A
opinião majoritária entre os economistas sugere que o BC manterá a Selic
inalterada ao longo deste ano, bem como boa parte de 2020, só a aumentando, e ainda
assim de forma bastante gradual, a partir de meados do ano que vem até atingir
7,25% em dezembro. Não é, adianto, a minha visão.
De
acordo com as projeções divulgadas recentemente pelo BC, na última edição da
Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), no cenário em que as taxas de
juros seguem as projeções da mediana dos analistas, a inflação ficaria ao redor
de 3,8% em 2020, abaixo, portanto, da meta fixada para aquele ano (4,0%).
Por
outro lado, as projeções do BC feitas sob a suposição que a taxa de juros
permanecesse em 6,5% ao ano indefinidamente indicam inflação na meta em 2020. Isto
sugere não haver necessidade de elevação da Selic nem no ano que vem. Há,
porém, nuances importantes.
Como
o primeiro cenário prevê que o dólar fecharia este ano na casa de R$ 3,75 (e R$
3,80 no próximo), enquanto o segundo supõe o dólar parado, as projeções mais
baixas de inflação embutiriam o efeito da queda do dólar (fortalecimento do
real) ao redor de 5% neste ano. Numa conta aproximada, isto teria um efeito
próximo a 0,1% negativo sobre a inflação. Já o juro mais alto explicaria outros
0,1%, ou seja, mesmo incluindo o efeito favorável do dólar sobre a inflação do
próximo ano, a elevação da Selic em 2020 não se justificaria.
Não
é esta, porém, minha principal diferença com o consenso, mas sim que o BC pode
concluir pela redução adicional da Selic ainda em 2019 a depender da evolução
da economia neste trimestre e nos seguintes.
A
verdade é que o BC foi surpreendido pela perda de fôlego da atividade econômica
no começo de 2019, assim como os analistas, dentre os quais me incluo. Não que
estivéssemos esperando um desempenho extraordinário do PIB em 2020, mas havia
dose razoável de convicção que seria melhor que o do ano passado, até porque o
sarrafo parecia baixo.
Assim,
na primeira reunião de 2019 o Copom ainda afirmava que “indicadores de
atividade econômica continuavam evidenciando recuperação gradual da economia
brasileira”, visão que não se alterou fundamentalmente na reunião de março. Na
mais recente, contudo, o Copom afirmou que “indicadores recentes da atividade
econômica sugerem que o arrefecimento observado no final de 2018 teve
continuidade no início de 2019. O cenário do Copom contempla retomada do
processo de recuperação gradual da atividade econômica”.
As
razões para este desempenho ainda não estão claras.
Pode
resultar de fatores temporários, como a forte elevação das taxas de juros mais
longas observada no segundo e terceiro trimestres de 2018, cujo efeito
tipicamente se materializa com uma defasagem de dois trimestres (ou seja, com
efeito maior no começo deste ano). Como, porém, se tratou de impacto
passageiro, pode ser que seu efeito se dissipe ao longo do final deste
trimestre e início do próximo, o que seria evidenciado por ritmo mais firme da
atividade.
Pode,
no entanto, se originar de raízes mais profundas, em particular as dificuldades
do sistema político para produzir as reformas que sinalizem uma mudança
profunda na trajetória do endividamento público. Como já explorei neste espaço,
sem reformas corremos o risco da opção por uma “solução” inflacionária do
problema da dívida, possibilidade que deprime em particular o investimento de
longo prazo. Neste caso, a fraqueza da economia seria persistente.
Não
me parece ser por outro motivo que o BC tem pedido “tempo” para avaliar qual
das alternativas parece explicar melhor o desempenho da economia.
Caso
conclua pela maior persistência da desaceleração, terá também que rever para
baixo suas previsões acerca da inflação, principalmente no que se refere a
2020. Neste caso, desconfio, mesmo a manutenção dos juros nos atuais patamares
não seria suficiente para atingir a meta no ano que vem.
Nestas
circunstâncias o BC optaria pela redução adicional da taxa de juros para dar
novo fôlego à economia e aproximar a inflação de 2020 da meta. É bem verdade
que os efeitos sobre a atividade dificilmente serão grandes neste ano,
considerando a defasagem acima mencionada, mas poderão ajudar no desempenho do
próximo ano.
Isto
dito, em prazos mais longos o jogo não é praticado na arena monetária. Sem que
se encaminhe de forma satisfatória o desequilíbrio permanente das contas
públicas, o crescimento mais forte será sempre prejudicado pelo receio da
“solução” inflacionária. O BC pode dar uma mãozinha, mas é o Congresso Nacional
que terá que colocar o país na rota do crescimento sustentado.
(Publicado 22/Mai/2019)