Há pelo menos duas
ordens de desenvolvimentos negativos originárias da decisão de Donald Trump de
elevar as tarifas de importação de aço e alumínio, com o objetivo declarado de
proteger estes setores da concorrência internacional.
A primeira diz respeito
aos efeitos sobre a própria economia americana. Apesar de quase 150 anos de
pesquisa econômica sobre o comércio internacional, ainda há quem acredite nos
benefícios do protecionismo, em geral apelando para possíveis impactos
positivos sobre o emprego nos setores beneficiados (muito embora os espertalhões
saibam muito bem que o efeito maior é sobre a distribuição de renda em favor de
quem obteve a proteção requerida).
Ainda que medidas
protecionistas possam beneficiar o setor privilegiado, não há dúvida que fazem
estragos ainda maiores no restante da economia. A começar porque elevam os
preços para consumidores, na prática transferindo renda a favor do setor
protegido. Não se trata, porém, de um ganho de soma zero, mas sim de soma
negativa.
De fato, além da
redistribuição de renda, há também a redistribuição de recursos, de setores
mais produtivos (os que prevaleciam antes da intervenção) para os menos
produtivos (os agora protegidos). O resultado é redução da produtividade e,
portanto, da renda da economia como um todo.
Este efeito não é
pequeno: meus ex-professores, Jeff Frankel e David Romer, em artigo clássico, estimaram que cada
ponto percentual a mais de abertura comercial (a soma de exportações e
importações sobre o PIB) eleva a renda per
capita em pelo menos meio ponto percentual.
No caso americano, em
particular, dado que a economia opera praticamente em pleno-emprego, não há
muito a ganhar em termos de postos de trabalho. Por outro lado, este tipo de
medida aumenta (marginalmente, é verdade) as chances de aumentos adicionais de
taxas de juros, já que pode pressionar salários.
Estes são, no entanto,
danos autoinfligidos e, à parte o efeito sobre as taxas de juros, com
repercussões limitadas para a economia global (obviamente maiores para os que
exportam aço e alumínio para os EUA, entre eles o Brasil).
A outra ordem de
problemas, potencialmente mais danosa, diz respeito às reações à iniciativa
americana, no caso, a possibilidade de uma guerra comercial, expressa na
elevação retaliatória de tarifas (ou outras barreiras ao comércio) por parte
dos países diretamente afetados pelas medidas protecionistas. Não é demais
lembrar que, dentre os efeitos que ajudaram a transformar a crise de 29 na
Grande Depressão, figuram em lugar de honra as medidas de restrição ao comércio
internacional (note-se que aqui não falamos de desvalorização da moeda, mas tarifas e outras
barreiras).
Obviamente, elevar
tarifas em retaliação também é danoso para quem o faz, mas, do ponto de vista de um
jogo de várias rodadas, pode ser exatamente o requerido para convencer os
demais de sua firmeza de propósito e induzi-los a reverter as medidas iniciais.
De qualquer forma,
apesar da visível recuperação da economia global nos últimos anos, há
fragilidades, principalmente no que diz respeito ao campo político. Ninguém
precisa balançar o barco.
Quando a principal
economia do mundo adota políticas semelhantes às
patrocinadas pela Nova Matriz no Brasil devemos ficar muito preocupados.
(Publicado 7/Mar/2018)
11 comentários:
Realmente as forças da Matrix surgem em toda parte, e unidades locais que andavam cabisbaixas se reativam com o apoio do grande tiosão do norte.
Podia postar a foto do delfin neto (que vai ser preso) com a bandeira dos EUA na ilustração do dia.
Alexandre, tens alguma recomendação de leitura? Agradeço
Foi algo que ele fez ,para agradar parte do eleitorado.Por outro lado ele é um republicano classico ,que baixou a carga tributaria e desregulamentou a economia.
Alex, mesmo que num jogo em que tit for tat seria a resposta mais obvia, ou seja rataliar tbm,neste caso especifico nao seria melhor nao fazer nada uma vez que reduziria a renda local mais ainda? ainda mais se acharmos que não tera novas barreiras alem do aço.
O problema do Brasil é a insuficiência crônica de demanda agregada. André Nassif. É isso aí.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL PALESTRA BNDES 2017
Alex, se a democracia elegeu o cara com base nessas propostas, mas a tecnocracia reconhece essas propostas como boas merdas, o que deve prevalecer? Acho que podemos criticar as medidas do trump, mas precisamos reconhecer que as criticas, no fundo, são à própria democracia. Não?
Um abraço
Economista X
"o que deve prevalecer?"
A democracia, claro. À tecnocracia cabe o direito à crítica e a tentativa de convencimento da população que isto é uma merda.
"as criticas, no fundo, são à própria democracia."
Não se segue. Democracia não compreende apenas a eleição dos governantes pelo voto da maioria da população (ou por algum organismo eleito pela população), mas liberdade de expressão, crítica, etc, bem como vários outros mecanismos de pesos e contrapesos que evitem a concentração do poder e permitam eventuais correções de rumo.
É mais demorado, mas a experiência sugere que funciona melhor.
Eu certamente não sou platônico a este respeito.
A agenda de Donald Trumpo é a mesma de Reagan.
Olha aí....
https://www.washingtonpost.com/world/asia_pacific/south-korea-agrees-to-open-auto-market-in-return-for-exemption-from-steel-tariffs/2018/03/26/05eb3b22-3100-11e8-9759-56e51591e250_story.html?utm_term=.e67a2cc7820c
Trump não ia destruir a economia americana?
http://www.valor.com.br/internacional/5414235/pib-dos-eua-avanca-29-no-ultimo-trimestre-de-2017-apos-revisao
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