Segundo o ministro da
Fazenda o fraco desempenho da economia brasileira no mandato da presidente se
deve exclusivamente à conjuntura internacional. Face à mais severa crise do
capitalismo desde os anos 30 do século passado, a redução do crescimento
brasileiro seria consequência inevitável, descontadas, é claro, todas as
bravatas sobre a “marolinha” que jamais afetaria o desempenho nacional.
O argumento, reproduzido
à exaustão a cada pronunciamento ministerial, é logicamente impecável, sofrendo
apenas de um modesto problema: não guarda a mais remota semelhança com o ocorrido,
seja no que se refere ao Brasil, seja no que diz respeito à economia global.
Não é necessário mais
que uma simples tabela para demolir a história oficial, no caso uma que compare
o crescimento brasileiro ao mundial, assim como ao do conjunto dos países
emergentes, cobrindo os últimos 5 mandatos presidenciais.
Crescimento do PIB (1994-2014) - % ao ano
Fontes: FMI, IBGE (2014 Focus)
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Como se vê, o mundo cresceu
algo como 3,5% ao ano entre 2011 e 2014, precisamente o mesmo ritmo registrado
nos 4 anos anteriores. Por outro lado o Brasil, que crescera 4,6% aa no período
2007-10, deve registrar expansão de apenas 1,6% aa nos últimos 4 anos, redução
abrupta equivalente a 3 pontos percentuais. Nunca antes na história recente
deste país o Brasil ficou tão para trás da economia global.
Posto de outra forma, a
desaceleração mundial não pode ser invocada como motivo para a piora
extraordinária do nosso desempenho simplesmente porque jamais ocorreu, certamente
não fora da fértil imaginação do ministro da Fazenda.
A tabela também sugere
que a “velocidade de cruzeiro” da economia global não parece ser muito
diferente da observada no período mais recente: em 4 dos últimos 5 mandatos
presidenciais ali destacados o mundo se expandiu à taxa de 3,5% aa, saindo da
toada apenas no período 2003-2006, quando se acelerou para 5% aa, sob o efeito
combinado da bolha imobiliária nos países ricos e do pico do crescimento
chinês.
Neste sentido, mesmo
reconhecendo que a recuperação global poderia ser mais vigorosa, considerada a
intensidade da queda do produto observada durante a crise de 2008-09, o ritmo
de expansão mundial não chega a ser particularmente desastroso, pelo contrário.
Já se limitarmos a
comparação ao conjunto de países emergentes as conclusões são ainda mais
vexatórias. Em momento algum o Brasil conseguiu superar o desempenho de nossos
pares. Afora isto, mesmo nos últimos 4 anos, quando a expansão emergente perdeu
algo de seu brilho, caindo de 6,2% para 5,1% aa, a piora nacional foi bem mais
pronunciada, padrão também difícil de reconciliar com a desculpinha oficial para
a queda aguda do nosso crescimento.
Nosso lamentável
desempenho não pode, portanto, ser atribuído nem à (inexistente) desaceleração
global, nem à (muito mais modesta) desaceleração das economias emergentes. Como
notado (com certo atraso) pelo FMI, se queremos entender o que vem ocorrendo no
Brasil temos que buscar causas locais, que, aliás, não são tão difíceis de
encontrar.
Em primeiro lugar a redução
visível do crescimento da produtividade, refletindo em larga medida a virtual
paralisia do esforço reformista que marcou o país entre 1990 e 2005. Em segundo
lugar o esgotamento da mão-de-obra ociosa, que durante algum tempo permitiu
expansão baseada na simples adição de trabalhadores ao processo produtivo. E,
por fim, também a fraqueza do investimento, que caiu de insuficientes 19,5% do
PIB em 2010 para risíveis 17,7% do PIB nos últimos 4 trimestres, a despeito da
maciça injeção de recursos nos bancos públicos, assim como de toda sorte de
incentivos fracassados.
Nenhum destes fenômenos
óbvios é sequer reconhecido como problema no discurso oficial, que continua a
insistir nas fantasias que criou, vendendo ovo por carne, tentando justificar a
injustificável deterioração em praticamente todas as dimensões da economia
brasileira.
