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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Aspirina


Depois da disparada do dólar nas últimas semanas, quando veio de R$ 2,25/US$ para R$ 2,45/US$, o Banco Central anunciou um forte programa de intervenção por meio de dois mecanismos. Quatro vezes por semana oferecerá US$ 500 milhões de dólares nos mercados futuros e uma vez por semana oferecerá US$ 1 bilhão no mercado à vista, mas garantindo sua recompra em determinada data, totalizando cerca de US$ 55 bilhões até o final de 2013.

A questão é saber se este volume considerável poderá reverter a perda de valor do real, em particular limitando os efeitos que o enfraquecimento da moeda costuma ter sobre a inflação. À primeira vista, a resposta parece ser positiva, visto que, após o anúncio, o dólar voltou ao patamar de R$ 2,35/US$, quebrando a tendência de alta que parecia inexorável.

Eu, contudo, permaneço cético. Mais uma vez, me parece que as medidas atacam consequências, ao invés de causas, embora reconhecendo que, ao menos no que se refere a algumas das causas, há pouco que qualquer governo possa fazer.

Cabe notar, em primeiro lugar, que o enfraquecimento da moeda nacional não é um privilégio brasileiro. De maneira geral as moedas de países emergentes vêm sofrendo e, em alguns casos (África do Sul, Indonésia, mais recentemente a Índia) tem apresentado um desempenho não muito distinto do nosso. Este padrão sugere uma causa comum, que, como se comenta, é a perspectiva de mudança da postura do Federal Reserve (Fed).

De fato, frente a sinais que a recuperação da economia norte-americana parece finalmente estar se firmando, o principal tema de discussão no Fed se refere à sequência de retirada dos estímulos monetários adotados desde o início da crise, começando pela redução do ritmo de compras de títulos (ainda um aumento na quantidade de dólares despejadas no sistema financeiro, embora a uma velocidade menor), passando pelo fim desta política e culminando com o aumento das taxas de juros, medida que provavelmente só será adotada no final de 2014, senão mais tarde.

Ainda que o aperto monetário só se dê em futuro não tão próximo, é da natureza dos mercados financeiros reagir imediatamente a notícias novas, e a perspectiva de aumento de juros nos EUA levou a um fortalecimento global do dólar. Os efeitos sobre cada moeda em paticular, porém, não foram simétricos, e o Brasil se encontra dentre aqueles que mais reagiram a esta mudança de expectativas.

Parte deste movimento reflete o próprio tamanho do mercado de câmbio nacional, em que atuam praticamente todos os investidores em mercado emergentes, levando a movimentos naturalmente mais rápidos. Isto, porém, não parece esgotar o assunto. A proximidade do desempenho nacional ao observado em outras economias com vulnerabilidades sugere haver problemas locais que aumentam o efeito da valorização global do dólar.

No caso do Brasil estas questões abrangem desde o crescente déficit externo até temas como a piora das contas do governo e o baixo crescimento, cujos reflexos aparecem sob a forma de um apetite reduzido por investimentos aqui.

A isto se soma o receio do investidor estrangeiro de ofertar dólares, dadas as frequentes mudanças de regras que prejudicaram vendedores de moeda estrangeira no passado recente. Temos assim uma situação em que o real perde valor, mas não há ofertantes de dólares para quem precisa se proteger da desvalorização. Mais que causa, este é um sintoma do problema.


As medidas anunciadas ajudam a atenuar o sintoma, mas, a bem da verdade, não tratam das causas globais (nem poderiam), e muito menos dos fatores locais que magnificam o efeito internacional. Neste aspecto, devem ter algum sucesso para evitar dinâmicas como a das últimas semanas, mas têm pouco poder contra a tendência mais geral de enfraquecimento do real. Tratar deste tema requer medidas duras que o governo não parece estar nada disposto a endereçar.

Entendeu?


(Publicado 28/Ago/2013)

Ainda há diplomatas em Brasília!

Coragem é isto. Arriscar carreira para fazer o que acredita ser correto quando os demais se acovardam.

