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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Nem bom, nem mau; só feio.

Nos western spaghetti, gênero que produziu algumas obras-primas, nada supera o momento do duelo em que oponentes se encaram longamente, na tentativa de antecipar o momento em que o outro vai sacar o Colt do coldre. A câmara salta de um rosto a outro, olhos semicerrados, expressão tensa, o braço uma mola à beira da explosão.

Já na Europa, palco destes filmes, o duelo parece surpreendentemente tranquilo. A Grécia e seus parceiros da Zona do Euro caminham para o enfrentamento aparentemente relaxados. Relaxados demais, na verdade.

O governo de extrema esquerda (Syriza), que assumiu o poder na Grécia no começo deste ano, fez uma aposta ousada: reverteu boa parte do ajuste que havia sido feito pela administração anterior em nome da soberania grega, mas, ao mesmo tempo, ainda quer tomar emprestado de seus credores algo como € 7,5 bilhões nos próximos meses.

Seu ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, um especialista em Teoria dos Jogos, parece ter partido da crença que os credores estariam dispostos a tudo para impedir que a Grécia deixasse o euro.

Fosse a Grécia o único país a enfrentar problemas, o pressuposto poderia até estar correto. Apesar, porém, de sua especialidade, Varoufakis provavelmente se equivocou em sua avaliação de quanto os credores imaginam ter a perder num cenário de saída da Grécia (Grexit) relativamente ao custo de ceder às pressões helenas.

Por um lado, os credores não aparentam estar particularmente preocupados com as consequências de um calote grego, já que a exposição dos bancos europeus à dívida grega foi significativamente reduzida, atenuando um dos canais de transmissão da crise. Por outro, temem que novas concessões à Grécia acabem por levar a movimentos similares por parte de outros países em condições semelhantes, solapando seu esforço em prol da austeridade fiscal.

Assim, as propostas gregas têm sido solenemente rejeitadas desde o início do processo, indicando que o país não teria acesso aos novos desembolsos sem se comprometer com o mesmo processo de ajuste que o Syriza prometera jamais adotar. Desde então se perderam meses em discussões sem avanços substantivos e se aproxima a hora em que a Grécia, cujas contas fiscais só pioram, há de ficar sem recursos para servir sua dívida. Daí para o Grexit a distância é perigosamente modesta.

Isto dito, a atitude blasé dos credores soa insensata. É verdade que o canal bancário de transmissão da crise foi reduzido, mas, ainda assim, a saída do euro por parte de um seus membros revelaria que a moeda única é um contrato muito mais fraco do que se acredita, apenas mais uma instância de taxas fixas de câmbio, cujo histórico de abandono é para lá de extenso.

Isto tenderia a recolocar pressões sobre os elos mais fracos da corrente europeia, com consequências inimagináveis para o projeto mais ousado deste século caso mais um ou dois destes elos também se rompam.

Já para a Grécia, ao menos no curto prazo, a recessão seria provavelmente ainda maior do que a vivida até este momento. Em que pese a possibilidade de retorno do crescimento à frente, este dano seria também irreparável.


Não há como saber o resultado do duelo, mas me acalmaria caso os participantes se mostrassem um tanto mais preocupados.



(Publicado 13/Mai/2015)

19 comentários:

O cambio fixo ,e a melhor maneira de separar a politica monetária da politica fiscal.

Alex
Você acha que esse negócio de moeda única funciona? Teoricamente tudo é possível. Mas, na hora do vamos ver, quando se junta país mais produtivo com outro mais folgado, como é que fica? Tenho minhas dúvidas. Agradeço por um esclarecimento a respeito.

acho simplista tratar o governo grego/Syriza como um monolito. Existem diversas opinioes divergentes, dentro da lideranca, quanto a qual caminho o pais deveria tomar em relacao ao Euro, renegociacao da divida e ao Grexit.

Contraste, por exemplo, as opinioes do Varoufakis com as do Costas Lapavitsas, que desde 2010/11 defende o Grexit. Ele eh especializado em economia monetaria e financeira, e foi eleito membro do Congresso Grego nas ultimas eleicoes, certamente uma voz influente dentro das negociacoes.

