Um governo
verdadeiramente comprometido com as causas populares não pode se sujeitar às
restrições impostas pelas forças conservadoras, neoliberais, feias, bobas e
cara de tacho.
A despeito das objeções
da direita golpista, amparadas em obras marcadamente reacionárias, como “A Aritmética da Emília” e “Aprendendo a Contar” (Yoyo Books: obviamente
uma insidiosa doutrinação imperialista), as forças progressistas enviaram ao
soberano Congresso Nacional (de quem se espera a não sujeição às pressões
autoritárias da oposição) projeto de lei que revoluciona a matemática e cria um
instrumento de revolta contra as classes opressoras.
Muito embora a Lei
de Diretrizes Orçamentárias (a famigerada LDO) requeira do governo
popular da presidenta Dilma a geração este ano de um superávit primário de R$ 116
bilhões para atender as demandas dos rentistas, a combinação de sua
administração previdente e a matemática dialética já permitia atender esta
injusta exigência com um superávit de apenas R$ 49 bilhões.
A diferença (R$ 67
bilhões) seria utilizada para fins mais nobres, como o Programa de Aceleração de
Crescimento (o PAC, já em sua n-ésima edição, sem que a primeira tenha sequer
acabado!) e as desonerações tributárias, peças essenciais da estratégia de desenvolvimento
com inclusão (oposta, é bom dizer, à defendida pelos ortodoxos), que permitem
crescimento acelerado com melhora na distribuição de renda, mesmo que os
números do IBGE, possivelmente devido a uma conspiração retrógrada, ainda se
recusem a admitir estas conquistas.
Não contávamos,
contudo, com a má vontade dos países desenvolvidos, que – certamente com o
objetivo de impedir os avanços populares no Brasil – se recusam a crescer. No
entanto, sob a inspirada gerência da nossa presidenta, a Guia Genial dos Povos,
e do Querido Líder, o ministro-chefe da Casa Civil, demos um passo
extraordinário à frente. Com a nova proposta poderemos abater dos recursos
destinados aos rentistas um valor maior do que os R$ 116 bilhões originalmente
reservados. O resultado final será negativo, mas também superavitário!
Em outras palavras,
criamos o superávit negativo, a contradição dialética que fará avançar
não apenas a Economia Política, mas a própria matemática, muito além dos
limites estreitos da imaginação burguesa. Demos início à Nova Matriz Aritmética (NMA).
Segundo esta nova
práxis, as forças progressistas deixarão de se sujeitar aos ditames do mercado
e dos professores de matemática. De agora em diante o superávit negativo será a
norma. Nunca mais na história deste país um governo terá que cumprir metas
fiscais anacrônicas: a meta será sempre aquilo que alcançarmos, nem mais, nem
menos (ou os dois ao mesmo tempo).
As implicações são
infinitas. Por exemplo, no mundo da NMA a inflação pode ser superior à meta ao
mesmo tempo em que é igual a ela e também inferior. Com isto o BC se livrará do
jugo do mercado financeiro e poderá se dedicar ao objetivo de estimular ainda
mais o desenvolvimento do país.
A assim chamada
“inflação”, outra invenção conservantista, será incorporada ao crescimento do
PIB, impulsionando de forma decisiva a renda da classe trabalhadora.
De quebra a NMA
possibilitará ainda que a Petrobras nunca mais passe pelo vexame de não
conseguir fechar seu balanço na data limite. Aliás, não haverá balanço que não
feche; principalmente aqueles de empresas que financiam as lutas políticas em
prol da igualdade.
O primeiro governo
Dilma lançou as bases da prosperidade nacional; seu segundo governo, agora
amparado pela NMA, irá ainda mais longe, além de onde Judas perdeu as botas. Lamentamos
apenas que o ministro da Fazenda, um dos criadores da NMA, não possa nos
liderar nesta jornada rumo ao futuro. Esperamos, todavia, que continue a
ensinar esta disciplina na escola da vida; só, de preferência, jamais no
Pronatec.
Apenas
mais uma das aplicações...
|
(Publicado 19/Nov/2014)
15 comentários:
Como o Winston Smith já aprendeu, podemos ver 4 dedos, 5 dedos ou 3 dedos.. depende do partido
Em breve até o índice de educação vai melhorar porque não precisaremos mais saber matemática! Viva a esquerda desenvolvimentista milagrosa!
Alex,
Para mim, sem dúvida alguma esse foi o seu melhor artigo. Parabéns.
Oras, não foi exatamente esta a estratégia para melhorar a educação no Brasil?!?
Com a reforma ortográfica houve inclusão de milhares de semi-analfabetos à norma culta.
Agora já podemos dar o segundo passo, a reforma gramatical, ..., isso é infinito.
Agora vai!!!
E seguindo essa mesma régua, ainda voltaremos a ser auto-suficientes em petróleo! O Pré-Sal será viável, qualquer que seja o preço do barril.
Alex,
Sempre leio teu blog mas você se superou neste... aceite meus mais sinceros parabéns...
Sim o petê inovou de forma genial
Já haviam implantando a novilingua e o duplipensar
agora é a vez da novimatemática
Chupa George Orwel, aqui é banânia, aqui a realidade extrapola a ficção
belíssimo texto
a situação tá complicada
Nestes dias nebulosos, vamos dar uma passada pelo blog do MÃO VISÍVEL para ver alguma racionalidade... Valeu, pelo menos desopilou o fígado....
Ja estamos caminhando tb na literatura! Machado de Assis deve ser simplificado para que mais pessoas possam lê-lo! Não é fantástico! Ao invés de melhorar a escola pública simplifica-se os livros. 1984 é hj! GEORGE!!!!
Aqui em Santa Catarina, o ensino da NMA já está bem adiantado. Da página da Secretaria de Educação, documento projeto pedagógico de matemática:
"Após discussões e reivindicações de uma parcela dos educadores, somadas às pressões desencadeadas pelo movimento neoliberal.....
O educador matemático é o sujeito que tem consciência de que:
Não são os conteúdos em si e por si o que importa, mas os conteúdos enquanto veículos de grandes
realizações humanas... os conteúdos enquanto veículos de produção de bens culturais (materiais e
espirituais) de esperanças e utopias sim... mas também os conteúdos enquanto veículos de produção
de dominação, da desigualdade, da ignorância, da miséria e da destruição... da natureza, de
homens, de idéias e de crenças. (MIGUEL, apud ABREU, 1994: 70).
Nesta concepção, a Matemática, sob uma visão histórico-crítica, não pode ser concebida como um saber pronto e acabado, ou um conjunto de técnicas e algoritmos, tal como concebe o ensino tradicional e
tecnicista."
Esta concepção vigarista explica a situação do ensino no país.
Que preciosidade...
Bem que poderiam colocar Mantega como algum cargo de secretaria no ministério da fazenda.Pelo menos esse blog nao perderia o humor .
Texto GENIAL, como de hábito.
Seria cômico se não fosse trágico; até onde nosso mísero país chegou...
Parabéns, Alex!
Mais aqui:
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2120
Postar um comentário