Parabéns Eduardo Sabóia!


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Obra-prima

Entre muitas obras-primas do Paulinho da Viola, segue  "Sinal Fechado"

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A quermesse comparada, dados do CitEc (revisado)


Alguns heterodoxos e quermesseiros:

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Marcio Holland
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Alguns economistas decentes:

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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa

Sempre gostei de mitos. Culpa de Monteiro Lobato, que também gostava e fez questão de educar mais de uma geração acerca deles. Mitos são importantes para a narrativa de uma nação ou grupo de pessoas em busca de uma identidade, mas, a despeito da sua importância (ou precisamente por conta dela), não é aconselhável comprá-los a valor de face.

Digo isto porque estamos em meio ao processo de criação de uma narrativa com todas as características de mito sobre a condução da política monetária no país, que também não deve ser tomada como verdade, ainda que sirva para acariciar os egos da diretoria do BC.

A narrativa pode ser resumida da seguinte forma.

Em meados de 2011 o BC percebeu, antes de todos, que o mundo passaria por forte desaceleração, com implicações negativas para a atividade doméstica, mas que – no processo – traria a inflação para baixo. Assim, para evitar o “erro de 2008”, tratou de mudar a mão da política monetária, promovendo um corte vigoroso da taxa de juros.

Ao mesmo tempo, porém, gestor responsável que é, o BC também procurou garantias que a política fiscal – ao contrário do ocorrido em 2009 e 2010 – se manteria austera, abrindo espaço para a queda sustentada da Selic. E, com base nestas garantias, reduziu a taxa de juros de 12,50% a.a. para 7,25% a.a. entre julho de 2011 e outubro de 2012. Ao final do ciclo, alertou ainda que “a estabilidade das condições monetárias por um período suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação à meta, ainda que de forma não linear”.

A inflação, porém, não convergiu à meta. Pelo contrário, mantém um semblante de queda apenas por conta de intervenções governamentais nos preços, que irão nos custar ainda mais caro do que hoje. A culpa, contudo, não é do BC, mas do governo, que abandonou o compromisso com a austeridade fiscal, deixando o problema nas mãos do Copom, que agora, ainda o gestor responsável, corre atrás de um prejuízo que não causou.

É uma narrativa edificante. Pena que não sobreviva aos fatos.

Sim, a política fiscal foi (e ainda é!) expansionista, mas isto era visível pelo menos desde meados de 2012. O superávit primário, livre da contabilidade criativa, já vinha em queda desde o primeiro trimestre daquele ano e o próprio cálculo do BC acerca do “resultado estrutural do governo geral” reforçava esta percepção.

Apesar disto o BC persistiu em sua política de redução de juros até outubro e manteve até janeiro deste ano a referência à “estabilidade das condições monetárias”, muito embora já em dezembro tivesse (finalmente!) notado que a política fiscal mudara de “neutra” para “expansionista”.

Posto de outra forma, a forte deterioração fiscal observada ao longo do ano passado não representou para o BC, em momento algum, obstáculo ao afrouxamento da política monetária. Invocá-la agora como motivo para a piora da inflação, ainda que seja verdade, representa uma tentativa oportunista do BC evitar reconhecer sua responsabilidade no processo.

A verdade é que o BC errou e não foi pouco. Seu diagnóstico, muitas vezes repetido, que atribuía ao ambiente externo um papel desinflacionário, revelou-se equivocado. Sua atuação no mercado cambial, cedendo às pressões do Executivo para produzir um dólar mais caro, acabou reforçando as pressões inflacionárias. Sua insistência em ignorar as expectativas crescentes de inflação exacerbou o problema, pondo em xeque a credibilidade conquistada com muito esforço em anos anteriores.


Agora o BC insiste em falar grosso, como se o tom de voz pudesse reconquistar a credibilidade perdida. Não pode. Mais do que discurso, o que se espera do BC é que mostre um lampejo de independência e tome ações concretas para trazer a inflação de volta à meta. Reconhecer seus erros ao invés de tentar salvar suas reputações pessoais, seria um primeiro, e crucial, passo neste sentido.

