Enquanto escrevo, caminhoneiros
protestam contra o aumento do diesel, poucos dias depois de o ministro de Minas
e Energia, Moreira Franco, afirmar que o governo
quer discutir a política de preços dos combustíveis. Segundo o
ministro, “está
subindo demais”, aventando a possibilidade de reavaliação dos
impostos, além da política de preços da Petrobras. São ambas péssimas ideias,
embora possam, como é infelizmente comum no Brasil, prosperar ambas.
A origem da questão é o
aumento dos preços internacionais de petróleo e derivados. O barril de Brent
subiu de US$ 45 para perto de US$ 80 de meados do ano passado para cá, na
esteira de problemas geopolíticos (a crise com o Irã), bem como o colapso
da produção na Venezuela. A ele se soma a valorização global do dólar,
cujas repercussões
domésticas analisamos na semana passada.
Neste contexto deveria
a Petrobras ignorar o ocorrido e manter os preços de derivados isolados dos
mercados internacionais? A resposta é um sonoro não, por pelo menos dois
motivos.
Do ponto de vista da
empresa, esta política seria ruinosa. Não se trata de especulação, mas simples
observação dos efeitos destrutivos desta mesma postura adotada durante o governo
anterior para evitar aceleração ainda maior da inflação. Foram anos de perdas multibilionárias
para a empresa, R$ 81 bilhões (a preços de 2017), acumuladas entre 2014 e 2016,
que contribuíram para transformá-la na empresa
de petróleo mais endividada do mundo.
Já do ponto de vista de
funcionamento de mercados há problemas com esse tipo de política. Preços mais
elevados de uma mercadoria sinalizam a necessidade de reduzir seu consumo em
nome da eficiência econômica. Quando se impede o funcionamento desta sinalização
o consumo não cede e precisamos entregar mais mercadorias em troca daquela,
mercadorias que poderiam ser destinadas à aquisição de produtos que entregassem
o mesmo bem-estar, ou ainda mais.
Note-se que esta mesma
crítica se aplica a medidas de redução da carga tributária sobre combustíveis fósseis,
pois interferem com a reação de mercado. Sim, há sempre a possibilidade de
argumentar que a tributação em si já afeta o funcionamento do mercado, mas noto
que: (a) há consequências negativas no uso de combustíveis fósseis (poluição,
por exemplo) que não são integralmente capturadas nos preços, justificando em
alguns casos a tributação; e (b) uma coisa é discutir o nível correto da tributação
de combustíveis, outra, bastante distinta, é alterar impostos para mascarar a
flutuação de preços sem maiores ponderações sobre seus efeitos colaterais.
Por fim, muito embora
os R$ 5,7 bilhões/ano arrecadados pela CIDE representem parcela irrisória (cerca
de 0,5%) da receita do governo federal, o quadro fiscal é grave o suficiente
para não justificar medidas de renúncia tributária, ainda mais no caso da
gasolina, que beneficiaria desproporcionalmente a parcela mais rica da população.
Mesmo que estas propostas
não se concretizem, esta discussão é reveladora a fragilidade do ambiente
institucional brasileiro.
Regras existem
precisamente para dar previsibilidade, e não apenas econômica, para quem vive
em sociedade. Se formos discutir mudança de regras em reação a cada evento que
nos contrarie, não é difícil concluir que o quadro institucional não é estável.
E ainda há quem procure
a razão do baixo investimento no país...
(Publicado 23/Mai/2018)