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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Enquanto Roma arde


Tudo bem, a hipocrisia pode ser mesmo a homenagem que o vício presta à virtude, mas há limites ao que o estômago humano pode suportar nesta área. O festival de oportunismo que surgiu das cinzas do Museu Nacional é de causar engulhos a qualquer um que tenha um mínimo de honestidade intelectual, qualidade cada vez mais rara no país. Sobraram políticos (e, lamento dizer, economistas – se bem que caberia aí mais de uma qualificação) que não hesitaram em inverter as leis da Física, para não falar da história, com o objetivo de ganhar um trocado fácil no jogo eleitoral.

De maneira geral buscou-se associar o desastre à austeridade fiscal, principalmente no que se refere ao teto de gastos públicos. Ignora-se, intencionalmente, que o teto de gastos começou a vigorar em 2017, enquanto os relatos acerca do péssimo estado do museu datam de vários anos antes.

Em 2004, por exemplo, o então secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Viter, afirmava: “o museu vai pegar fogo. São fiações expostas, mal conservadas, alas com infiltrações, uma situação de total irresponsabilidade com o patrimônio histórico”. Já em 2015 o museu foi fechado por falta de verbas. Um esforço mínimo de pesquisa revela problemas ao longo dos últimos 20 anos, pelo menos.

A rigor a possibilidade de eventos presentes afetarem de alguma forma o passado, contrariando as leis da Física, não é um argumento novo: não faltam economistas que atribuam a recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 à política econômica de Joaquim Levy, que assumiu o cargo de ministro da Fazenda no começo de 2015. De que vale, porém, a lógica face à “narrativa”?

Também não é verdade que tenha havido uma redução generalizada de gastos públicos, muito pelo contrário. Medida a preços de 2017 a despesa dos 3 níveis de governo subiu de R$ 2,7 trilhões em 2010 para R$ 3,1 trilhões em 2014 e R$ 3,2 trilhões no ano passado, aumento de R$ 520 bilhões. Já o investimento público caiu de R$ 180 bilhões em 2010 para R$ 175 bilhões em 2014 e meros R$ 80 bilhões em 2017.

O problema nunca foi falta de dinheiro, mas a definição de prioridades para seu uso. Preferimos gastar R$ 112 bilhões a mais com a remuneração de empregados e R$ 294 bilhões a mais com benefícios sociais (dos quais 38% representam aposentadorias e pensões de servidores públicos, 54% são gastos previdenciários do INSS e apenas 8% representam benefícios de assistência social).

Apesar disso, os que hoje rasgam as vestes em público pela tragédia do museu são os primeiros na fila para manter o estado das coisas, seja se opondo à reforma da previdência, seja no apoio a medidas como elevação de salários no setor público, seja, por fim, deixando claro em seu programa de governo – em direta contradição com a realidade – que o remédio para o país consiste em... gastar mais!

A verdade é que estão matando a galinha dos ovos de ouro. Na busca insaciável para extrair renda do resto da sociedade os grupos de interesse, sobretudo do funcionalismo, estão nos levando a uma situação falimentar.

A defesa de novos impostos para acalmar sua fome já se mostrou equivocada: a história dos últimos 20 anos de gastos federais mostra que quanto mais se arrecada mais se gasta e mais se gasta mal.

Se não mudarmos esta história o desastre do domingo passado será apenas o alerta dos outros tantos que ainda haveremos de enfrentar.




(Publicada 05/Set/2018)

20 comentários:

Bom ... em relação a sua última entrevista na RADIO CBN (http://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/206105/em-larga-medida-efeitos-negativos-da-greve-desapar.htm) não concordo quando criticou o plano econômico possível pensado pelo PhD em economia pela Universidade de Chigado do então líder das pesquisas e provável vencedor das eleições presidenciais, no 1o. turno, o agora esfaqueado Jair Bolsonaro...

Gostaria que assistisse essa entrevista do futuro ministro da economia, Paulo Guedes, onde ele explica EM DETALHES sobre o programa de privatizaÇão e venda de ativos, inclusive DETALHANDO c/ BRUTAL FRANQUEZA de onde ele tirou os R$2TT para abater a dívida (Central das Eleições GloboNews entrevista Paulo Guedes, economista de Bolsonaro.): https://www.youtube.com/watch?v=u6XkiknlvLs

Aliás .. é sempre bom lembrar o que o também economista Thomas Sowell pensa a respeito de Chicago quando comparada às outras escolas. https://www.youtube.com/watch?v=Wln6lNTxVpY&t=29m35s Ainda bem que esse economista se mantem fiel à escola

Em relação à PREVIDENCIA ... outro tema da entrevista ... gostaria que escrevesse um breve artigo articulando a sua solução possível para o problema, dentro das circunstantâncias.

"Paulo Guedes, onde ele explica EM DETALHES sobre o programa de privatizaÇão e venda de ativos, inclusive DETALHANDO c/ BRUTAL FRANQUEZA de onde ele tirou os R$2TT para abater a dívida"

Justamente por saber de onde ele tirou o número é que não pretendo assistir: #escatologianao

" é sempre bom lembrar o que o também economista Thomas Sowell pensa a respeito de Chicago quando comparada às outras escolas."

Bom, aí c...i e andei

"gostaria que escrevesse um breve artigo articulando a sua solução possível para o problema, dentro das circunstantâncias"

Espere na fila...

Se o Haddad vencer, acredita que ele fará um ajuste fiscal (principalmente uma reforma da previdência), ou acredita que ele fará uma nova expansão fiscal como os economistas da Unicamp vem defendendo?

