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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Philusdrek

Meu primeiro carro foi um Corcelzinho 77, apelidado Philusdrek (mistura nada elogiosa de grego e iídiche), que no fim da vida só subia ladeiras com o acelerador pregado no chão (e, ainda assim, já não encarava a temível Ministro Rocha Azevedo). Apenas quando me aproximava do topo do espigão da Paulista é que se tornava possível aliviar o acelerador. Estava tão fraquinho que trocá-lo por um Fiat 147 foi uma baita melhora...

Não me esqueço dele ao acompanhar as discussões sobre política monetária ao redor do mundo.

Vivemos um momento, se não inédito, ao menos muito raro. Taxas de juros se encontram em patamares próximos a zero (ou até negativas) nas principais economias desenvolvidas e mesmo assim o crescimento global permanece modesto, embora alguns países, notadamente os EUA, já estejam vivendo uma situação mais próxima da normalidade no mercado de trabalho.

Neste aspecto, estas economias se assemelham ao Philusdrek encarando uma pirambeira: seus BCs mantiveram o pé na tábua do acelerador monetário, mas a fraqueza dos motores não permitiu que este impulso se traduzisse em velocidade mais alta; de maneira geral pareceu ser apenas o suficiente para evitar que – como me ocorreu certa vez – o carro morresse e ameaçasse deslizar ladeira abaixo.

Na Europa, em particular, não há indicações de fim da ladeira. Ao contrário, agora, além da periferia do continente, vemos problemas afetando o maior banco alemão, sintoma das dificuldades do sistema bancário de superar a perda de qualidade dos seus empréstimos e uma capitalização ainda inadequada. Com isto o crédito segue mais escasso e caro do que deveria dadas as taxas de juros definidas pelo BCE, sugerindo que nem todo combustível monetário tem chegado ao motor da economia europeia.

Já no caso americano a situação é bastante distinta. Tudo indica que a subida está chegando ao fim, daí o animado debate hoje travado no próprio comitê de política monetária do Federal Reserve acerca do momento de nova rodada de elevação de taxas de juros, ou, para colocar a situação em nossos termos, quando será necessário tirar um pouco mais o pé do acelerador para evitar que o carro ganhe mais velocidade do que permitido uma vez superada a ladeira.

A comunicação do Federal Reserve deixa claro que os membros do comitê preferem uma multa por excesso de velocidade à frente a deixar o carro morrer, o que explica não só a particular lentidão ao longo deste ano como sua visão de um ajuste extraordinariamente gradual da política monetária. A maioria prevê que a taxa de juros no final de 2017 estará abaixo de 1,25% ao ano, embora alguns ainda acreditem em normalização mais rápida, mas que deixaria os juros na casa de 2% ao ano, bastante baixos para o padrão histórico.

Assim, apenas em 2018 e 2019, de acordo com a visão hoje prevalecente no Federal Reserve, veríamos taxas de juros algo mais próximas de valores “normais”. Isto nos daria um par de anos para por a casa em ordem, ou seja, face à enormidade da tarefa, já deveríamos ter começado a nos mexer no ano passado.


O risco, porém, é que, como no meu caso, o Philusdrek seja trocado por algo melhor (até mesmo por um Fiat 147!), o que não nos daria sequer dois anos de folga. Já passou a hora de adiar o encontro com a verdade.



(Publicado 5/Out/2016)

45 comentários:

Todo esse tsunami financeiro, se não se traduzir em crescimento, irá terminar em hiperinflação cedo ou tarde, não?

Por onde anda o "O" Alex, ele parecia mais keynesiano que você as vezes hehehe

Os eua expandiram a base monetaria de forma sem precedente, mas com a economia abaixo do pleno emprego, isso nao se traduziu em mais inflacao. Por que vcs tem medo de emissao monetaria para pagar divida no Brasil?

Alex, conhece o Fabio Kanczuk? Bom economista?

Por Que o prefere ficar "sentado no sofá" afirmando que o Brasil não tem jeito ao invés de se filiar a algum movimento liberal para tentar mudar essa realidade?

O Senhor Sabia que São Paulo elegeu vereador liberal é ele foi o décimo terceiro mais votado?

" Por que vcs tem medo de emissao monetaria para pagar divida no Brasil?"

Por que será?

"Alex, conhece o Fabio Kanczuk? Bom economista?"

Não é bom; é excelente...

"Por Que o prefere ficar "sentado no sofá" afirmando que o Brasil não tem jeito ao invés de se filiar a algum movimento liberal para tentar mudar essa realidade?"

Porque sou preguiçoso, ora...

Como o Samuel Pessoa tem paciência para se sentar ao lado da Laura Carvalho....meu deus

Alex, jabte vi dando porrada em mto heterodoxo, mas na laura vc nunca tentou... pq?

Para a fedelha não se julgar importante...

O jornal Valor/Pravda agora vai nos torturar com a coluna de Luciano Coutinho, o adensador de cadeias produtivas, que está sendo investigado pelo MPF nos escândalos do BNDES. Esse jornal é uma jabuticaba: é de negócios mas abre espaço para a esquerda da pior espécie ,a latino americana, cujas ideias nos levou a essa crise. Que tal uma coluna de Dilma?

Mas ela está merecendo, Alexandre...

Alexandre, sempre aprecio os seus comentários no Jornal da Cultura! Descobri hoje o seu blog! Muito bons os textos! Espero que continue escrevendo bastante aqui!

