Os 18 leitores já sabem
que tenho algumas obsessões, dentre elas profundo desprezo à desonestidade
intelectual e quase asco a quem trata os dados de maneira desrespeitosa. Podem,
então, imaginar como me sinto em meio ao debate sobre a reforma previdenciária agora
no Congresso.
Há um vídeo
particularmente desonesto narrado por Wagner Moura, mas isto não chega a me
surpreender, dados os nítidos objetivos político-partidários de quem defendia, há não muito tempo, a reforma da previdência. Nada surpreendente,
mas igualmente abominável, é ver economistas atacarem a reforma argumentando, como fez Laura Carvalho, que a expectativa de
vida no Brasil é de 75 anos.
Qualquer economista que
deseje discutir a questão previdenciária não pode ignorar que a expectativa de
vida ao nascer é irrelevante para o tema. O que interessa é a expectativa de vida quando se
chega à idade de aposentadoria. Para este fim convido o leitor a
inspecionar o gráfico anexo, que mostra a evolução da expectativa de vida a
cada faixa etária, para a população em geral e também separando entre homens e
mulheres.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/2013/defaulttab_xls.shtm
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De fato, a expectativa
de vida ao nascer se encontra ao redor de 75 anos, porque (infelizmente) a
mortalidade infantil ainda é relativamente elevada e a violência cobra muitas
vidas de homens jovens. Quem, porém, se aposenta por tempo de contribuição atinge
esta condição em média aos 54,5 anos (homens 55,5 e mulheres 52,3), idade em
que, como mostrado no gráfico, a expectativa de vida supera 80 anos (78,4
homens, 82,1 mulheres). Quem não comprova tempo de contribuição, os mais
pobres, já se aposenta hoje aos 65 anos, com expectativa de vida de 83 anos.
É falso, portanto, que
a proposta obrigue as pessoas a trabalharem até morrer, como se diz com
alarmante frequência.
O tema é sério e requer
um debate adulto, ao menos entre os que se acham qualificados para tanto.
Comecemos respeitando os dados.
(Publicado 22/Mar/2017)