O presidente
eleito, Jair Bolsonaro, manifestou sua oposição à proposta de reforma da
previdência capitaneada por Michel Temer, afirmando que “não podemos querer salvar o Brasil matando idoso”. Parece não ter
percebido nem que a campanha acabou, nem que o tema requer bem mais maturidade
na análise.
A começar porque
qualquer proposta de reforma não pode alterar direitos adquiridos dos atuais
aposentados. Mais importante, porém, é que não há nada no projeto que autorize
a visão particularmente cruel expressa acima.
A discussão hoje se
concentra (embora não se esgote) em três aspectos. O primeiro é a criação de
uma idade mínima de aposentadoria para o INSS, que atingiria 62 anos para
mulheres e 65 para homens em 20 anos. O segundo é o estabelecimento de uma
regra de transição, especificando que vale para mulheres acima de 53 anos e
homens acima de 55. O terceiro é a equiparação do regime para o funcionalismo
público às regras do regime para trabalhadores do setor privado.
No que se refere
aos dois primeiros, noto que, dos 35 milhões de beneficiários da previdência (5
milhões de assistenciais e 30 milhões de previdenciários), há 6 milhões de
aposentados por tempo de contribuição, ou seja, 18% do total. Apesar disto,
recebem 30% do valor desembolsado, não só a maior fatia, mas também o maior
valor médio, correspondente a R$ 3 mil/mês, tendo se aposentado em média aos 55
anos.
Para fins de
comparação, quem se aposenta por idade (65 anos), recebe metade deste valor (a
maioria recebe um salário mínimo); já os benefícios assistenciais equivalem a
um salário mínimo, R$ 954/mês. Em outras palavras, o que se propõe é que os que
ganham mais se aposentem (em 20 anos) na mesma idade dos que ganham menos.
Há, é verdade, um
requisito adicional para o recebimento do benefício integral (cujo teto é hoje
R$ 5,5 mil/mês): 42 anos de contribuição, ou seja, quem se aposentasse por
tempo de contribuição aos 65 anos teria começado a contribuir pelo menos aos 23
anos. Contudo, para a maioria dos que se aposentam por idade, não haveria mudança:
fariam jus a um salário mínimo e continuariam a recebê-lo após os 65 anos.
Já a equiparação de
regimes eliminaria a inequidade hoje existente entre aqueles que se aposentam
com salário integral e meros mortais. Em particular, no caso do funcionalismo
federal, a aposentadoria média em 2016 era R$ 7,7 mil/mês, contra R$ 1,4
mil/mês para aposentados pelo INSS, 5,5 vezes maior.
Em suma, muito
embora o projeto de reforma ora em discussão não seja perfeito, está longe de
corrigir o problema previdenciário pelo assassinato em massa de velhinhos. Ao
contrário, reduz desigualdades e preserva os direitos dos mais pobres.
Já deveria ficar
claro para o presidente que o sucesso de sua administração está intimamente
ligado à capacidade de aprovar, possivelmente ainda em 2019, uma reforma que
limite os gastos com aposentadorias e pensões, sem o que o teto constitucional
de despesas se tornará insustentável nos próximos anos.
A retórica de campanha,
associada à declaração pessimista do deputado
Eduardo Bolsonaro sobre a possibilidade de aprovação da reforma no Congresso, gera
sérias dúvidas acerca de seu compromisso com o ajuste fiscal.
Não
há margem de erro nesta frente: se não aprovarmos a reforma da previdência enfrentaremos
uma grave crise fiscal, com repercussões óbvias sobre a estabilidade política
do país.
(Publicado 5/Dez/2018)
4 comentários:
O ajuste fiscal será feito apenas pela reforma da previdência ou outras medidas também deverão ser tomadas? Pelo o que vejo na imprensa, aparentemente sim, mas não sou economista, então queria saber sua análise da situação.
E preciso fazer a reforma da previdência,poupando os servidores públicos.Existem outras medidas que podem ser adotadas como:Aumentar a arrecadação de impostos diminuindo a sonegação,cobrar a dívida ativa,etc.
Atualmente uma execucao fiscal com 6 anos prescreve(1 ano de prescrição intercorrente mais 5 anos de prazo para cobrar o crédito.
O correto deveria ser reformar a previdência do setor privado,depois aumentar arrecadação via combate à sonegação,cobrar de quem deve,para depois reformar a previdência do setor público.
"E preciso fazer a reforma da previdência,poupando os servidores públicos."
É preciso, fazer, uma reforma, gramática permitindo, usar as, vírgulas como a, gente quiser...
Postar um comentário