Passei o fim de semana
desnorteado. A presidente antecipou a demissão do ministro da Fazenda, que
agora que desfruta da inédita condição de ex-ministro em atividade, com
consequências funestas para a temperatura de seu cafezinho (pelo que me lembro,
o café da Fazenda já era particularmente abominável; frio então...), assim como
para qualquer iniciativa que ainda pretenda tomar no campo da política
econômica.
Funestas serão também
as implicações para minha vida de colunista. Desde que aceitei o convite para
escrever uma vez por semana neste espaço sempre me angustiei com o tema da coluna.
Suores frios, insônia, o tic-tac implacável, o cursor piscando na tela em
branco... Nestas horas, porém, sempre pude contar com a contribuição
inestimável de Guido Mantega: quase toda semana ele me ofereceu, de forma mais
que graciosa, ideias para meus artigos, ideias que, francamente, minha parca
imaginação jamais atingiria.
O desmantelamento do
tripé macroeconômico, por exemplo, rendeu dezenas de colunas. A possibilidade
de avaliar a tal da “nova matriz macroeconômica”, em particular prever seu
fracasso com anos de antecedência (não estou me gabando: qualquer bom aluno de
graduação chegaria às mesmas conclusões) foi imprescindível para o enorme
sucesso desta coluna entre todos os meus 18 leitores.
Não foram poucas também
as chances de detalhar as várias instâncias de contabilidade criativa: o Fundo
Soberano, os empréstimos para o BNDES, a contabilização da venda de ações da
Petrobrás em troca de direitos de exploração de petróleo como receita da União
e, mais recentemente, a “pedalada”, entre tantos outros. Cada uma destas foi
objeto de mais de um artigo e, para ser sincero, este veio ainda não se
esgotou.
Isso sem contar as
oportunidades únicas de comparação de declarações ministeriais prestadas em
momentos distintos e geralmente contraditórias. No dia 30 de maio deste ano,
por exemplo, ao comentar o pibículo do primeiro trimestre, o ministro afirmou
que “a Copa do Mundo deve ajudar a melhorar
a economia do país, e que o resultado do PIB no segundo trimestre provavelmente
será melhor que no primeiro”.
Confrontado, porém, com
a queda do PIB no segundo trimestre e a revisão para baixo do desempenho no
primeiro, “o ministro culpou o cenário
internacional, a seca (...) e a redução de dias úteis em função da Copa pelo
resultado negativo da economia brasileira”. Por outro lado,
segundo ele, não devemos nos preocupar, pois “provavelmente vai chover muito em
2015”...
Desconfio ter me empolgado,
mas, pelos exemplos acima deve ficar claro que a presença de Guido Mantega no
Ministério da Fazenda é garantia contra bloqueios criativos, pelo menos no caso
de colunistas econômicos à busca de temas. Não é outro o motivo da minha
preocupação com a crônica da demissão anunciada.
Ao contrário da The
Economist, que tempos atrás pediu de forma irônica a
permanência do ministro, apelando à psicologia reversa, eu sou franco em meu
apelo, ainda mais porque se trata, como se viu, de matéria do meu mais profundo
interesse.
Acredito, inclusive,
que seria caso de mantê-lo como ministro qualquer que seja o resultado da
eleição. Não é que eu deseje o mal do país, mas poderíamos deixá-lo na mesma
posição que hoje ocupa, isto é, sem qualquer relevância para a formulação ou
execução da política econômica; apenas para nosso entretenimento.
Agradecimento
Aproveito o espaço para
agradecer às muitas expressões de apoio e solidariedade referentes à tentativa frustrada do BC em abrir
queixa-crime contra mim por críticas à política adotada pela instituição, refletida
na taxa de inflação acima da meta bem como acima do intervalo de dois pontos
percentuais ao seu redor. Tivesse mais do que os cerca de 3800 caracteres desta
coluna, agradeceria a cada um pessoalmente; na impossibilidade, manifesto aqui
minha gratidão a todos.
-
O PIB vai aumentar por causa da Copa
-
O PIB caiu por causa da Copa
-Foi
-
Não foi
-
Foi
-Não
foi
(Obrigado Bandeira!)
|
(Publicado 10/Set/2014)
15 comentários:
Estou transferindo seu blog no meu feed para a seção de comédia! Muito bom!
