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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Os Panetones do Sr. Oreiro

Quando alguém aponta um erro na análise, há basicamente três reações possíveis.

A melhor delas é agradecer quem apontou o erro, corrigi-lo, e melhorar o trabalho.

A segunda é fingir que não ouviu.

A terceira, e certamente a pior delas (notando que a segunda já é bastante ruim), consiste em relevar o erro, buscando justificá-lo por meios de argumentos ad hoc. Para quem apontou o erro, porém, trata-se da alternativa mais divertida, porque geralmente acaba levando o autor da barbeiragem a cometer novas atrocidades no desespero de justificar a barbaridade original. Esta foi a alternativa escolhida pelo Sr. Oreiro, para gáudio dos observadores.

Recapitulando, o artigo original afirmava que a economia brasileira passa por processo de desindustrialização, com base na queda da participação da indústria brasileira no valor adicionado. Para que não restem dúvidas, segue a citação original (com erros de português e tudo):

Com base no conceito clássico de desindustrialização é simplesmente impossível negar que a economia brasileira esteja passando por um processo de desindustrialização [grifo meu]. Com efeito, os dados do IPEADATA mostram que entre 1981 e 2008 a participação da indústria no valor adicionado caiu de 44,31% para 27,34%, uma queda de cerca de 17 pontos percentuais em 27 anos. Trata-se de uma redução expressiva da importância da indústria para a geração de valor adicionado na economia brasileira.

Daqui se segue que o ponto a ser dabatido não é se a economia brasileira está ou não se desindustrializando, pois como vimos acima o resultado ineludível é que ela está. O ponto a ser debatido é se esse fenômeno é um resultado natural do estágio de desenvolvimento da economia brasileira ou se é a consequência das políticas macroeconômicas adotadas nos ultimos 20 anos.


Em segundo lugar o artigo também afirma que o comportamento da taxa real de câmbio é responsável pela desindustrialização. O argumento ocorre em dois passos. Primeiro associando a participação da indústria no PIB com o investimento. Novamente, para não ser acusado de criar um espantalho para depois criticá-lo, segue a transcrição literal:

Segundo Rowthorn e Ramaswany (1999), o investimento é altamente intensivo em produtos manufaturados de forma que uma redução da taxa de acumulação de capital deve estar associado a uma redução da participação da indústria no valor adicionado.

No período em consideração a taxa de investimento passou de 24,45% em 1981 para 19,91 % em 2008. Ou seja, uma queda de quase 5 pontos percentuais do PIB. Calculando o índice de correlação entre as duas séries observamos que o mesmo é de 0,747 no período considerado, de maneira que a taxa de investimento e a participação da indústria são altamente correlacionados.
Fazendo as devidas ressalvas para o fato de que correlação não implica causalidade [grifo meu], uma interpretação possível para a queda da participação da indústria no valor adicionado é a redução da taxa de investimento observada no Brasil nas últimas duas décadas.”.

O segundo passo consiste em associar participação da indústria no PIB e o investimento à taxa de câmbio.

Voltando agora a atenção para a taxa real efertiva de câmbio, observamos que no período considerado a TREC passou de um índice de 164,43 em 1981 para um índice de 105,63 em 2008, ou seja, uma apreciação real de cerca de 35% no período. Calculando o coeficiente de correlação entre a série de câmbio real efetiva (IPA-OG Exportações, série IPEADATA) e a participação da indústria no valor adicionado observamos que o mesmo é positivo e igual a 0,5613; ou seja, uma apreciação da taxa real de câmbio está associada a uma redução da participação da indústria no valor adicionado. Em outras palavras, os dados mostram que a apreciação do câmbio real está associado com a desindustrialização.

Por fim, se calcularmos o coeficiente de correlação entre a TREC e a FBKF/PIB notaremos que a mesma é positiva e igual a 0,2312, ou seja, a apreciação do câmbio real está associada a uma redução – e não a um aumento – da taxa de investimento da economia brasileira. Dessa forma, não é verdade que a apreciação da taxa real de câmbio atue de forma favorável a indústria ao baratear a compra de máquinas e equipamentos do exterior. Pelo contrário, o câmbio apreciado desestimula o investimento
[grifo meu].

Esses dados nos permitem, ainda que de forma preliminar, apontar para a apreciação da taxa real de câmbio como a causa fundamental do processo de desindustrialização da economia brasileira nos últimos 27 anos [grifo meu]. O câmbio apreciado afeta a participação da indústria no PIB diretamente, ao afetar a competitividade da indústria, e indiretamente, ao desestimular o investimento.”

Este é o grande exercício econométrico do Sr. Oreiro: o cálculo de três (!) coeficientes de correlação (FBKF/PIB vs. Indústria/PIB, Taxa de câmbio real efetiva vs. Indústria/PIB, e Taxa de câmbio real efetiva vs. FBKF/PIB). Como levantado pelo “O”, em seu comentário ao mesmo artigo, a ressalva “correlação não implica causalidade” é devidamente abandonada no curso de três parágrafos, quando se conclui, amparado nos coeficientes de correlação, que a apreciação da taxa real de câmbio foi a causa fundamental do processo de desindustrialização da economia brasileira nos últimos 27 anos.

