos que juravam que a recessão não
seria superada pode explicar a nova trincheira, que agora reclama da velocidade da
recuperação,
ignorando tanto a história como os estragos causados por sua própria política
desastrosa.
Hmpf,
tá, voltou a crescer, mas a recuperação é muito lenta...