Virou lugar-comum
atribuir aos preços administrados, particularmente às tarifas de energia
elétrica, a inflação elevada, quase 9% nos 12 meses terminados em junho, a mais
alta desde dezembro de 2003. Em consequência, segue a tese, de nada serviria
aumentar as taxas de juros, ou mesmo reduzir o gasto público, uma vez que estes
preços, por definição, não respondem às condições de oferta e demanda.
Não é clara, à vista
disto, qual seria a política a ser seguida, talvez até inação, na esperança que
o aumento dos preços administrados se esgote em si mesmo, sem contaminar os
demais.
Trata-se, porém, de
diagnóstico equivocado, que, como de hábito, não se esforça além da superfície.
Sim, é verdade que os
preços administrados aumentaram 15% nos últimos 12 meses, mas um exame
levemente mais aprofundado dos números revelaria que a inflação dos chamados
“preços livres”, isto é, aqueles que não são influenciados diretamente pelo
governo, cresceram nada menos do que 7% no mesmo período, muito além do limite
superior da meta de inflação (6,5% em 2015 e 2016).
Diga-se de passagem,
aliás, que a inflação de preços livres tem superado o teto da meta desde 2009,
registrando média de nada menos do que 7% a.a. nos últimos 5 anos, indicação
que o problema inflacionário corre mais fundo do que a simples história dos
preços administrados parece sugerir.
Posto de outra forma,
embora os preços administrados desempenhem papel importante na inflação em 2015
– em resposta, é bom lembrar, à sua administração irresponsável de 2011 a 2014
– a dinâmica inflacionária vai muito além deste problema.
Isto é também aparente
no comportamento do índice de difusão, isto é, da proporção dos itens do IPCA
que registraram aumentos de preços num determinado período. De fato, em três
dos seis meses de 2015 este índice atingiu os valores mais elevados desde 2005,
o primeiro ano em que a meta de inflação foi fixada em 4,5%, e, dos três
restantes, ficou em segundo lugar em dois deles.
Em linguagem esportiva,
apropriada para tempos de Jogos Pan-americanos, três medalhas de ouro e duas de
prata em seis possíveis, um forte indício que o processo inflacionário não é
restrito a uns poucos produtos, mas generalizado e, portanto, muito mais sério.
Em particular, não há
motivos para crer que este choque se esgote sozinho. Na ausência de medidas
compensatórias, seja de política monetária, seja de política fiscal, a
tendência é que estes aumentos de energia, ou combustíveis, acabem sendo
repassados para outros produtos, contaminando a inflação geral, principalmente
em 2016, supostamente ano de convergência da inflação à meta.
Passividade de política
é um convite aberto para a transformação de um choque em elemento permanente da
dinâmica inflacionária, fato que deveria ser sabido por quem viveu no Brasil
pré-1994, mas que parece ter sido esquecido por boa parte dos analistas.
À luz disto, não há
escapatória que não passe pelo aperto das políticas fiscal e monetária, mesmo
em face da queda forte da atividade econômica este ano. Isto poderia ter sido
evitado se o conjunto de políticas adotado nos últimos anos não fosse tão
desastroso, mas, como não podemos mudar o passado, só nos resta lidar com suas
consequências no futuro.
Sempre campeão |
(Publicado 15/Jul/2015)
3 comentários:
Alex
A dívida pública cresce sem parar em relação ao Pib. . Não há no horizonte a mínima chance de uma estabilização desta dívida. A chance de um calote é grande no médio prazo ?
Calote eleitoral o PT já deu. Provavelmente as agências de rating vão baixar a nossa nota encarecendo assim o dinheiro... vamos precisar de muito sacrifício, trabalho e suor para sair do buraco, mas gostaria de acreditar que a Presidanta sairá do poder (sairão com ela) antes do Brasil dar um calote. Calote é falta de vergonha na cara, falta de decência, falta de caráter; gostaria de pensar que não é este Brasil que estamos construindo.
Só tenho uma coisa a dizer sobre o resultado nominal, que em 12 meses atingiu 8,12% do PIB, no valor de R$462,7 bilhões: É A TREVA. É o fim dos tempos. Como ter um resultado nominal de 2% ou 3% parece ser pouco (o tratado de maastricht, da UE, impunha limite de 3%, a propósito), o governo "decidiu" que é melhor fazer um déficit de 8,12% do PIB. Para reduzir isso para 3%, que pode-se considerar, vá lá, como um teto admissível, o Governo teria que fazer uma redução real de gastos, a valores do período observado, de cerca de R$300 bilhões!!! Há uma música que pode refletir parte desse momento: https://www.youtube.com/watch?v=JSUIQgEVDM4
Com os gastos engessados como o Brasil tem, com a recessão que vivemos, de fato não vejo como isso pode se recuperar, nem que Milton Friedman fosse ministro da fazenda, e nem se trata de dizer: "Poxa vida, melhorou pouco!". Nem é disso que se trata. Por enquanto, simplesmente não está melhorando nada a situação fiscal. Como diria o Samuel Pessoa: A Grécia é aqui.
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