Não vou me deter muito na escolha do índice de taxa real de câmbio. Só o suficiente para notar que:

(1) O resultado não é robusto à escolha do deflator da taxa real de câmbio. A série de câmbio real efetivo do Ipea que utiliza o INPC como deflator mostraria uma depreciação real de 6% do câmbio entre a média de 1981 (mais elegante que escolher o valor de dezembro de determinado ano) e a média de 2009 (até novembro), enquanto a medida pelo IPA-OG mostra apreciação de 42%. Caso se prefira olhar até 2008, teríamos, sob o INPC, desvalorização de 1% (25%, se preferirem o curioso critério de privilegiar dezembro sobre os demais meses do ano), contra apreciação de 47% sob o IPA (36% no critério Dezembro/Dezembro). Vale dizer, a mera alteração do deflator da série já mudaria as conclusões; e

(2) Como a taxa real de câmbio é a razão entre preços de bens comercializáveis e não-comercializáveis, deflacioná-la pelo IPA equivale, na frase feliz do Affonso Pastore, a “deflacionar o câmbio pelo câmbio”.


Este, porém, não é o objeto da crítica. O ponto principal é que, como lembrado pelo “O”, a peça fundamental da evidência se apóia numa prática para lá de equivocada, a saber, a comparação de séries de PIB essencialmente incomparáveis.

Concretamente, para ficar só num exemplo, o IBGE divulgou, no começo de 2007, uma nova série de PIB que, entre outras coisas, revelou uma estimativa bem mais elevada do nível de produto. A série, baseada em 2000, passou a mostrar estimativas do PIB de 7% a 11% maior que as anteriores, em boa medida, diga-se, por nova metodologia na avaliação do setor de serviços.


De onde se segue que as comparações entre uma série e outra são, pura e simplesmente, erradas, e comprometem a afirmativa que o país passa por processo de desindustrialização. E qual a reação do Sr. Oreiro?

No caso, houve duas reações, cada qual mais hilária. A primeira foi uma diatribe sobre o uso do modelo de regressão linear simples. Segue abaixo a citação literal, para evitar as acusações de construção de espantalho.

O axioma fundamental desse novo ramo do “conhecimento científico” é que problemas complexos – como por exemplo, a relação entre câmbio real e poupança ou os determinantes do investimento agregado – possuem causa única. Em outras palavras, toda a macroeconomia deve ser re-escrita em termos de equações simples de primeiro grau do tipo Y = a + bX. Digamos que Y seja o investimento como proporção do PIB e X uma variável explicativa, por exemplo, a taxa real de câmbio. Dessa forma, o teste “empírico” dessa equação seria rodar uma regressão simples (se bem que na maioria dos casos o Dr. Geninho e seu escudeiro só fazem análise de elevador mesmo) para saber se o coeficiente b é estatisticamente singificativo.[grifo meu]

Diatribe no mínimo curiosa, vindo de quem “provou” que “o câmbio apreciado afeta a participação da indústria no PIB diretamente, ao afetar a competitividade da indústria, e indiretamente, ao desestimular o investimento” por meio do cálculo de três coeficientes de correlação (sem se dar sequer o trabalho de testar a significância estatística dos mesmos). Confesso que isto me deixou confuso: como alguém poderia atirar no próprio pé com tamanha precisão e acreditar que se trata de argumento válido me escapa à compreensão. Vá saber...

Isto dito, o mais divertido foi a justificativa para a queda da participação da indústria entre 1994 e 1995. Confrontado com a impossibilidade de tal queda ter se verificado no contexto de expansão do produto industrial (4,7%) um pouco superior à expansão do produto total (4,4%), o Sr. Oreiro rebolou para sair com esta pérola:

Um pouco de atenção aos dados de preços relativos pode ajudar a compreender, ao menos em parte, o “mistério” do desabamento da participação do VA da indústria no PIB entre 1994 e 1995. Com efeito, enquanto o IPA de bens industriais apresentarou variação de 2083,25% e 55,23% nos dois anos em consideração; o delator implícito do PIB apresentou variação de 2251,59% e 93,52% !!!

Um pouco de atenção aos dados de preços relativos poderia mostrar que a relação entre o deflator implícito e o IPA industrial é tênue, para dizer o mínimo. Usando a série nova de PIB trimestral achamos, por exemplo, uma elevação dos preços industriais de 23,4% pelo deflator implícito em 1996, contra 3,2% do IPA industrial. Em 1997 temos uma variação negativa de 8,8% (deflator) contra variação positiva de 4% (IPA). Em 1998 4,1% contra menos 0,1%. Em 1999 17,2% contra 26,7%. Acho que posso parar por aqui, para dizer que o Sr. Oreiro, para colocar de forma gentil, mais uma vez se confundiu com os dados.

Para dirimir a dúvida basta a mera inspeção das duas séries, a qual revela que a “queda” da participação da indústria deve-se exclusivamente ao fato das séries medirem coisas diferentes, usando metodologias distintas. Caso reste ainda alguma dúvida, minha sugestão é ler diretamente o documento do IBGE a respeito, em particular a página 8, segundo a qual a indústria representava 36,1% do PIB em 2000, subindo para 37,9% em 2005 de acordo com a metodologia anterior, enquanto, pela nova metodologia a participação aumentou de 27,7% para 30,3% do PIB no mesmo período.

Neste mesmo período, tanto pela série antiga como pela série nova o PIB de serviços reduziu sua participação, de 56,3% para 54,1% (série antiga) e de 66,7% para 64% (série nova). Só quem confunde as séries é que poderia concluir que teria ocorrido elevação do PIB de serviços de 56,3% (série antiga) para 64% (série nova), ou, de forma equivalente, que a participação da indústria teria caído de 36,1% (série antiga) para 30,3% (série nova). Isto é, quem confunde as séries e se recusa a aceitar que pisou feio na bola.

