Tive a honra de ser convidado para ser o patrono da turma de 2011 da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP. Segue abaixo o meu discurso, assim como a foto da placa com que fui homenageado.
Para mim, mais que uma boa noite, trata-se
de uma noite excelente, na verdade inesquecível.
Em primeiro lugar, boa noite a todos.
Mal tenho o que dizer que possa
expressar a satisfação e a honra de ter sido convidado para ser o patrono desta
turma de 2011 da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo, a popular FEA-USP. Na qualidade de ex-aluno da casa,
tanto de graduação como de mestrado, foi com imensa alegria que recebi convite
e, mesmo me sabendo despreparado para isso, não hesitei em aceitar esta
honraria. Assim sendo, quero, acima de
tudo, agradecer à turma de formandos por este presente extraordinário e lhes
desejar uma felicidade ainda maior do que a que me proporcionaram (não vai ser
fácil, pelo que sinto neste exato instante). E, juntando à palavra o gesto,
acrescento que não pretendo tomar muito do tempo de vocês, para que possam, o
mais breve possível, comemorar com familiares e amigos esta conquista
importante.
Vocês se formaram numa das melhores
escolas do país e têm todo direito de estarem orgulhosos pelo feito. São poucos
os que atingem o que vocês já conseguiram.
Entretanto, mesmo num momento de
celebração (talvez principalmente nos momentos de celebração) cabe um tanto de
reflexão acerca das responsabilidades que terão, precisamente pela formação
privilegiada que construíram ao longo dos últimos anos, além da formação também
privilegiada que lhes permitiu ingressar na universidade mais disputada do
Brasil.
Olhem ao seu redor. Os desafios do
Brasil são imensos e, se não cabe apenas aos administradores, contadores e
economistas resolvê-los, é bom lembrar que nas suas áreas específicas de
atuação, as tarefas são formidáveis.
A despeito de todos os problemas por
que passa a economia mundial, um olhar mais cuidadoso notará que raras vezes o
ambiente internacional foi tão favorável ao Brasil. A emergência da China (e da
Ásia como um todo) sublinhou a importância do país como um grande produtor de commodities, trazendo ganhos
inimagináveis há poucos anos, quando as exportações brasileiras se arrastavam
teimosamente ao redor de US$ 75 bilhões/ano, em comparação aos mais de US$ 250
bilhões exportados no ano passado.
Ao mesmo tempo, o apetite do mundo pelo
Brasil cresceu exponencialmente: o investimento estrangeiro direto, inferior a
US$ 4 bilhões em 1995, o primeiro ano da estabilização, atingiu mais de US$ 66
bilhões no ano passado, um aumento de 17 vezes (quase 20% ao ano!).
Paro por aqui com números e dados. O
que importa acerca das duas figuras que acabei de mencionar é como elas
capturam o tremendo impacto da economia mundial sobre o Brasil, certamente um
dos fatores mais relevantes para explicar o bom momento pelo qual o país passa,
manifesto, inclusive, na aceleração do crescimento e das oportunidades que
finalmente se oferecem a todos nós.
Todavia, se é verdade que o país se
beneficiou muito deste estado de coisas, não é menos real o senso que fizemos bem
menos do que poderíamos para atacar as distorções que há décadas prejudicam
nosso crescimento: a educação de baixa qualidade (os aqui presentes excluídos,
é claro), infraestrutura deficiente e um sistema tributário tenebroso são
apenas alguns dos exemplos mais prementes de uma agenda de reformas que, a
despeito da sua obviedade, não consegue se mover. Anestesiados pela onda que
ergueu todos os barcos, inclusive o nosso, pouco fizemos para perenizar os
ganhos que se originaram de fatores temporários, ainda que persistentes.
É precisamente aí que vejo a
responsabilidade de vocês. Não é, quero deixar isto bem claro, uma
exclusividade da sua geração; a minha geração (ainda ativa e, espero, por bastante
tempo) tem muito a pagar ao país em termos de colaborar para o processo de
aprofundamento do crescimento. Vocês, contudo, já estão sendo chamados para
participar desta batalha.
Egressos da FEA, cada qual de vocês, em
sua específica área de atuação – seja Administração, Contabilidade ou Economia
– terá que contribuir para a racionalidade do processo produtivo, pois se trata
precisamente daquilo que passaram os últimos anos estudando, ainda que o
enfoque de cada uma das disciplinas seja algo distinto. Seja pelo esforço da
boa gestão das empresas, seja garantindo medidas acuradas da atividade
econômica e empresarial, seja ainda na análise e recomendação de políticas
macro e microeconômicas, o que se espera de vocês é que traduzam seus anos de
estudo em ações que busquem melhorar a eficiência econômica do país.
Não se assustem com esta
responsabilidade. O que acabei de afirmar não requer que, a cada passo
profissional, a cada atividade, vocês sejam obrigados a refletir profundamente o
que estão fazendo para o bem do Brasil e, presumivelmente, sejam chamados a
cantar o hino ao final de cada jornada de trabalho. É mais simples, podem ficar
tranquilos.
Vocês passaram os últimos anos
aprendendo e treinando. Da mesma forma que não se espera de um atleta que, durante
salto, ou nos 100 metros rasos, repasse mentalmente cada momento do seu
treinamento, não lhes será exigido, a cada instante, respostas para os muitos
problemas que afligem o país. O que lhes será pedido é que, no curso de suas
atividades profissionais, vocês aproveitem tudo o que estudaram, tudo o que
aprenderam, para fazer o melhor possível para garantir que a racionalidade
prevaleça.
Se conseguirem fazer isto, posso
garantir que terão contribuído mais para o bem-estar do país do que legiões de
ministros que se esforçaram (e ainda se esforçam) no sentido precisamente
oposto, não necessariamente por mal, mas porque – seguindo tradições que não
são as da nossa escola – deixaram de lado as lições que ali se aprende.
Sim, pelo histórico da FEA-USP, podemos
esperar que alguns de vocês sejam chamados a desempenhar papéis protagonistas
que gerações anteriores de “feanos” também desempenharam. Mas, mais do que
isso, espero que todos vocês
coloquem mais um tijolo na construção de um país melhor. Esta é sua tarefa,
esta é sua responsabilidade.
Só peço um favor: se possível, também
não deixem os picaretas dominarem o debate.
Mais uma vez, parabéns a vocês e muito,
muito obrigado, pela honra de ser seu patrono de formatura. Desejo a todos uma
carreira brilhante, reconhecimento e uma alegria ainda maior do que a me
proporcionaram hoje. Tudo de bom!
Homenagem bonita (fico muito grato) |