Seguindo o mesmo padrão de desinformação e superficialidade presente nas críticas à reforma da previdência, a reforma trabalhista aprovada recentemente na Câmara dos Deputados, e em exame no Senado Federal, tem sido alvo de ataques sem maiores preocupações com as reais implicações da proposta. O interesse é apenas o de gerar ruídos políticos para fins eleitorais, em mais uma demonstração clara de desonestidade intelectual.
De fato, a principal questão
que vem sendo levantada é de que a reforma está “retirando direitos dos
trabalhadores”. Isto é simplesmente falso. A proposta não retira direitos;
apenas permite que alguns sejam negociados por convenção coletiva, ou acordo
individual entre as partes, em casos bem pontuais. Em particular, não são negociáveis direitos tais como férias, 13º
salário, a jornada de trabalho além do máximo permitido em lei, FGTS, normas de
segurança, ou medicina do trabalho.
Por outro lado, a proposta
permite que normas coletivas regulem arranjos como a jornada de 12 horas num
dia, seguida de 36 horas interruptas de descanso, que já existe hoje, diga-se,
mas em quadro de insegurança jurídica. Ou ainda que se reduza o intervalo para
refeição, como também já ocorre para algumas categorias, mas sob risco de
contestação judicial à frente.
Nota-se, aliás, que a
possibilidade de negociação coletiva não contraria nossa ordem jurídica; ao
contrário, o inciso
XXVI do artigo 7º da Constituição Federal deixa claro que o “reconhecimento das
convenções e acordos coletivos de trabalho” faz parte dos direitos dos trabalhadores.
Isso dito, se nenhum direito
é eliminado, que diferença faz a reforma?
Como notado nos
exemplos acima, a principal virtude do projeto consiste em dar embasamento
legal às negociações coletivas, regulando práticas em larga medida já existentes,
mas que, por não serem previstas na CLT, e não terem o mesmo amparo legal que virá
com as alterações propostas, davam margem a um passivo trabalhista de difícil
mensuração por parte das empresas.
A falta de clareza das
regras do jogo induz um comportamento defensivo. Concretamente, para escapar de
potenciais conflitos, empresas preferem adiar o máximo possível a decisão de
contratação, ou mesmo buscar alternativas que minimizem este passivo.
Sob normas mais bem
estabelecidas, uma vez que a economia comece a se recuperar de maneira mais sólida,
inclusive no que se refere ao emprego, a tendência é de resposta mais rápida
desta variável do que seria segundo o regramento anterior, e muito
possivelmente privilegiando mais a formalização do trabalho do que ocorreria sem
a reforma trabalhista.
Não se trata de dizer,
queremos deixar claro, que a reforma trabalhista por si só tenha o poder de iniciar
um forte processo de geração de empregos, mas sim que a recuperação cíclica que
se avizinha deve se traduzir mais rapidamente em aumento do emprego, em
particular do emprego formal, do que seria o caso se nossa legislação
trabalhista permanecesse inalterada.
Estabilidade fiscal é
condição necessária para o crescimento sustentado, mas precisa ser complementada
por reformas que privilegiem o aumento da produtividade, para que tal
crescimento se materialize. A reforma trabalhista é apenas um dos primeiros
passos nesta longa jornada.
(Publicado 24/Mai/2017)
16 comentários:
¨Corrupção : Gradualismo x Tratamento de Choque?¨.Os economistas levaram décadas para resolver esse dilema na luta contra a inflação. Agora o judiciário enfrenta um dilema semelhante mas bem mais complicado.
Bons economistas abandonando o barco do Temer (Pastore,Guedes,Samuel...). Estão esperando o que do nosso sistema político: um Filósofo Rei,um Capo di tutti capi, um líder Benevolente?
Um que não seja ladrão?
Alex, no cerne daqueles do-contra está o fim da obrigatoriedade do imposto sindical, essa jaboticaba imoral, sem qualquer auditoria ou controle.
Não que o fim da obrigatoriedade vá resolver, existem outros mecanismos pelos quais os sindicatos poderão continuar extorquindo seus sindicalizados ad aeternum.
Alex, sobre sua coluna, é verdade ou mais um mito que a reforma trabalhista permite substituir salario por moradia e benfeitorias para trabalhadores rurais? Ou que empregadores rurais nao precisam formecer banheiro quando possuem menos que x trabalhadores? Beijo, Ceci
Só não gostei da figura. Uma polêmica desnecessária.
Vamos aguardar a delação do Palocci para ver o que ele delata sobre os bancos. Ai veremos a honestidade de nossos banqueiros e seus economistas.
"Alex, sobre sua coluna, é verdade ou mais um mito que a reforma trabalhista permite substituir salario por moradia e benfeitorias para trabalhadores rurais? Ou que empregadores rurais nao precisam formecer banheiro quando possuem menos que x trabalhadores?"
Descontar moradia e alimentação da remuneração já é permitido pelo artigo 9º da lei Nº 5889/1973. A reforma não traz nenhuma mudança.
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5889-8-junho-1973-357971-normaatualizada-pl.html
"Descontar moradia e alimentação da remuneração já é permitido pelo artigo 9º da lei Nº 5889/1973. A reforma não traz nenhuma mudança."
Obrigado. Meu irmão (e co-autor) acabou de me passar a mesma informação.
Trata-se apenas de mais uma das história propagadas nas redes sociais.
Ola Alex,
O que voce acha desse artigo do Krugman?
Abs
https://www.theguardian.com/business/ng-interactive/2015/apr/29/the-austerity-delusion
O senhor vai participar da equipe econômica do Bolsonaro?
http://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/presidenciavel-bolsonaro-ja-procura-nomes-para-assumir-area-economica/
"O senhor vai participar da equipe econômica do Bolsonaro?"
Sim, vou ser o Alto Comissário para o grafeno.
Prezado Michel Temer
Tenho admirado seu governo, sobretudo quando comparado, sem preconceitos, ao mesmo período dos governos de seus antecessores, FHC, Lula e Dilma.
E acredito em suas boas intenções.
Assim, permito-me sugerir:
(a) negocie com o Congresso (em seu todo e não apenas com parte dele, dialogando direta e pessoalmente com os presidentes da Câmara e do Senado) a aprovação de suas propostas de reforma (Teto de Gastos, Previdência, Trabalhista etc.) em troca de sua renúncia à Presidência e à disputa nas eleições de 2018;
(b) submeta-se às decisões do Judiciário sem apelar para recursos protelatórios injustificados.
O País certamente reconhecerá que você não se deixou subjugar pela ânsia de poder característica da grande maioria dos políticos brasileiros.
Cordialmente,
Bruno Maffeo
PS Boa sorte!
Veja o que Serra disse http://www.valor.com.br/politica/4994976/serra-critica-copom-por-sinalizar-reducao-do-ritmo-na-queda-da-selic
"Veja o que Serra disse http://www.valor.com.br/politica/4994976/serra-critica-copom-por-sinalizar-reducao-do-ritmo-na-queda-da-selic"
Sabia que ele é ruim de matemática, mas confundir baixar a um ritmo menor com não baixar é, para não perder a aliteração, abaixo da crítica.
E o que ocorreu na Espanha?
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