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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Imagem e ação

No começo deste ano o Banco Central, ainda sob o comando de Alexandre Pombini, sinalizou um aumento de juros, mas não teve coragem de entregar o prometido, fingindo surpresa com a revisão para baixo da projeção de crescimento do país promovida pelo FMI. A mensagem não poderia ser mais clara e, em resposta a ela, as previsões de inflação subiram imediatamente.

De acordo com a pesquisa Focus a inflação esperada para 2017 saltou de 5,4% às vésperas do recuo do BC para 6,0% no começo de fevereiro; já a inflação esperada para 2018, até então na casa de 5,0%, subiu para 5,5%, revelando forte deterioração da credibilidade do BC.

Quase seis meses depois, em seguida à primeira entrevista de Ilan Goldfajn já na condição de presidente da instituição, quando foi divulgado o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, o processo foi exatamente o oposto. Naquele momento foi indicado que o BC não pretendia estender mais uma vez o período de convergência adotando uma “meta ajustada” superior a 4,5% para 2017.

Desde então, ainda segundo a Focus, as expectativas para 2017 e 2018 caíram significativamente (0,36% e 0,50%), refletindo em maior proporção a queda da inflação dos “preços livres” (isto é, aqueles sem interferência direta do governo), indicação que não se tratava de uma visão sobre o controle dos preços “administrados”, mas sim melhora da dinâmica inflacionária.

Esta evolução das perspectivas sobre a inflação não ocorreu, é bom que se diga, apenas pelo discurso da nova diretoria do BC (nem pela bem vinda adoção do português na comunicação do banco em substituição ao quase incompreensível “bancocentralês” utilizado até então).

De fato, às vésperas da divulgação do RTI o consenso de mercado indicava cortes da taxa básica de juros ocorrendo já no final de agosto, processo que levaria a taxa Selic a 13,00% ao final deste ano. Em contraste, hoje se espera que o corte de juros se inicie apenas em outubro, enquanto em dezembro a taxa Selic atingiria 13,75%. Em outras palavras, a queda das expectativas de inflação não resultou de palavreado, mas de perspectivas de uma política monetária mais apertada do que originalmente se imaginava.

Adicionalmente o BC estabeleceu condições para que possa iniciar a redução da taxa de juros. Por um lado a convergência das expectativas de inflação à meta, que, como notado, vem ocorrendo; por outro, firmeza do governo no lado do controle do gasto público, que, ao contrário, não dá sinais de materialização.

Trata-se, ao final das contas, de postura diametralmente oposta à adotada pela antiga diretoria e, portanto, seria razoável esperar também resultados diametralmente opostos àquele atingidos nos últimos anos. No caso, minha expectativa coincide com a visão geral (não é sempre assim!), isto é, inflação em queda, ainda que mais lenta do originalmente imaginado. Assim, caso o BC jogue duro, pode até chegar próximo à meta no ano que vem.

Contudo (e há sempre uma conjunção adversativa), há obstáculos consideráveis à manutenção da inflação baixa.  Há limites claros àquilo que pode ser obtido apenas com a taxa de juros. Sem uma ação mais decidida na contenção do gasto público o BC só terá êxito temporário. Neste quesito, infelizmente, ainda vivemos de muito palavreado e pouca ação.



(Publicado 17/Ago/2016)



31 comentários:

Faria sentido, em tese, o BC aproveitar a desinflação e a capacidade ociosa para buscar uma inflação mais próxima aos pares, algo entre 2% e 4%? Não poderíamos ver, caso o fiscal esteja evoluindo, uma redução brutal dos juros longos, sendo assim um vetor da volta dos investimentos?

Vamos primeiro entregar inflação na meta. Depois pensamos em melhorar

Tombini não deu calote no dinheiro do contribuinte e concluiu seu doutorado,ja Mansueto enfrenta um processo no TCU que pode ser obrigado a devolver 1 milhao de reais aos cofres públicos.

And now for something completely different...

Alex, o que achou disso:

http://veja.abril.com.br/esporte/distintivo-do-sao-paulo-e-eleito-o-mais-bonito-do-mundo/

Abraços,


Domingos

Parece que a esquerda encontrou uma maneira fácil de destruir nosso blog: matando Alex de tanto rir.

"Tombini não deu calote no dinheiro do contribuinte e concluiu seu doutorado,ja Mansueto enfrenta um processo no TCU que pode ser obrigado a devolver 1 milhao de reais aos cofres públicos."

Pombini perdeu R$ 17 bi com swaps em 2014 e R$ 90 bi em 2015.

Ele tomou essas medidas para diminuir a volatilidade no mercado de cambio.

"Ele tomou essas medidas para diminuir a volatilidade no mercado de cambio."

E o Tesouro Nacional tomou em outro lugar

Se ele não tivesse tomado essas medidas o impacto no cambio seria muito maior prejudicando empresas que possuem divida em dólar,a inflação.

