teste

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Por um punhado de euros


A crise europeia continua atraindo a atenção de todos e, por mais que prefira falar de outros tópicos, não há como escapar do tema. Desenvolvimentos recentes – como o pacote de ajuste fiscal italiano, a iniciativa dos bancos centrais mundiais de facilitar o financiamento dos bancos e a aventada possibilidade do Banco Central Europeu (BCE) emprestar € 200 bilhões para o Fundo Monetário Internacional (FMI), que seriam então usados para financiar os países europeus em dificuldade – trouxeram alívio considerável aos mercados, ainda estressados.

Entretanto, da forma como vejo a questão, esse empréstimo do ECB ao FMI traz riscos consideráveis, que não me parecem plenamente compreendidos, relacionados ao direito geralmente atribuído ao FMI de receber de volta plenamente seus empréstimos (senioridade).

Para entender isto imagine que, num belo dia, os investidores acordem (a expressão foi involuntária, mas caiu bem) e descubram que certo país, cuja dívida é de $100, só tem condições de pagar $80. Assim, dado que cada credor seria tratado em condições de igualdade, o valor de mercado de seus títulos cairia de 100%, para 80%.

No entanto, durante o café os investidores descobrem também que metade da dívida tem que ser paga integralmente a um credor sênior (por exemplo, o FMI). O Fundo recebe, pois, $50 e desta forma só restam ao país $30 para servir a dívida restante (outros $50). Neste caso, os credores juniores só receberiam 60% do que emprestaram, ou seja, o valor de seus títulos seria de 60% ao invés de 80%. Posto de forma mais geral, quanto maior for a parcela devida a um credor sênior, tanto maior será o desconto sobre a dívida júnior, o que deve se refletir nos preços a que tais títulos são transacionados no mercado.

Portanto, se tivéssemos certeza que determinado país não tem condições de servir integralmente sua dívida, o mero anúncio de um pacote de financiamento do FMI deveria fazer com o preço dela no mercado secundário despencasse, excetuando-se, é claro, o preço da dívida que será saldada com os recursos provenientes do Fundo. (Num caso extremo, se os recursos do FMI permitissem saldar toda dívida, então os preços subiriam, mas, convenhamos, este não é dos cenários mais prováveis na ordem natural das coisas). Apenas se a intervenção do FMI servisse para elevar a capacidade de pagamento da dívida é que este resultado deixaria de valer.

A outra hipótese crucial acima é a certeza sobre a incapacidade do governo servir sua dívida. Assim, no caso da Grécia, parece óbvio que o ingresso de recursos do Fundo deve ter contribuído para redução do preço (aumento do rendimento) dos papéis gregos no mercado secundário. Por outro lado, quando nos referimos a países como Itália e Espanha, a situação é bem mais complexa.

Há certo consenso entre economistas menos propensos a uma visão moral do endividamento que a dívida destes países pode ou não ser sustentável, dependendo das condições de financiamento. Em outras palavras, se submetidos a taxas de juros moderadas, tais governos seriam solventes; por outro lado, a persistirem as taxas de juros atuais, a dívida não poderia ser integralmente paga. Em jargão econômico, descrevemos tais situações como caracterizadas por “equilíbrios múltiplos”.

Voltando ao caso em questão, parece que os € 200 bilhões do ECB, canalizados pelo FMI, seriam insuficientes para fazer com que o bom equilíbrio, marcado por taxas baixas de juros, predomine. Neste caso, ao risco do equilíbrio ruim prevalecer, adiciona-se a senioridade do FMI e, como descrito, acima, o efeito final seria a redução de preços de mercado da dívida, tornando mais cara a rolagem e agravando a situação hoje existente.

A Europa precisa de um novo credor com a mesma senioridade dos existentes; vender a senioridade por um punhado de euros irá agravar o problema.

A senioridade por um prato de lentilhas

(Publicado 7/Dez/2011)

54 comentários:

Mas por que o BCE emprestou ao FMI e não diretamente aos países?

