O comportamento do mercado de trabalho, em
particular a redução da taxa de desemprego mesmo em cenário de baixo
crescimento, sugere que capacidade de expansão sustentável do produto é
reduzida, pouco superior a 1% ao ano. Não é um problema para os próximos anos,
mas precisa ser resolvido antes de se tornar um obstáculo mais sério.
O
IBGE divulgou a taxa de desemprego aberto para o trimestre terminado em
dezembro, registrando 11,0% no período, contra 1,2% no trimestre findo em
novembro e 11,8% no terceiro trimestre do ano passado.
Como
há, porém, um forte componente sazonal no comportamento do desemprego (que
normalmente sobe entre dezembro e março e cai de março a dezembro), é sempre
melhor nos basearmos nos números ajustados à sazonalidade, que – segundo nossas
estimativas – registraram modesta queda entre novembro (11,8%) e dezembro
(11,7%), levemente abaixo do registrado em setembro (12,0%). Na média de 2019
houve também recuo, 11,9% contra 12,3%, semelhante à observada em 2018 (12,3%
contra 12,8%).
De
acordo com esta métrica houve, portanto, pequena melhora no mercado de trabalho
a partir de 2017. Outras medidas mais amplas de subutilização da força de
trabalho, que levam em conta, entre outros fatores, pessoas trabalhando menos
do que poderiam, assim como as desalentadas (que desistiram de buscar trabalho
por falta de perspectivas), mostram também recuo, embora ainda menor (24,2%
contra 24,3%).
O
comportamento do desemprego, porém, é um tanto surpreendente. É verdade que a
queda foi pequena, mas não é menos verdadeiro que o crescimento do ano passado,
provavelmente pouco acima de 1%, assim como em 2018, foi muito fraco. Isto
reforça a percepção que a capacidade de expansão sustentável da economia
brasileira (“crescimento potencial”) parece baixa. Explico.
Podemos
definir o crescimento potencial (não o produto potencial, cuja
definição e medidas são mais complicadas) como aquele consistente com uma taxa
de desemprego constante, ou, de forma mais ampla, como aquele que mantem
inalterado o nível de utilização de recursos na economia (trabalho e capital).
Obviamente
esta definição não implica que devamos manter constante o nível de utilização
de recursos na economia, mas apenas que taxas de crescimento superiores à
potencial levarão à queda persistente do desemprego e da capacidade ociosa e
que, portanto, não podem ser sustentadas indefinidamente. De fato, sob tais
circunstâncias em algum momento a economia esbarraria nas restrições de
mão-de-obra (qualificada e não-qualificada) e capital. Tal momento estará tanto
mais próximo quanto menor for o desemprego e, consequentemente, mais longínquo
quanto maior for a ociosidade da mão-de-obra.
É
neste sentido que a queda da taxa de desemprego observada nos últimos anos é
surpreendente, embora não indesejada, pois ocorre contra um pano de fundo de
expansão do produto pouco acima de 1%. Usando dados trimestrais de variação do
desemprego e do crescimento do produto do início de 2013 ao terceiro trimestre
de 2019 (27 observações), conforme ilustrado pelo gráfico abaixo, estimamos que
a taxa de desemprego congruente (em média) com desemprego estável durante este
período amostral é pouco superior a 1% ao ano, sugerindo, pois, que o
crescimento potencial do país neste período se encontra nesta casa, valor
bastante reduzido.
Fonte: Autor com dados do IBGE |
Em
particular, as projeções de crescimento hoje consensuais para o período
2020-2022 (perto de 2,5% ao ano) são consistentes com folga no mercado de
trabalho pelo menos até o último ano da atual administração. Pressões
inflacionárias, assim, devem se manter bastante reduzidas, o que sugere espaço
para queda adicional da taxa de juros.
Num
horizonte mais longo, contudo, a coisa muda de figura. Mesmo 2,5% ao ano de
crescimento é pouco para permitir o desenvolvimento que o país precisa para
dotar a população de condições de vida mais dignas. O desafio, pois dos
próximos anos, vai além de questões urgentes como o nó fiscal, explorado em
outras colunas. Passa também, e crucialmente, pela capacidade de elevar o ritmo
de expansão potencial da economia, o que só pode se materializar pelo aumento
persistente da produtividade.
Neste
sentido, as reformas microeconômicas, entre as quais incluo com destaque a
questão tributária, são essenciais, ainda que não urgentes. Mas passarão a
sê-lo num horizonte não tão distante.
(Publicado 6/Fev/2020)
2 comentários:
ainda aceita comentarios?
Sim
Postar um comentário