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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Eu, robô?

Além de histórias em quadrinhos e mitologia grega, sou fã confesso de ficção científica e, claro, li muitos dos livros de Isaac Asimov, dentre eles “Eu, Robô”. Uma das histórias do livro relata um episódio em que um robô (QT1) desenvolve um culto, ocasionando um conflito com os humanos, até que estes percebem que as crenças do robô, ainda que erradas, o permitiam cumprir sua tarefa melhor do que qualquer programação poderia conseguir.

Esta é minha percepção de boa parte do governo Lula (do qual participei de 2003 a 2006). Quaisquer que fossem as crenças do mandatário, a verdade é que, por muito tempo, foi um governo que fez as coisas certas no plano econômico. O BC desfrutou de enorme autonomia operacional, as contas fiscais foram aprimoradas e reformas importantes adotadas, em particular no mercado de crédito.

Mesmo na política social a administração Lula rendeu-se ao “neoliberalismo” do Bolsa-Família depois do fracasso do “Fome Zero”, sofrendo, aliás, duras críticas por parte de economistas historicamente ligados ao PT.

Obviamente muita coisa descambou desde então, inicialmente de forma algo envergonhada, culminando com a “nova matriz macroeconômica”, a verdadeira implantação das ideias econômicas do partido, que redundou em crescimento medíocre (na casa de 1,6% ao ano), inflação acima da meta (próxima a 6,5%), elevados desequilíbrios externos e uma forte redução no ritmo de crescimento da produtividade.

Agora, passada a eleição, a questão é saber se voltaremos à situação do conto, em que, apesar das crenças equivocadas, uma política econômica apropriada voltará a vigorar, ou se experimentaremos mais do mesmo.

Posto de outra forma, queremos saber se teremos um estelionato eleitoral, para escândalo de André Singer, que recentemente descobriu, ó horror, que políticos mentem durante a campanha, ou se a aposta será dobrada, produzindo, conforme argumentei semana passada, os mesmos resultados medíocres observados nos últimos quatro anos, senão coisa ainda pior.

Muito embora a decisão inesperada do BC de elevar a taxa de juros – contrária, a propósito, de sua sinalização nos últimos meses – possa sugerir estelionato eleitoral (perdão, correção de rumos), há dimensões em que a mudança é muito mais custosa, sugerindo tratar-se de caminho muito pouco provável.

De fato, nos primeiros 9 meses deste ano o setor público registrou déficit primário equivalente a 0,4% do PIB segundo os números oficiais. Descontadas “pedaladas”, criatividade contábil e demais estripulias, o déficit no período deve andar na casa de 1% do PIB, tornando a promessa de início do ano (superávit de 1,9% do PIB) não mais que uma distante memória.

O tamanho do ajuste fiscal requerido para por a casa em ordem é praticamente sem precedentes. Precisaremos sair de um déficit primário (verdadeiro) ao redor de 1% do PIB para um superávit de 3,0% do PIB, de acordo com as contas de Marcos Lisboa. Em dinheiro falamos de algo na casa de R$ 200 bilhões.

É inviável atingir tal melhora em apenas um ano. Trata-se, na melhor das hipóteses, de um programa de ajuste para ser realizado em três anos, contra um pano de fundo de uma administração que não apenas se mostrou incapaz de atingir suas metas, mas que também deliberadamente produziu a maior deterioração fiscal de que se tem notícia no país nos últimos 20 anos.

O governo não terá, portanto, o benefício da dúvida. Pelo contrário, terá que apertar muito para convencer o distinto público de sua firmeza de intenções, o que destruiria até as perspectivas de crescimento pífio de 1% em 2015, hoje consensuais, com reflexos negativos sobre o desemprego. Desconfio, e estou longe de estar sozinho, que a presidente não há de apreciar sua única conquista econômica se esfumaçando no rastro do ajuste fiscal, mesmo necessário.


A conta da campanha chegou e duvido que o governo esteja disposto a pagá-la.

Run Forest, run...
(Publicado 05/Nov/2014)

15 comentários:

Perfeita análise, especialmente sobre a nova matriz econômica. Muitos analistas que criticam o governo Dilma atribuem os erros da política econômica ao pensamento individual da presidente. O que esta senhora fez foi finalmente aplicar o pensamento econômico histórico do petismo.

Alex,
E agora com a possível mudança da Lei de Responsabilidade Fiscal?

O estrago que as teorias econômicas ensinadas na Unicamp não fazem... Phodem um pais.

Um brinde aos economistas acadêmicos heterodoxos e ao governo brasileiro pete-peemedebista que arruinou o país em pouco mais de 5 anos!
De volta à hiperinflação!
Ficarão marcados na história sul-sul.
A banca e o empresariado internacional agradecem: um concorrente a menos.
clap! clap! clap!

Eu sou professor de Geografia,vou discordar do senhor pelo que eu ensinei aos meus alunos:A culpa da inflacao e do capitalismo,nos regimes socialistas nao existe inflacao por causa da planificação da economia.

Ao colega professor de Geografia, algumas perguntas: ainda se ensina socialismo nas escolas? Para que ficar entipindo a cabeça da molecada com lixo? Nos diga, por favor, em que país o socialismo foi bem sucedido? Aponte-nos, ao menos, uma economia socialista desenvolvida que exista hoje

Minha sugestão a vc e a seus colegas professores: por favor, atualizem-se quanto ao estado atual da teoria econômica antes de ensinar os seus alunos. Afinal, eles são o futuro deste país, e MERECEM saber o ter acesso ao que há de melhor no conhecimento científico.

Abraço!

Em Cuba não existe inflação porque é uma economia planificada.

Nem inflação, nem o produto :-)

Estamos condenados a uma década PERDilma.

Tem produto (PIB),só que ele e calculado de uma maneira diferente.O estado detém os meios de producao e determina o que deve ser consumido.

O maior responsável pela inflacao e a especulação financeira,a volatilidade no cambio,etc.

Seria medido em unidades de papel higiênico, se existisse por lá...

A porteira comunista só abre de fora para dentro.
Ângelo

"Em Cuba não existe inflação porque é uma economia planificada."
AOS ANONIMOS esquerdistas COMENTARISTAS: O que não existe são estatísticas. A economia corre por fora do mostrado pelo governo.
Congratulo esses anónimos por lerem este blog. Se continuarem a ler EXISTIRÁ UMA CHANCE...

Inflaçao demanda produto, comercio, consumo. Certamente não tem em regimes socialistas. Apesar de que na Venezuela não ha nada disso mas creio que haja inflação, não?

Superávit de 3% é inviável para esse governo fraco politicamente e ideologicamente amarrado com quase tudo que não presta. Dá pra mim pra ver se eu não economizo mais de 200 bi. Privatiza todos esses lixos de estatais. Faz uma reforma séria na Previdência ( que virou uma festa) , combate sério a corrupção ( só os desvios na Petrobrás chegam a mais de 25 bi, imagina as outras estatais), 39 ministérios Alexandre? Tu achas que precisa tudo isso em um país pobre como o nosso? Ministério da pesca? Ministério dos direitos humanos? O que é isso? Empresa amiguinha do PT sugando o BNDES. Quanta gente mamando nesse país sem trabalhar? Virou uma palhaçada .