Ainda não emprestou, mas é uma das ideias hoje em discussão.

De qualquer forma, o porquê é a Alemanha, que não quer o BCE emprestando diretamente para os Tesouros Nacionais.

Adicionalmente, mesmo o FMI como credor senior corre o risco-país; o BCE fica com o risco-FMI, ou seja, passa parte do risco para os demais acionistas do Fundo.

Parece esperteza, mas relatos que ouvi sugerem que a Alemanha não gosta sequer deste modelo e preferiria o BCE incluído fora desta.

Alex, 200bi da pra "salvar" todos os PIIGS?

Será que não é uma jogada da Alemanha para por a culpa/responsabilidade no FMI de escolher os países que vai ajudar e mandar a Grécia pro inferno de uma vez?


Nelson

"Mas por que o BCE emprestou ao FMI e não diretamente aos países?"

Euro law.

Alex,
Quais você acha que seriam os tetos para as taxas do 'bom equilíbrio' para espanha e itália?
Excelente post!
Abraços!

ALEX

Maravilha de artigo!


Um grande abraco


Kleber S.

Show! Mas que tal voltarmos á aquela aposta sobre o IPCA? Aquele que acertar o "O" Anônimo paga um BigMac. Eu vou de 6,5984%

Já notaram que o Ribamar Oliveira é o único bom comentarista do Valor Econômico, excetuando os convidados?

A coluna dele diz:

"Olhando para o passado, fica claro agora que o Banco Central não forçou uma queda da Selic para que o mercado o acompanhasse. O gráfico abaixo mostra que, desde agosto, o BC está acima da curva de juros. Ou seja, a percepção sobre a desaceleração da atividade econômica está levando o mercado a se antecipar aos movimentos da autoridade monetária. Ele já trabalhava com juro inferior a 10% ao ano, quando o BC reduziu a Selic para 11%."

Melhor que a sua análise, hein Alex...

As expectativas de inflação já desabavam e uns doidos continuavam cornetando o BC.

A única saída que eu consigo imaginar com o euro sobrevivendo é a monetização e alguma inflação. Mas tenho dúvidas se o sistema político europeu pode entregar essa solução. A conclusão lógica então é que o euro como nós o conhecemos já era. Só questão de tempo em minha opinião.

"As expectativas de inflação já desabavam e uns doidos continuavam cornetando o BC."

Só se for na Dimensão Z. Em agosto, quando o BC começou a cortar a Selic as expectativas eram:

2011: 6,31
2012: 5,20

Já considerando (parcialmente) a nova POF para 2012 os números mais recentes são:

2011: 6,50
2012: 5,47

Quanto às taxas de mercado, ha ha ha. O BC deu a dica e o pessoal se antecipou, ganhando os tubos no processo.

O "mercado" que anda pressionando os juros para baixo é em grande parte um certo fundo de investimentos gigantesco que comprou a aposta que a SELIC iria cair permanentemente. É o mesmo fundo que infamemente apostou que os juros americanos iriam subir em 2011

"Quanto às taxas de mercado, ha ha ha. O BC deu a dica e o pessoal se antecipou, ganhando os tubos no processo."

1. Você está olhando o Focus, não os preços.

2. Olha o gráfico na coluna do Ribamar que você vai entender.

http://www.valor.com.br/brasil/1129024

As taxas caíram mais de um mês antes da decisão do Copom.

"O BC deu a dica e o pessoal se antecipou, ganhando os tubos no processo."

Deu mole nessa frase Alex.

Todos os bancos centrais do mundo tem na comunicação o seu mais poderoso instrumento.

Os juros foram de 12,60% para 10,64% em apenas um mês. O Bacen disse que podia mudar o rumo... mas 2% hahaha. Conta outra, os números vieram fracos e o mercado precificou.

Os números OFICIAS do 3º trimestre provaram quem estava certo.

(espero que você não tenha se queimado).

abs

Servem estes preços de mercado?

