Não faltam lições da
crise grega. Quem quiser culpar a Grécia pode apontar para a expansão
desmesurada dos gastos (devidamente camuflados pela “contabilidade criativa”),
ou para a prática de concessão de privilégios a grupos próximos ao poder,
minando o crescimento da produtividade e a competitividade de sua economia.
Já quem preferir manter
o foco nos países credores pode chamar a atenção para a imposição de um ajuste
fiscal inexequível, mesmo em face de uma dívida insustentável, cujo foco, mais
que ajudar o país em crise, foi o de impedir (compreensivelmente, face às
circunstâncias) que um calote grego se transformasse numa crise financeira de
grandes proporções.
Há elementos de verdade
em ambas as narrativas e é possível manter um longo (e provavelmente
infrutífero) debate acerca de quem foi o pecador original. Eu, por exemplo,
tendo a atribuir parcela maior da culpa à Grécia, mas, sinceramente, esta não
me parece a questão mais relevante.
O consenso hoje é que a
unificação monetária carecia de uma série de precondições: além de mobilidade
dos trabalhadores (para equilibrar os custos do trabalho entre diferentes
países), seria necessária a unificação fiscal (como a que existe entre estados
de uma mesma federação), assim como unificação bancária.
A unificação fiscal
permitiria transferências entre os entes federados (por exemplo, estados com
menor desemprego “financiando” transferências relativas a seguro-desemprego
onde o problema fosse mais grave), atenuando desequilíbrios fiscais. Já a
unificação bancária permitiria não apenas a resolução de casos mais agudos, mas
também um mecanismo supranacional de garantia de depósitos.
Obviamente, ambos os
casos acima requereriam que países europeus cedessem parcela de sua soberania
para o equivalente a um governo federal.
Demandariam também que estivessem
dispostos a participar de um esquema de seguro: economias com melhor desempenho
em dado momento ajudariam aquelas com pior desempenho, na esperança de serem
tratadas da mesma forma quando enfrentassem dificuldades.
Deve ficar claro,
portanto, que o bom funcionamento da unificação monetária necessita de um grau
de coesão política e institucional que simplesmente jamais existiu na Europa.
A elite política do
continente embarcou num projeto audacioso sem ter se perguntado à vera se os
eleitores queriam aquilo mesmo. Descobrimos agora que não: alemães não querem
pagar o seguro dos gregos e gregos não estavam dispostos a tomar medidas para
evitar o uso do seguro. Se houver uma próxima vez, terão que fazer bem diferente.
(Publicado 12/jul/2015)
6 comentários:
http://www.project-syndicate.org/commentary/kim-dae-jung-lula-da-tsipras-by-jeffrey-frankel-2015-07
Alex, vc trata a economia como se fosse o mais importante, está errado, o mais importante são os clientes, a Europa sonhou com um continente unido, de livre mobilidade, simplificação de moeda, em paz após guerras traumática, etc, etc.
A Grécia é o elo mais fraco a começar pela lingua, pelo alfabeto, pelos recursos, por outro lado é fronteira leste contra a influencia otomana e russa.
Tudo vale a pena para realizar esse sonho, a Grécia já viveu momentos muito piores nas mãos dos turcos, essa agora é pequena e passageira se colocarmos em perspectiva.
O mais interessante dessa história é ver que os economistas que mais pedem estimulos através de deficit fiscais são os primeiros a pedir uma "amaciação" da dívida por parte dos credores.
Onde este texto foi publicado?
Obrigado.
Foi publicado na Folha, domingo retrasado
Para que essa recessão toda?
A Nova Matriz Econômica daria conta desse recado!
E agora, José?
Só Arno e Mantega poderão nos salvar!
Volta Mantega!
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