Em
junho passado, pela primeira vez desde 2009, houve aumento da taxa de
desemprego em relação ao mesmo mês do ano anterior. Embora o ministro da
Fazenda, fiel ao seu estilo “deixa-que-eu-chuto”, tenha tentado associar este fenômeno
a uma flutuação sazonal (sem se dar conta que a comparação se referia ao mesmo
período de 2012, portanto livre de sazonalidade), a verdade é que o número não
foi bom.
O
crescimento do emprego no segundo trimestre deste ano atingiu apenas 0,5% na
comparação interanual, não só uma taxa baixa, mas também o primeiro registro (desde
2009) de um trimestre em que o número de vagas criadas não acompanha o aumento
da população em idade ativa (PIA), apesar do ritmo glacial (0,9%) desta última.
A
questão a esta altura é entender as causas e implicações deste fenômeno, para
as quais há aparentemente duas narrativas básicas. Uma aponta para o baixo
crescimento econômico como o motivo central para o enfraquecimento do mercado
de trabalho relativamente ao observado nos trimestres anteriores, quando o
desemprego se manteve sempre próximo a 5,5% em termos dessazonalizados.
Se
esta hipótese estiver correta, dadas as perspectivas de mais um ano de
crescimento medíocre, as consequências seriam negativas: em que pese o baixo
crescimento da PIA, a taxa de desemprego começaria a subir, lentamente, é
verdade, nos levando no sentido de um mercado de trabalho menos apertado do que
nos últimos anos.
Para
ser sincero, é possível que esta hipótese esteja correta, mas o mero fato de eu
tê-la apresentado antes da hipótese alternativa já indica certo desconforto com
esta proposta. E, de fato, tenho dificuldade de comprá-la a valor de face.
O
principal motivo desta dificuldade pode ser ilustrado pelo gráfico. Nele mostro
a relação entre o crescimento interanual do emprego e do PIB, este defasado em
um trimestre.
Fonte: Autor, com dados do
IBGE
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Não
é difícil perceber uma relação positiva entre estas variáveis, como expressa
pela reta presente no gráfico. (Alerto, porém, que a reta foi colocada apenas
para propósitos ilustrativos e não deve ser interpretada de forma alguma como
uma relação estrutural entre crescimento do produto e do emprego).
É claro
que a relação ali exibida não é matematicamente precisa; o que se vê é uma
associação positiva entre as taxas de expansão do produto e da ocupação.
Períodos de forte crescimento do PIB antecipam aumento vigoroso do emprego e
vice-versa. Historicamente, o crescimento do PIB na casa de 2% vem acompanhado
de aumento de emprego mais robusto que o observado no segundo trimestre deste
ano.
Há,
contudo, exceções importantes, como as marcadas no gráfico. De fato, tanto no
segundo quanto no quarto trimestres de 2012 o emprego parece ter crescido muito
mais do que seria normalmente associado à (baixa) expansão do PIB no período.
Por outro lado o crescimento do emprego no segundo trimestre deste ano não foi
muito distinto do observado em 2009 quando o PIB registrava taxas negativas na
comparação com o ano anterior.
Tais
observações podem ser explicadas pela hipótese levantada ainda no ano passado
por analistas que tentavam entender como o emprego podia ter um bom desempenho
à luz de taxas de crescimento ainda menores do que as observadas atualmente. No
caso propôs-se que os altos custos de contratação (inclusive treinamento) e
demissão de trabalhadores no contexto de um mercado de trabalho apertado levaram
as empresas a “entesourarem” seus empregados.
Em
outras palavras, ao invés de incorrer nos custos de demissão e nos riscos de
não conseguir recontratar trabalhadores devidamente treinados quando a economia
se recuperasse, empresas teriam decidido mantê-los, o que terminou produzindo
taxas de crescimento do emprego maiores do que as que normalmente acompanhariam
a fraca expansão do PIB.
Em
contrapartida, mesmo com a (modesta) recuperação da produção no começo do ano,
estas empresas não precisaram recontratar trabalhadores, o que explicaria o
desempenho aquém do esperado da ocupação no segundo trimestre.
A
valer esta história, a fraqueza extrema do emprego seria um fenômeno
passageiro. Mesmo o crescimento medíocre esperado para 2013 e 2014 parece, à
primeira vista, consistente com expansão do emprego a um ritmo algo superior ao
aumento da PIA, levando, portanto, à queda (lenta) da taxa de desemprego a
partir de algum momento no segundo semestre de 2013.
Caso
isto seja verdade, a tendência do mercado de trabalho seria de aperto
adicional, ainda que moderado, aumentando as pressões inflacionárias hoje
existentes. O desempenho no segundo semestre será crucial para saber qual das
narrativas está correta.
Quem leva?
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(Publicado 1/Ago/2013)