A próxima desculpa é que tudo isto, na verdade, se destinava à distribuição de panetones aos menores carentes de Brasília.

78 comentários:

"Panetone a menores carentes" é sacanagem. Deve ter doído à beça.

Alex,

Sem dúvidas o Prof. Oreiro assassinou a lógica por ele mesmo traçada de que correlação não implica causalidade.
Por falar nisso, a tese do Cristiano já está disponível para acesso via Internet?
Ainda não vi um artigo que demonstrasse decréscimo no VA do PIB de forma absoluta a queda do VA da Indústria. O decréscimo em termos relativos à vista do relativo crescimento do VA de Serviços é característico de maior índice de desenvolviimento, como já foi dito em outra ocasião, e não de desindustrialização.
A questão é: quais setores industriais tiveram decréscimo absoluto e porque? Que fatores os atingiram de forma a perderem competitividade para a China? Seria de se esperar que assim fosse o caso, para calçados, bens de capital, e outros? E esta seria a trajetória de se esperar porque tais setores não têm a produtividade que deveriam para competir?
Essas as minhas dúvidas!

"Por falar nisso, a tese do Cristiano já está disponível para acesso via Internet?"

Já. O endereço é:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12138/tde-18122009-092539/

Nesta página basta clicar no nome do Cris e concordar com os direitos de copyright.

Se o "O" deixou sangrando, este foi o golpe de misericórdia.

Olhem a peça do Oreiro. Uma mistura de má piada (como já levantado, Geninho é o técnico do Náutico?) com pretensa erudição (a menção à Roma). Resta-nos o deboche (get off the closet, Oreiro. Fight religion and break free): "Lembra-te, Oreiro, apesar de negares, de homens, sabemos que gostas".

"Talvez falte ao Dr. Geninho, o Grande, alguem de sua confiança que faça o trabalho ingrato, mas extremamente útil, que os escravos faziam aos Imperadores Romanos durante os seus desfiles triunfais em Roma. Alguem que diga ao pé do ouvido: “lembra-te César que és apenas um homem”."

Olha, não há dúvidas que o Cristiano leu uma diversidade de autores e solidificou uma grande tese,no entanto, no regional é preciso análisar o que ocorre nos municipios que dependem imensamente do petróleo.

Como no caso de Campos-RJ, nesse site tem uns trabalhos sobre o tema da Doença Holandesa.

http://www.royaltiesdopetroleo.ucam-campos.br/index.php?cod=4

É isto que dá prolongar o feriadão, perde-se a melhor parte do debate.

O Oreiro lançou, agora a pouco, um post em que ele mostra mais uma vez, entre outras coisas, o seu elitismo. Segundo ele, palavras de baixo calão são indignas de uma pessoa de nível superior. O que ele pensa das pessoas que não possuem nível superior?

No post ele diz que suas conclusões são baseadas na leitura de uma "bibliografia mínima" sobre o tema da desindustrialização. E esta literatura aponta um consenso sobre a desindustrialização. E diz ainda, que suas conclusões foram apresentadas numa pequena nota redigida em poucos minutos e, por isto, não mereceria tanta consideração.

Resumindo, ele quer se passar mais uma vez por vítima.

Não venha com esta, se expressou a opinião no blog, estará sujeito à crítica. Se não quisesse ouvir opinião contrária, guardasse para ele.

Agora, quem definiu esta "bibliografia mínima" sobre desindustrialização? E sobre o consenso em torno deste tema, tem artigo por aí que diz que não houve desindustrialização da forma como é "vendida", então não há consenso. Além disto, boa parte dos artigos sobre desindustrialização foi escrito por quem quer provar que ela ocorreu. Ou seja, grande parte da literatura é viesada.

E caso aceitemos que há um consenso na literatura, ou este consenso é muito ruim ou o Oreiro não entendeu nada do que leu. Basta ver que a nota dele não resistiu à crítica do "O" e do Alex.

Porque se há o consenso, ninguém precisaria falar mais nada nem provar nada, o debate já estava resolvido. E o próprio Oreiro não precisaria opinar nada.

E ele quer confundir o debate. Agora a culpa não é dele, mas dos autores que ele leu. Ele quer usar o argumento da "autoridade, segundo o qual, os "economistas especialistas em indústria" dizem que houve desindustrialização.

O debate não está sendo sobre o que o Bonelli, o Almeida, o Nassif ou outros escreveram, mas sobre os dados utilizados e as afirmações feitas pelo Oreiro. As "referências" falaram muito pouco nas conclusões do Oreiro.

E se há este consenso mesmo, porque até agora ninguém saiu em defesa do Oreiro?

Fazer papel de vítima e apelar para o argumento da "autoridade" não apaga o vacilo e só piora o vexame.

Alguém me falando ao pé de ouvido?

Vade retro!

Só a Eleni.

"no regional é preciso análisar o que ocorre nos municipios que dependem imensamente do petróleo."

Acredito que sim e se trata de experiência importante para analisar o que poderia ocorrer com a exploração do pré-sal. Mas isto se encaixa, creio, mais no tema geral de "maldição de recursos naturais", em particular temas como "rent-seeking".

Você acha algumas das nossas reflexões aqui (http://maovisivel.blogspot.com/2009/11/malditos-recursos-cristiano-souza-e.html).

"palavras de baixo calão são indignas de uma pessoa de nível superior"

"Panetone" é de baixo calão?

