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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Ladeira da memória

A cada divulgação de novos dados se torna mais claro que a maior recessão da história brasileira recente ficou para trás. Isto não significa que está tudo bem, mesmo porque persistem desafios consideráveis, que o mundo político tem varrido para debaixo do tapete com a mesma sem-cerimônia que caracteriza o toma-lá-dá-cá do jogo no Congresso.

Apesar da recuperação visível a partir do final de 2016, indicadores como a produção industrial e as vendas no varejo ainda se encontram cerca de 15% abaixo dos níveis observados em 2013, enquanto o desemprego – embora em queda – é quase o dobro daquele registrado em 2014. Há, portanto, uma longa ladeira para subir de modo a recobrar o que foi perdido ao longo dos últimos anos, mas as chances de alguma recuperação são boas.

Em particular, restrições que no passado limitaram o crescimento são hoje bem menos relevantes, nem sempre por bons motivos. Assim, a elevada taxa de desemprego sugere que a inflação não deve subir demais (ao menos não pelos canais convencionais) por um longo período. Em que pese não sabermos exatamente qual o nível de desemprego compatível com a manutenção da inflação ao redor da meta, parece haver espaço apreciável para aumentar a ocupação sem receio de aceleração indevida da inflação.

Há também enorme capacidade ociosa, sugerindo que, nos estágios iniciais da recuperação, não haverá necessidade de investimentos pesados, à exceção notável do setor de infraestrutura, o que reforça a conveniência de avançarmos nas concessões e privatizações.

Além disso, a convergência das expectativas de inflação para a meta – e aqui não me refiro somente à pesquisa Focus – permite não só que a taxa de juros siga em queda, mas que, crucialmente, seja mantida em patamares bastante inferiores à sua média histórica por muito tempo. Como notado na comunicação do BC, a política monetária pode ser calibrada, sem risco inflacionário, para estimular a demanda interna, situação rara no país, e provavelmente inédita no que se refere à sua duração esperada.

Já o balanço de pagamentos segue em boa forma, caminhando para déficit modesto das contas externas, na casa de US$ 12 bilhões, uma ordem de magnitude inferior aos US$ 104 bilhões registrados em 2014, valor financiado com sobras pelo investimento estrangeiro direto e equivalente a uma fração das reservas internacionais, próximas a US$ 380 bilhões. Se é verdade que a melhora do balanço externo começou com a forte queda das importações, cortesia da recessão, já há algum tempo são as exportações que tocam o show, na esteira do crescimento global.

O conjunto da obra aponta, pois, para condições ideais para a recuperação cíclica da economia (já o crescimento potencial segue problemático, por razões que não explorarei neste espaço). Resta saber o que pode ameaçá-la.

Deve ficar claro que muito do progresso obtido nessa frente resulta da mudança de rumo da política econômica, embora ainda haja muito a corrigir, em especial no que se refere às contas públicas.

O risco, assim, é o abandono deste projeto, a depender dos resultados das eleições no ano que vem. Caso a eleição aponte para o retorno da heterodoxia, que nos jogou na crise agora superada, não me resta dúvida que a frágil evolução pode ser mais uma vez perdida.



(Publicado 11/Out/2014)


8 comentários:

Muito bom!

Basta agora que deixem as pessoas agir,

A inflação só não sobe mais, porque os empréstimos estatais estão devagar, menos consumo não é principal na contenção da inflação, sim expansão monetário;

A ociosidade do parque produtivo sim atende uma possível retomada, porém, talvez a escassez energética trave um impasse;

A balança comercial, só revela que o consumo interno está fraco.

Alex,

com o reaquecimento da economia não teremos uma retomada de margens perceptíveis no índice de preços no atacado, que acumulou deflação de 3,8734% em 12 meses até setembro (IPA-M), rebatendo nos IPCs de forma significativa?

Olá Alex, IBC-br veio -0,38% enquanto mercado esperava -0,25%. Isso, juntamente com a Produção Industrial mais baixa, não mostra uma recuperação muito fraca, apenas com algum impulso da devolução do FGTS?
JJ

Discordo que a heterodoxia foi de todo abandonada.
- pega as maquiagens feitas na Caixa por exemplo
- pega o uso heterodoxo do Fgts


Não nego que muitos avanços foram feitos, o heerodoxismo carnívoro já se foi, mas ainda resta muito por fazer, inclusive cadê a reforma da previdencia???

Sem ela, as outras estão mancas

Esta-se gestando uma bomba a cair no colo do próximo presidenciável, eu já vi esse filme antes várias vezes na década de 80, voo da galinha, o retorno.

Até pouco tempo atrás a recuperação não vinha por causa da nãoresolução do imbroglio fiscal.

As contas públicas não só nao foram resolvidas, como tiveram suas projeções pioradas e o governo lança mão de mais uma pedalada pra cumprir a LRF...

Antes o lado fiscal era a causa de tudo, agora é so um detalhe

Bolsonaro está sendo acessórado por Adolfo Sachsida.

“Bolsonaro está sendo acessórado por Adolfo Sachsida”

E o português “está sendo açacinado” por você

Estou arriscando uns escritos sobre economia no meu blog.
Se tiver tempo e interesse, gostaria da sua opinião sobre os primeiros posts.
Obrigado antecipadamente.
http://alemaoliber.wordpress.com/