Na semana passada procurei mostrar que a
recessão iniciada em meados do ano passado resulta da política econômica que vigorou
com maior intensidade de 2011 a 2014.
As consequências da
expansão desmesurada do gasto, descaso com a inflação, controles de preços e
intervenções no domínio econômico foram aceleração inflacionária, déficits
externos crescentes, desarranjo de setores importantes e aumento considerável
da dívida pública, sem, é bom deixar claro, conseguir acelerar o crescimento.
Além disto, há razões para crer que, dentre as heranças da experiência
desastrada do período, se encontra também a impossibilidade de políticas
anticíclicas.
O nome, algo pomposo, representa
medidas que poderiam atenuar, ou abreviar, a recessão. Em particular, uma queda
de atividade, como a observada este ano, poderia ser combatida com aumento do
gasto e redução da taxa de juros, conforme
defendido por alguns.
Não se trata de nada incomum.
Outros países o fizeram, por exemplo, em resposta à crise de 2008, e mesmo o
Brasil optou por este caminho naquele momento. Resta, porém, saber por que foi
possível fazê-lo à época, mas não agora.
A resposta é óbvia,
mas, como
parece haver quem ainda não tenha entendido a natureza do problema,
o melhor é explicitá-la.
Tome-se o caso do
Brasil em 2008-2009. O país vinha de alguns anos de superávits primários
superiores a 3% do PIB, que trouxeram a dívida pública de patamares próximos a
70% do PIB entre 2003-2005 para 55% do PIB às vésperas da crise.
A inflação, que havia
superado em média por 1,4 ponto percentual a meta no período 2003-2005, ficou ao
redor daquela entre 2006 e 2008. Em resposta a este desempenho, as expectativas
de inflação quando o BC começou o processo de redução de juros em 2009 estavam
apenas levemente acima de 4,5%, revelando uma credibilidade até então inédita
quanto ao compromisso da instituição com o regime.
Por fim, o balanço de
pagamentos havia registrado superávit de US$ 45 bilhões entre 2003 e 2007
(média equivalente a 1,1% do PIB por ano), enquanto o BC acumulara perto de US$
190 bilhões em reservas adicionais.
Posto de outra forma, a
sabedoria não foi reagir à recessão com o afrouxamento das políticas fiscal e
monetária (assim como o uso de parte das reservas), mas sim ter preparado o terreno
para isto, reduzindo a dívida, controlando a inflação, acumulando superávits
externos e reservas internacionais.
Agora, com inflação na
casa de 9,5% (7,7% caso desconsideremos as tarifas públicas), não há espaço
para reduzir a taxa de juros sem criar um problema mais sério à frente.
Já o crescimento da
dívida pública atingiu mais de 9% do PIB nos últimos 12 meses, sugerindo que sua
dinâmica consegue ser pior do que a observada mesmo em economias com dívidas
maiores.
Isto fica transparente
na evolução do prêmio de risco associado ao Brasil, que subiu para 3,7% ao ano,
contribuindo para aprofundar a recessão.
Neste contexto, só
alguém sem a menor noção de funcionamento da economia e da história recente do
país poderia sugerir aumento
do endividamento como a solução para nossos males. Se isto bastasse,
não estaríamos na situação complicada em que nos encontramos. Há risco que até o
governo tenha sentido o tamanho da encrenca, mas certamente não os keynesianos
de quermesse.
Demanda...efetiva...Lula...yeah...
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(Publicado 9/9/2015)
3 comentários:
Alex, eu não gostei do plano econômico de ontem, ler que vão tirar 30% do sistema "S" é algo estranho, já que o mesmo deve ter programação com despesas já programadas e obrigatórias, foi explicado vai se tirar e pronto.
Não sair o corte de ministérios e cargos em comissão é acreditar que ficaremos no mesmo,além disso existem ministérios como esportes por exemplo que "pegam" emprestados funcionários da Caixa e BB (foram 570.000 em setembro), quer dizer vão travar concursos para em aumentar essas transferências? Ou os cargos vão ficar vagos ou extintos? E o mesmo Ministério dos Esportes gastou 200 milhões em consultorias para Copa e Olimpíadas.
O meu ponto é tudo bem congelam e concursos e trazem gente de outro modo, não dá para voltar a situação de antes de 1988, até por que com a Dilma já se congelou duas vezes, inclusive em 2011 e em todas não caiu nada os funcionários, aumentou-se os comissionados, transferidos e cargos em confiança; além de começar a notar pagamentos em consultorias, sempre com grandes valores, será que foi por serviço especializado ou a desculpa de falta de pessoal para fazer?
Além disso, esperava que por exemplo já avisassem que pela falta de pessoal na área de analise ambiental que o governo estaria enviando uma nova legislação simplificando os procedimentos, por que não adianta nada você chega e o processo fica mofando.
Eu não consigo entender manter um programa ciência sem fronteira e não contratar professores para as Federais, poderia até começar uma discussão que eu vejo como saudável, de pensar em passa-las para Fundação e pagas, financiadas pelo FIES, seria uma economia de 30 bi a longo prazo, mesmo que houvesse calote seria melhor que curso "gratuito" atual.
No caso do "Minha casa, Sua vida", dizer que o FGTS e FAT irão pagar é economia de quê?
Ontem não se tocou nos swaps cambais ou TJLP, sei que seria contabilidade criativa contar como economia, mas eu gostaria de ouvir que não teríamos próximo ano esse dois expedientes tão usados e com tanto prejuízo nas operações.
Alguns programas precisam passar por pente fino, por que a efetividade deles com o que é gasto é no mínimo suspeita, sem querer imitar o terrível plano do Guido que dava até valores para o que seria economizado com corrupção.
Eu preferia algo mais substancial em termos de cortes em programas e máquina pública e futuro.
Abraços,
Marcelo
Prezado Alex, discordo da data de início.
Bem antes de 2014 a coisa já ia mal, minha data é fins de 2012 quando a curva inverteu e entramos em tendência de queda. Entramos no negativo lá por 2014 em alta velocidade, o que acometeu certos setores de falsa surpresa.
A manipulação tendenciosa dos dados oficiais (estes não de todo críveis, mas vamos dar de barato essa parte) escondeu por anos a realidade. A estratégia do PT é empurrar isso até lula2018. Veremos.
Para os dois comentários, seria necessário um outro País, uma outra equipe econômica, uma nova formulação da economia para os anos a partir da eleição da atua presidente.
Foi exatamente porque não não tivemos nada disso é chegamos onde estamos. Um voo sem rumo, falta de combustível no avião e nenhum aeroporto à vista.
O melhor, mesmo, seriam novas eleições, depois de uma redução do número de ministérios.
Talvez uma nova formulação, com novas ou outras cabeças pensando, as coisas poderiam ter um certo alívio lá por 2020 ou além.
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