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quarta-feira, 30 de março de 2011

À meia-noite cortarei suas unhas


Despesa corrente é vida: ou você proíbe o povo de nascer, de morrer, de comer, ou de adoecer, ou vai ter despesas correntes”(O Estado de S. Paulo, 9/11/2005). Com estas palavras a então ministra da Casa Civil fulminou o projeto de ajuste fiscal de longo prazo patrocinado pelos Ministros da Fazenda e do Planejamento, gestado por técnicos do IPEA, de saudosa memória.

A proposta não era particularmente agressiva (muito menos “rudimentar”). Sugeria tão-somente limitar o crescimento dos gastos públicos correntes pouco abaixo da expansão do PIB nominal. Como este saiu de R$ 2,37 trilhões em 2006 para R$ 3,67 trilhões em 2010 (ao redor de 11,5% ao ano em média), o programa propunha que os gastos correntes crescessem a uma velocidade menor, de modo a fazer com que seu valor caísse ao ritmo de 0,3% do PIB a cada ano.

Não foi o que observamos. Entre 2006 e 2010 o gasto corrente federal cresceu a um ritmo pouco superior a 12% ao ano, levando a um aumento da sua razão relativamente ao produto, de 16,2% para 16,5% do PIB. Isto pode não parecer muito à primeira vista, mas, como tenho argumentado frequentemente neste espaço, uma política econômica não pode ser analisada pelo que produziu, mas sim face ao que teria ocorrido caso políticas alternativas tivessem sido adotadas.

Imagine, portanto, o que teria ocorrido se o ajuste fiscal de longo prazo tivesse sido posto em prática, contra a opinião da ministra. Neste caso, o gasto corrente teria caído 0,3% do PIB a cada ano, atingindo 15% do PIB no ano passado.  Isto é, ao invés dos gastos correntes terem chegado a R$ 608 bilhões em 2010, teriam ficado em R$ 551 bilhões, uma diferença de R$ 56 bilhões apenas no ano passado (R$ 116 bilhões entre 2007 e 2010, medidos a preços de 2010). Ainda assim, corrigido pelo IPCA, o gasto corrente teria se expandido em torno de 4,5% ao ano, mais do que a população, sem impedir, portanto, a expansão da oferta de serviços públicos.

Caso este valor tivesse sido integralmente poupado, levando em consideração o custo observado da dívida doméstica, implicaria uma redução da dívida pública da ordem de R$ 125 bilhões (3,5% do PIB) em comparação aos valores efetivamente observados. E, é bom notar, trata-se, na verdade, de uma estimativa conservadora do ganho, pois supõe que a taxa de juros teria permanecido inalterada, mesmo em face de um ajuste fiscal de magnitude razoável. Provavelmente a taxa de juros teria sido menor, adicionando-se ao efeito de um superávit primário mais alto no sentido de reduzir a dívida.

Alternativamente, os R$ 116 bilhões poupados poderiam ter se transformado em investimento adicional. O investimento federal realizado entre 2007 e 2010, medido a preços do ano passado, acumulou R$ 140 bilhões. Assim, o investimento público poderia ter sido, em média, cerca de 80% maior que o observado, atingindo nos últimos 4 anos 1,9% do PIB contra um valor observado de somente 1% do PIB. Apenas em 2010 o investimento poderia ter atingido 1,5% do PIB acima do que o observado, o que elevaria, conservadoramente, o crescimento potencial da economia ao redor de 0,4% ao ano.

Obviamente, qualquer combinação das alternativas acima também poderia ter ocorrido, já descartando, por absoluto ceticismo, a possibilidade dos recursos poupados serem devolvidos ao setor privado sob a forma de impostos mais baixos. Em qualquer caso teríamos resultados superiores aos observados, tanto em termos de redução de dívida como do desempenho dos investimentos em infraestrutura.

Isto dito, se o controle de gastos correntes (...) é como cortar as unhas, pois se você não olhar para alguns gastos eles explodem, (...) tem que cortar as unhas sempre” (Valor Econômico, 17/3/2011), é triste que se anuncie a intenção de fazê-lo apenas quando as unhas do governo federal já fazem inveja ao próprio Zé do Caixão.