Acho que "Artigo do Oreiro" é de baixo calão.

Esses posts do Oreiro chegaram em boa hora. Nada como um recesso de fim de ano regado a vastas gargalhadas. O último foi sensacional. Ele desqualificou o próprio post pra poder desqualificar as réplicas que recebeu, hahahaha. Coitado do cara. Vocês são crueis.

"Ele desqualificou o próprio post pra poder desqualificar as réplicas que recebeu, hahahaha."

Sem surpresa. O cara calcula 3 coeficientes de correlação e depois vem dizer que eu faço regressão simples. O comportamento, apesar de esquisito, é consistente.

Ok. O Oreiro falou bobagem !

Quero levantar outro ponto:
Será que econometria muito complexa é sempre necessária ?
Os resultados que a econometria de séries tempeorais "de fronteira" alcança muitas vezes já podem ser deduzidos da construção de indicadores.
Então, acho que "A navalha de Occam" pode ser invocada.
Não é a navalha de "O", é de Occam!

"Quero levantar outro ponto:
Será que econometria muito complexa é sempre necessária ?"

Sempre não. Acho que há casos em que o pessoal usa canhão para matar passarinho, mas prefiro deixar quem conhece o assunto mais a fundo opinar.

"Sua estratégia para comigo se baseia na manipulação de dados de séries diferentes das Contas Nacionais para desmontar uma relés nota escrita por mim, nas vésperas de Natal, e que, portanto, tem ainda o status de “working in progress”.""

O que é "working in progress"? O que é "relés"? Vocês estão perdendo tempo com um semi-analfabeto...

Lendo esses Nassifs e Oreiros fico achando que o trabalho de vocês economistas é muito fácil. Tem sempre alguém dizendo besteira que pode ser lido e usado como alerta para não cometer os mesmos erros. A engenharia é muito mais difícil. A gente mesmo tem que descobrir o que não funciona, não tem nenhum blogueiro pondo na internet as listas completas de erros possíveis.

É verdade. Por outro lado, quando vocês engenheiros mostram que não funciona, os demais abaixam as "oreiras". Os Nassifs e Oreiros dão chiliques.
Abs

"Será que econometria muito complexa é sempre necessária ? "

Nao. A econometria tem que ser correta, muitas vezes pode ser bem simples, outras vezes nem toda complexidade do mundo pode resolver o problema, porque pode faltar o que os econometristas chamam "identificacao", por exemplo.

"O"

"A engenharia é muito mais difícil. A gente mesmo tem que descobrir o que não funciona(...)"

Talves isso ocorra porque a engenharia não é uma ciência social?!!

Portanto, meu caro(a) pait"taquada" não se iluda, é tudo pelo contrário, a engenharia é bem mais fácil, pois nela há consenso.

A Economia é o que é, nesse blog você só vê o convencional, não o que é absolutamente certo. !

Se tem algo que me salta aos olhos (ou ouvidos) eh o silencio da heterodoxia, nao ha um unico companheiro de viagem do Professor Oreiro que escreveu uma nota ou comentario sequer em sua defesa.

"Talves isso ocorra porque a engenharia não é uma ciência social?!!"

Talvez isso ocorra porque engenheiros (apesar da lenda) respeitam mais a inculta e bela que alguns pretensos economistas (não-convencionais, é claro).

"Sua estratégia para comigo se baseia na manipulação de dados de séries diferentes das Contas Nacionais para desmontar uma relés nota escrita por mim, nas vésperas de Natal, e que, portanto, tem ainda o status de “working in progress”."

O horror. O horror...

A gramática consegue ser ainda pior do que a economia. Eu sempre me surpreendo com ausência de fundo em determinados poços.

(e sou eu quem manipula os dados - copiados do IBGE e devidamente referenciados)

"A Economia é o que é, nesse blog você só vê o convencional, não o que é absolutamente certo. !"

Mas que o "working in progress" do Oreiro está absolutamente errado, isto está.

E além disto, o "working in progress" é um bom exemplo de desperdício de recursos públicos, pois contou com subsídios do CNPq para ser escrito...

Para quem exige que os outros trabalhem e não gastem tempo achando os seus erros, deveria usar melhor os recursos públicos.

Deve ser mais um exemplo da boa "intervenção" estatal. Usar recursos públicos para produzir aquela pérola, deveria ser um crime.

E boa pergunta, cadê a lealdade da heterodoxia?

Prezado Alexandre, o senhor poderia explicar mais a fundo o problema com o câmbio real deflacionado pelo IPA-OG?
Não consigo entender a razão de o pessoal do IPEA calcula-lo se ele é totalmente equivocado.

Obrigado e abraços!

Renato

Acabo de ler o trabalho do Dr. Cristiano. Excelente, a começar pela elucidativa revisão bibliográfica e mostrando diferenciação entre "maldição de recursos naturais" e "doença holandesa". Lá está também demonstrado que os 3 setores que mais sofreram, certamente devido à apreciação do câmbio mas também a outros fatores que implicaram em menor competitividade, foram: 1) Preparação de Couros, seus artefatos e calçados; 2) Confecção de artigos de vestuários; 3) Produtos de madeira; que sofreram queda física de produção e exportações, entre 2003 e 2008, respectivamente, de 1) -20,6% e -7,3%; 2) -12,9% e -45,6%; 3) -12,0% e -10,1%.

"Prezado Alexandre, o senhor poderia explicar mais a fundo o problema com o câmbio real deflacionado pelo IPA-OG? "

Eu respondo Renato, mas só se você prometer não usar "senhor" nos próximos comentários.