Abcs!

Laura e mais qualificada que muitos economistas,ela tem PHD nos EUA,diferente do Samuel entre outros que não possuem.

PHD pela New School vale menos que jardim de infância completo

"PHD pela New School vale menos que jardim de infância completo"
London School of Enganomics também.

"Por onde anda o "O" Alex, ele parecia mais keynesiano que você as vezes hehehe "
O Alex não é mais casado com o "O".

Alexandre,

Esse argumento está correto?

Se o piso é inflação t-1 e a inflação está caindo implica que em t haverá gasto real.

Ou seja, aumento real em 2017, 2018 e 2019.

Certo?

Laura.

Alexandre,

O Mansueto diz que 6% do pib = R$ 370 bi. Onde desse total R$ 85 bi é feio pelo Governo Federal.

Naquela planilha do Tesouro Nacional eu consigo enxergar esse 85 bi?

Ja revirei a planilha e não encontrei.

Pode me ajudar a encontrar esse dado?

Paula

Eu sou auditor fiscal,o senhor pouco comenta sobre a possibilidade de aumento de impostos para fazer o ajuste fiscal.

Se o governo aumenta em :15% a alíquota de pis-confins, 15% a alíquota de IRPJ e CSLL,promove a volta da CPMF além de aprovar as reformas necessárias para estabilizar o gasto publoco, o problema fiscal está resolvido.

"Se o governo aumenta em :15% a alíquota de pis-confins, 15% a alíquota de IRPJ e CSLL,promove a volta da CPMF além de aprovar as reformas necessárias para estabilizar o gasto publoco, o problema fiscal está resolvido."

Perfeito: da mesma forma que dar um tiro no paciente resolve o problema do câncer.

"Eu sou auditor fiscal,o senhor pouco comenta sobre a possibilidade de aumento de impostos para fazer o ajuste fiscal."

Pergunte para a sociedade se ela quer bancar a brincadeira mais uma vez?

Em um ajuste fiscal se trabalham três pontos:A despesa,a receita e a redução da dívida.Eles só estão trabalhando dois pontos que é a despesa e a redução da divida por um programa tímido de privatizações.Falta trabalhar o lado da receita via um aumento temporario de impostos.

Por quê seria dar um tiro no pé aumentar esses ou outros impostos mais a volta da CPMF para realizar o ajuste fiscal se o beneficio seria o aumento da confiança do mercado possibilitando a queda do juro com consistencia.


"Falta trabalhar o lado da receita via um aumento temporario de impostos."

Temporário... Assim que recuperar o fôlego (rindo sem parar aqui) comento...

Aumentar no horizonte de 10 anos a carga tributária visando garantir a confiança dos agentes no ajuste fiscal.O senhor mesmo e cetico em relação a esse ajuste fiscal,eu não vejo problema em aumentar temporariamente a carga tributária durante 10 anos para âncoraresponder as expectativas dos agentes econômicos no ajuste fiscal.

O aumento temporário da carga tributária deve estar associado a uma agenda de reformas.

",eu não vejo problema em aumentar temporariamente a carga tributária durante 10 anos para âncoraresponder as expectativas dos agentes econômicos no ajuste fiscal.

O aumento temporário da carga tributária deve estar associado a uma agenda de reformas."

Já pensou numa carreira como humorista?

"Se o piso é inflação t-1 e a inflação está caindo implica que em t haverá gasto real.

Ou seja, aumento real em 2017, 2018 e 2019.

Certo?"

Em parte. A lógica está certa e em 2017 a inflação deverá ser bem menor do que a de 2016. Já 2018 e 2019...

"Naquela planilha do Tesouro Nacional eu consigo enxergar esse 85 bi?"

Planilha 1.4, linha 82

Nesse ajuste fiscal proposto ,gasto não vai cair com proporção do PIB.Não se vai cortar gasto com educação e saúde ,não se vai demitir funcionários públicos, não se vai cobrar mensalidade nas universidades públicas e nem privatizar estatais como BB,etc para diminuir a dívida pública.

A melhor maneira de se fazer um ajuste fiscal consistente e aprovar as reformas existentes e aumentar a carga tributária.

Como fazer para diminuir as incertezas dos agentes econômicos em relação ao ajuste fiscal,uma vez que as medidas surtirao efeito a longo prazo? Fora o aumento de impostos existe outra alternativa?

Nem a CMPF o senhor acha interessante para ajudar no ajuste fiscal? Com a CPMF o deficit primario seria no minimo de 80 bilhoes o ano que vem.

E daqui a dois anos iríamos precisar de outra CPMF...

Todos debatem com a laura carvalho, menos o senhor.

Não discuto com criança...

Nem a CPMF com a aprovação do teto do gasto e a reformada previdencia?

Olha ela é uma economista qualificada,fez PHD nos EUA e é professora da USP.

Por que o senhor nunca tentou fazer um concurso publico para o departamento da FEA,ao inves de desqualificar aqueles que pensam de uma maneira diferente da sua.

"Por que o senhor nunca tentou fazer um concurso publico para o departamento da FEA,ao inves de desqualificar aqueles que pensam de uma maneira diferente da sua."

Grana, claro!

Próxima pergunta?

Ou senhor fez e não passou na prova.Ninguém é professor da USP a toa...

"Ou senhor fez e não passou na prova.Ninguém é professor da USP a toa..."

Só tem craque lá...

Por que o senhor desqualifica a Laura?