Se que o senhor o conhece pessoalmente, por isso a pergunta.

Esse, uma pena, se tornou senil - precisa se aposentar antes de fazer mais estragos: https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,paulo-guedes-e-um-mitomano-e-criou-falsa-narrativa-diz-persio-arida,70002504253

Alex, se o Haddad mudar o discurso para uma direção mais ao centro (depois de "retirar" os votos do Ciro e da Marina) e sinalizar um Lisboa ou Samuel como futuro ministro da fazenda, quem teria uma melhor proposta pra economia? Haddad ou Bolsonaro? Entre Bolsonaro e Haddad (atual, com Marcio) não tem jeito se não ir com P.Guedes no 2o turno, mas fico em dúvida no cenário de um Haddad com Lisboa...
Espero que esse cenário de Bolso x Haddad nem se concretize, mas está difícil acreditar que vá ser diferente...

"Se o Haddad vencer, acredita que ele fará um ajuste fiscal (principalmente uma reforma da previdência), ou acredita que ele fará uma nova expansão fiscal como os economistas da Unicamp vem defendendo?"

Expansão fiscal. Não depende de conhecê-lo, mas do ambiente político em que operaria caso seja eleito.

"Alex, se o Haddad mudar o discurso para uma direção mais ao centro (depois de "retirar" os votos do Ciro e da Marina) e sinalizar um Lisboa ou Samuel como futuro ministro da fazenda, quem teria uma melhor proposta pra economia?"

Discordo da premissa, mesmo porque ambos já indicaram que não aceitariam fazer o papel de Joaquim Levy

"uma pena, se tornou senil "

Eu não diria que o Paulo Guedes se tornou senil. Teria que ser algo melhor que senil antes...

“Discordo da premissa, mesmo porque ambos já indicaram que não aceitariam fazer o papel de Joaquim Levy“

Então só resta rezar por um milagre...uma luz na cabeça desses eleitores quando perceberem nas próximas pesquisas que vão eleger a versão ruim do PT novamente (e eu ainda considerava o haddad a versão melhorada, mas com essa campanha e a turma da glesi com força não tem jeito)

Obs: e o Lula conseguiu surpreender mais uma vez...tem uma leitura política muito acima da média, ao melhor estilo maquiavel.

Em tempo, parabéns pelo blog e pelas colunas Alex. É um privilégio ter um conteúdo como o seu disponível a todos.

Samú quem ? O fisico que virou enconmista ? Me dá um tempo ...

"Me dá um tempo ..."

Posso te dar todo o tempo do mundo; não faria diminuir sua cretinice

A verdade é que agora a vaca foi para o brejo de vez. Vamos ter um segundo turno entre um populista de direita que não compra inteiramente o programa de seu ministro da fazenda - um liberal voluntarista, que acha que resolve tudo sozinho - e um sujeito até legal, sério, bem intencionado, mas cercado de gente que acha que a Venezuela é uma democracia e que o Pochmann conhece os caminhos do progresso (até o Nelson Barbosa pediu arrego).

E o terceiro colocado é o Ciro Gomes, o gênio renascentista...

Só me resta decidir se tomo uma caninha 51 antes ou depois da votação...

abs, Zamba

"... se o Haddad mudar o discurso para uma direção mais ao centro (depois de "retirar" os votos do Ciro e da Marina)...

O que se sabe é que o referido candidato, como, dizem, estaria subindo nas pesquisas, deveria nem sequer estar ouvindo as vozes do seu guru. Assim, fica dificil saber se o guru entende de ou da Economia ou algo mais necessário para o País. Basta olhar a sua herança depois de eus 8 anos de governo e mais um tanto da sucessora que sofreu "impedimento".
Assim, difícil vislumbar como, de dentro de grades, pode surgir algo que seja minimamemte útil. Ou levando dúvidas para uma cela, alguém poderá delinear algo que deva ser realizado para o bem do País. O olhar para o futuro fica toldado, ao tentar as apologias de algo duvidoso do passado. O País é maior do que isso que prendem oferecer.
Em caso de sucesso do pretendente a consultor de oráculos, apequena-se o País e cria núvens não favoráveis ao futuro.

Do jeito que andam as visitas a Curitiba e caso tal "estratégia" tenha sucesso, prezado Zamba, seria melhor começar a armazenar alambiques. Nem precisará de marca para a "marváda".

Que o Universo conspire a favor do Brasil...Ou, talvez, deixar bagagem e passagens prontas...

Niilista,
Isso não vai acontecer.
Por mais que tentem fazê-lo por antecipação do fracasso e contando com a "complacência quase que religiosa" de muitos daqueles dos famosos "...bom dia..." em frente da cadeia.

"Discordo da premissa, mesmo porque ambos já indicaram que não aceitariam fazer o papel de Joaquim Levy"

Sendo assim, entre Bolsonaro e Haddad, melhor ficar com o primeiro, não? Apesar das suas (ótimas) críticas ao Guedes...

Ou você acha que os perigos fora do campo econômico fazem com que Haddad seja menos ruim que Bolsonaro?

"Ou você acha que os perigos fora do campo econômico fazem com que Haddad seja menos ruim que Bolsonaro?"

O que você prefere: ser esmagado por um peso de 50 toneladas, ou por um peso de 45 toneladas?

Acho ambos péssimos do ponto de vista econômico e péssimos para a democracia. É um exercício acadêmico determinar qual deles é o peso de 45 toneladas e qual é o de 50...

Abs

" O fisico que virou enconmista ?"

Não, não... Se falamos do Samuca, trata-se do físico que virou um dos melhores economistas do país.