Foi você mesmo...
(Publicado 21/Ago/2013)

Jaélio abre as entranhas do processo político

sábado, 17 de agosto de 2013

Eu rricomendu…

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

E porque hoje é sexta...


Ultraje acústico

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ajuste fiscal e investimento público

Voltando ao tema da infraestrutura abordado na semana passada, acho oportuno esclarecer alguns mitos que insistem em sobreviver, apesar da abundância de dados em contrário. Indo direto ao ponto, há quem pareça acreditar na oposição entre o ajuste fiscal e os investimentos em infraestrutura, em particular aqueles executados pelo governo. Afinal de contas, não foi a necessidade de cumprir a meta fiscal (nas priscas eras em que a meta significava alguma coisa) que levou ao fraco desempenho do investimento público?

Por paradoxal que possa soar, a resposta é negativa. A insuficiência do investimento público resulta essencialmente da incapacidade gerencial do governo e não da necessidade de atingir a meta fiscal (que, na prática, deixou de existir a partir de 2008). Isto fica claro a partir dos números calculados pela própria Secretaria do Tesouro Nacional.

Em 2003, por exemplo, o governo federal registrou um superávit primário da ordem de 2,3% do PIB, contabilizando gastos (exceto transferências a estados e municípios) de 14,8% do PIB, dos quais investimentos equivaliam a 0,4% do PIB. Nove anos e meio depois, nos 12 meses terminados em junho de 2013, o superávit federal se reduziu para 1,6% do PIB, com despesas equivalentes a 18,3% do PIB, dentre as quais o investimento representou meros 1,3% do PIB.

Deve ficar claro que não houve, portanto, nenhuma tentativa (bem sucedida, ao menos) de contenção do gasto. Pelo contrário, o dispêndio federal aumentou em 3,5% do PIB de forma quase contínua ao longo destes anos. Nada impediria, portanto, que estes recursos fossem destinados majoritariamente ao aumento do investimento, mas, concretamente, não foi o que se observou.

Mesmo se desconsiderarmos a mudança na contabilização do investimento no período (os subsídios com o “Minha Casa, Minha Vida” foram incorporados nesta rubrica a partir de 2012), a elevação do gasto de capital de 2003 para cá mal alcançou 1% do PIB. Em contraste, o gasto corrente federal aumentou em 2,5% do PIB.

Tais números não casam com a suposta prioridade que se daria ao investimento no orçamento federal; muito menos com a noção que restrições fiscais teriam forçado o governo a “cortar na carne”. Mostram, ao invés disto, despesas crescentes e a verdadeira preferência do governo: de cada R$ 100 a mais de gasto federal, apenas R$ 27 foram direcionados à ampliação da capacidade produtiva do país.

Descartados, portanto, problemas de natureza fiscal, sobra apenas a incapacidade gerencial do governo para explicar o desempenho do investimento público muito aquém do necessário. Se, para aumentar o gasto corrente, basta uma canetada, o processo de investimento requer habilidades administrativas mais sofisticadas, assim como um ambiente que reduza ao máximo possível eventuais obstáculos de ordem regulatória.

Nenhuma destas condições está presente no Brasil hoje. Em particular, o cipoal de regras (licitatórias, ambientais, concorrenciais, etc) que circunda o processo de investimento assegura dificuldades consideráveis, além daquelas que qualquer projeto normalmente sofreria.

Este ambiente regulatório não é independente da incapacidade gerencial do setor público, mas parte integrante de uma visão de mundo que atribui peso excessivo ao governo e, apesar do discurso supostamente mais arejado nos últimos anos, ainda não parece convencida das vantagens de passar as responsabilidades para o setor privado.

Apenas isto pode explicar a extensão destas dificuldades para os processos de concessão na forma de controles de toda sorte, inclusive a obsessão com os limites ao retorno nos projetos de infraestrutura.


A verdade é que o governo não faz o necessário e parece se esforçar para criar um conjunto de regras que tornarão difícil que o setor privado resolva o problema. E há que ache que “o pessimismo é exagerado”...