"A gauge of investors’ inflation expectations, known as the breakeven rate, soared to a five-month high after the rate cut. The yield gap between inflation-linked bonds and interest-rate futures due in 2013 jumped to 6.21 percentage points on Sept. 2, the highest level since April, according to data compiled by Bloomberg. The breakeven rate was 6.18 percent today."

http://www.bloomberg.com/news/2011-09-08/brazil-rate-cut-to-prevent-slowdown-in-inflation-macquarie-s-welch-says.html

Realmente, este pessoal concordou com o BC...hehehe

Para essa avaliação feita pelo repórter não seria mais adequado usar o pré-di mais curto? Ele usou o de 1 ano...

"Realmente, este pessoal concordou com o BC...hehehe"

Sinto muito pelos coitados que perderam dinheiro. Eles foram chorar no seu ombro?

As taxas desabaram 2% quase um mês antes. Quem apostou que os juros fossem ficar na mesma ou subir está se queimando.

A vida é assim mesmo, não se pode ganhar sempre.

Outra coisa, com crescimento zero vc acha que a inflação vai cair?

PS: eu lembro dos seus conselhos em 2008, vc falou q com o câmbio disparado o BC teria de subir as taxas porque a inflação ia sair do controle.

Espero que ninguém tenha seguido suas dicas.

"Sinto muito pelos coitados que perderam dinheiro. Eles foram chorar no seu ombro?"

Vamos tentar não mudar de assunto. Você afirmou:

"As expectativas de inflação já desabavam e uns doidos continuavam cornetando o BC."

Eu mostrei que não, pelo menos fora da Dimensão Z. Seja pelo Focus, seja pelos B/Es, as expectativas pioraram. Ponto final. Você pode ter a opinião que quiser, mas não tem direito a seus próprios fatos. kkkkk

"PS: eu lembro dos seus conselhos em 2008, vc falou q com o câmbio disparado o BC teria de subir as taxas porque a inflação ia sair do controle.

Espero que ninguém tenha seguido suas dicas."

Onde ele disse isso?

"A única saída que eu consigo imaginar com o euro sobrevivendo é a monetização e alguma inflação. Mas tenho dúvidas se o sistema político europeu pode entregar essa solução. A conclusão lógica então é que o euro como nós o conhecemos já era. Só questão de tempo em minha opinião."

Caro sobrinho do Sr. Alex...

Inflação aonde? Na Itália? Na Espanha?

Essa idéia do Rolloff daria certo se não fossem outros problemas. Que são: diferenças de produtividade entre os países, déficit no balanço de pagamento dos PIIGS, falta de mobilidade da mão de obra, salários rígidos e câmbio fixo!

O câmbio flutuante ajustaria os problemas acima. Câmbio fixo não.
Uma inflação concentrada na Alemanha ajudaria... a curto prazo.

Recomendo o último artigo do Martin Wolf.

"O "mercado" que anda pressionando os juros para baixo é em grande parte um certo fundo de investimentos gigantesco que comprou a aposta que a SELIC iria cair permanentemente. É o mesmo fundo que infamemente apostou que os juros americanos iriam subir em 2011"

Qual fundo?

"Eu mostrei que não, pelo menos fora da Dimensão Z. Seja pelo Focus, seja pelos B/Es, as expectativas pioraram. Ponto final."

haja paciência...

Os juros desabaram 2% ANTES da decisão do Copom (portanto também aconteceu uma correção na inflação implícita, pode olhar a série das NTN-Bs se quiser).

Se esses patetas da sua reportagem erraram, azar deles. Teve gente mais esperta por ae.

A sua frase "Quanto às taxas de mercado, ha ha ha. O BC deu a dica e o pessoal se antecipou, ganhando os tubos no processo." é nonsense.

um pouco de mundo real em ago/2011:

http://www.valor.com.br/financas/993084/juros-futuros-sobem-mas-mercado-ainda-mostra-queda-da-selic-amanha

http://www.valor.com.br/financas/991480/chance-de-corte-da-selic-na-quarta-feira-e-de-70

desaceleração da economia:

http://www.valor.com.br/brasil/988304/pib-mensal-calculado-pelo-itau-fica-estavel-em-junho

só você que não viu, Alex...