A taxa real de câmbio pode ser definida como a razão entre preços de bens comercializáveis (que podem ser objeto de comércio internacional) e os não-comercializáveis (bens que não podem ser transacionados entre países, como a maioria dos serviços, ou produtos perecíveis, ou aqueles para os quais o custo de transporte é muito elevado).

Por que? Porque quando o preço dos bens comercializáveis sobe relativamente ao de não-comercializáveis, duas coisas ocorrem: há redução da demanda por bens comercializáveis e aumento da sua oferta. O excesso de oferta de bens comercializáveis é o equivalente as exportações liquidas. Assim, um aumento do preço relativo entre comercializáveis e não-comercializáveis corresponde a uma desvalorização da taxa real de câmbio.

De forma equivalente, uma queda nesta relação tem o efeito inverso, qual seja, reduzir a oferta de bens comercializáveis e elevar sua demanda, isto é, reduzir as exportações líquidas.

Assim, se PC é o preço de comercializáveis e PN o de não- comercializáveis, podemos definir a taxa real de câmbio (e) como:

e = PC/PN

Mas o que é o preço de comercializáveis? É o preço (P*) destes bens em moeda estrangeira (dólar, para simplificar) convertido em moeda doméstica pela taxa nominal de câmbio E (estamos deixando de lado tarifas de importação e exportação e custos de transporte), isto é:

PC = EP*

Logo a taxa real de câmbio seria dada por:

e = EP*/PN, onde P* é o preço de comercializáveis nos EUA.

E PN? Imagine que seja o IPA-OG. Acontece que o IPA tem uma proporção grande de bens comercializáveis, cujo preço é exatamente o preço internacional convertido em moeda doméstica pela taxa de câmbio nominal (soja, aço, metais, minérios, grãos, etc). Assim, a taxa real de câmbio seria aproximadamente:

e ~ EP*/EP* ~ 1 (por este motivo o Pastore diz que usar o IPA como deflator do câmbio real equivale a deflacionar o câmbio pelo câmbio).

Desta forma, idealmente para medirmos a taxa real de câmbio deveríamos usar um deflator doméstico com uma larga medida de bens não-comercializáveis, tipicamente um índice de preços ao consumidor, que contem uma medida elevada de não-comercializáveis, isto é:

e = EP*/IPC (onde P* pode ser o PPI e o IPC pode ser o IPCA, ou o INPC, por exemplo).

A saga quermessiana rumo a intervenção e desvalorização do câmbio, segue os seguintes passos:

1. demonstrar a ocorrência da desindustrialização;

2. associar a desindustrialização à doença holandesa;

3. apontar que a doença holandesa é causada pelo excesso de recursos que entraram na economia brasileira pelos mais diversos motivos;

3. o câmbio apreciado, que é resultado da doença holandesa, é o responsável pela desindustrialização;

4. crescimento econômico apoiado na poupança externa é frágil e carrega em sí riscos futuros para a economia e soberania nacional;

Ao final desta saga, será encontrado o Santo Graal, a Arca Perdida e outros artefatos mágicos que contenham o segredo do universo ou da vida eterna.

A conclusão, que já é pressuposta, é a intervenção no câmbio. Desvalorização na marra para salvar a industria nacional, sejam os exportadores ou aqueles que concorrem diretamente com os produtos importados (nada sobre benefícios aos consumidores ou investimentos, nem mesmo sobre o gasto público. E se os empregos desaparecerão, todos deverão exigir a desvalorização, é uma questão cívica).

E este blog "impróprio" não deixa os pobres keynesianos darem nem o primeiro passo, que é falar da desindustrialização.

Mas aí também surge outro problema, pois as propostas de intervenção no câmbio, como o fundo soberano ou controle de capitais, também são descabidas.

Os quermesseiros não conseguem justificar a intervenção, e mesmo que conseguissem, não saberiam fazer a intervenção, como este mesmo blog já demonstrou.

Erram no começo, no meio e no final. Triste vida esta da quermesse.

"Talvez isso ocorra porque engenheiros (apesar da lenda) respeitam mais a inculta e bela que alguns pretensos economistas (não-convencionais, é claro)"

Que seja, isso não muda o rumo da prosa. A academia de letras só existe para ser um bibelo da elite brasileira. Parece o pessoalzinho do instituto milenium, burguÊses,bobos e bons paca.

Além disso, até o Beluzzo já ganhou um Juca Pato!!!

Alexandre,
o Pastore fez essa afirmação em algum artigo? O senhor teria ele?
Abraços,
Daniel

"Além disso, até o Beluzzo já ganhou um Juca Pato!!!"

Bastante apropriado.

"o Pastore fez essa afirmação em algum artigo? O senhor teria ele?"

Moçada: o que está havendo com esta história de "senhor"?

Pode ser que tenha feito em algum artigo, mas eu me lembro dela ao vivo, com a entonação característica do Pastore (quem conhece sabe do que estou falando). Vou perguntar.

Alex, você está certo, em engenharia quando um burro fala, o outro abaixa a oreira. Melhor é o futebol, porque futebol é bola na rede - não tem lugar para pseudocraque.

"Alex, você está certo, em engenharia quando um burro fala, o outro abaixa a oreira."

Talvez isso ocorra porque só tenham mesmo burros na engenharia.

Que pataquada!

"Moçada: o que está havendo com esta história de "senhor"?"

Uai, é simples: Você é tão cheio de si que os caras crús que chegam no blogue acham que você é Deus.