Ocupada...


(Publicado 14/Ago/2013)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Seeeeexxxtttaaaa!!!

Carona com filho rende ideia para música de sexta...

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Uma escolha simples

Tive a honra de participar do XII Congresso da Associação Brasileira do Agronegócio, no painel que debateu as questões relativas à logística e infraestrutura. É difícil exagerar a importância do tema: sem querer repetir o lugar comum do ideograma chinês que representa simultaneamente crise e oportunidade, a infraestrutura é, ao mesmo tempo, um severo obstáculo ao desenvolvimento do país e a maior chance que temos de destravar nosso crescimento.

Não é segredo que a infraestrutura brasileira, em particular a associada aos transportes, encontra-se esgarçada. No último Relatório Global de Competitividade, publicado pelo Fórum Econômico Global, o país ficou com 107ª posição no quesito “qualidade da infraestrutura” dentre 144 países, na vizinhança de Paquistão, Nicarágua, Colômbia e Senegal, e bem abaixo desta colocação nos itens relativos a transportes.

As consequências para o crescimento são óbvias: a baixa qualidade da infraestrutura se reflete na produtividade geral da economia. Não é necessário um exercício extraordinário de imaginação para concluir que o motorista que transporta a soja do Centro-Oeste para os portos do Sudeste poderia fazer, com o mesmo tempo que gasta hoje, um número maior de viagens se dispusesse de melhores rodovias, assim como de portos com capacidade de escoamento que não o forçassem a esperar dias na fila pela oportunidade de descarregar seus grãos e partir para nova jornada.

Posto de forma mais geral, o aumento da infraestrutura por trabalhador deve ter efeitos consideráveis sobre sua produtividade, o que poderia, em particular nas condições de hoje, relaxar a restrição sobre o crescimento que se origina do mercado de trabalho apertado. Fica claro, portanto, que as carências relativas à infraestrutura representam um constrangimento sério ao crescimento, precisamente por limitar a expansão da produtividade.

Por outro lado, pelo mesmo motivo, os retornos associados a investimentos nesta área devem ser muito elevados. Assim, caso seja possível aumentá-los, os impactos sobre o crescimento potencial do país serão apreciáveis.

Isto dito, o aumento do investimento não é – ao contrário do que parece ser o entendimento vigente no governo – um ato de vontade do soberano. À parte a questão nada trivial de montar um arranjo institucional que gere os incentivos privados à inversão (o oposto do que a obsessão governamental em limitar os retornos destes projetos irá obter), há o problema da restrição de recursos.

É fato que a poupança nacional, mesmo com a economia operando muito próxima (senão acima) do seu potencial, é modesta, da ordem de 15% do PIB, insuficiente para financiar mesmo o baixo investimento nacional (18% do PIB). Isto não se deve a nenhuma distorção óbvia do lado do consumo das famílias, que – equivalente a 62% do PIB – é bastante semelhante ao observado nos demais países latinoamericanos.

O consumo do governo, porém, destoa, não apenas no subcontinente, mas em termos globais, na casa de 21% do PIB, sugerindo que o nível reduzido da poupança nacional origina-se primordialmente do elevado peso do governo na economia.

Dado isto, a elevação do investimento em infraestrutura como proporção do PIB requer uma escolha simples: ou fazemos um ajuste fiscal que reduza o consumo governamental, ou teremos que importar os recursos do resto do mundo, sob a forma de déficits externos crescentes, partindo de níveis (3,5% do PIB) bem menos confortáveis do que foram há pouco.


A relutância em conter o gasto público sugere que a segunda alternativa parece a mais provável, implicando maior vulnerabilidade às condições internacionais de liquidez precisamente no momento em que aumentam as chances de mudanças importantes neste cenário. Na falta do ajuste fiscal, colocaremos em risco a principal oportunidade de acelerar decisivamente o desenvolvimento do país.

Escolhas, escolhas...

(Publicado 7/Ago/2013)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Música de sexta

Podia ser o hino do blog...