À meia-noite cortarei suas unhas


(Publicado 30/Mar/2011)

domingo, 27 de março de 2011

ROGÉR100!

sábado, 26 de março de 2011

Imagens do I Encontro Nacional dos Blogueiros de Economia


O segundo painel: Thais Heredia, Silvio Crespo, Leo Monastério e Cristiano Costa (moderador)

Terceiro painel: Claudio Shikida, Mauro Rodrigues, Ronald Hillbrecht, Marcio Laurini e Cristiano Costa

Leo e Claudio, no quarto (e mais interessante) painel

Cristiano e Ronald fazendo contribuições inestimáveis no quarto painel
A pergunta que não quer calar é se "O" esteve presente. Claro que sim, embora não se possa dizer se sua presença foi física ou espiritual.


terça-feira, 22 de março de 2011

Quando o fundo do poço poderia parecer próximo

Chávez diz que capitalismo pode ter acabado com a vida em Marte

Eyanir Chinea
Em Caracas


O capitalismo pode ter sido o culpado pela falta de vida em Marte, disse nesta terça-feira o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
"Eu sempre digo, e ouço, que não seria estranho se tivesse existido uma civilização em Marte, mas talvez o capitalismo tenha chegado lá, o imperialismo chegou e acabou com o planeta", disse Chávez em discurso para marcar o Dia Mundial da Água.
Chávez, que também coloca no capitalismo a culpa por vários problemas do mundo, alertou que o abastecimento de água na Terra está acabando.
"Cuidado! Aqui no planeta Terra, onde centenas de anos atrás ou menos havia grandes florestas, agora há desertos. Onde havia rios, há desertos", disse Chávez, tomando um gole d'água de um copo.
Ele acrescentou que os ataques do Ocidente sobre a Líbia tinham como motivação fontes de água e reservas de petróleo.
O Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA recomendou neste mês que a principal prioridade da Nasa deveria ser construir um robô que ajudasse a determinar se já houve vida em Marte e que revelasse o histórico climático e geológico do planeta.
Esse também seria o primeiro passo num esforço para trazer de volta à Terra amostras de Marte.

quarta-feira, 16 de março de 2011

A importância das importações

Em meio às comemorações sobre o crescimento do PIB de 7,5% em 2010 ficaram em segundo plano características importantes do desempenho da economia brasileira no ano passado, em especial seu comportamento em cada semestre. O PIB, que crescera a um ritmo anualizado de quase 9% no primeiro semestre, desacelerou-se para pouco mais de 3% ao ano na segunda metade de 2010. Já a demanda interna, cuja expansão anualizada atingira 8%, reduziu modestamente sua velocidade para cerca de 6,5% ao ano no segundo semestre.

Tais números deixam claro que a desaceleração do crescimento da produção interna não pode ser atribuída à fraqueza da demanda doméstica. Entretanto, se não foi a demanda interna, o que levou à desaceleração do PIB?

O primeiro suspeito é o crescimento das importações (líquidas das exportações). Dessazonalizadas e medidas a preços constantes do quarto trimestre de 2010 as importações líquidas saíram de R$ 2,5 bilhões negativos no primeiro semestre para R$ 8,8 bilhões positivos no segundo, um aumento superior a R$ 11 bilhões, que teria – tudo o mais constante – “roubado” este valor da produção interna. Entretanto, se, como experimento mental, repuséssemos este valor no PIB do segundo semestre, observaríamos que este passaria de R$ 1,967 trilhão para R$ 1,978 trilhão, ou seja, ao invés de crescimento anualizado de 3,2% no período, teríamos 4,3%. Por esta métrica algo arbitrária pode-se dizer que o aumento das importações líquidas “custou” 1,1% ao ano no segundo semestre.

A segunda suspeita é a variação de estoques, que caiu de R$ 36,3 bilhões na primeira metade do ano para R$ 15,8 bilhões na segunda (sazonalmente ajustados e medidos a preços constantes). Caso a variação dos estoques tivesse permanecida inalterada, chegaríamos a um PIB de R$ 1,987 trilhão na segunda metade de 2010, equivalente a um crescimento anualizado de 5,3%. A redução do ritmo de acumulação de estoques, portanto, teria “custado” 2,1% ao ano no segundo semestre, papel aparentemente mais importante na desaceleração do crescimento do que o aumento das importações líquidas.

A conclusão acima, é bom notar, não está imune a problemas, a começar porque a variação de estoques, como o IBGE nos alerta, é uma conta de resíduo, isto é, toda diferença entre as estimativas do valor da produção e do valor da demanda final são lá contabilizadas. Na ausência de observações independentes do valor dos estoques, não sabemos dizer quanto a estimativa captura de fato as variações dos estoques e quanto é apenas ruído estatístico. De qualquer forma, as magnitudes envolvidas sugerem que o efeito pode ser relevante.

