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terça-feira, 27 de maio de 2014

“Foruarde” o quê?

Em tempos normais bancos centrais se utilizam das taxas de juros de curto prazo para – dentro do possível – controlar as condições monetárias da economia, estimulando ou moderando a demanda com o objetivo de manter a inflação próxima às metas e a economia operando ao redor do seu potencial.

No entanto, a crise de 2008 forçou as taxas de curto prazo para zero (ou perto disto) em vários países, o que criou uma dificuldade crítica para o manejo da política monetária. Ocorre que taxas nominais de juros não podem, em princípio, se tornar negativas. Não há como convencer um depositante a entregar seus recursos e receber de volta menos do que depositou, já que há uma possibilidade alternativa: manter seus depósitos em dinheiro (ou conta corrente), recebendo zero por eles ao invés de um valor negativo.

Isto implica um limite à atuação tradicional dos BCs, pois, mesmo se a economia continuar fraca e a inflação abaixo da meta, não há como reduzir adicionalmente a taxa de juros de curto prazo. Por conta disto BCs, principalmente nos EUA e no Reino Unido, têm experimentado novos instrumentos de política monetária, por exemplo, a compra de títulos dos seus Tesouros, numa tentativa de reduzir taxas de juros de prazo mais longo e assim dar impulso adicional à demanda.

Dentre os novos instrumentos, chama a atenção o “forward guidance” (“orientação futura”), isto é, o compromisso do BC com dada trajetória da taxa de juros sob determinadas condições. No caso americano o Fed se compromete a manter as taxas de juros nos atuais níveis mesmo se a economia mostrar sinais de crescimento mais acelerado, fenômeno que, em condições normais, o levaria a iniciar um processo de elevação da taxa de juros.

Assim, caso os agentes acreditem no compromisso, as taxas de juros de prazos mais longos permaneceriam abaixo dos níveis que atingiriam na ausência desta promessa, em tese evitando a retirada precoce dos estímulos monetários.

Isto dito, há ainda bastante controvérsia sobre a eficácia deste instrumento, em particular se um BC teria realmente condições de prometer não fazer nada no que diz respeito à política monetária mesmo em face de evidentes pressões inflacionárias. Concretamente, se a inflação voltasse a se acelerar nos EUA (o que, diga-se, não parece ser o caso), será que o Fed conseguiria mesmo cumprir o que prometeu? Se a resposta for não, será que faria sentido para o mercado, hoje, acreditar nesta promessa?

Enfim, trata-se de discussão interessantíssima para economistas, mas, como deve ficar claro, totalmente fora de propósito se aplicada ao nosso atual contexto.

Pelo contrário, a natureza do problema é distinta e, na verdade, não apresenta nenhuma questão teórica mais complicada. A dificuldade que aqui enfrentamos refere-se à incapacidade do BC em trazer a inflação de volta à trajetória de metas, da qual se desviou há cinco anos.

Isto, porém, se resolve com instrumentos tradicionais somados à determinação (ou, se preferirem, à autonomia) do BC. Este último elemento se encontra, contudo, ausente da formulação de política monetária no período mais recente.

Caso o BC quisesse mesmo reduzir a inflação poderia fazê-lo sem precisar se comprometer com qualquer trajetória a priori da taxa de juros; se não o fez nos últimos anos é porque lhe falta determinação (ou autonomia, mas a diferença no presente contexto é irrelevante).

Neste aspecto a única “orientação futura” que se espera do BC não diz respeito à trajetória das taxas de juros, mas sim em que horizonte pretende fazer aquilo que deveria ser sua obrigação: trazer a inflação de volta à meta. Todo o resto é dispensável.


Por outro lado a experiência do nosso BC pode ajudar bastante suas contrapartes ao redor do mundo. No que tange a se comprometer a não fazer nada em face de uma inflação acima da meta e crescente, o Copom certamente tem muito a ensinar.