Daniel, fique avonts, pode espinafrar: de Neoliba pra Baixo...

Se ele falar besteira pode bater, que quando você falar ele não vai te poupar.

"Uai, é simples: Você é tão cheio de si que os caras crús que chegam no blogue acham que você é Deus.

Daniel, fique avonts, pode espinafrar: de Neoliba pra Baixo...

Se ele falar besteira pode bater, que quando você falar ele não vai te poupar."

Hmmm. Que recalcada... Sossega moça (e aproveite para tirar o acento de "crus", sem que isto gere comichões incontroláveis).

Hmmm. Que recalcada... Sossega moça (e aproveite para tirar o acento de "crus", sem que isto gere comichões incontroláveis).

Qué é isso, homofobia? Bem digno de você mesmo.

Um dos clássicos dos Pastore é esse que segue no link:

http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/view/624/566

A teoria da paridade do poder de compra, minidesvalorizações e o equilibrio da balança comercial.

Tks

"Qué é isso, homofobia? Bem digno de você mesmo."

Que bom que você saiu do armário. Mas meu problema mesmo é "cretinofobia". Mas não se pode pedir a um cretino que perceba, né?

"Mas não se pode pedir a um cretino que perceba, né?"

Nem mesmo pedir a um picareta que se desempicarete, não é ?

"Nem mesmo pedir a um picareta que se desempicarete, não é ?"

Imagino que sua experiência na área seja insuperável.

"Imagino que sua experiência na área seja insuperável."

Relaxe, pelo menos nisso, em idade e experiência você já me superou.

Alex,
"distribuição de panetones aos menores carentes de Brasília"

Esse "menores carentes" tem mensagem subliminar ne?!

""Relaxe, pelo menos nisso, em idade e experiência você já me superou."

Modéstia sua. Com base apenas nos seus comentários e seu português impecável (hehehe) já se pode concluir que se trata de um picareta inalcançável, do tipo do que se recusa até a aceitar os dados do IBGE se estes não se coadunam com sua tese.

"do tipo do que se recusa até a aceitar os dados do IBGE se estes não se coadunam com sua tese."

Não creio.

"Pensas" que sou o Oreiro?(háhá).

Você bate nele porque ele não se rebaixa a sua picaretisse. Se ele quebrasse os protocolos e toda a formalidade como você faz nesse blog, seria fácil mostrar sua picaretagem.

Assim como estou fazendo agora.

Veja essa, acho que vai gostar de relembrar:

http://www.qprocura.com.br/clip-noticias/2006/60845/Ele-nao-entende-de-economia--ataca-ex_diretor-do-BC.html

Já saiu dos livros textos?

un événement regrettable!

"Você bate nele porque ele não se rebaixa a sua picaretisse."

Não sei o que seria "picaretisse". Eu não falo símio.

E quanto a "http://www.qprocura.com.br/clip-noticias/2006/60845/Ele-nao-entende-de-economia--ataca-ex_diretor-do-BC.html"

Foi mesmo um dos meus melhores momentos. Ninguém quer falar a verdade, mas ela precisa ser dita. Só um reparo: eu disse que ele não entende NADA de economia. Assim como você.

E você já saiu da cartilha? Be-a "bá", be-é "bé", ze-u, "zuuuuuu"RRROO...

"Você bate nele porque ele não se rebaixa a sua picaretisse. Se ele quebrasse os protocolos e toda a formalidade como você faz nesse blog, seria fácil mostrar sua picaretagem."

O Oreiro não se rebaixa? Não foi o que ouvi.

É só ver as tentativas de resposta à fajutada que deu nos dados. Coisa de quem não se rebaixa rs

Alex,

Ontem eu tive o desprazer morbido de ler o artigo do Bresser/Marconi.

Em breve eu vou fazer minha resenha.

"O"

Prezado Senhor Alex, caros freqüentadores do blog:
Acompanhei aqui a batalha das idéias o ano todo. Não perdi um post que fosse, não deixei de ler nem um comentário. Venho desejar a todos um 2010 nota 10! (Com o perdão do trocadilho indigente!)
E, resumindo e concluindo, eu sou um romântico! (Que será isso?) Não queria o mundo como é, as pessoas como são, não queria essa diabólica “Mão Invisível” pondo e dispondo, mas... a utopia é veneno para a realidade, a realidade é veneno para utopia!
Que continuemos juntos aqui ao longo de 2010!

Na Engenharia há consenso porque, se alguém começa a achar que a engenharia convencional é coisa de "cabeça de planilha" e resolve aplicar maluquices no lugar, o sistema de controle não funcionará, a ponte desabará, o circuito integrado não fará nada, etc..
Como na Economia não se podem isolar variáveis, as teorias malucas ganham sobrevida através de manipulação dos dados.

Neste final de ano, devo agradecê-lo pela indicação de meu fundo como um bom investimento, você realmente é um cara de visão. Falando em visão, adoro as previsões do Santander ( você é o economista-chefe de lá, não é ? ), servem como uma bússola ao contrário, é só seguir para a direção contrária ao que indica para ficar mais próximo do que irá realmente acontecer. Abraço fraterno.

O problema da matemática em economia é seu uso errado.

A moda agora é desenvolver modelos matemáticos que criticam o livre mercado, e concluir que o estado com uma canetada "mágica" vai corrigir as falhas de mercado.

"E você, já saiu da cartilha?"