Isto dito, alguém ainda poderia notar que, independente do resultado dos estoques, as importações líquidas teriam ainda “roubado” pouco mais de 1% ao ano do crescimento do segundo semestre. Não seria o caso de limitar as importações para permitir que o crescimento da demanda interna se transformasse integralmente em aumento da produção?

No entanto, se o PIB (sem importações adicionais) tivesse crescido na proporção que calculamos acima, uma estimativa simples sugere que o produto efetivo da economia teria superado seu valor potencial em 0,7% do PIB no final de 2010, valor superior ao estimado (0,3% do PIB) com o aumento observado das importações, isto é, a pressão sobre a capacidade produtiva do país teria sido ainda maior que observada, indicando, como destaquei na minha última coluna, que as pressões inflacionárias também aumentariam.

Em outras palavras, sem as importações o dinamismo da demanda interna teria que ser menor e os juros mais altos. Estas considerações devem, portanto, deixar claro que o aumento das importações desempenha papel central no sentido de moderar as pressões inflacionárias. Não é, nem poderia ser, a solução final do problema, mas sabemos agora porque limitá-lo é uma péssima ideia. 

(Publicado 16/Mar/2011)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Mais um blog de respeito

A dica veio do Leo Monastério assim como o texto abaixo. 


Os craques da consultoria do Senado Federal se juntaram com o Instituto Fernand Braudel e criaram o novo blog. Olhem as perguntas e respostas que já estão no ar:
  • Por que instituir a previdência complementar do servidor público?
  • É possível controlar o gasto do Governo apenas enxugando os desperdícios?
  • A isenção do imposto de renda na poupança é um subsídio justo e eficiente?
  • Deve o Brasil persistir no fomento aos biocombustíveis mesmo com a descoberta da volumosa reserva de petróleo do pré-sal?
  • Por que precisamos reformar a previdência?
  • O TCU atrapalha o bom desenvolvimento das obras de infraestrutura do Governo Federal?
  • Por que o Brasil não utiliza as reservas internacionais para financiar investimentos públicos em infraestrutura?
  • O que fazer para melhorar a eficiência dos servidores públicos e reduzir as despesas de pessoal do governo?
  • O que é e para o que serve o “Resultado Primário”?
  • Como as Leis e o Poder Judiciário afetam a Economia?
Já está no blogroll aqui do lado.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Brasil é o único entre os emergentes sem universidades 'top'

Brasil é o único entre os emergentes sem universidades 'top'

VAGUINALDO MARINHEIRO

DE LONDRES

O Brasil avança na economia, mas tem um longo caminho a percorrer na educação. O país é o único dos BRICs a não ter nenhuma instituição de ensino superior entre as cem mais bem avaliadas por acadêmicos no mundo todo. É o que mostra o novo ranking divulgado nesta quinta-feira pela THE (Times Higher Education), principal referência no campo das avaliações de universidades no mundo, que é baseada em Londres.

A Rússia aparece com a Universidade Lomonosov, de Moscou, na 33ª posição. A China tem cinco universidades no ranking (duas em Hong Kong e uma em Taiwan). A melhor é a Tsinghua, de Pequim, no 35º lugar. O Instituto Indiano de Ciência está na 91ª colocação.
Foram ouvidos 13.388 acadêmicos de 131 países para chegar à lista das universidades com melhor reputação São estudiosos com, em média, mais de 16 anos de trabalho em instituições de ensino superior e 50 trabalhos científicos publicados.

Na liderança, mais uma vez, aparece a americana Harvard, que também lidera o ranking geral da THE divulgado em setembro de 2010 e que a Folha publicou com exclusividade no Brasil. A diferença entre os rankings é que o geral leva em conta 13 critérios --relação estudante/professor, quantidades de alunos e professores estrangeiros, número de trabalhos científicos publicados, ênfase em pesquisa etc.

O índice de reputação, divulgado pela primeira vez pela THE, considera apenas a imagem que as instituições têm entre os acadêmicos. Foi pedido que apontassem, entre mais de 6.000, até dez universidades como as melhores do mundo em seus campos específicos.

