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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A nova matriz aritmética

Um governo verdadeiramente comprometido com as causas populares não pode se sujeitar às restrições impostas pelas forças conservadoras, neoliberais, feias, bobas e cara de tacho.

A despeito das objeções da direita golpista, amparadas em obras marcadamente reacionárias, como “A Aritmética da Emília” e “Aprendendo a Contar” (Yoyo Books: obviamente uma insidiosa doutrinação imperialista), as forças progressistas enviaram ao soberano Congresso Nacional (de quem se espera a não sujeição às pressões autoritárias da oposição) projeto de lei que revoluciona a matemática e cria um instrumento de revolta contra as classes opressoras.

Muito embora a Lei de Diretrizes Orçamentárias (a famigerada LDO) requeira do governo popular da presidenta Dilma a geração este ano de um superávit primário de R$ 116 bilhões para atender as demandas dos rentistas, a combinação de sua administração previdente e a matemática dialética já permitia atender esta injusta exigência com um superávit de apenas R$ 49 bilhões. 

A diferença (R$ 67 bilhões) seria utilizada para fins mais nobres, como o Programa de Aceleração de Crescimento (o PAC, já em sua n-ésima edição, sem que a primeira tenha sequer acabado!) e as desonerações tributárias, peças essenciais da estratégia de desenvolvimento com inclusão (oposta, é bom dizer, à defendida pelos ortodoxos), que permitem crescimento acelerado com melhora na distribuição de renda, mesmo que os números do IBGE, possivelmente devido a uma conspiração retrógrada, ainda se recusem a admitir estas conquistas.

Não contávamos, contudo, com a má vontade dos países desenvolvidos, que – certamente com o objetivo de impedir os avanços populares no Brasil – se recusam a crescer. No entanto, sob a inspirada gerência da nossa presidenta, a Guia Genial dos Povos, e do Querido Líder, o ministro-chefe da Casa Civil, demos um passo extraordinário à frente. Com a nova proposta poderemos abater dos recursos destinados aos rentistas um valor maior do que os R$ 116 bilhões originalmente reservados. O resultado final será negativo, mas também superavitário!

Em outras palavras, criamos o superávit negativo, a contradição dialética que fará avançar não apenas a Economia Política, mas a própria matemática, muito além dos limites estreitos da imaginação burguesa. Demos início à Nova Matriz Aritmética (NMA).

Segundo esta nova práxis, as forças progressistas deixarão de se sujeitar aos ditames do mercado e dos professores de matemática. De agora em diante o superávit negativo será a norma. Nunca mais na história deste país um governo terá que cumprir metas fiscais anacrônicas: a meta será sempre aquilo que alcançarmos, nem mais, nem menos (ou os dois ao mesmo tempo).

As implicações são infinitas. Por exemplo, no mundo da NMA a inflação pode ser superior à meta ao mesmo tempo em que é igual a ela e também inferior. Com isto o BC se livrará do jugo do mercado financeiro e poderá se dedicar ao objetivo de estimular ainda mais o desenvolvimento do país.

A assim chamada “inflação”, outra invenção conservantista, será incorporada ao crescimento do PIB, impulsionando de forma decisiva a renda da classe trabalhadora.

De quebra a NMA possibilitará ainda que a Petrobras nunca mais passe pelo vexame de não conseguir fechar seu balanço na data limite. Aliás, não haverá balanço que não feche; principalmente aqueles de empresas que financiam as lutas políticas em prol da igualdade.


O primeiro governo Dilma lançou as bases da prosperidade nacional; seu segundo governo, agora amparado pela NMA, irá ainda mais longe, além de onde Judas perdeu as botas. Lamentamos apenas que o ministro da Fazenda, um dos criadores da NMA, não possa nos liderar nesta jornada rumo ao futuro. Esperamos, todavia, que continue a ensinar esta disciplina na escola da vida; só, de preferência, jamais no Pronatec.

Apenas mais uma das aplicações...

(Publicado 19/Nov/2014)

15 comentários:

Como o Winston Smith já aprendeu, podemos ver 4 dedos, 5 dedos ou 3 dedos.. depende do partido

Em breve até o índice de educação vai melhorar porque não precisaremos mais saber matemática! Viva a esquerda desenvolvimentista milagrosa!

Alex,

Para mim, sem dúvida alguma esse foi o seu melhor artigo. Parabéns.

Oras, não foi exatamente esta a estratégia para melhorar a educação no Brasil?!?

Com a reforma ortográfica houve inclusão de milhares de semi-analfabetos à norma culta.

Agora já podemos dar o segundo passo, a reforma gramatical, ..., isso é infinito.

Agora vai!!!
E seguindo essa mesma régua, ainda voltaremos a ser auto-suficientes em petróleo! O Pré-Sal será viável, qualquer que seja o preço do barril.

Alex,

Sempre leio teu blog mas você se superou neste... aceite meus mais sinceros parabéns...

Sim o petê inovou de forma genial

Já haviam implantando a novilingua e o duplipensar

agora é a vez da novimatemática

Chupa George Orwel, aqui é banânia, aqui a realidade extrapola a ficção

belíssimo texto

a situação tá complicada

Nestes dias nebulosos, vamos dar uma passada pelo blog do MÃO VISÍVEL para ver alguma racionalidade... Valeu, pelo menos desopilou o fígado....

Ja estamos caminhando tb na literatura! Machado de Assis deve ser simplificado para que mais pessoas possam lê-lo! Não é fantástico! Ao invés de melhorar a escola pública simplifica-se os livros. 1984 é hj! GEORGE!!!!

Aqui em Santa Catarina, o ensino da NMA já está bem adiantado. Da página da Secretaria de Educação, documento projeto pedagógico de matemática:
"Após discussões e reivindicações de uma parcela dos educadores, somadas às pressões desencadeadas pelo movimento neoliberal.....
O educador matemático é o sujeito que tem consciência de que:
Não são os conteúdos em si e por si o que importa, mas os conteúdos enquanto veículos de grandes
realizações humanas... os conteúdos enquanto veículos de produção de bens culturais (materiais e
espirituais) de esperanças e utopias sim... mas também os conteúdos enquanto veículos de produção
de dominação, da desigualdade, da ignorância, da miséria e da destruição... da natureza, de
homens, de idéias e de crenças. (MIGUEL, apud ABREU, 1994: 70).
Nesta concepção, a Matemática, sob uma visão histórico-crítica, não pode ser concebida como um saber pronto e acabado, ou um conjunto de técnicas e algoritmos, tal como concebe o ensino tradicional e
tecnicista."

Esta concepção vigarista explica a situação do ensino no país.

Bem que poderiam colocar Mantega como algum cargo de secretaria no ministério da fazenda.Pelo menos esse blog nao perderia o humor .

Texto GENIAL, como de hábito.
Seria cômico se não fosse trágico; até onde nosso mísero país chegou...
Parabéns, Alex!

Mais aqui:

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2120