2014, o ano que acabou antes de começar, se encaminha para um
fim melancólico, embora previsível. Ainda assim, deixará saudades. O consenso de
mercado, conforme capturado pela pesquisa Focus desta semana, aponta para
crescimento de 0,55% no ano que vem, enquanto a inflação chegaria a 6,53%, em
larga medida por conta do reajuste dos assim chamados “preços administrados”,
na prática reprimidos muito além do razoável nos últimos anos.
Já eu considero
otimista a projeção de um crescimento em 2015 superior ao de 2014.
Em entrevista recente o
futuro ministro da Fazenda aponta para aperto fiscal de R$ 56 bilhões no ano
que vem (desconfio também que mais será necessário, mas fiquemos com seu
número), pouco mais que 1% do PIB. Como se imagina, a maior parte deste ajuste
deverá vir sob a forma de impostos mais elevados.
Já o BC, depois de
enfiar os pés pelas mãos ao prometer “parcimônia” nas próximas reuniões do Copom, esqueceu
o que havia escrito 12 dias antes e agora jura que irá “fazer o que for necessário para que
no próximo ano a inflação entre em longo período de declínio que a levará à
meta de 4,5% em 2016”. Obviamente, depois de tantas idas e vindas, não há
quem ponha a mão no fogo pela palavra do BC (eu certamente não), mas, se o
compromisso for à vera, implica taxas de juros ainda mais altas em 2015,
adicionando pressões para baixo sobre a demanda doméstica e, portanto, o nível
de atividade.
Por fim, sem querer
transformar a coluna numa longa lista de fatores negativos, os aumentos de
preços administrados acima mencionados, principalmente energia e transportes, devem reduzir a renda
das famílias, eliminando um dos poucos elementos que têm sustentando o consumo
nos últimos trimestres.
Em resumo, não há o que
indique crescimento mais forte no ano que se inicia. O país conseguirá,
portanto, a proeza de exibir, simultaneamente, inflação elevada e crescimento
(ainda mais) ridículo, um acontecimento raro.
Isto dito, por mais que
se atribua o provável desempenho sofrível da economia em 2015 às políticas
acima descritas, a verdade é que não foram estas (sequer adotadas, aliás) que
nos colocaram na atual situação.
O crescimento baixo,
inflação elevada e déficits externos crescentes são o legado de mais um
experimento heterodoxo no país, muito embora uns e outros ainda se recusem a
admitir o óbvio fracasso. Como sempre ocorre nestes casos, cabe às políticas
tradicionais o papel de nos tirar da encrenca e não será desta vez que
quebraremos este triste padrão.
A desaceleração do ano
que vem faz parte do custo da farra dos últimos 5 anos. Face a uma trajetória
crescente da dívida do governo, que saltou de 53% para 63% do PIB de 2010 para cá,
inflação na casa de 6,5%, um setor elétrico em total desarranjo (apesar do
suposto profundo conhecimento da presidente sobre o setor), entre outras
distorções, não há alternativa séria que não requeira uma inversão radical da
política econômica.
Assim, é bastante
provável que em 2015 testemunhemos uma piora considerável do emprego. O
desemprego, que até agora se manteve baixo graças à saída em massa dos jovens do
mercado de trabalho, deve, portanto, subir de forma mais marcante do que vem
ocorrendo no período mais recente, erodindo a única conquista do governo no
campo econômico.
Neste contexto, com a
inflação ainda alta, graças à escolha do BC pela convergência lenta (se
convergência houver), não é necessário ser um gênio da política para concluir
que o apoio ao governo, já decrescente, deverá minguar ainda mais. Isto lança
dúvidas consideráveis acerca da firmeza da administração quanto a seguir o rumo
agora sugerido.
Não sabemos, portanto,
se 2015 representará o primeiro passo para nossa redenção ou mera interrupção
na estrada da decadência que nos assola. De uma forma ou de outra, 2015 já era.
Feliz 2016...
2015 é o cara à esquerda... |
(Publicado 31/Dez/2014)
5 comentários:
A piora da situação econômica, prevista por vc e visível, será atribuída por keynesianos às medidas ortodoxas relatadas e necessárias. Aposto! Viva a Unicamp!
Ano que vem seria 2016? Parece que o texto foi escrito em 2014, mas publicado em 2015...
Coisa estranha. O Levi parece distinto e de fino trato, mas quando noto o nariz dele me lembro de você.
Dr L.A.N. House, HSC
Parabéns amigo seu texto é muito lúcido, a partir de hoje irei acompanhar seu blog.
Meu nome é Fernando, também sou economista e trabalho com Planejamento Estratégico.
Caso queira manter contato meu email e Skype é: fernando@cristofoli.com
Sucesso...
"Coisa estranha. O Levi parece distinto e de fino trato, mas quando noto o nariz dele me lembro de você."
Você ficou reparando no nariz do Joaquim? Mmmm, tá... Cada um, cada um...
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