Nesta semana as
expectativas de inflação para 2017 coletadas pelo BC (Focus) caíram levemente
abaixo da meta (4,47% x 4,50%), enquanto as expectativas para 2018 se
mantiveram em 4,5%.
Embora seja verdade que
o Focus
não se prime pela exatidão, isto não deixa de marcar uma mudança importante: a
última vez que observamos as expectativas ao redor da meta (para o futuro
próximo, de 12 a 18 meses à frente) foi no agora longínquo ano de 2011, não por
coincidência imediatamente antes do “cavalo-de-pau” de Alexandre Pombini, que
culminou com a inflação de dois dígitos em 2015.
Fato é que a dinâmica
da inflação parece ter se alterado a partir do terceiro trimestre do ano
passado. Até então, embora o impacto do reajuste de preços administrados já
houvesse, em larga medida, se dissipado, a inflação propriamente dita dava poucos
sinais de alívio. Os chamados “preços livres” ainda aumentavam a um ritmo ao
redor de 9% ao ano, enquanto os “núcleos” de inflação (medidas menos sujeitas a
efeitos pontuais e temporários) vinham em lenta desaceleração, de um pico de
8,5% no começo de 2016 para 7,5% em setembro.
Posto de outra forma, o
comportamento dos preços parecia incongruente com a intensidade da recessão. A
taxa de desemprego àquela altura já havia se elevado de 6,5% em meados de 2014
para quase 12% (já descontadas as flutuações sazonais da série) e o PIB
acumulava queda superior a 8% em relação ao primeiro trimestre daquele ano, o
pico recente de atividade.
A resistência da
inflação levou a muitas conjecturas, da “dominância fiscal” à “inércia
inflacionária” de alguma forma incorporada à cultura econômica nacional,
passando por apelos à “inflação estrutural de serviços”. Em comum estas teses
todas apontavam para a ineficácia da política monetária em lidar com o problema
e geralmente desembocavam na recomendação de nada fazer.
Não foi esta minha
opinião, como sabem os 18 heróis. Argumentei mais de uma vez que o aparente aumento
da inércia inflacionária era a resposta racional a um BC que
sistematicamente alongara o período de convergência da inflação à meta e se
tornara prisioneiro deste mecanismo. A conclusão, à época, apontava não
apenas para um custo mais alto em termos de atividade para domar a inflação,
como também que este cresceria quanto mais se adiasse o combate necessário.
Este estado de coisas
mudou de figura a partir de meados do ano passado. Por um lado a nova diretoria do BC não se
deixou seduzir
pelas propostas de, mais uma vez, alongar o prazo de convergência de inflação
por meio da adoção de uma “meta ajustada” para
2017.
Pelo contrário, agiu para calibrar a política monetária mirando o centro da
meta, apesar das pressões para que
aliviasse a mão.
Por outro lado, é bom
reconhecer, as iniciativas no campo fiscal, ainda que prometendo resultados
apenas para prazos mais longos, mudou a percepção acerca dos riscos de
sustentabilidade da dívida, firmando o terreno para a ação da política monetária.
Em outras palavras, a
promessa de aperto fiscal abriu a possibilidade para a queda da inflação e, com
ela, o afrouxamento monetário, que parece ser o principal, senão único, impulso
para o crescimento este ano.
Será que finalmente vão
perceber que vale a pena combater a inflação?
Um
tempo de plantar; um tempo de colher
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(Publicado 15/Fev/2017)