Andei investigando
crime e policiamento. Em 1.323 episódios cobrindo 119 países descobri que não
há relação alguma entre estes fenômenos. O maior caso de sucesso foi a redução
do policiamento: em 62,18% dos casos o crime caiu quando isto ocorreu. Em
contraste, em apenas 50,75% dos casos em que houve aumento do policiamento o
crime caiu, enquanto em 53,45% dos casos em que não se mexeu no policiamento o
crime caiu da mesma maneira.
Conclui-se, assim, que
gastos com policiamento representam apenas uma transferência de renda para
grupos privilegiados. (Segundo Daniel Cerqueira, do IPEA, gastos com segurança pública
equivaliam a 5,4% do PIB em 2014, quase 11 vezes o gasto com o
Bolsa-Família naquele ano).
OK, já posso parar a
brincadeira, torcendo para que nenhum dos 18 leitores tenha desistido ali pelo
final do primeiro parágrafo: é óbvio que policiamento tem relação estreita com
criminalidade (na verdade duas, e este é o
problema).
Não há dúvida que o
aumento do policiamento reduz a ação criminosa. No entanto, em geral, mais
policiamento não é uma decisão independente da criminalidade: o poder público
reage ao aumento dos crimes botando mais polícia na rua.
O pesquisador ingênuo
que observa apenas a correlação entre um fenômeno e outro não demora a notar
que esta parece ser zero. Há casos em que o crime aumenta quando há mais
policiais na rua (espelhando a segunda relação) e há casos em que a elevação do
policiamento reduz a criminalidade (a primeira relação), o que leva ao tipo de
confusão que descrevi no primeiro parágrafo.
Há momentos, porém, em
que os fenômenos ocorrem (quase) como que em laboratório e são por isto
chamados de “experimentos naturais”. Tome-se, por exemplo, o acontecido no
Espírito Santo, quando a greve dos policiais reduziu seu efetivo nas ruas, não
por uma queda de criminalidade, mas por motivo externo (ou “exógeno”). Neste
caso houve um grave aumento da criminalidade em resposta à redução “exógena” do
policiamento. Em outras palavras nosso “experimento natural” confirma que mais
polícia na rua diminui o crime (e vice-versa).
Na verdade, se
trocarmos “policiamento” por “taxa de juros” e “criminalidade” por “inflação”
temos o “estudo” descrito por Clóvis
Rossi em sua coluna deste último domingo. Como na minha investigação
fictícia, em muitos casos a taxa de juros cai porque a inflação (esperada)
também cai, como hoje no Brasil; em outros casos, a taxa de juros sobe porque a
inflação esperada se eleva.
O pesquisador despreparado,
que ignora que as relações de causa e efeito correm tanto da taxa de juros para
a inflação como da inflação para a taxa de juros, comete o mesmo erro acima:
conclui que não há relação entre estas variáveis quando na verdade elas
existem.
Não há muitos
“experimentos naturais” na área. Uma possível exceção foi a redução na marra da
Selic entre 2011 e 2012, que levou à aceleração da inflação logo em seguida. Há
também técnicas estatísticas que permitem superar o problema e elas apontam
robustamente que aumento do juro reduz a inflação, o que, aliás, foi exatamente
o que ocorreu no Brasil ao longo do ano passado.
O que apenas prova outra
relação estatística robusta: quem menos entende de um assunto é tipicamente o
mais inclinado a dar palpite.
(Publicado 22/Fev/2017)
5 comentários:
No primeiro Freakonomics, de Steven Levitt e Stephen J. Dubner, há um capítulo sobre segurança e as descobertas são interessantes. De um modo geral, a curto prazo o policiamento funciona na redução da criminalidade. A médio prazo, a quebra no mercado das drogas é um fator importante. E a mais polêmica conclusão era de que, a longo prazo, a liberação do aborto seria o grande fator de redução, por tirar potenciais criminosos de circulação previamente.
Recessão não teve peso nisso? Pergunto porque nem todo fornecedor de bens ou serviços consegue repassar para o preço os ajustes. Muitas vezes isso fica "comendo" a faixa de lucro, até que ele quebra, ou descobre a maravilha da juro-lândia...
alex, nao responde ao Bresser, por favor, deixa que eu respondo...
Palhaço carequinha,
você não acha que passou da hora dos "fundamentalistas de quermesse" como você, largarem um pouco a fé nesse exoterismo cretino que costumam denominar "ciência econômica" e buscarem algo mais próximo de um método científico que seja minimamente compatível com a realidade ?
Sei que vocês são recrutados desde muito jovens pra desenvolver esse bizarro fervor "astrológico"o que torna difícil reconhecimento de que certas teorias quase místicas, apesar de "bonitinhas", tal qual a teoria do éter no século XIX, definitivamente não funcionam.
Talvez vocês devessem voltar pra baixo da sociologia e filosofia e os alocadores de recursos públicos parassem dar ouvidos a tantas asneiras ..... kkkkkk
Forte Abraço !
Puxa, que saudade de ler as mal-traçadas daquele que chorou quando enterraram o carequinha...
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