"Os juros desabaram 2% ANTES da decisão do Copom (portanto também aconteceu uma correção na inflação implícita, pode olhar a série das NTN-Bs se quiser)."

Hã: se juros nominais caem pode ser pela menor expectativa de inflação, ou porque se espera que o juro real caia. Foi a segunda alternativa, porque as expectativas só pioraram.

Aliás, quem perdeu dinheiro? Quem tinha NTN-B ganhou nas duas pontas: na queda do juro real e na elevação da implícita... Nem conta você sabe fazer?

Os juros começaram a cair com a mudança dos cortes de 0.50 p.p. para 0.25 p.p., no dia do cavalo de pau inédito o mercado já precificava corte entre 0.25 e 0.50 p.p., então o efeito "cavalo de pau do BC" já tinha se dado em grande medida, com o mercado percebendo (com aspas??) a mudança de postura. O efeito do "corte surpresa" se deu antes do fato.
Mas quem busca um padrão do Copom não poderia ter apostado em corte, ele nunca havia feito isso em condições semelhantes. Seguindo o padrão, ele sinalizaria e na próxima reunião iniciaria um processo de cortes, caso tivesse em mão dados que sugerissem o tombo na demanda que acabou acontecendo, mudando o balanço de riscos. Certo ou errado, a atuação do BC foi inédita, tempestivamente desnecessária, em grande medida surpreendentemente antecipada pelo mercado.
Tirando os detalhes (sórdidos ou não) de quem estava na ponta certa, a atuação pode dar certo sim. E afinal o BC não precisa seguir um padrão SEMPRE.

"Foi a segunda alternativa, porque as expectativas só pioraram."

Aham claro, com o PIB da economia crescendo zero...

Chora Alex, quem segue você perde dinheiro.

Não tenta mudar de assunto não, se os juros subissem como vc fica cornetando, quem compra NTN-B vai perder.

Julgo que a discussão sobre antecipação do ciclo pelo mercado colocada pelo repórter e que disparou os comentários estão distorcidas.

O repórter, como afirmei mais acima, analisou o comportamento do contrato de um ano (swap 360). É preciso lembrar que, em agosto, antes do Copom, os mercados passaram por um sell off impressionante, disparado, entre outros fatores, pelo rebaixamento do rating EUA, intensificação da crise grega e revisão de estimativas de PIB. Esse contrato (o "mercado") em específico não precificou o corte de 0,50p.p., mas sim uma mudança na condução da política monetária mais a frente, dada a perspectiva de um cenário possivelmente desinflacionário vindo do exterior!!

Acredito que a análise seria mais precisa olhando o contrato de um mês - e não 1 ano. Esse contrato, historicamente, diante de um BC que sinaliza os próximos passos, se antecipa semanas antes do corte. Não foi o caso na reunião de agosto. Esse contrato despencou no dia posterior a reunião, mostrando que sim, houve surpresa na decisão do BC.

Naqueles dias próximos ao início dos cortes, parte do mercado de fato se antecipou, ainda que os economistas da grande maioria ds casas tivessem com o pé fincado em manutenção. Já os traders, por pragmatismo, não se abraçam apenas aos modelos, e muitos já apostavam na redução, seja pela percepção de deterioração do cenário de crescimento, ou pelos sinais políticos.A dimensão, no entanto, surpreendeu, e quanto a isto não há a menor dúvida, pois a sbstancial queda em toda a extensão da curva no dia imediatamente posterior ao Copom de agosto deixa isto claro.

Voltando ao EURO e aos títulos considerados inseguros. Na prática já desvalorizaram (alguns estão com liqidez zero). A perda, de fato, já ocorreu. O problema é a crise de liquidez agravar-se (virar de crédito e solvência. Já aconteceu?). O BCE ou FMI devem comprar os títulos com qual deságio? Alguns bancos compraram os tílulos sem deságio, outros já compraram desagiados. Como ser justo?
Como tratar as perdas já ocorridas?

