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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ovo por carne

Segundo o ministro da Fazenda o fraco desempenho da economia brasileira no mandato da presidente se deve exclusivamente à conjuntura internacional. Face à mais severa crise do capitalismo desde os anos 30 do século passado, a redução do crescimento brasileiro seria consequência inevitável, descontadas, é claro, todas as bravatas sobre a “marolinha” que jamais afetaria o desempenho nacional.

O argumento, reproduzido à exaustão a cada pronunciamento ministerial, é logicamente impecável, sofrendo apenas de um modesto problema: não guarda a mais remota semelhança com o ocorrido, seja no que se refere ao Brasil, seja no que diz respeito à economia global.

Não é necessário mais que uma simples tabela para demolir a história oficial, no caso uma que compare o crescimento brasileiro ao mundial, assim como ao do conjunto dos países emergentes, cobrindo os últimos 5 mandatos presidenciais.


Crescimento do PIB (1994-2014) - % ao ano
Fontes: FMI, IBGE (2014 Focus)

Como se vê, o mundo cresceu algo como 3,5% ao ano entre 2011 e 2014, precisamente o mesmo ritmo registrado nos 4 anos anteriores. Por outro lado o Brasil, que crescera 4,6% aa no período 2007-10, deve registrar expansão de apenas 1,6% aa nos últimos 4 anos, redução abrupta equivalente a 3 pontos percentuais. Nunca antes na história recente deste país o Brasil ficou tão para trás da economia global.

Posto de outra forma, a desaceleração mundial não pode ser invocada como motivo para a piora extraordinária do nosso desempenho simplesmente porque jamais ocorreu, certamente não fora da fértil imaginação do ministro da Fazenda.

A tabela também sugere que a “velocidade de cruzeiro” da economia global não parece ser muito diferente da observada no período mais recente: em 4 dos últimos 5 mandatos presidenciais ali destacados o mundo se expandiu à taxa de 3,5% aa, saindo da toada apenas no período 2003-2006, quando se acelerou para 5% aa, sob o efeito combinado da bolha imobiliária nos países ricos e do pico do crescimento chinês.

Neste sentido, mesmo reconhecendo que a recuperação global poderia ser mais vigorosa, considerada a intensidade da queda do produto observada durante a crise de 2008-09, o ritmo de expansão mundial não chega a ser particularmente desastroso, pelo contrário.

Já se limitarmos a comparação ao conjunto de países emergentes as conclusões são ainda mais vexatórias. Em momento algum o Brasil conseguiu superar o desempenho de nossos pares. Afora isto, mesmo nos últimos 4 anos, quando a expansão emergente perdeu algo de seu brilho, caindo de 6,2% para 5,1% aa, a piora nacional foi bem mais pronunciada, padrão também difícil de reconciliar com a desculpinha oficial para a queda aguda do nosso crescimento.

Nosso lamentável desempenho não pode, portanto, ser atribuído nem à (inexistente) desaceleração global, nem à (muito mais modesta) desaceleração das economias emergentes. Como notado (com certo atraso) pelo FMI, se queremos entender o que vem ocorrendo no Brasil temos que buscar causas locais, que, aliás, não são tão difíceis de encontrar.

Em primeiro lugar a redução visível do crescimento da produtividade, refletindo em larga medida a virtual paralisia do esforço reformista que marcou o país entre 1990 e 2005. Em segundo lugar o esgotamento da mão-de-obra ociosa, que durante algum tempo permitiu expansão baseada na simples adição de trabalhadores ao processo produtivo. E, por fim, também a fraqueza do investimento, que caiu de insuficientes 19,5% do PIB em 2010 para risíveis 17,7% do PIB nos últimos 4 trimestres, a despeito da maciça injeção de recursos nos bancos públicos, assim como de toda sorte de incentivos fracassados.

Nenhum destes fenômenos óbvios é sequer reconhecido como problema no discurso oficial, que continua a insistir nas fantasias que criou, vendendo ovo por carne, tentando justificar a injustificável deterioração em praticamente todas as dimensões da economia brasileira.