(Publicado 28/mai/2014)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Paraíso nada perdido

Vivo no paraíso dos colunistas econômicos. Vejam só: na semana passada duas das principais autoridades do governo vieram a público, cometeram afirmações contraditórias e conseguiram a proeza de estarem, ambas, erradas.

Começou com o ministro da Casa Civil admitindo que, sim, o governo controla preços para evitar que a inflação rompa de vez o teto da meta de inflação (6,5%). Justiça seja feita, o ministro não usou a expressão “controle de preços”, mas “administração de preços”, o que, obviamente, seria algo totalmente distinto, exceto por se tratar rigorosamente da mesma coisa.

A tese original do ministro é o “controle anticíclico” dos preços, inexplicada, todavia, talvez pela virtual impossibilidade de justificar a manutenção, por exemplo, de preços de energia baixos quando a demanda cresce à frente da oferta e os riscos de racionamento aumentam. Pelo contrário, como se aprende nos cursos de Introdução à Economia, o papel “anticíclico” dos preços é subir quando a demanda supera a oferta e vice-versa, certamente não o oposto, como defendido pelo ministro.

Já o ministro da Fazenda contestou a afirmação de seu colega, dizendo não haver controle de preços no Brasil. Se um desafiou a lógica, o outro desafiou os fatos. A expressão óbvia deste acontecimento é a inflação de preços administrados pelo governo ficar em patamar inferior à inflação dos preços não c0ntrolados desde março de 2010, mas não é sequer a face mais importante da questão.

A despeito das afirmações ministeriais sobre reajustes recentes de gasolina e mesmo energia elétrica (apesar das promessas de redução de tarifas), qualquer analista minimamente informado sabe que a Petrobras perde dinheiro porque vende combustíveis a preço inferior a que os compra no mercado internacional. Não se trata, aliás, apenas do custo de oportunidade, que continuaria uma preocupação válida ainda que o país fosse (como não é) autossuficiente em combustíveis; é perda de caixa na veia, o que tem levado a um aumento expressivo do endividamento da companhia.

Fosse o ministro membro do conselho de administração da empresa, ele saberia, creio, dos problemas que isto causa. Opa; parece que ele é... Será que não explicam também estas coisas no conselho de administração da Petrobras?

Analistas minimamente informados poderiam alertá-lo também que as empresas distribuidoras de energia passam pelo mesmo problema, ao serem obrigadas, por mais uma barbeiragem de política, a comprar energia no mercado à vista por preços muito superiores ao que vendem.

É segredo de polichinelo que as tarifas de energia têm que aumentar, sob pena de quebrar o setor, ou aumentar ainda mais o custo do Tesouro Nacional, mas que este aumento não poderá ser realizado este ano para não estourar o teto da meta, ainda mais no período eleitoral. É possível – se bem que não esteja 100% certo, confesso – que até o ministro da Fazenda consiga entender o problema, ainda que não tenha a coragem de expô-lo em público, muito menos de encaminhar uma solução.

É reveladora a paralisia administrativa do governo, que se recusa tenazmente a lidar com qualquer dificuldade, por mais urgente que possa ser, com receio das consequências eleitorais de políticas corretivas, seja no campo da inflação, dos preços controlados – perdão, “administrados”! –, ou ainda dos gastos públicos.

Com a cabeça devidamente enterrada, o governo empurra todas as decisões relevantes com a barriga, na esperança que os problemas se resolvam sozinhos. Enquanto a realidade se recusa a colaborar, ministros batem cabeças com gosto.


Por mais que meu lado economista torça pelo predomínio da racionalidade, tenho que admitir que minha tarefa de escrever uma coluna por semana se torna muito mais fácil graças à (falta de) qualidade da gestão econômica governamental. Meus sinceros agradecimentos pela criação deste paraíso.



(Publicado 21/Mai/2014)

O avesso do avesso

Aí vem uma pessoa e diz que a inflação vai ser 3%, que a meta de inflação é 3%. Ah, é? Faz uma meta de inflação de 3%. Sabe o que ela significa? Desemprego. Em que proporção? Lá pelos 8,5%, 9%, 10%, 11%, 12%. Por aí.” O português pedestre já tornaria desnecessária a identificação do personagem responsável pelo enunciado acima, mas, tivesse sido expresso pelo próprio Camões, o conteúdo (ou melhor, a falta de) não deixaria dúvida que a autora do descalabro não poderia ser ninguém menos que a presidente da República.