A matéria completa pode ser lida aqui

VEJA O RANKING COMPLETO
RankingInstituiçãoPaís
1Universidade HarvardEUA
2Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)EUA
3Universidade de CambridgeReino Unido
4Universidade da Califórnia, BerkeleyEUA
5Universidade StanfordEUA
6Universidade de OxfordReino Unido
7Universidade PrincetonEUA
8Universidade de TóquioJapão
9Universidade YaleEUA
10Instituto de Tecnologia da CalifórniaEUA
11Imperial College de LondresReino Unido
12Universidade da Califórnia, Los AngelesEUA
13Universidade de MichiganEUA
14Universidade Johns HopkinsEUA
15Universidade de ChicagoEUA
16Universidade CornellEUA
17Universidade de TorontoCanadá
18Universidade de KyotoJapão
19Universidade College LondonReino Unido
19Universidade de MassachusettsEUA
21Universidade de Illinois em Urbana-ChampaignEUA
22Universidade da PensilvâniaEUA
23Universidade ColúmbiaEUA
24Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em ZuriqueSuíça
25Universidade de WisconsinEUA
26Universidade de WashingtonEUA
27Universidade Nacional de CingapuraCingapura
28Universidade Carnegie MellonEUA
29Universidade McGillCanadá
30Universidade da Califórnia, em San DiegoEUA
31Universidade da Colúmbia BritânicaCanadá
31Universidade do Texas, em AustinEUA
33Universidade Lomonosov, em MoscouRússia
34Universidade da Califórnia, em San FranciscoEUA
35Universidade TsinghuaChina
36Universidade DukeEUA
37London School of Economics and Political ScienceReino Unido
38Universidade da Califórnia, em DavisEUA
39Instituto de Tecnologia da GeórgiaEUA
40Universidade NorthwesternEUA
41Universidade da Carolina do Norte, em Chapel HillEUA
42Universidade de Hong KongHong Kong**
43Universidade de PequimChina
43Universidade de MinnesotaEUA
45Universidade de EdinburgoReino Unido
45Universidade de MelbourneAustrália
47Universidade PurdueEUA
48Universidade de MuniqueAlemanha
49Universidade de Tecnologia de DelftHolanda
50Universidade OsakaJapão
51-60*Universidade Nacional AustralianaAustrália
Instituto KarolinskaSuécia
Universidade de Nova YorkEUA
Universidade Estadual de OhioEUA
Universidade Nacional de SeulCoreia do Sul
Universidade TohokuJapão
Instituto Tecnológico de TóquioJapão
Universidade da Califórnia, Santa BárbaraEUA
Universidade de PittsburghEUA
Universidade de SydneyAustrália
61-70Universidade BostonEUA
Escola PolitécnicaFrança
King's College de LondresReino Unido
Universidade Estadual da PensilvâniaEUA
Universidade Técnica de MuniqueAlemanha
Universidade da FlóridaEUA
Universidade de ManchesterReino Unido
Universidade de Maryland, College ParkEUA
Universidade de ZuriqueSuíça
Universidade UppsalaSuécia
71-80Escola Politécnica Federal de LausanneSuíça
Universidade Humboldt de BerlimAlemanha
Universidade LundSuécia
Universidade Estadual de MichiganEUA
Universidade Estadual de Nova Jersey, RutgersEUA
Universidade do ArizonaEUA
Universidade do ColoradoEUA
Universidade do Sul da CalifórniaEUA
Universidade UtrechtHolanda
Universidade Washington, Saint LouisEUA
81-90Universidade Católica de LeuvenBélgica
Universidade IndianaEUA
Universidade LeidenHolanda
Universidade National de TaiwanTaiwan*
Universidade Ruprecht Karl de HeidelbergAlemanha
Universidade Texas A&MEUA
Universidade de AmsterdãHolanda
Universidade de BristolReino Unido
Universidade de LeedsReino Unido
Universidade de QueenslandAustrália
91-100Universidade Hong Kong de Ciência e TecnologiaHong Kong**
Instituto Indiano de CiênciaÍndia
Instituto de Ciência e Tecnologia Avançada da CoreiaCoreia do Sul
London School de Higiene e Medicina TropicalReino Unido
Universidade Tecnológica de NanyangCingapura
Universidade de HelsinqueFinlândia
Universidade de Paris, Pantheon-SorbonneFrança
Universidade de SheffieldReino Unido
Universidade de VienaÁustria
Universidade de WaterlooCanadá
Fonte: Times Higher Education
* A partir da 51ª posição, como as diferenças são pequenas, os autores do ranking decidiram agrupar as universidades em grupos de 10, listados em ordem alfabética
** Hong Kong é uma região administrativa especial da China
* Taiwan é, oficialmente, uma província da China embora funcione de fato como entidade política autônoma