Parece que ficou barata
a queda do PIB divulgada na última sexta: apenas 0,2% na comparação com o
quarto trimestre de 2014 (e 1,6% inferior ao registrado no primeiro trimestre
do ano passado), contra um consenso de mercado de -0,5%. É, contudo, uma
impressão errônea. Um olhar mais detalhado para as entranhas das estimativas, indo
além do número do PIB em si, revela um quadro preocupante.
A começar porque a
demanda interna mostrou retração bem mais acentuada do que o produto: -1,4%
relativamente ao final do ano passado e -2,4% sobre o mesmo período de 2014,
refletindo quedas expressivas do consumo e do investimento. Este último, em
particular, registrou sua sétima contração consecutiva (-1,3%) e se encontra
agora mais de 8% abaixo do pico observado no segundo trimestre de 2013.
Medido como proporção
do PIB o investimento atingiu 19,6%, o mais baixo desde 2009, ainda sob os
efeitos da crise financeira internacional, e pouco mais de um ponto percentual
inferior ao registrado no início de 2011. A queda, é claro, não vem de hoje.
Ao contrário, a relação
entre investimento e PIB cai de forma consistente desde 2011, não por
coincidência exatamente no período em que vigorou no país a “nova matriz
macroeconômica”, aclamada por heterodoxos de todos os matizes, que deveria – de
acordo com nossos “keynesianos de quermesse” – nos levar ao nirvana do
crescimento sustentado mais rápido.
Segundo as crenças
deste pessoal a redução das taxas de juros, doses maciças de crédito subsidiado
e a escolha “judiciosa” dos setores beneficiados pelos recursos públicos fariam
com que o investimento se expandisse à frente do PIB. Em consequência o
crescimento do país se aceleraria, um círculo virtuoso que nos conduziria a
novas fronteiras.
Não poderia ser maior a
diferença entre intenção e gesto. A redução do investimento comprometeu
adicionalmente nossa já baixa capacidade de crescimento. Há evidências, além
disto, de desaceleração da produtividade.
De fato, embora uma
interpretação literal dos dados possa sugerir que tenha ocorrido queda do
produto por trabalhador, uma visão mais equilibrada, que dá mais ênfase às
tendências do que ao último número divulgado, indica que a produtividade ainda
cresce a cerca de 1% ao ano. Trata-se, no entanto, de ritmo inferior ao
observado entre 2004 e 2008, na casa de 2% ao ano.
Ambos os
desenvolvimentos, menor investimento e expansão mais fraca da produtividade,
são motivos de apreensão.
Ainda que a retração
provável do PIB este ano gere capacidade ociosa, que permitiria alguma retomada
nos próximos anos, esta será necessariamente curta e pouco vigorosa, caso não
haja recuperação da produtividade e do investimento.
Neste sentido, sinais
de redução da poupança não são auspiciosos. O Brasil permanece como um dos poucos
países em que o consumo do governo supera, com folga, o investimento.
Sob tais circunstâncias
a elevação do investimento acaba colidindo com a necessidade de manter as
contas externas em boa forma. Um ajuste fiscal que leve isto em conta deveria manter
seu foco na redução do consumo público, ao invés de novos aumentos de impostos.
Se não resolvermos este desafio, o crescimento pode até retornar, mas seguirá
medíocre como nos últimos anos.
Faça as contas, Joaquim |
(Publicado 3/Jun/2015)
3 comentários:
O setor da construção é uma bomba relógio
com o esvaziamento da poupança simplesmente acabou o dinheiro pra financiar casa, justamente no ponto em que todas as construtoras exibem estoques recordes, justamente no ponto em que os especuladores exibem números recordes de anúncios no ZAP.
não tem como não enxergar uma possível implosão imobiliária no nível da bolha americana em 2009.
HB, ficou bom agora?
Alexandre você ainda participa do jornal da cultura?
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