Em que pese o diploma de economista (sem mestrado ou doutorado, bem entendido), a fala revela desconhecimento abissal dos fundamentos da profissão, como se os últimos 46 anos de teoria e prática macroeconômica simplesmente não tivessem existido.

Havia, de fato, ali pelos anos 60 a crença de uma troca estável entre inflação e desemprego expressa, entre outros, por economistas do calibre de Paul Samuelson e Robert Solow, ambos mais tarde agraciados com o Nobel de Economia (por contribuições em outras áreas). No caso, inflação mais baixa implicaria, em qualquer circunstância, desemprego mais alto e vice-versa.

No entanto, trabalhos posteriores, começando por Milton Friedman e Edmund Phelps ainda em 1968, revelaram as bases frágeis desta construção, antecipando a possibilidade da convivência de elevadas taxas de desemprego e inflação, que se tornou uma triste realidade poucos anos depois, um raro exemplo da teoria econômica à frente dos fatos.

A descoberta fundamental destes economistas foi o papel das expectativas de inflação na formação de preços e salários. Em particular, caso um governo tente persistentemente reduzir o desemprego permitindo inflação mais elevada, tanto trabalhadores como empresas passarão a incluir em suas decisões de salários e preços um adicional que reflita a inflação esperada ao longo do horizonte em que os preços estão contratados.

Concretamente, se trabalhadores têm que conviver com um salário fixo nos próximos 12 meses, o reajuste hoje deve ser tanto mais alto quanto maior for a inflação esperada neste período, de modo a preservar o poder de compra dos salários. Assim, em prazo mais longo, quando expectativas e realidade se aproximam, não é possível trocar mais inflação por menos desemprego.

Obviamente, não se sabe com certeza qual será a inflação futura, mas, se há um compromisso do BC em termos de manter a inflação flutuando próxima a determinada meta, o natural é que as expectativas acabem por convergir para este valor, processo que chamamos de “ancoragem”, crucial para o sucesso deste tipo de regime.

Não se trata de milagre, mas depende essencialmente do comprometimento do BC com a meta, que, diga-se, não se mede com palavras. Independente das juras de fidelidade que se faça à meta, o que ancora as expectativas é a ação da autoridade monetária.

Ao elevar a taxa de juros quando a inflação se desvia para cima da meta (e baixá-la em caso contrário), o BC consegue estabilizar expectativas, como mostrado pela experiência internacional e mesmo a brasileira de pouco anos atrás, sob, é claro, administração bem diferente da atual.

Assim, caso a política monetária seja bem administrada, as expectativas tendem a convergir para a meta e não há necessidade de grandes flutuações na taxa de desemprego para manter a inflação ao redor daquele valor. Pelo contrário, neste cenário o desemprego também tende a se manter ao redor do nível consistente com a meta, independente de esta ser 3%, 5% ou 8%.


Ao contrário, portanto, da crença presidencial, a redução da meta de inflação não requer aumento de desemprego (a propósito: de onde veio o número de 12% de desemprego para reduzir a inflação a 3%? Puro chute!). Requer, porém um BC autônomo e comprometido com seu objetivo, o oposto do observado no Brasil dos últimos anos, em particular sob o comando da presidente.



(Publicado 14/Mai/2014)

Lançamento do livro no Rio de Janeiro - quarta, 21/mai

No dia 21/maio, quarta-feira, a partir das 18:30, Fabio Giambiagi e eu participaremos do lançamento de nosso livro Complacência, publicado pela Campus-Elsevier Editora, na Livraria da Travessa em Ipanema (Av. Visconde de Pirajá, 572), com prefácio de Eduardo Loyo, orelha de William Waack e contracapa de Fábio Barbosa. Será um prazer, assim como uma honra, recebê-los.