Alex

Muito legal o artigo. Se o objetivo era escrever para o leitor mediamente informado a respeito encrenca, no meu caso ele foi atingido. Espero que este texto seja utilizado por professores honestos nas salas de aula. :)

Falou-se em jornalismo nos comentários. Li agora reportagem com Armínio Fraga no Valor de hoje:

A hora requer sangue frio, diz Armínio
Autor(es): Claudia Safatle

http://clippingmp.planejamento.gov

Frases:

"Se tiver sangue frio, a presidente Dilma vai ver no seu governo os juros mais baixos que este país já teve desde sempre, talvez desde a década de 30"

Superávit primário obtido até outubro [93% da meta]

"Isso foi muito bom. Fui o primeiro a elogiar (a decisão do governo) e mantenho o elogio. Sei que esse é um trabalho dificílimo, só quem está lá dentro sabe o quanto, e é excepcional o que estão fazendo"

Interessante confrontar o elogio com os posts do Mansueto Almeida. Mansueto não questiona o superátiv porque não briga com os números, mas analisa a qualidade dele. Basicamente: corte nos investimentos públicos + arrecadação estupenda e atípica da receita federal explicam o superávit. Mansueto desconfia que essa equação não poderá se manter em 2012.

Desempenho do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini

"Mantenho o que disse: ele foi ousado (ao cortar os juros em agosto). Mas não foi uma ousadia desmesurada e a avaliação dele está se mostrando correta."

Mário Draghi, presidente do BCE:

"ele foi extremamente germânico (nas respostas), jogando um balde de água fria na ideia de mais monetização, mais compra direta de dívida e inclusive mais compra indireta, através do FMI".

Kleber

A continuação da conversa no post anterior ficará para uma outra vez.

O que eu queria mesmo saber é se naquela frase do Keynes há presença de Francis Bacon. Eu li a frase como uma espécie de elogio ou afirmação do método indutivo para a teoria econômica. Dizer que é uma técnica que ajuda a tirar conclusões corretas tem, parece-me, um valor positivo e de consequências epistemológicas consideráveis. Curiosidade: Keynes escreveu a respeito ou foi estudioso de Bacon?

Bacon fala que existem os três tipos de intelectuais: formiga, aranha e abelha. A formiga empilha o que coleta na natureza e nada acrescenta de seu nesse trabalho [na metáfora, o que não faz teoria, apenas amontoa dados]; a aranha faz belos rendilhados com sua própria substância [na metáfora, o que faz teoria tirada de si mesmo, mas que não se mantém sob a tempestade da natureza]; a abelha, ideal de cientista, coleta matéria na natureza, digere o que coleta, produz cera, constroi alvéolos e armazena mel [na metáfora, o que faz teoria induzida pelos dados coletados]. Encurtando a história, em Bacon a “técnica tem potência heurística extraordinária porque é senda que aproxima o cientista dos ‘aposentos íntimos da natureza’.” [B.T. Lopes].

Para quem curte o babado, há uma bela dissertação de mestrado de Bruna Torlay Lopes: A presença de Bacon na Enciclopédia. Umas 100 páginas de fácil leitura para quem não é do ramo da filosofia, muito bem escritas e que são um verdadeiro presente de Atena. Disponível para leitura aqui

http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000445418

Resumo: Este trabalho procura assinalar traços da filosofia de Francis Bacon na Enciclopédia francesa do século XVIII. Estes traços se manifestam nas teses que defendem o intercurso entre avanço técnico e progresso do conhecimento, e o ideal de ciência como conquista indefinida que escapa ao gênio individual, e sobrevive como patrimônio comum da humanidade. Compreensivamente, mostra que o utilitarismo de Francis Bacon e dos enciclopedistas na verdade se fundamenta na idéia capital de que a existência produz-se mediante engenho.

