Não pretendia comentar a
proposta de privatização da Casa da Moeda, por me parecer um tópico de pouca importância
(e é!), mas tive a triste oportunidade de ver nas redes sociais toda espécie de
bobagens, inclusive de “economistas” heterodoxos-novo-desenvolvimentistas-keynesianos-sei-lá-o-que-mais
e não resisti.
Para colocar nos termos
mais simples possíveis, a Casa da Moeda é apenas uma gráfica qualificada. Quem
determina gestão da moeda nacional é o Banco Central, cliente da Casa da Moeda,
assim como de outras gráficas (importou
no começo do ano 100 milhões de cédulas de R$ 2,00 da Crane AB da Suécia pagando
cerca de R$ 20 milhões por elas). Não faz a menor diferença quem controla
a gráfica; o relevante é tirar do governo de plantão mais alguns cargos públicos
que costumam ser utilizados para fins
inconfessáveis.
Esclarecido o ponto, vamos
ao que interessa. Samuel Pessôa, amigo e colega de espaço, deu uma ótima
entrevista ao Valor Econômico, cuja leitura recomendo. Embora concorde
com toda sua análise econômica, há um ângulo mais político que o Samuel
menciona e sobre o qual sou mais cético.
Ele atribui, com razão,
a atual calma ao teto constitucional de gastos. Em suas palavras, “se mexer no
teto o câmbio vai a R$ 5 (...) O mercado não está calminho à toa. Não é pelos
belos olhos do Michel Temer. A âncora é o teto”.
Mais adiante nota que,
se o teto for rompido “vai gerar tanto problema que você vai constituir uma base
de apoio para aprovar a reforma da Previdência e fazer tudo que precisa fazer para
gerir o conflito distributivo de modo civilizado”. E é aqui que tomo um rumo
distinto do Samuel e do mercado em geral.
Sigo com dificuldades
para conectar os pontos “teto rompido” e “fazer tudo o que precisa”, talvez a
mesma dificuldade que os personagens de Jurassic
Park tenham enfrentado quando o matemático critica a abordagem adotada pelo
programa de criar apenas fêmeas para evitar a reprodução dos dinossauros. Ele
apenas afirma “a vida
há de encontrar um caminho”, o que, de fato, ocorre no filme (ou
seja, o Samuel pode estar certo), sem, contudo, explicitar os passos que
ligariam um evento a outro.
É verdade que até o
governo Temer, com todas suas limitações, pode ter chegado perto da aprovação
da reforma previdenciária (jamais saberemos, graças ao inefável Joesley), mas tivemos
também a oportunidade de ver como a sociedade se opõe ao ímpeto reformista.
Abusando do meu chapéu
de cientista político amador, me parece necessário que a proposta de reformas seja
colocada explicitamente à população nas eleições do ano que vem, mesmo porque
acabamos de ver as reações a uma administração que se reelegeu dizendo que tudo
estava bem para, logo em seguida, ter que admitir problemas graves e recrutar
um ministro da Fazenda dentre aqueles a quem demonizou durante a campanha. Mentir
para reformar não vai funcionar... (E, deixo claro, o Samuel não está sugerindo isto).
Aí pergunto: qual é a
chance de vitória de uma plataforma reformista em 2018?
Torço para que seja
alta, mas torcida é uma coisa e realidade outra. O tempo corre contra e temo
que em breve passemos do ponto em que ainda haverá o que fazer. Se esperarmos o
teto estourar para começarmos a nos mexer, tenho convicção que terá sido tarde
demais.
(Publicado 30/Ago/2017)
5 comentários:
No chance for braZil. It is over. The forces of petty-interest and general stupidity combined are overwhelming.
braZil is doomed.
Comentando a parte mais importante: Casa da Moeda
A maior parte da demanda da Casa da Moeda vem do governo. Suponhemos que, por motivos inconfessáveis, o inconspurcado Bacen comece a demandar rios de papel moeda da nova e agora eficiente casa da moeda privada.
A privatização só vai ter mudado de destino o rumo da proprina, e é isso que verdadeiramente está em jogo.
E se, por exemplo, baixassem uma norma de que somente funcionarios concursados e de carreira pudessem ocupar cargo de diretoria, não diminuiria e muito as chances de corrupção?
A crença de que dando um monopolio a um privado vai acabar com a corrupção do monopolio público é tão verdadeira quanto o doutorado do bravo mansu.
Mas se a casa da moeda for privatizada, eu posso pagar um por fora para eles imprimirem dinheiro pra mim, dãããããã
Poderia repetir seu comentário, mas em português, Ninguém aqui fala símio...
"Suponhemos"
"proprina"
Mansueto pode não ter completado o doutorado, mas o comentarista acima certamente não completou o Ensino Fundamental.
Postar um comentário