Esperamos vocês lá.
Abraço forte,
Alex
 



terça-feira, 6 de maio de 2014

Saudades de 2014

Estima-se que o “pacote do desconforto eleitoral” anunciado pela presidente na semana passada custe algo entre R$ 8,5 e R$ 9,0 bilhões em 2015. Trata-se, é claro, de sinal de irresponsabilidade fiscal, mas, medido relativamente ao valor esperado do produto para o ano que vem, é algo como 0,2% do PIB. Ruim, mas dificilmente a gota d’água que faria transbordar o pote até aqui de mágoa em que se transformaram as contas fiscais brasileiras.

É, na verdade, café pequeno perto dos desafios que esperam qualquer um que se sente na cadeira presidencial no dia 1º de janeiro de 2015.

Para começar o valor real do superávit primário do país – deduzida a contabilidade criativa, receitas não recorrentes, etc. – não deve alcançar 1% do PIB em 2014, provavelmente bem menos. Idealmente deveríamos retornar aos patamares que vigoravam antes de 2009, em torno de 3% do PIB, mas não é necessário muito esforço para perceber que se trata de uma impossibilidade tanto política quanto econômica, em face da já conhecida rigidez do orçamento nacional e das regras de reajuste de salário mínimo.

Há, em segundo lugar, a questão a cada dia mais premente da inflação reprimida. Preços de combustíveis, energia, transportes urbanos, para ficar apenas nos mais visíveis, terão que ser corrigidos a partir de 2015. Resta saber se à vista (conforme recomendado) ou em suaves prestações (no caso colaborando para manter as expectativas inflacionárias devidamente inflamadas), mas não há como escapar dos reajustes sob pena de agravamento das condições financeiras nada confortáveis da Petrobras, bem como das distribuidoras de energia.

E, apesar da repressão dos preços administrados, a inflação corre sério risco de ultrapassar o teto da meta no fechamento de 2014, o que provavelmente forçará o BC (constrangido, claro) a retomar o processo de aperto monetário que, por ora, ameaça interromper sob a argumentação que... Bom, na verdade, sem argumentação alguma, além do fato óbvio de ser ele quem determina as taxas de juros de curto prazo.

Por fim, a se materializar o cenário em que o Federal Reserve começaria a elevar a taxa de juros em algum momento de 2015, o BC também teria que abrir mão da maciça intervenção sobre a taxa de câmbio e permitir que esta se ajuste a condições internacionais bastante distantes das que vigoraram até há pouco.

Note-se que os itens desta agenda dizem respeito apenas à questão da recuperação da estabilidade perdida, isto é, trazer a inflação de volta à meta em prazo razoável, eliminar os demais desequilíbrios macroeconômicos e corrigir as imensas barbeiragens setoriais cometidas nos últimos anos.

Há, além desta, uma agenda adicional, com foco em questões como produtividade, liberalização, redução de entraves burocráticos, avanço na infraestrutura, etc., sem a qual continuaremos limitados ao crescimento medíocre, na casa de 2% ao ano, observado recentemente.

O tamanho do esforço requerido para recuperar a estabilidade e nossa capacidade de crescimento sustentável é proporcional ao peso da verdadeira herança maldita, resultado de anos de políticas econômicas equivocadas, cujos efeitos transparecem no crescimento irrisório, inflação persistentemente acima da meta (4,5%, não 6,5%!), desequilíbrios crescentes das contas externas, desarrumação do setor energético, baixo investimento e as demais (in)consequências do experimento heterodoxo a que o país foi submetido.

Quem fizer a coisa certa ainda terá que conviver inicialmente com inflação alta e crescimento baixo, preparando o terreno para recuperação da estabilidade e do crescimento à frente. Caso, porém, não seja feita, o tamanho da conta continuará a crescer, como faz ininterruptamente desde 2010.


Tudo indica que 2015 será um ano que dará saudades de 2014; mas que seja por bons motivos, senão em 2016 nossa saudade será ainda maior.