Até nas entrevista você cita os livros textos. É sinal que te faltam exemplos reais, confirmando o que disse o Nakano sobre suas frágeis habilidades.

É apenas um molequinho que ainda nem saiu dos livros textos.

Vá terminar de decorá-los, depois conversamos sobre a realidade.

"Ontem eu tive o desprazer morbido de ler o artigo do Bresser/Marconi"

Pelo menos creio que aprendeu alguma coisa. Aprender é doido para os cretinos, causa um grande desprazer.

"Até nas entrevista você cita os livros textos"

Alguns livros-texto de gramática ajudariam bastante, como, por exemplo, não flexionar "textos" depois de "livro".

ATENÇÃO: não é porque é gramática que você pode comer! Aguente a tentação.

"Aprender é doido para os cretinos, causa um grande desprazer."

Agora sim, um assunto que ele entende...

"É só ver as tentativas de resposta à fajutada que deu nos dados. Coisa de quem não se rebaixa"

Uai, se ele se rebaixasse iria pancar, não ficar de lero-lero com o Mr. Bald.

Ah, esqueci, o OREIRO é pesquisador 1C do CNPQ, não está vendido aos bancos, então ainda tem uma reputação para manter.

"Neste final de ano, devo agradecê-lo pela indicação de meu fundo como um bom investimento, você realmente é um cara de visão."

Caro Bernie:

Imagino que esteja curtindo a prisão, em particular aquele momento tão esperado do banho, ainda mais sabendo das suas dificuldades de segurar o sabonete.

Mas não precisa me agradecer. Eu jamais recomendei o seu fundo. Era apenas uma mentira de um mentiroso profissional, que já teve que se retratar depois de uma cartinha do meu advogado.

Aproveite bem seu sabonete.

Alguns livros-texto de gramática ajudariam bastante, como, por exemplo, não flexionar "textos" depois de "livro"

Já te disse que isso é de menos panaca, não sou da academia brasileira de letras.

E seu fosse apontar seus erros,assim como os de seus comparsas, logo te enternariam.

O mentiroso era o Nassif? Conte-nos essa história! rsrs

"Era apenas uma mentira de um mentiroso profissional, que já teve que se retratar depois de uma cartinha do meu advogado."

Sinal que já andou consultando o doutor, né?

"E seu fosse apontar seus erros,assim como os de seus comparsas, logo te enternariam."

Já disse que eu não entendo símio. E tente manter a calma. O que houve? Perdeu o sabonete?

Aprender é doido para os cretinos, causa um grande desprazer." "Agora sim, um assunto que ele entende..."

Claro que sim, até fiz uma cartilha:

Ensinado para Ortodoxos e Cretinos de A à Z

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"Claro que sim, até fiz uma cartilha:

Ensinado para Ortodoxos e Cretinos de A à Z"

Nada como um especialista. Mas, como não é ortodoxo, só resta a segunda alternativa.

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Aí Alex, tá vendo.

Fica dando trela pra quem espinafra o Oreiro e acabou estimulando os bobões que não sabem distinguir as coisas.

Antes de escreverem besteiras leiam:

Bianchi, A.M.1992. Muitos métodos é o método: a respeito do pluralismo. Revista de Economia Política, vol.12, n.º2(46), abril-junho/1992.

Adicionalmente recomendo:

Keynes, J.N. 1917.The scope and the method of political economy.Nova York:Kelley &Millman.

Caro anônimo das 18:18:

Eu entendo os méritos de se usar diferentes métodos em economia. Só nao entendo o mérito de se usar um método errado. Não existe nenhum método aceitável que inclua a comparação de séries das contas nacionais que por definição não devem ser comparadas/comparáveis. Um exemplo. Pode-se fazer suco de laranja de vários métodos diferentes, espremendo manualmente, espremendo com uma máquina, descongelando o suco congelado. Pintar uma maçã de cor de laranja e espremê-la em seguida não é um método de se fazer suco de laranja.

A minha crítica ao artigo do Professor Oreiro não foi uma crítica metodológica, mas sim uma crítica factual/substantiva. O erro principal da análise do Professor Oreiro foi usar versões diferentes das contas nacionais, tratá-las como se elas fossem comparáveis, e assim fabricar o resultado que ele queria demonstrar. Pior ainda que se os dados forem tratados adequadamente, o resultado que ele tentou demonstrar é simplesmente falso: segundo a evidência baseada nas estatísticas das contas nacionais, não houve desindustrialização no Brasil durante o período estudado pelo professor.

Nunca é demais ressaltar que sou aberto a mudar de opinião, desde que eu seja apresentado a argumentos consistentes e que façam sentido. Se você souber de algum outro método de se medir desindustrialização ou outra definição deste fenômeno, seja bem-vindo para discutí-la. Espalhe o conhecimento.

Abraços,

Tio “O”

Apesar de a discussão haver saído do foco, gostaria de voltar ao tema das séries históricas utilizadas de forma pouco rigorosa. Na minha opinião, a série da dívida pública como porcentagem do PIB é uma delas. Com a mudança da metodologia do IBGE do levantamento do PIB, ocorreu um elevado aumento do mesmo e com isso a relação dívida pública / PIB caiu de patamar da casa dos 50-60% para os 30-40%. Essa mudança, a meu ver, mudou o foco do discurso, o estado que antes era oneroso e ineficiente passou a ser considerado moderado e responsável. Essa mudança ocorreu quase em um passe de mágica, a diminuição da influência do estado passou a não ser mais exigida. Chegamos à responsabilidade fiscal por decreto e sancionada por um órgão de estado.
Vejo cada vez mais economistas sérios apontando como uma das causas de termos passados “bem” pela crise como sendo a responsabilidade fiscal do governo. Isso me entristece, pois com um superávit primário algo próximo de 2%, devemos estar com um déficit nominal de mais de 5%. Para mim esses números não são números de uma política fiscal sadia.

