A
taxa Selic foi reduzida para 6,5% ao ano no dia 21 de março de 2018 e ficou parada
desde então. É provável que na próxima reunião do Copom, no dia 20 março de
2019, a taxa complete um ano de duração, o que só ocorreu uma vez na história,
precisamente no último ciclo de aperto monetário, quando o BC manteve a Selic
estável de julho de 2015 a outubro de 2016.
Há,
todavia, uma discussão em curso acerca da conveniência de redução adicional da
taxa de juros, dada a fragilidade da recuperação da economia, percepção reforçada
pelos números
mais recentes de atividade.
A
ata da reunião do Copom, divulgada na semana passada, porém, não parece dar
grande suporte a esta possibilidade. A afirmação sobre “serenidade e
perseverança nas decisões de política monetária”, presente tanto lá quanto no
comunicado que se seguiu à reunião, foi interpretada como sinalização da intenção
de manter a Selic nos atuais níveis por um longo período, certamente não como indicativo
de disposição para o corte.
Como
ainda não inventaram um jeito de a taxa de juros afetar a inflação passada, as
decisões de política monetária são sempre tomadas com base na construção de
cenários acerca do comportamento da economia num horizonte de 12 a 24 meses (no
caso atual, olhando para a inflação de 2019 e 2020, com peso maior, porém
decrescente, no primeiro ano).
O
Copom divulga dois cenários: um que contempla a evolução esperada da inflação
caso a Selic e a taxa de câmbio permaneçam inalteradas ao longo de todo
horizonte de projeção e outro supondo que a Selic e a taxa de câmbio sigam as
trajetórias esperadas pelos economistas que contribuem para a pesquisa Focus.
Como
não há praticamente distinção entre a evolução esperada do dólar em cada
cenário, a diferença da inflação projetada se deve apenas às premissas distintas
para a Selic ao longo do horizonte: no primeiro cenário a taxa, como notamos,
permaneceria em 6,5% ao ano para sempre; no segundo começaria a subir no início
de 2019 até atingir 8% ao ano em meados do ano que vem. Em ambos os casos, a
inflação prevista para 2019 fica em 3,9%, algo abaixo da meta para 2019 (4,25%).
Já para 2020, a inflação com o juro parado ficaria em 4%, precisamente na meta
para 2020, enquanto no cenário com juros em elevação cairia para 3,8%, portanto
abaixo da meta.
A
primeira conclusão que se depreende destes números, portanto, é que o aumento
de taxa de juros no ano que vem seria desnecessário. Em tese, ao menos, o BC
poderia manter a Selic em 6,5% não só este ano, mas também em boa parte do ano
que vem e entregar a inflação ainda na meta.
Já
para cortar adicionalmente a taxa de juros, seria necessário que as projeções
de inflação, tanto para 2019 como para 2020, também se reduzissem. Isto pode
ocorrer, em parte porque o elevado nível de ociosidade – particularmente
desemprego – tem levado a seguidas leituras da inflação abaixo do esperado,
fenômeno reconhecido pelo BC.
Mais
relevante, porém, é a evolução esperada das contas públicas nos próximos anos.
Caso haja motivos para crer que o enorme desequilíbrio observado a partir de
2014 seja corrigido em prazo razoável, novas previsões de inflação cairiam,
abrindo espaço para a redução adicional da Selic.
O
nome de jogo é “reforma”. O BC entendeu isto, mas para
outros analistas, que, em sua própria e modesta opinião, se consideram
sofisticadíssimos,
a ficha ainda não caiu.
(Publicado 20/Fev/2019)
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