Churrasco à Márcio Holland |
(Publicado 15/10/2014)
20 comentários:
Meu professor de economia monetaria tem um modelo econometrico que refuta o seu artigo hoje na folha.
Quanto menor a inflação,maior a taxa de desemprego no curto e no longo prazo.
Quem?
Quem? Rsrs kkkkkkkk
http://www.zedirceu.com.br/politica-monetaria-e-atuacao-do-banco-central-no-brasil/
Alex:
Um presentinho para voce se divertir...
"Quem?"
Ora...só pode ser um modelo econométrico de Oreiro et.al.
O professor dele é o Tiririca.
O professor com quem eu pago economia monetária .
"Quem?"
Pobrezinho... É da graduação e o professor dele está, claramente enganando o coitado.
um comentário bem dona-de-casa:
ovo sobe 20% por causa da declaração do governo
ps: código para postar indica que os mavs estiveram aqui, saudades de quando éramos 18 malucos
Não possuo graduação e não entendo de economia, mas, compreendi e senti na própria pele que:
'Quanto maior a duração de elevada taxa de inflação, menor o crescimento econômico e, pior, maior será o tempo necessário para a retomada de um longo período de crescimento consistente, com distribuição equitativa de renda'.
Ângelo
Professor, qual a serie de dados do IBGE você utilizou?
Obrigado!
Penso eu que os padrões de avaliação da economia usada tradicionalmente, não é o mesmo usado pelos países que adotam, ou tentam adotar um regime, dito bolivariano. Como se sabe, o socialista admira, e muito, o modelo cubano, mais próximo de nossas fronteiras, e nunca seus governantes se importaram com os parâmetros usados pelo capitalismo(argh). Na concepção de um novo mundo, diferente de tudo o que aí está, seria ilógico perseguirem os mesmos resultados e padrões. O socialismo, que é um processo em permanente mutação, de acordo com seus idealizadores, busca o poder e sua manutenção, como se sabe, e os valores são atribuídos pelo partido e, particularmente, pelos seus líderes. Daí eu considerar essa comparação de realizações econômicas totalmente fora da lógica do governo e de seu ancoradouro, o PT.
Caros 16 amigos. Vim aqui para nao me sentir so nesta noite de Domingo - me pareceu o lugar apropriado... algo como o local de um massacre no dia seguinte... vim acender a minha vela e abraca-los.
Um forte abraco.
Alex, acho que vc deveria escrever um artigo sobre essa "crise internacional". Esse povo é de uma cara de pau sem tamanhos. A volatilidades das moedas já caiu em 2009, o risco de desmembramento da zona do euro já não existe (pelo menos agora) e a economia mundial cresce 3% ao ano. Mesmo na UE, alguns países como UK apresentam melhoria expressa dos indicadores econômicos... aquele povo da fazenda é uma piada.. até aluno de graduação bate neles.
" qual a serie de dados do IBGE você utilizou?"
PIB
É Alex, vc vai ter matéria prima para os próximos quatro anos.
Alex,
Se considerarmos os principais parceiros comerciais do Brasil, poderemos chegar ao mesmo diagnóstico, ou seja, de quem não houve crise?
Acho meio contra intuitivo pensar que não há mais crise no mundo quando nos jornais só se fala em desaceleração da China, estagnação de Europa e Japão e retomada ainda não convincente nos EUA...
Abs
Marcos
boa tarde Alexandre, tentei rever sua entrevista "cabeça brilhante " no entre aspas, heheh e nao consegui nem na globo. tem como rever novamente
abs
"Acho meio contra intuitivo pensar que não há mais crise no mundo quando nos jornais só se fala em desaceleração da China, estagnação de Europa e Japão e retomada ainda não convincente nos EUA..."
Marcos, o cenário internacional está voltando ao normal. O cenário 2001-2008 foi algo fora do comum na economia global. Aliás, para nós o principal fator externo que afeta a economia brasileira são as taxas de juros nos EUA e elas continuam em patamares muito baixos, por exemplo. Enfim, esse argumento de crise é uma baboseira sem tamanhos e não dura 5 minutos em um debate sério
O meu professor de economia monetária .
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