O problema eh se havia apenas um player na ponta certa e esse player eh famoso por ter acesso.

Alex,

Passado um tempo desde agosto já podemos fazer uma avaliação de prós e contras da decisão do COPOM. Ponderando elevação de 20 bps nas expectativas de inflação para o fim do ano em relação ao FOCUS de agosto, vc concorda com o posicionamento do Armínio no Valor de hoje de que a decisão do Tombini tem se mostrado acertada?

Abs,

João Bosco.

"Tirando os detalhes (sórdidos ou não) de quem estava na ponta certa, a atuação pode dar certo sim."

Salvo a inflação de dezembro ficar realmente muito baixa (parece que abaixo de 0,5%) a manobra deu completamente errado. A missão do Banco Central é manter a inflação na meta de 4,5% (alta) com intervalo (ridiculamente alto) de 2% para cima ou para baixo.

"Aham claro, com o PIB da economia crescendo zero... "

Bela tentativa de mudar de assunto, mas vou copiar de novo o que você escreveu aqui:

"As expectativas de inflação já desabavam e uns doidos continuavam cornetando o BC."

Errado, seja no Focus, seja na implícita. Simples e direto.

"se os juros subissem como vc fica cornetando, quem compra NTN-B vai perder."

Dãããã... Eu disse que comprou NTN-B ganhou nas duas pontas, ô analfabeto, não disse que vai ganhar. Só para constar:

" Quem tinha NTN-B ganhou nas duas pontas: na queda do juro real e na elevação da implícita... "

Obviamente se o BC subir o juro para conter a inflação observaremos o contrário, né gênio?

E, diga-se, quem me ouviu quando o BC parou de subir a Selic no ano passado ganhou dinheiro, ou você acha que pagam (e bem) para me ouvir porque são masoquistas? kkk

Alex,

O que vc acha do David Kupfer?

Abraço

MM

A questão da senioridade é realmente um grande problema. Na verdade, a senioridade do BCE, do ESFM e do futuro ESM são explícitas. Ou seja, esse processo já está ocorrendo or contas dos empréstimos realizados pelo ESFM e pelas compras no mercado secundário pelo BCE. Com as intervenções distanciando cada vez mais a taxa do mercado da taxa que os agentes cobrariam em função do risco dos papéis, as compras do BCE ameaçam se tornar um caminho sem volta, já que se amanhã ou depois o BCE parar de comprar, as taxas de juros teriam de subir para remunerar adequadamente os riscos para os credores privados.

Quanto ao BC, acho que quem aponta para a desaceleração para livrar a cara dele erra o alvo. O problema é que a atuação do BC provocou considerável prejuízo à credibilidade da política monetária ao deixar muito claro que um crescimento baixo deverá ser evitado custe o que custar, mesmo se isso significar deixar a convergência da inflação às metas para as calendas gregas. Tivesse o BC esperado mais uma reunião, o PIB talvez tivesse um desempenho um pouquinho pior em 2012, mas as expectativas de inflação teriam, de fato, desabado a essa altura. Do jeito que as coisas ficaram, é difícil elogiar o BC quando os agentes não acreditam na convergência nem em 2013...Os estímulos que estão sendo dados agora provocarão uma voltada da economia em 2012 e, só aí, veremos os custos de se evitar o "erro de 2008" (que de erro não teve nada na minha opinião)

"Errado, seja no Focus, seja na implícita. Simples e direto."

Meo dels..

Pro seu raciocínio funcionar a taxa de juros natural tem que ficar inalterada.

Quem apostou que a taxa de juros ia subir em 2008/2009 ganhou dinheiro?

[rolei de rir]

Não tenho certeza que as compras do BCE tem senioridade. Eu diria que não, o BCE é um boneco der como qualquer outro. O problema da senioridade ocorre com empréstimos, como um programa do Fundo. Alias um dos motivos pelo qual o BCE quer canalizar sua ajuda pelo Fundo é par obter a senioridade que ele não tem.

