Confesso que leio alguns
(não todos) textos de nelson barbosa e até coisa bem pior, como, por exemplo, o manifesto de
“intelectuais” brasileiros defendendo o retorno da Nova Matriz Econômica. Paro também para ver
acidentes. Curiosidade mórbida, mas nada que exija tratamento psiquiátrico mais
sério, quero acreditar.
Pois bem, o
inesquecível ministro quer se defender após ter sido pego em flagrante
contradição, ao criticar o contingenciamento de gastos proposto pelo atual
governo, enquanto há cerca de um ano se
vangloriava de ter perpetrado o “maior contingenciamento da história do país” em 2016 (não em 2015, como malandramente escreve). Aqui não há o que
discutir: quem fez a afirmação foi ele; não eu. Viva com isso.
Malandragens à parte,
barbosa quer nos convencer que a estabilidade da despesa em termos reais (isto
é, deduzida a inflação) seria contracionista porque implicaria queda do gasto como
proporção do PIB. É engraçado.
Em primeiro lugar
porque, se o gasto do governo cresce mais do que a inflação, deveria ser óbvio
que isto equivale a um consumo maior de bens e serviços reais, isto é, uma
política de expansão da demanda.
Mas o engraçado mesmo é
ler barbosa, um economista que acredita que R$ 100 adicionais de gasto aumentam
o PIB em mais de R$ 100 (o tal “efeito multiplicador”), não perceber que,
segundo sua própria teoria, se o gasto tivesse sucesso em elevar a demanda,
teria necessariamente que cair relativamente ao PIB. Não entende sequer as
consequências daquilo que professa...
Da mesma forma é
curioso que barbosa em momento algum mencione a queda da taxa de juros, que se
tornou possível depois da promessa de ajuste fiscal, na forma do teto para
despesas públicas. Parece que para ele apenas o gasto público tem a capacidade
de estimular o crescimento; por algum motivo misterioso, o juro mais baixo não
teria este poder. Tal argumento poderia caber em economias que apresentem taxa
de juros perto de zero, mas eu diria este não parece ser o caso do Brasil,
certo?
Posto de outra forma,
barbosa ignora toda literatura macroeconômica que sugere que a contração fiscal
pode ser compensada (ou, no caso, mais do que compensada) pela redução da taxa
de juros, desde que a taxa nominal de juros não se encontre próxima a zero. Deixa
de lado também que o crescimento que resulta da combinação de austeridade
fiscal e (consequente) juro mais baixo tende a ser mais forte do que o decorrente
de gasto e juro mais elevados, precisamente porque o investimento privado é
maior no primeiro caso, em resposta ao juro mais baixo. Já se a omissão é
intencional ou não, não sei dizer.
Não vejo, para ser
sincero, nenhum problema em mudar de ideia. barbosa poderia ter refletido
melhor e concluído que contingenciamento é uma má política. Assim como poderia
ter caído em si e notado que sua proposta de teto para o gasto público seria
contracionista e negaria à população acesso a serviços indispensáveis. Ou
ainda, depois de muita investigação, decidido que a proposta de reforma
previdenciária não mereceria seu apoio.
(Publicado 19/Abr/2017)