(Publicado 7/mai/2014)

Por atrocidades novas

Juro que tento achar temas diferentes para escrever a cada semana, mas o esforço do governo, em particular do Ministério de Fazenda, na geração de atrocidades me obriga a voltar a temas que já deveriam estar devidamente relegados ao longínquo cemitério das ideias cretinas. Fossem ao menos atrocidades novas...

Refiro-me, é claro, à proposta de “técnicos do governo”, caracteristicamente não identificados, de retirar do cálculo da inflação os preços dos alimentos in natura em face de “frequentes choques”, identificados como o motivo por trás do desvio da inflação com relação à meta. A sugestão, como de hábito, está tão repleta de erros que parece ser feita de encomenda para ilustrar o problema, na (vã) esperança que parem de vez com esta tolice.

Inflação, bem sabemos, é o aumento persistente do nível geral de preços. A definição é precisa, mas sua contrapartida empírica nem tanto. Do ponto de vista teórico quando nos referimos ao “nível geral de preços” temos em mente um mundo platônico em que há apenas um produto (conhecido como “PIB”), cujo preço pode ser facilmente medido e cuja evolução nos daria a taxa de inflação a cada período.

No mundo real, pleno de som e fúria, há múltiplos produtos, o que torna a análise bem mais complexa. Para simplificá-la determinamos uma cesta de bens e serviços consumidos por uma família média (arroz, escola, dentista, aluguel, gasolina, etc), conforme estabelecido pela pesquisa periódica dos orçamentos familiares. A inflação é então definida como a média ponderada da variação de preços de cada produto na cesta, o que deve ficar claro com um exemplo simples.

Imagine que a cesta consista de apenas 3 produtos: alimentos, com peso 25%, serviços públicos, com peso 35%, e outros produtos com peso 40%. Suponha também que o preço de alimentos aumente 2,5% em dado mês, enquanto as tarifas de serviços públicos permanecem constantes e demais produtos registram aumento de 0,9%. Neste caso a medida de inflação seria 1,0% (0,25*2,5% + 0,35*0% + 0,40*0,9%).

Na prática o indicador oficial, o IPCA, engloba 373 produtos, mas o princípio é o mesmo. A cada mês, portanto, há produtos que aumentam mais do que a média (“pressionando” a inflação) e, óbvio, os que variam menos do que a média.

Destacar, assim, apenas os produtos cujos preços mais cresceram sem atentar para os que menos cresceram é, na melhor das hipóteses, uma visão desequilibrada e, na pior, desonesta, da manifestação do fenômeno inflacionário.

No caso em questão os preços de alimentos consumidos no domicílio aumentaram bastante: 5,6% nos 12 meses até março. Por outro lado, os preços administrados pelo governo subiram bem menos: apenas 3,4%, refletindo o corte das tarifas de energia, o congelamento das passagens de ônibus, bem como a defasagem dos preços de combustíveis.

Descontados, porém, os efeitos de alimentos e tarifas no IPCA (6,1% no mesmo período) descobre-se que a inflação dos demais produtos atingiu nada menos do que 7,4%! Mesmo se descontássemos apenas os alimentos consumidos no domicílio a inflação de tudo que não é alimento teria atingido 6,3%, também mais alta que a oficial.

Não há, pois, como afirmar que a inflação brasileira “resulta” dos preços de alimentos. Ela reflete pressões generalizadas que não se concentram num punhado de produtos, mas se espalham por uma gama extensa de bens e serviços muito além dos alimentos in natura.

Assim, ignorar os preços de alimentos em nome de uma medida “mais realista” da inflação, além de deixar de lado parcela relevante dos bens consumidos pela população, em particular as camadas de renda menor, teria como resultado mostrar uma taxa de inflação ainda mais elevada (e, diga-se de passagem, provavelmente mais verdadeira).

Parece, portanto, que os formuladores da ideia sequer se deram ao trabalho de fazer contas. Alguém ainda se surpreende com isto?


(Publicado 30/abr/2014)

Consagração

Marcelo Madureira recomenda "Complacência"