O BCE é um bondholder como qualquer outro...

"Pro seu raciocínio funcionar a taxa de juros natural tem que ficar inalterada."

Só na Dimensão Z (de zurro, como sempre)

O,

Pelo que me lembro, o BCE não teve de participar no calote "voluntario" da Grecia. Quanto ao motivo de se usar o FMI pelo que eu li isso tem mais a ver com outras questões legais do que com questões relacionadas a senioridade. Procurei encontrar alguma referencia oficial em relação a questão da senioridade e não encontrei nada. Acho que, no mínimo, há uma expectativa implícita de senioridade, mas posso estar errado.Se vc tiver um link, eu agradeceria.
Já em relação ao efsf, a senioridade é explícita, assim como é no caso de programas do fundo.

Ainda a questão da senioridade. Esse link de um blog do WSJ cita uma análise do Citigroup que sugere que ao menos uma senioridade implícita do BCE.

http://blogs.wsj.com/marketbeat/2011/12/09/the-eight-questions-europe-still-hasnt-answered/

Alguém mais tem alguma informação sobre essa questão?

Vladimir:

Agora que você mencionou o Citi me lembrei de uma análise do Buiter que fazia estimativas de perdas do BCE em caso de default, de onde imagino que, pelo menos na visão do Buiter, não haveria senioridade.

Além disso (e aqui vai pela memória do tempo que cuidei disso no BC), na documentação de bônus fica explícito que nenhum bondholder pode ser senior relativamente aos demais. Como o BCE é bondholder, desconfio que está na vala comum.

Abs

Ótimo texto... Na minha opinião, o maior problema pode ser explicado de uma maneira bvem simples, até simplista:
Se o problema é que a Europa não consegue pagar suas dívidas, novos empréstimos (novas dívidas) não parecem ser a solução. É igual tratar um cidadão envenenado dando a ele mais veneno.
Pra mim esses empréstimos 'salva-europa' tem um nome: Insanidade. Insanidade é fazer a mesma coisa repetidas vezes e esperar resultados diferentes.

Eu citei esse link só como exemplo, mas já li em outros lugares menções à suposta senioridade dos bonds comprados pelo BCE. Sei lá se fazem uma analogia meio capenga com os repos (que, creio, tem senioridade sobre outros credores dos bancos)ou se existe alguma regra mais explícita. No caso grego ao menos, o BCE não teve de entrar na vala do comum dos "voluntários". Por favor, se você descobrir algo mais concreto a esse respeito, não deixe de postar.

Vladimir: eu não tive tempo de checar com quem é especialista, mas refletindo com a informação que eu tenho, parece-me bem improvável que o ECB tenha senioridade quando compra um bond. É vala comum mesmo, usando o termo do Alex.

Consegui checar a questão da senioridade com uma fonte em quem tenho a mais absoluta confiança. A resposta foi a seguinte:

"There can be no explicit seniority rule with bonds you purchased on the secondary market, even if it is the central bank (this no organised restructuring, nor a loan or whatever). However, the implicit seniority rule comes from the fact that the ECB has refused (so far) to participate to the Greek debt exchange/restructuring, which is indeed one reason why the haircut on private bondholders must be higher."

Então, o "O" e o Alexandre estavam certos quanto à vala comum em termos estritamente legais, mas a consideração sobre o aumento no tamanho do haircut esperado continua fazendo sentido (embora seja razoável dar um haircut no aumento do haircut esperado, já que nada a princípio impede que o BCE tome um calotezinho também hehehe).

Alexandre, gostaria de ter seu contato. Qual seu email?

alexandre.schwartsman@hotmail.com

Paulo Araujo:

Que surpresa me deparar com meu trabalho de mestrado citado nessa discussão! Caso tenha interesse em discutir sobre as possiveis relações entre o tema e as teses de Bacon/"Enciclopedistas", não hesite em me escrever: brunatorlay@gmail.com