Obs: Eu concordo que após a lei de responsabilidade fiscal o Brasil melhorou muito, mas acho que devemos continuar avançando na direção de uma política fiscal eficiente.

Abraços,
LB

"Com a mudança da metodologia do IBGE do levantamento do PIB, ocorreu um elevado aumento do mesmo e com isso a relação dívida pública / PIB caiu de patamar da casa dos 50-60% para os 30-40%."

LB:

É verdade que a mudança na aferição de contas nacionais implicou redução da relação dívida-PIB (seja dívida líquida, seja dívida bruta), mas não concordo que tenha nem mudado o caráter da política fiscal, nem a questão do tamanho do Estado.

Mesmo com as novas contas nacionais ainda temos um governo que em 2008 tributou o equivalente a 36% do PIB (57% do aumento do PIB naquele ano) e cujos gastos primários se situam em patamar próximo a este. PIB "novo" ou "velho", a conclusão sobre tamanho do Estado permanece.

A responsabilidade fiscal (aí temos que defini-la; por comodidade vamos dizer que um governo fiscalmente responsável faz um superávit primário superior ao requerido para estabilizar a relação dívida-PIB) neste caso também não veio por decreto. Veio de uma forma que eu particularmente não acredito ser sustentável, i.e., aumento de tributação, mas ela está aí (enfraquecida, é verdade) desde 1999/2000.

Quanto ao IBGE sancioná-la pelo aumento da estimativa do PIB... Bem, eu aprecio o trabalho do IBGE. Isto dito, há um risco (remoto) de ocorrer o que houve como Indec na Argentina, mas estamos muito longe disto.

A mudança foi documentada, seguiu recomendações internacionais, o pessoal do IBGE fez seminários para explicá-la (caramba, eles explicam até como fazem o ajuste sazonal!). Qualquer economista que se interesse pelo assunto pode se informar devidamente (obviamente refiro-me apenas aos sérios) com o Olinto ou a Rebeca que estão sempre disponíveis. Em outras palavras, foi uma mudança transparente.

Abs e bom ano

Alex

Alex, parabéns pelo blog e pelos posts. Alguém tinha que se dar ao chatíssimo trabalho de expor os fundamentos do blá-blá-blá desses caras, o que você fez com maestria. Feliz ano novo.

André:

Obrigado, mas tenho uma pequena discordância: este trabalho não é nada chato.

Abs e feliz 2010,

Alex

Caro Alex,

Concordo em gênero, número e grau com os seus comentários sobre a mudança da metodologia do PIB pelo IBGE. Nunca comentei sobre essa mudança como se fosse uma jogada ladina do governo para se aproveitar desse novo PIB. Acho o IBGE um órgão sério, com gente séria e que é transparente sobre suas metodologias de pesquisa.
Minha indignação é com a aparente leniência de economistas e demais comentaristas do mercado sobre a situação fiscal do Brasil. A minha impressão que após essa mudança (metodologica) todas as críticas em relação à situação fiscal do governo se tornaram mais brandas. Pode ser que tenha sido pela maior taxa de crescimento do PIB, pois elas ocorreram em uma época próxima uma da outra, fica difícil discernir. Não quero que eu isso caia na discussão se correlação sinaliza causalidade, mas o problema fiscal continua presente. E muitos economistas renomados (inclusive você, em um post nesse blog) já colocaram que o Brasil passou por essa crise parcialmente incólume, por causa (dentre outras) da sua política fiscal recente.
Afinal, você considera que o Brasil está no caminho certo em relação a política fiscal? Ou essas afirmações para não ir contra a maré, pois essa resposta simplesmente vem bem a calhar?
Na minha opinião, essas respostas são dadas, pois caso alguém reclame da política fiscal vai ter que escutar um monte comentários do tipo “o Brasil ta crescendo, você não sabe nada de economia”. Essas respostas simplistas do tipo “não se mexe em time que está ganhando”, acabam minando a intenção de ser contra e de reclamar uma política fiscal mais restritiva. Afinal, é mais fácil errar em bando do que acertar sozinho.

Ps: Eu não indiquei o senhor na lista dos economistas que consideram a política fiscal brasileira recente como responsável para implicar, apenas para ilustrar que bons economistas pararam de criticar

LB

"Afinal, você considera que o Brasil está no caminho certo em relação a política fiscal? "

Não, mas há algumas coisas que tenho que reconhecer. Se olharmos a política fiscal unicamente pela ótica de sustentabilidade da dívida, é uma questão aritmética concluir que, em média, o superávit primário tem sido suficiente para dar conta do problema. Independente de mudanças no denominador, a dívida tem caído.

Só que eu acho que a política fiscal vai muito além da questão da solvência. Resolvida a solvência (senão nada mais adianta), o ideal seria um política fiscal caracterizada por baixa carga, gasto corrente reduzido, uma participação grande do investimento no conjunto do gasto, i.e., a visão espelhada do que temos no Brasil hoje. Se tiver interesse, mando um artigo que preparei para a Agência Estado (está no Broadcast desta semana), explorando exatamente este tema.

Mande um e-mail para:

alexandre.schwartsman@hotmail.com


Abs

Alex