O governador em
exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, decretou estado de calamidade
pública no estado. Normalmente isto ocorre em face de um desastre de grandes
proporções e, sinceramente, não há outra forma de descrever a gestão fiscal do
Rio de Janeiro.
Segundo os dados
divulgados pelo Tesouro Nacional acerca
das finanças estaduais, enquanto o conjunto dos demais estados
registrou (a preços de 2015) superávit
primário pouco inferior a R$ 26 bilhões entre 2012 e 2015, o Rio de Janeiro
apresentou déficit de R$ 6,8
bilhões. No ano passado o déficit fluminense atingiu R$ 3,6 bilhões
(equivalente a 6% de sua receita bruta); já os demais estados da federação
conseguiram gerar superávit de R$ 10 bilhões (cerca de 1% de sua receita
bruta).
Esta diferença de desempenho
não pode ser atribuída à receita, que cresceu de forma semelhante no Rio (0,6%
aa além da inflação) e nos demais estados (0,7% aa), mas sim à evolução das
despesas. Entre 2012 e 2015 as despesas no estado aumentaram 4% aa acima da
inflação; nos demais estados o crescimento atingiu menos da metade (1,7% aa).
Note-se que não foram
os investimentos (presumivelmente associados aos Jogos Olímpicos, embora estes
sejam de responsabilidade municipal) que causaram este estrago, pois encolheram
no período. Por outro lado, a despesa com pessoal no Rio aumentou ao ritmo de
7% aa acima da inflação contra 3% aa nos demais. Isto explica quase a
totalidade do aumento dos gastos não financeiros do estado.
Resumindo, o desastre
fiscal, agora batizado de calamidade pública, não caiu do céu. Em que pesem
perdas de receitas mais significativas em 2016, a verdade é que o Rio gastou
nos anos anteriores sem maiores preocupações com que isto viesse a ocorrer,
aumentando despesas principalmente onde a rigidez orçamentária é maior. Não há
outro culpado que não o governo do estado pela penúria que hoje sofre.
Isto dito, embora o Rio
de Janeiro seja um caso patológico (seguido de perto por outros, como Rio
Grande do Sul e Bahia), há sinais preocupantes vindos das finanças estaduais
tomadas em conjunto.
O governo federal
permitiu que estados se endividassem, supostamente para investir, mas, na
prática, a falta de controle permitiu o gasto crescente com pessoal.
De fato, sua folha de
pagamentos não para de aumentar, atingindo R$ 321 bilhões (60% da despesa) no
ano passado contra R$ 289 bilhões (57% da despesa) em 2012, ou seja, a
trajetória dos gastos com pessoal ameaça se tornar insustentável, reduzindo o
já diminuto espaço para investimentos. Além disto, como notado acima, o aumento
do peso da folha no total das despesas torna o orçamento cada vez mais difícil
de manejar, em particular nos períodos recessivos.
Estados agora conseguiram
moratória de suas dívidas para com a União, alegando que se tornaram impagáveis.
Não é verdade: a dívida com a União caiu de 13% do PIB no começo de 2003 para
8% do PIB hoje; impagável é uma trajetória de gastos sem controle.
No ajuste fiscal de
1998-2000 (R$ 110 bilhões a preços de hoje), estados responderam por um quinto
do total. Hoje, porém, com a capitulação do governo
federal vão atuar no sentido inverso, provavelmente ampliando seus gastos em R$
50 bilhões nos próximos 18 meses, aí sim uma verdadeira calamidade.
50 bilhões em ação |
(Publicado 22/Jun/2016)