A economia não cresce;
apesar disto o desemprego tem caído, atingindo 5% em agosto nas seis regiões
metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, que correspondem a pouco mais de um
quinto do emprego no país. Trata-se do menor registro para o mês desde que
estas estatísticas começaram a ser coletadas, o que, aliás, tem sido verdade em
todos os meses deste ano. Em que pesem questões específicas destas regiões, o
resultado desafia o senso comum: como é possível a redução do desemprego em
face da economia estagnada?
O resultado se torna
menos paradoxal quando examinamos o número mais de perto. Nessas regiões o
emprego não cresceu; muito pelo contrário, caiu nos oito meses deste ano,
registrando em agosto redução de 85 mil postos de trabalho na comparação com o
mesmo mês do ano passado. Este comportamento é consistente com o que seria
natural no caso de uma economia cujo crescimento deve ficar ao redor de zero.
Fica claro, portanto,
que a evolução positiva do desemprego em 2014 não se deve ao desempenho
favorável do emprego, mas sim a desenvolvimentos que afetam a oferta de
trabalhadores.
Parte da história
reflete a demografia. Há 10 anos a população em idade ativa (PIA) crescia perto
de 2% ao ano; hoje o crescimento oscila de 1% a 1,5% ao ano. Isto, porém, não
explica o aparente paradoxo: mesmo este ritmo mais modesto de crescimento da
PIA supera por larga margem a expansão (negativa!) do emprego. Com mais pessoas
chegando ao mercado de trabalho do que empregos sendo gerados, o natural seria
observarmos desemprego crescente.
O que tem ocorrido,
porém, é uma redução persistente da fração da PIA engajada no mercado de
trabalho (a população economicamente ativa, PEA, ou força de trabalho), seja
trabalhando, seja na busca por empregos. Entre 2003 e 2013 a PEA foi
equivalente em média a 57% da PIA, proporção que hoje se reduziu para pouco
menos de 56%.
Parece uma queda
pequena, mas não é. Caso a PEA em agosto deste ano atingisse a mesma proporção
registrada um ano antes, o total de pessoas engajadas no mercado de trabalho
seria algo da ordem de 24,8 milhões; na prática, porém, apenas 24,3 milhões de
pessoas participavam dele, uma diferença de quase 500 mil pessoas.
Vista por outra ótica,
entre agosto de 2013 e agosto de 2014 a força de trabalho encolheu em 160 mil
pessoas, quase o dobro da queda do emprego no período. É este desenvolvimento
que explica a redução do desemprego apesar da produção e do emprego estagnados.
Não é claro o que
causou este fenômeno. Ele parece mais pronunciado na faixa etária de 18 a 24
anos e pode resultar tanto da busca por maior qualificação por parte dos jovens
(que teriam se afastado do mercado para estudar), como do aumento da “geração nem-nem” (nem trabalha, nem
estuda). Muita gente boa tem queimado as pestanas para entender o que ocorre.
Embora o debate sobre
as origens do fenômeno seja de interesse por si só, prefiro destacar aqui uma
conclusão que me parece pouco notada. Se há menos gente disposta a trabalhar
(por bons ou maus motivos), nossa própria capacidade produtiva deve ser menor
do que imaginávamos.
Em números, com a
produtividade crescendo ao redor de 0,7% ao ano, enquanto a força de trabalho
encolhe em magnitude parecida, nossa capacidade atual de crescimento não deve
ser muito diferente de zero. Isto, contudo, não deve ser persistente, já que em
algum momento a força de trabalho voltará a crescer em linha com a população.
Ainda assim, este desenvolvimento
parece explicar a resistência da inflação mesmo em face do baixíssimo
crescimento deste ano, o que ajuda a esclarecer mais uma aparente anormalidade
brasileira. Trata-se apenas de mais uma das contas que pagamos pelo descaso com
a produtividade em nome da “nova matriz macroeconômica”, cuja obsessão com a
expansão do consumo e com o microgerenciamento da economia minou as bases do
crescimento sustentado.
A lugar algum |
(Publicado 08/Out/2014)
9 comentários:
Ola Alexandre
Ha evidencia de que o salario dos jovens de 18 a 24 anos que trabalham tenha aumentado?
O maior paradoxo "heterodoxo" e economistas como Krugman,o ganhador atual do Nobel de economia ganharem prêmios escrevendo teses Keynesianas,defendendo teses de falha de mercado.
"Ha evidencia de que o salario dos jovens de 18 a 24 anos que trabalham tenha aumentado?"
Não vi dados a este respeito; se há evidência, desconheço.
Aparentemente ninguém lá sabe corrigir valores nominais pela inflação...
Pow, mas é difícil né? ...
Houve um aumento de vagas em universidades e um grande aumento de instituições do ensino técnico federal. Isso poderia ter algum impacto: mais jovens optando pelo ensino e postergando sua entrada no mercado de trabalho?
Prezado Alex,
Estes estudos captam a migração do mercado de trabalho da carteira assinada para PJ?
Com a recente mudança legal, estão se criando milhares de MEIs em todo o BR.
Alex: alguém já pensou em analisar a correlação com o aumento da taxa de encarceramento e/ou uso de drogas pesadas (crack), que é preponderante na faixa mais jovem da população?
Alex,
Se os jovens estão se retirando principalmente para estudar (vide Pronatec com 4 milhões de inscritos, FIES com mais de 300 mil matriculados, etc) , então o impacto contracionista sobre a capacidade produtiva é algo de curto prazo.
No longo prazo, o acúmulo de capital humano pode mais do que compensar a queda da participação (ou pelo menos aliviar o impacto da queda da participação).
Aliás, se o maior engajamento com estudos for algo permanente, então é possível que haja um efeito permanente na redução da taxa de participação (o que poderia ser testado via quebra estrutural nessa variável tradicionalmente estacionária).
O que acha?
Economista X
Postar um comentário