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terça-feira, 7 de maio de 2019

O Dilmo


Os instintos intervencionistas de Jair Bolsonaro mais uma vez se impuseram quando, no começo da semana, pediu publicamente ao presidente do Banco do Brasil (BB) que reduzisse as taxas de juros praticadas pela instituição, ecoando uma das políticas mais desastrosas do governo Dilma (em que, infelizmente, não faltaram políticas desastrosas).

Depois da péssima reação do mercado financeiro, expresso em queda de cerca de 1% nas ações do BB, o porta-voz do governo federal negou que o presidente tenha intenção de intervir nas políticas do banco, afirmando que seu comentário foi feito em “num ambiente muito amigável”.

Por mais “amigável” que fosse a ocasião (no caso, uma feira de tecnologia para o agronegócio), não se trata de incidente isolado.

Há pouco o presidente interveio na empresa, proibindo uma propaganda destinada ao público jovem, aparentemente por não concordar com o perfil dos retratados na peça publicitária.

Apesar de, há muitos anos (muitos mesmo), ter feito algumas cadeiras da área de marketing, obviamente não sou qualificado para avaliar o conteúdo da peça, nem se teria efeitos significativos sobre a estratégia comercial do banco. Isto dito, o presidente também não tem as credenciais para tanto.

Nem cabe esquecer, é claro, sua reação ao aumento do óleo diesel anunciado pela Petrobras no começo do mês, tema que explorei há pouco no meu blog, eventualmente revertida. Sua auto alardeada ignorância acerca de assuntos econômicos claramente não bastou para impedir manifestações sobre assuntos que não domina. É bem verdade que, apesar da fala presidencial, o preço do diesel sofreu aumento (R$ 0,01 abaixo do que havia sido anunciado), mas o estrago já estava feito.

A raiz do problema não é a ignorância do presidente. Seria melhor que todos os mandatários eleitos no país tivessem alguma noção básica do assunto, mas não se trata apenas de premissa irreal, como também desnecessária.

O problema emerge do poder investido no executivo (e no mundo político em geral) para intervenções, por vezes até bem-intencionadas (mas não menos maléficas) sobre o domínio econômico.

Em outras palavras, é o poder excessivo do estado brasileiro, na figura de empresas sujeitas à vontade do mandatário de plantão, que possibilita este tipo de comportamento. Não é exclusivo, é claro, de Bolsonaro, mas praticado, em maior ou menor grau, por praticamente todos os presidentes (ou governadores, ou prefeitos) precisamente porque do ponto de vista institucional o acionista controlador pode determinar políticas que não façam qualquer sentido para os negócios da empresa em questão, mas que tragam benefícios políticos (reais ou imaginários, não importa) aos donos do poder.

Enquanto esta situação perdurar, teremos que conviver com tais riscos. Obviamente, as declarações do presidente, inclusive durante a campanha, não nos dão maiores esperanças quanto à alteração deste estado de coisas.

Bolsonaro, apesar do pretenso discurso liberal, já deixou claro que se opõe à privatização de empresas como a Petrobras, o BB e a Caixa Econômica Federal (precisamente as estatais que importam), pelo seu suposto “papel estratégico”, o qual, aliás, fica mais nítido a cada intervenção presidencial.

No final das contas, Dilma intervinha porque acreditava – ao contrário de toda evidência disponível – que entendia do riscado; já Bolsonaro intervém mesmo sabendo que nada entende do assunto. Há uma diferença, que na prática não faz a menor diferença.




(Publicado 1/Maio/2019)

6 comentários:

Dilma vivia sentada no cume da curva de Dunning-Kruger. A postura de humildade no assunto durante a campanha, por parte do Bozo, é menos humildade e mais porque ele não saiu da estaca zero mesmo. Por enquanto só instinto.

A julgar pela maneira como ele discute os outros temas, vamos torcer para ele continuar lá embaixo e não tentar aprender absolutamente nada, porque se ele escalar a curva vai ter certeza dos instintos.

O nióbio é nosso!

abs, Zamba

Um país que vem acumulando camadas de décadas perdidas é um paraíso para espertos dismal economistas exercerem suas artes. Viva o ingênuo Paulo Guedes e seu otimismo!

O decreto de Bolsonaro sobre armas foi uma medida liberalizante,com foco no direito individual,princípios que os liberais e você defendem.

"O decreto de Bolsonaro sobre armas foi uma medida liberalizante,com foco no direito individual,princípios que os liberais e você defendem."

Quem?

Loredo, você está confundindo liberalismo com anarquismo. Vá ler Nozick.

..."com foco no direito individual"
uma pinóia
com foco em distribuir privilégios às bases, de modo irresponsável, até marronzinho ganhou.

compare o transito de SP com o americano ou suiço e me diga com sinceridade se não vai dar merda