Neste ponto, a Grecia parece ter duas pessimas opcoes:

1) ficar no euro, uma moeda mais forte que nao reflete a baixa produtividade do pais e que sufoca o turismo e ter que encarar os ~200% de divida/PIB;

2) sair do euro, trazer o drachma de volta e remarcar a divida nacional na nova moeda (logico, um default) - mas sabe-se la quais seriam as consequencias imediatas... mas em tese melhor para a economia do pais? afinal, estao operando com um superavit?

eu so nao sei pq o FMI entrou na jogada da troika la atras? a segunda opcao seria mais interessante se a grecia tivesse o FMI do seu lado para ajudar a suportar uma nova moeda.



Alex, e os bitcoins cotados em NY?
Novo paradigma, antigos palyers.

Ficaria a china pendurada pela broxa, montada em bilhões de reserva para nada e o yuan como moeda internacional outra idéia natimorta da esquerdalha.

Casamento é bom quando os parceiros se respeitam, pensam de forma semelhante e tem objetivos em comum. A Sra. Merkel gosta da sua casa em ordem e tem disciplina fiscal, já seu namorado Grego é mais fanfarrão, gasta o que não tem, pendura as contas da mercearia pois com seu salário não consegue pagar as dividas que fez... isso não dá certo! Melhor não protelar o inevitável e deixar cada um ir para seu lado. C’est la vie! Se o Brasil consegue sobreviver 12-16 anos de PT, a Europa conseguirá sobreviver ao que vier.

As políticas ortodoxas elas sao contra os pobres.E preciso adotar novas políticas,como um salário mínimo de 4000 reais,15% do pib para educação,etc.

Se a Dilma não segurar a inflação, poderemos ter esse salário mínimo mais cedo que você pensa... mas acredito que já aprendemos várias lições, entre as quais inflação é péssimo para os mais pobres (obrigado FHC por nos dar estabilidade, e obrigado Levy por ajudar a Presidanta), salários só sobem com maior produtividade, e educação só quando tivermos vergonha na cara...

Ajuste fiscal? Só para os cidadãos honestos.

Comissão do Senado aprova aumento de 53% a 79% para o Judiciário. A proposta será votada com urgência pelo plenário da Casa.

A compra do Judiciário é emergencial. Será em seis parcelas, até 2017, a título de "reposição inflacionária".

4.000,00 reais é pouco, tem que colocar o salário-mínimo em 20.000,00, afinal de contas vivemos em um mundo sem restrições.

Alex, certa vez vc falou por aqui que cada 1 ponto a mais de Selic reduz a inflacao, em media, em 0,3% num prazo de 12 meses. Pelo menos é isso que vc falou em referencia aos modelos do bc.

De qual modelo vc estava falando?

Abs

Faço minhas, as palavras deles a respeito do Eng Ministro, agarrado ao cargo, da Economia.

Os ANTAGONISTAS: Diogo Mainardi e Sabino (entre 5min e 11 min)

https://www.youtube.com/watch?v=alBR0FahEBU

É sério isso de que cada 1% de selic reduz ipca em 0,3% em 12 m, Alexandre?

Bjo
Iana

"De qual modelo vc estava falando?"

Do modelo de pequeno porte.

"É sério isso de que cada 1% de selic reduz ipca em 0,3% em 12 m, Alexandre?"

É, mas sempre importante lembrar que, por construção, as expectativas, no contexto deste modelo, não mudam em resposta à Selic. Caso mudem (e não razões para imaginar que sejam insensíveis à política monetária), o efeito será maior.

O Levy já foi devidamente queimado (ele contribuiu), o Barbosa, por vaidade, lhe aplicou uma bela facada. Acho que de certa forma o Levy foi forçação de barra mesmo, aquilo lá é lugar de heterodoxo.

E viva a econometria, a bola de cristal dos economistas.

As pessoas não sabem do que estão falando. Barbosa e Levy discordaram, mas nada demais. Daí a já ligar isso à saído do segundo é algo absurdo... Barbosa e Levy tem feito uma bela dupla, por incrível que pareça...

"As pessoas não sabem do que estão falando. Barbosa e Levy discordaram, mas nada demais. Daí a já ligar isso à saído do segundo é algo absurdo... Barbosa e Levy tem feito uma bela dupla, por incrível que pareça...

Vc é muito inocente.

É fácil desqualificar os outros,difícil é assumir os próprios erros!! Olha aí o resultado das ações que o FED e o tesouro americano tomaram para sair da crise,os EUA crescem abaixo do seu pib potencial que é de 3%!!!