Enquanto esperamos pelos
dados oficiais das contas nacionais, que serão divulgados pelo IBGE no começo
de março, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) sugere uma
aceleração visível da economia no final de 2017.
Segundo o IBC-Br a
atividade cresceu 1,3% no último trimestre do ano passado, seu quarto (e mais
forte) trimestre consecutivo de crescimento, sinal que a recuperação da
economia vem se firmando com o passar do tempo.
Isto ainda não nos
permite dizer com certeza o ritmo de expansão do PIB naquele momento, pois, sobretudo
no que diz respeito aos dados trimestrais, não há uma relação tão precisa entre
os dois indicadores. No entanto, dada a força do IBC-Br no quarto trimestre,
não seria surpreendente que o PIB também tenha crescido um pouco mais de 1% no
mesmo período. Isto, se verdadeiro, não apenas traria o crescimento de 2017
para a casa de 1,2%, mas também (e principalmente) indicaria uma expansão na casa
de 3,0% para 2018, talvez até um pouco mais.
Em que pese a
divergência natural entre os números do IBC-Br e do PIB, o padrão de expansão
ao longo de 2017 foi bastante similar: seguindo-se ao primeiro trimestre
bastante forte, por conta da agricultura, a produção se expandiu a um ritmo
mais modesto nos trimestres posteriores, mas voltou a se acelerar no final do ano.
Isto também é visível
nos dados de produção industrial (mais) e serviços (menos), indicando que
aceleração recente não parece ser um fenômeno localizado, como ocorrido no
começo do ano passado, mas sim difundido, com repercussão inclusive sobre o
emprego, expressa na adição de pouco mais de 3 milhões de postos de trabalho
entre março e dezembro (2 milhões em termos dessazonalizados).
No conjunto da obra,
portanto, é nítido que a economia voltou a crescer, ao que parece a uma
velocidade média ao redor de 0,8% por trimestre, ou seja, na casa de 3,3% ao
ano desde o trimestre final de 2016, o décimo primeiro (e último) da Grande
Recessão de 2014.
Tal ritmo, de acordo
com nossas estimativas, supera o crescimento potencial do país, ou seja, deve
fazer com que a taxa de desemprego (dessazonalizada) siga a trajetória
decrescente observada desde o primeiro trimestre de 2017. Apesar disto, como o
desemprego ainda é alto, isso não deve gerar tensões inflacionárias ao longo de
2018, e, possivelmente, também no começo de 2019.
Por conta disso, é
pouco provável que o BC venha a subir a Selic neste ano depois dos mínimos históricos
agora registrados, desenvolvimento que, diga-se, contraria a “narrativa”
(sempre ela!) de que o impedimento da presidente Dilma teria como objetivo
manter os juros altos...
Todavia, se as
perspectivas de curto prazo têm melhorado, há muitos e bons motivos para
preocupação quando se tenta elevar a vista para um horizonte mais distante.
Em particular, a desistência
de aprovar a reforma previdenciária (não exatamente uma surpresa) sinaliza
maiores responsabilidades para quem for eleito este ano. Caso esta reforma (e
outras) não avancem, o cenário razoavelmente positivo para 2018 dificilmente
será sustentado em 2019 e 2020, quando o peso de previdência se fará se sentir
ainda mais nas contas públicas.
Aproveitemos, pois, o
momento, mas saibam que o principal ainda está por ser feito.
(Publicado 21/Fev/2018)