Churrasco à Márcio Holland


(Publicado 15/10/2014)









20 comentários:

Meu professor de economia monetaria tem um modelo econometrico que refuta o seu artigo hoje na folha.

Quanto menor a inflação,maior a taxa de desemprego no curto e no longo prazo.

http://www.zedirceu.com.br/politica-monetaria-e-atuacao-do-banco-central-no-brasil/

Alex:
Um presentinho para voce se divertir...

"Quem?"

Ora...só pode ser um modelo econométrico de Oreiro et.al.

O professor com quem eu pago economia monetária .

"Quem?"

Pobrezinho... É da graduação e o professor dele está, claramente enganando o coitado.

um comentário bem dona-de-casa:
ovo sobe 20% por causa da declaração do governo


ps: código para postar indica que os mavs estiveram aqui, saudades de quando éramos 18 malucos

Não possuo graduação e não entendo de economia, mas, compreendi e senti na própria pele que:

'Quanto maior a duração de elevada taxa de inflação, menor o crescimento econômico e, pior, maior será o tempo necessário para a retomada de um longo período de crescimento consistente, com distribuição equitativa de renda'.

Ângelo

Professor, qual a serie de dados do IBGE você utilizou?

Obrigado!

Penso eu que os padrões de avaliação da economia usada tradicionalmente, não é o mesmo usado pelos países que adotam, ou tentam adotar um regime, dito bolivariano. Como se sabe, o socialista admira, e muito, o modelo cubano, mais próximo de nossas fronteiras, e nunca seus governantes se importaram com os parâmetros usados pelo capitalismo(argh). Na concepção de um novo mundo, diferente de tudo o que aí está, seria ilógico perseguirem os mesmos resultados e padrões. O socialismo, que é um processo em permanente mutação, de acordo com seus idealizadores, busca o poder e sua manutenção, como se sabe, e os valores são atribuídos pelo partido e, particularmente, pelos seus líderes. Daí eu considerar essa comparação de realizações econômicas totalmente fora da lógica do governo e de seu ancoradouro, o PT.

Caros 16 amigos. Vim aqui para nao me sentir so nesta noite de Domingo - me pareceu o lugar apropriado... algo como o local de um massacre no dia seguinte... vim acender a minha vela e abraca-los.
Um forte abraco.

Alex, acho que vc deveria escrever um artigo sobre essa "crise internacional". Esse povo é de uma cara de pau sem tamanhos. A volatilidades das moedas já caiu em 2009, o risco de desmembramento da zona do euro já não existe (pelo menos agora) e a economia mundial cresce 3% ao ano. Mesmo na UE, alguns países como UK apresentam melhoria expressa dos indicadores econômicos... aquele povo da fazenda é uma piada.. até aluno de graduação bate neles.

" qual a serie de dados do IBGE você utilizou?"

PIB

É Alex, vc vai ter matéria prima para os próximos quatro anos.

Alex,

Se considerarmos os principais parceiros comerciais do Brasil, poderemos chegar ao mesmo diagnóstico, ou seja, de quem não houve crise?

Acho meio contra intuitivo pensar que não há mais crise no mundo quando nos jornais só se fala em desaceleração da China, estagnação de Europa e Japão e retomada ainda não convincente nos EUA...

Abs

Marcos

boa tarde Alexandre, tentei rever sua entrevista "cabeça brilhante " no entre aspas, heheh e nao consegui nem na globo. tem como rever novamente
abs

"Acho meio contra intuitivo pensar que não há mais crise no mundo quando nos jornais só se fala em desaceleração da China, estagnação de Europa e Japão e retomada ainda não convincente nos EUA..."

Marcos, o cenário internacional está voltando ao normal. O cenário 2001-2008 foi algo fora do comum na economia global. Aliás, para nós o principal fator externo que afeta a economia brasileira são as taxas de juros nos EUA e elas continuam em patamares muito baixos, por exemplo. Enfim, esse argumento de crise é uma baboseira sem tamanhos e não dura 5 minutos em um debate sério

O meu professor de economia monetária .