Por qualquer métrica
que se escolha o Brasil permanece como uma das economias mais fechadas do mundo
no que se refere ao comércio global. Em que pesem características como a
dimensão continental do país e custos de transporte, resta pouca dúvida que a baixa
integração comercial com o resto do mundo decorre de uma postura protecionista
há muito enraizada.
É verdade que as
tarifas médias de importação caíram bastante entre 1990 e 1995 (de 40% para 15%
no que se refere a manufaturas) e um pouco mais até 2003 (para os atuais 10%,
contra cerca de 3% na média global), mas depois disto não demos nenhum passo
adicional no sentido de liberalizar o comércio exterior. Pelo contrário, foram
tomadas medidas de proteção, como, por exemplo,
exigências de conteúdo nacional para equipamentos destinados à exploração de
petróleo, para citar apenas o caso mais gritante.
Existem evidências que
a redução da proteção nos anos 90 resultou em crescimento expressivo da
produtividade no país, como registrado por Marcos Lisboa, Naércio Menezes
Filho e Adriana Schor. Por outro lado, a produtividade estagnou
no período mais recente, fenômeno que, se não pode ser integralmente atribuído
ao fechamento da economia, deve ter nele ao menos parcela relevante da
responsabilidade.
Há, contudo,
iniciativas para começar a reverter este quadro desolador, em particular a proposta de redução
das tarifas de importação de bens de capital, informática e telecomunicações de
14% para 4% em média. Tal medida, se levada a termo, deveria reduzir o
custo do investimento, não apenas colaborando para a retomada da economia, mas
também para aumento da produtividade de trabalho e, provavelmente, ainda para a
produtividade geral, pela incorporação de tecnologia mais avançada a custos
mais baixos.
Como seria de se
esperar, contudo, os suspeitos de sempre já começaram a se movimentar para
barrar a ideia, apresentando dois argumentos.
Um deles é de política
comercial: a redução unilateral de tarifas nos deixaria com menos “fichas” para
trocar no caso de uma negociação com a União Europeia. Melhor seria, segue a
toada, guardá-la para a negociação mais à frente.
Além de velho, trata-se
de um falso argumento. A começar porque quem o formula jamais apoiou a
negociação com a UE; trata-se apenas de chicana, para usar um termo em voga.
Mais importante, porém, é que o beneficiário principal da redução de tarifas
não será o exportador europeu, mas o importador brasileiro, assim como o
perdedor no caso da UE não reduzir as tarifas para o produto brasileiro será o
consumidor europeu.
O outro argumento,
quase tão antigo quanto o primeiro, é o “Custo Brasil”, ou seja, o
encarecimento do produto nacional por problemas que se originam desde a
logística até a tributação. Ora, é precisamente este o motivo pelo qual se
defende a liberalização comercial: dar ao usuário nacional a opção de produtos
mais baratos.
Se o problema da falta
de competitividade do produto doméstico resulta da tributação (parcial, mas não
inteiramente verdade), a solução virá da reforma tributária, não da restrição
às importações.
À luz da nossa própria experiência,
deveria ficar claro que o protecionismo é um extraordinário fiasco: ajuda o
protegido, mas a um custo enorme para o país.
(Publicado 28/Mar/2018)
9 comentários:
muito bom esse blablabla
Fato é que os últimos 30 anos são os mais abertos da nossa história pós 1930 em termos comerciais. Desde então só perdemos participação no PIB global.
E não perdemos só por causa do China e Ásia emergente, perdemos tb quando comparados a economias maduras.
Como explicar esse fenomeno?
Não muda o fato que nossa produtividade acelerou depois da abertura, nem que perdeu fôlego quando revertemos. Explique você...
Parabéns professor Alexandre. Excelente texto
Texto principal em preto sobre fundo escuro, ilegível. Comentários ok.
"Texto principal em preto sobre fundo escuro, ilegível."
No meu é sobre fundo branco...
A versão do blog para celular tem fundo escuro e texto preto. Há como mudar as configurações do blog para celular?
Vou checar...
Pra ler os textos deste blog pelo celular eu tenho clicado em selecionar tudo.
Com isso o texto muda de cor devido à seleção e aí consegui ler
Agora a versão mobile do blog está igual a versão desktop e estou conseguindo ver com o fundo branco sem precisar selecionar o texto.
Postar um comentário