Tenho
evitado fazer previsões de taxas de juros nas minhas colunas, ao contrário do
que ocorre em minha atividade como consultor, onde a maior parte do meu tempo é
dedicada à tarefa de tentar adivinhar os resultados das reuniões do Copom, como
a de hoje. Em parte esta postura reflete um anseio pessoal de sair um pouco
desta discussão para tratar de outros temas; por outro lado resulta também das
dificuldades crescentes de entender o processo decisório do BC.
Para
ser sincero, isto nunca foi fácil, mas, durante muito tempo era ao menos
possível acertar a direção do movimento, embora nem sempre sua magnitude. Um tanto
pela vivência, é claro, mas principalmente porque não era necessário nenhum
grande salto de imaginação para entender o que o BC pretendia: manter a
inflação flutuando ao redor da sua meta.
De
dois anos para cá, porém, quem quer que tenha tentado usar esta informação deve
ter ficado (como eu) particularmente frustrado. Mesmo agora que o Copom
embarcou num tardio e, aparentemente, modesto processo de aperto monetário, a
dificuldade de entender o que pretende o BC (ou o governo que nele manda) tem
obrigado a exercícios de adivinhação cada vez menos distantes do exame das entranhas
dos animais sacrificados, ou do voo dos pássaros.
No
caso, minha particular intepretação das vísceras do cordeiro imolado anteontem
sugere que o BC deverá acelerar o passo do aumento da Selic, dos 0,25% adotados
na última reunião, para 0,50% agora. Segundo as entranhas, o mercado tem
mandado recados contundentes à autoridade monetária, a começar pelo
comportamento das taxas de juros.
De
fato, entre a véspera da reunião de abril (onde a aposta frustrada do mercado
era de um aumento de 0,50%) e a última sexta feira, as taxas de juros para
prazos mais curtos caíram levemente. Já as taxas para prazos mais longo (3 ou 4
anos à frente) subiram de forma visível. Isto poderia parecer uma contradição, em
vista da decisão do BC por um aperto mais moderado do que o antecipado, mas um
olhar mais detalhado revela não ser o caso.
Este
comportamento – estabilidade das taxas curtas e aumento das taxas longas –
tipicamente reflete um aumento das preocupações com a trajetória da inflação.
Se
formos considerar a previsão dos economistas, coletada pelo BC e divulgada
semanalmente pelo relatório Focus, houve mesmo um aumento das
expectativas de inflação, tanto para este ano como para o próximo, mas não é a
este sinal que me refiro.
O
sinal mais preocupante vem do próprio mercado de juros, onde as apostas acerca
da evolução da inflação pioraram visivelmente no período acima referido,
notando que, no caso, o custo da aposta errada não é o ego machucado como no
caso das projeções do Focus, mas perda financeira, o que
gera um incentivo poderoso à melhor previsão possível.
Em
particular, o aumento das taxas de juros mais longas desde então pode ser quase
que integralmente atribuído à piora da inflação esperada anos à frente, que,
por sua vez não pode resultar de qualquer choque de curto prazo, mas sim da
percepção de um BC cada vez menos comprometido com a meta de inflação.
Mantendo
a escrita, em sua última reunião o Copom não perdeu a oportunidade de perder
uma excelente oportunidade para começar de forma mais decidida o processo de
aperto monetário, ainda mais porque o mercado já incorporava à época um aumento
de meio ponto percentual (embora, diga-se, o voo dos pássaros, corretamente
interpretado na ocasião, houvesse me sugerido 0,25%). A aceleração agora
ajudaria a corrigir o erro do mês passado, na prática a principal razão para minha
aposta.
Isto,
porém, é café pequeno. Qualquer que seja a decisão, a mensagem mais importante
é que dificilmente o BC tomará as medidas necessárias para trazer a inflação de
volta à meta. As entranhas neste caso apenas confirmam o que o Copom tem feito
nos últimos anos.
A sagrada arte da previsão
econômica
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(Publicado 29/mai/2013)