"Se ele não tivesse tomado essas medidas o impacto no cambio seria muito maior prejudicando empresas que possuem divida em dólar"

Sim, ele transferiu recursos dos contribuintes para as empresas. Mais de 100 bilhões

O Tombini não fez isso sozinho. A maior responsável foi a presidente e que votou nela, eu incluído.
Infelizmente todos estão pagando por esta burrice.
Mas tomara que os economistas que estão neste governo façam melhor do que os desafetos do Alexandre, inclusive deixando o governo quando acharem que suas ideias não são postas em pratica.

A culpa foi do mercado que fez ataques especulativos no cambio,obrigando ele a tomar essas medidas.O correto seria ele ter feito controle de capitais.

O impacto na inflação e na divida publica seria muito maior caso ele não tivesse feito essa intervenção pois teria que subir mais o juros.O culpado não foi ele ,foi Dilma Roussef Guido Mantega e o mercado.

"O correto seria ele ter feito controle de capitais."

Aha, então você está dizendo que o Pombini errou e que o erro dele causou um mega prejuízo ao país.

QED

“Em outras palavras, a queda das expectativas de inflação não resultou de palavreado, mas de perspectivas de uma política monetária mais apertada do que originalmente se imaginava”.

Com todo o respeito, seu artigo não deixa claro: baseado em quais medidas econômicas do BC, o mercado formou a perspectiva de uma política monetária mais apertada?

Se foi só pela divulgação do RTI em bom português, então é só no "palavreado", pelo menos, até o fim do mês ...

Tombini fez os Swaps para retardar o agravamento do processo inflacionário (efeito da demagogia da selic a 7,25% e da política fiscal corrupta), ajudando (na verdade foi o ator principal) o estelionato eleitoral. Ajudou a fazer um crime contra a democracia. A crise que estamos passando 70% é culpa dele (considerando que sabia o que estava fazendo). Existem os que acreditavam nas picaretagens. Quem? Os 1700 economistas que assinaram o manifesto de apoio à política econômica.

Alex,

Incostestável a superioridade academica desse novo Bc. Mas de onde você tirou que ele voltou a escrever tudo em bom português?

Eu achei confusa a nota do COPOM. O BCB se comprometeu com algo que historicamente ele nunca seguiu. Por exemplo:

"O Comitê deve procurar conduzir a política monetária de modo que suas projeções de inflação, inclusive no cenário de mercado, apontem inflação na meta nos horizontes relevantes."

Nunca antes foi assim e, a rigor, nao deveria ser assim. Pra mim foi uma grande bola fora desde novo BC.

Abs
Economista X

No Brasil se cobra imposto de pessoa fisica sobre lucro e dividendos?

Sessão da tarde: Belluzzo: Dilma foi excessivamente responsável com medidas fiscais...comecei a rir quando soube que ele disse isso.

Marcelo

Ja leu a dissertação do Marcos Lisboa, Alexandre?

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/premio/pr171.pdf

Gostei, o cara é bom hein?

Por que o senhor não adota um relativsmo em relação as diferentes escolas de pensamento econômico?

Nossa, ainda tem MAV vivo? Ou será que estamos em contato direto com a fonte?

Porque não há virtude alguma em tolerar ideias que se demonstraram erradas; pelo contrário, pode ser muito danoso permitir que persistam.

Alex, pelo amor de Deus. Novo BC falando português desde quando? Condicionar a queda da taxa de juros ao cenário de mercado é algo ridículo!

Alex,
Vc acha que o BC tem um piso para o dólar? Deveria ter ou é deixar flutuar (pra baixo)?

BCB gosta mesmo de juro alto pra agradar o mercado financeiro. Nao faz sentido ficar segurando a cotacao do dolar quando esta seria capaz de reduzir a inflacao e o juro. Simulacoes idiotas mostram que dependendo da magnitude da queda de juro, a economia fiscal é maior do que a que esta sendo feita para zerar os swaps. Bcb é vendido mesmo e nao tem conversa. Depois Alex vem falar que o juro alto nao é pra agradar o mefcado, dado que a inflacao nunca ficou abaixo da meta. Nao ficou poque o BCB com feque cia nao permite. É isso, valeu, abraço careca de SP!!!

Alexandre, alguma vez o Fed aumentou juro e o BCB nao aumentou tambem?

Pergunto isso porque todo mundo ta achando que selic caira em breve. Se o FED resolver apertar o juro por la, acho que todos aqui quebrarao a cara.

Alexandre Schwartsman, bom dia. Viu a estrevista do Fernando Cardim de Carvalho hoje no Valor? Me parece um heterodoxo diferenciado em relacao aos demais. Uma braço, Fabio.

"BCB gosta mesmo de juro alto pra agradar o mercado financeiro."

Taí um argumento ponderado e adulto Só não sei se é de um keynesiano de quermesse ou de alguém que se queimou vendendo dólares... (mais inclinado para a segunda opção)

"Alexandre, alguma vez o Fed aumentou juro e o BCB nao aumentou tambem?"

Assim, de cabeça (sem tempo para pesquisar agora), 2005-2006 (estava lá!): Fed subiu juro e a Selic caiu. Desconfio que há outros episódios: alguém pode checar?