Há
uma angústia compreensível diante dos sinais de estagnação da economia
brasileira praticamente desde o final de 2018. De lá para cá os sinais vitais
da produção deixaram de ser visíveis a olho nu, fenômeno que se reflete na queda
persistente das projeções de crescimento, conforme capturado, por exemplo, pela
pesquisa Focus, cujo número mais recente aponta para expansão pouco
superior a 0,8% em 2019.
Não
passa semana sem que algum jornal me ligue e pergunte o que poderia ser feito
para sair desta situação. Embora a questão seja genérica e admita toda sorte de
resposta, o tom e a insistência (“mas não há mais nada que se possa fazer?!”)
sugerem haver uma sensação, ou talvez uma esperança, que o governo – sempre ele!
– possua a bala de prata que possa resolver o problema.
Fica
implícita na pergunta a sugestão que a solução passa por alguma forma de
impulso fiscal, que, aliás, é a proposta explícita por 12 entre 10 keynesianos
de quermesse (os números, no caso, homenageiam a conhecida dificuldade que este
pessoal tem com aritmética). O (ainda bem!) ex-ministro nelson barbooosa,
expoente da Nova Matriz Econômica e responsável direto pela pior recessão da história
recente do país, não perde oportunidade para defender gastos mais elevados até
para curar unha encravada e espinhela caída, esquecido (até parece) das
consequências de suas políticas para nosso monumental fiasco.
Já
eu acredito que é desnecessário, senão perigoso, elevar o gasto público quando
há alternativa mais fácil e infinitamente mais barata para estimular a demanda:
a redução da taxa de juros.
Ao
contrário da experiência dos países desenvolvidos, cuja taxa de juros foi comprimida
a zero no período posterior à crise, quando não a valores levemente negativos,
o Brasil ainda apresenta juros positivos, não apenas a Selic, mas também as
taxas mais longas (aplicações para um ano estão na casa de
5,6% ao ano, abaixo da Selic). Ao mesmo tempo, as
projeções de inflação apontam para valores inferiores à meta. Em particular, as
previsões do BC em seu Relatório Trimestral de Inflação
indicam que, caso a taxa Selic persista no atual patamar, a inflação de 2020
atingiria 3,7%, abaixo da meta para aquele ano, fixada em 4,0%.
Há,
portanto, espaço para reduções adicionais da taxa de juros, presumivelmente
maior caso a reforma da previdência seja aprovada em formato que permita reverter
a trajetória de endividamento crescente do país.
Sim,
estou a par do “argumento” que compara a política monetária a uma corda, que
serviria para segurar a economia, mas não para estimulá-la. Nada contra a
historinha, afora ela não refletir em momento algum a realidade do país: apesar
dos elevados spreads bancários, a
evidência estatística revela que a redução da taxa de juros se traduz em
aumento da demanda por consumo e investimento, portanto em aceleração da
atividade.
Trata-se,
aliás, precisamente de um dos canais pelos quais a política monetária afeta a
inflação: não foi por outro motivo que a redução injustificada da Selic no
período Pombini nos levou a uma situação de IPCA persistentemente superior à
meta. Obviamente, como apontado, não é a situação que enfrentamos hoje.
Na
verdade, mesmo que houvesse condições para expansão fiscal (e não as há) não
faria sentido estimular a economia por meio de gastos adicionais, porque isto
reduziria o espaço para o corte de juros. Ao invés de reduzirmos nosso
endividamento pelo efeito combinado de gastos e juros mais baixos sobre a
dívida, atuaríamos na direção oposta, que não parece especialmente inteligente
quando o endividamento do governo caminha para superar 80% do PIB (contra pouco
mais de 50% do PIB há meros cinco anos), dos mais elevados entre países emergentes.
Bom, também ninguém aqui acusou nelson barbooosa e comparsas de serem “especialmente
inteligentes”.
Adicionalmente,
a defesa de um impulso fiscal na forma de aumento temporário de gastos, por
meio de investimentos públicos, ignora a história de décadas de incapacidade do
governo nesta área. Há muito o estado brasileiro perdeu a agilidade para
investir, na mesma proporção que ganhou imensa capacidade de gastar muito de
forma permanente em aposentadorias, salários para o funcionalismo e outras
modalidades de dispêndio que tipicamente beneficiam grupos próximos ao poder.
(Publicado 10/Jul/2019)
7 comentários:
Finalmente uma crítica sua as gestões anteriores.Vale observar,que a equipe econômica atual segue o mesmo padrão de política do governo FHC-2 e a gestão Palocci.
Deve ser muito difícil viver assim, sem entender o que está escrito...
Pombini! Hahahahaha
Pra quem olha de fora parece que se o Ilan e a antiga diretoria tivessem continuado no BC a Selic já teria baixado. Mas a gestão nova quer mostrar as credenciais hawkish. Isso sentido pra vc, que já esteve lá dentro?
Investir no Brasil só depois de saber para que lado vai a Justiça. O Brasil voltará para trás como quer o Toffoli, ou será um país um pouco mais sério, com reformas no Judiciário, Previdência e Trabalhista? Dia-a-dia perdemos competitividade para outros paises latinos, africanos e asiáticos...
A gestão de Paulo no ministério da economia e superior a de superior a de Pedro Malan.
"A gestão de Paulo no ministério da economia e superior a de superior a de Pedro Malan."
Certamente o crescimento é mais alto, o déficit é menor e aprovou mais reformas...ops
Ah, e privatizou mais também...ops
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