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terça-feira, 20 de novembro de 2018

A “farsa” do desemprego



Errou em todos os exemplos mencionados, refletindo ignorância comum sobre a matéria. Vale a pena entender os conceitos, virtudes e limitações desta estatística para não cometer os mesmos equívocos.

Segundo o IBGE a população brasileira em setembro deste ano era aproximadamente 209 milhões de pessoas. Nem todos, porém, estão aptos a trabalhar. O IBGE define a População em Idade Ativa, PIA, como aqueles com mais de 14 anos, em torno de 170 milhões de pessoas.

Obviamente, apenas parte dos maiores de 14 anos estão no mercado de trabalho. Alguns, por exemplo, estudam (ainda bem!), outros já se aposentaram e há quem decida não tomar parte no mercado por uma série de motivos, alguns dos quais trataremos à frente. Os que participam, seja trabalhando, seja buscando por emprego, são definidos como “força de trabalho”, ou População Economicamente Ativa (PEA), e montavam a 105 milhões de pessoas em setembro.

Desses 92,6 milhões estavam ocupados e 12,5 milhões desempregados. Assim a taxa de desemprego atingiu 11,9% (12,5÷105).

Esta é a definição internacional da taxa de desemprego, adotada por todos os países com boas estatísticas na área. No caso, se a pessoa recebe o Bolsa-Família (sem estar empregada), ou o seguro-desemprego, ela obviamente não conta como empregada. Caso esteja procurando trabalho contará como desempregada (e participante da PEA); caso contrário não aparecerá nesta estatística de desemprego.

Ocorre que a taxa de desemprego descrita acima não esgota o conjunto de estatísticas sobre o mercado de trabalho. O IBGE também discrimina dentre os ocupados aqueles que trabalham menos do que desejam e calcula a taxa de desempregados (12,5 milhões) e subocupados (6,9 milhões) com relação à PEA: 18,4% (19,4÷105).

Há, por outro lado, dentre as pessoas que estão fora da PEA, as que gostariam de trabalhar, mas não estão buscando emprego, a chamada “força de trabalho potencial”, 8 milhões de pessoas.

A estatística mais ampla do IBGE a respeito (a taxa de subutilização da força de trabalho) junta os desempregados, os subocupados e a força de trabalho potencial, um conjunto de pouco mais de 27 milhões de pessoas como proporção da “PEA ampliada”, isto é, os 105 milhões da PEA mais os 8 milhões da força de trabalho potencial (123 milhões), revelando uma taxa de subutilização na casa de 24%.

A coexistência de várias medidas de desemprego não é uma jabuticaba. Nos EUA, por exemplo, o Bureau of Labor Statistics publica a cada mês nada menos do que seis alternativas: a taxa denominada U3, calculada de forma similar à nossa, é a mais disseminada, 3,7% no mês passado; a taxa mais ampla, U6, se encontrava em 7,4%, o dobro da oficial, por incorporar também os que gostariam de trabalhar mais e os participantes da força de trabalho potencial.

Economia, apesar das aparências em contrário, não é para aspirantes. Como regra, antes de falar do assunto, não custa nada dar uma passada no posto Ipiranga.





(Publicado 14/Nov/2018)

3 comentários:

Grande Alex,

Só uma continha besta que passou: "os 105 milhões da PEA mais os 8 milhões da força de trabalho potencial (*113* milhões, e não 123 milhões), revelando uma taxa de subutilização na casa de 24%.

Adorei o artigo, didático e direto.
Você realmente não quer escrever um livro? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

abs
Alberto

Alexandre, você é a favorável a um salário mínimo? Eu nunca havia me questionado sobre isso, até perceber a importância do Custo Unitário do Trabalho. Podemos reduzir o principal motor do crescimento, essencialmente, ao aumento da produtividade, que tem, entre todos os benefícios, o efeito de elevar os salários reais. No entanto, a imposição de um salário mínimo me parece que pode causar justamente o efeito contrário. Se este aumento dos salários nominais for maior do que a produtividade alcançada em determinadas empresas ou setores, o efeito será uma inflação localizada, que poderá se propagar para o restante da economia. Isso, claro, considerando que estas empresas estejam em condições de elevar seus preços sem serem forçadas a fechar as portas - situação que também implica inflação, pela decorrente redução da capacidade de oferta.

Nos EUA, o salário mínimo é o mesmo desde Julho de 2009, e o poder de compra apresenta uma tendência de alta ao longo de todo este período - o que, obviamente, se traduz em crescimento sustentável da demanda. No Brasil, talvez por influência exagerada de sindicatos, parece que tentamos forçar este crescimento do salário real via aumentos do salário mínimo. Isso, penso eu, tem como resultado o que procurei descrever acima. E, quando vejo a trajetória dos salário reais no Brasil, penso que há fundamento para esta hipótese: https://i.imgur.com/chJbuWl.jpg
Percebe-se como absolutamente todos os aumentos anuais do salário mínimo são sucedidos por uma queda do poder de compra no transcorrer do ano, o que sempre conduz a novos aumentos. Não vejo como um país possa conquistar competitividade afetando os custos unitários do trabalho desta forma.