-rsrrs Não seja por isso - aqui vai uma notícia quentinha-quentinha para as próximas colunas -rsrrs
Da série … Os Amigos-do-Rei: (BNDESão)
Custo dos subsídios do Tesouro ao BNDES soma R$ 79,7 bilhões :: A política do governo de garantir crédito barato para as empresas acarretará custo adicional às contas públicas entre 2012 e 2015. (íntegra)
>>> é o ilícito institucionalizado e legalizado através da política.
Eu sugiro fazer um vídeo-crítica na linguagem desse camarada, Gerald Celente.
Trends Journal TV
Se não 'gostaram' e se sentiram 'odendidos' lendo seus artigos, imagina quando assistirem a um vídeo desses; irão exigir trabalhos forçados na Sibéria... -rsrrs
Sérgio Werlang defendia a política de juros do BC que fosse lenta e gradual.
"Sérgio Werlang defendia a política de juros do BC que fosse lenta e gradual."
E o Flamengo joga contra o florminense no domingo...
Não se preocupe, se eles ganharem pode vir um pior. Alex, só o câmbio, agora, segura a inflação.
Charles.
O Sr já se colocou no lugar do pessoal da FIESP?Eu trabalho na industria e o setor sofre com a concorrência dos chineses,altos impostos,até pouco tempo com o dólar barato.
"O Sr já se colocou no lugar do pessoal da FIESP?"
Tá me estranhando? Eu sou espada...
Uma criticazinha aos todos-poderosos e estrelinhas do FED. Aos 12:40m...
https://www.youtube.com/watch?v=VFKKek5aUTo&index=45&list=UUCs_FjJR8A7rompHCnW0-3g
>>> será que é só aqui que não pode criticar ?
Guido Mantega, verdadeiro banana!
A Argentina recebe a parabenização castrista!
Talvez, um novo experimento e abordagem empírica envolvendo a vida de dezenas de milhões de cidadãos. A vantagem é que a história econômica aponta insucessos inúmeros mas, os economistas e políticos argentinos não sabem; esqueceram a infância.
Renova-se, por decreto, a teoria desenvolvimentista, progressista e 'inflacionista' vintage dos 80's e 90's. Em pleno terceiro milênio.
Back to discos!
Ah ah ah
Adiós, nonino!
Soa muito familiar:
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/09/1517811-argentina-aprova-lei-que-permite-intervencao-do-governo-em-empresas.shtml
Ângelo.
Retratos do Brasil:
1. Os rentistas do estado e ladrões da renda alheia: – Com um total de 87 milhões de pessoas cadastradas (43% da população) em 18 programas, a grande rede de proteção é uma ferramenta invejável na elaboração de políticas sociais, sendo que no período inicial de FHC eram ‘apenas’ 17 milhões de contemplados por programas.
2. A elite economica perdida: Aceitar e perseguir a execução do contrato social da redemocratização, decisão que a sociedade brasileira tomou em 1988, e que foi materializada no texto constitucional, de construir um Estado de Bem-Estar Social padrão europeu continental como que fosse função do Estado patrocinar a felicidade humana.
Como li em outro lugar … Getúlio Vargas é o arquiteto do Brasil que temos. Os poderosos todos descendem dele em linha direta. GV assassinou o projeto do Brasil liberal. Evidente que sob a ordem liberal teríamos hoje uma economia mais forte e com liberdades mais amplas. GV fez do Estado o agente, atrasando. Retirar a névoa socializante que tolda a mente dos brasileiros é tarefa que demandará gerações, se é que será superada.
Se o SR tivesse uma industria que tivesse sofrendo com a concorrência dos importados,o que o SR faria?
"Eu nesse caso nem me mexia" (Noel Rosa)
Essa demissão "na-planta" deve ser um grande alívio pro Guido
Ele continua recebendo salário mas não precisa mais fazer papel de idiota, tipo quando previu que o pib subirá em 2015 por causa das chuvas, a não ser que queira se passar por idiota à toa.
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