teste

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Uma pergunta (ou várias)

"Pergunta de um estudante de 2ndo periodo (pra vc angariar toda a paciencia possivel)

1. Pode colocar links pra evidencias da existencia das expectativas racionais ? Realmente gostaria de ver. Afinal, mesmo no anúncio do Nobel pro Lucas, elas sao tratadas como "hipotese". A mim nao parecem mais que isso. Com todo respeito, me soam como crença de economista (nao, nao sou partidário do Lucrecio, me considero um novo-keynesiano, tbm) e como uma hipotese altamente questionavel. Afinal, pressupor que a massa conjetura sobre a inflação de um periodo futuro, ainda que de modo "inconsciente", é bem forçado. Alem disso, a ideia do Keynes que os trabalhadores nao respondem prontamente a variaçoes no salário real e sim às do salário nominal é bem plausivel, e ela vai de encontro às expectativas racionais (nao, nao jogaram esse pensamento na minha cabeça na UFRJ, é meu).

2. Ando lendo Friedman. No momento o artigo "Role of the monetary policy". MTOS argumentos sao baseados nas construções de expectativas. Essas expectativas sao exatamente nos mesmos moldes das do Lucas?

3. Expectativas racionais estao sujeitas a erro ? "A idéia das expectativas racionais freqüentemente é parodiada com a afirmação de que as pessoas podem fazer previsões exatas. Não é bem assim" (tirei do Cofecon, n sei se é boa fonte mas foi por acaso) ou "Isso (as expectativas racionais) não apenas pressupoe que os agentes economicos formulem as suas previsoes com o socorro de um econometrista, mas que nao haja divergencia entre os econometristas..." (Simonsen)
Qual das 2 afirmaçõs vale ?

Ficaria mto grato c uma resp.
Abraços,

JA (2ndo periodo Economia UFRJ)"

JA:

Boas perguntas. Começo pelas últimas, porque a primeira é mais difícil.

Não, as expectativas do Friedman não são as mesmas do Lucas. Embora Friedman tenha chamado a atenção para a instabilidade da curva de Phillips (só isto renderia um post gigantesco), isto é, que a curva de Phillips se desloca com o nível de expectativas, ele não modelou expectativas da mesma forma. No trabalho do Friedman a hipótese é que os agentes formam expectativas de forma adaptativa, isto é, a partir da correção dos erros passados. Assim, se e(x) é a expectativa adaptativa acerca da variável x, ela evoluiria de acordo com:

e(x) = x(-1) + b[x(-1) – e(x(-1))]; b<1

Isto é, a expectativa hoje seria o dado passado mais um termo que corrigiria o erro passado (ou seja, uma média ponderada entre a observação passada e a variável defasada). No caso particular b=0 a expectativa hoje seria a variável ontem.

O problema com esta formulação é que ela é puramente mecânica. Não há papel para aprendizado e não há lugar para agentes que tentam prever o futuro usando toda a informação disponível. Em particular, sob expectativas adaptativas agentes podem cometer erros sistemáticos (em linguagem econométrica, há autocorrelação de resíduos). Tal autocorrelação implica a existência de informação que não está sendo eficientemente usada.

Não que sob a hipótese de ER não haja erros (há modelos que usam a hipótese de previsão perfeita, um caso extremo de ER, mas o caso geral não é previsão perfeita). Agentes podem errar previsões e muito provavelmente o farão. O que a hipótese de ER requer é que os erros não sejam serialmente correlacionados e que a previsão seja não correlacionada ao erro de previsão (isto é, E[x(t)u(t)]=0).

Esta propriedade já sugere uma forma de testar a hipótese de ER, desde que possamos observar as expectativas. No caso do Brasil temos o Focus. Eu nunca fiz um teste, mas me lembro de um relatório do Pastore em que ele rejeita a hipótese de ER para o Focus. Ainda assim, mesmo que as expectativas do Focus não sejam racionais, nada sabemos acerca das expectativas formuladas por agentes que tomam decisões (o gerente de vendas que tem que decidir o preço que valerá pelos próximos 12 meses, por exemplo).

A verdade é que o requerimento de racionalidade embutido na ER parece excessivo. Não só pela ortogonalidade do erro, mas também a hipótese dos agentes conhecerem o modelo. Os velhos keynesianos (Solow, Tobin, o próprio Samuelson) não tinham especial apreço por ER. Alguns monetaristas das antigas também não eram grandes fãs (o Karl Brunner, por exemplo). O problema (pelo menos como eu entendo) é que temos que incluir expectativas nos modelos econômicos e as hipóteses alternativas não são melhores que ER (são, acredito, piores).

Não parece correto supor que as pessoas formam expectativas com base na extrapolação mecânica do passado, sem papel para aprendizado ou para a formação de expectativas com base em toda informação disponível. Papaguear que o futuro é incerto (no sentido Knighteano do termo) e que, portanto, os agentes não têm como formar expectativas também não vai nos levar longe (sei que há trabalho em probabilidades sub-aditivas que tenta modelar expectativas neste contexto, mas não o conheço, sequer superficialmente, e a matemática é pesada).

Na falta de uma abordagem melhor, o que sobra é usar ER (o paralelo com a frase do Churchill sobre a democracia é óbvio). É uma forma simples de introduzir expectativas e metodologicamente tem uma consequência que eu particularmente aprecio: impõe que os agentes não sejam menos inteligentes que o autor do modelo, uma disciplina importante para a modelagem.

Isto dito, é importante notar que a hipótese de ER, embora tenha sido inicialmente associada à proposição de neutralidade da moeda (ou, de acordo com outras versões, com a proposição de que a política monetária não pode estabilizar o produto), não é, na verdade, a hipótese crucial para a obtenção destes resultados. Em modelos de preços rígidos (sticky prices), mesmo com ER, tanto a não-neutralidade da moeda como o papel da política monetária na estabilização do produto sobrevivem (toda abordagem novo-keynesiana, por exemplo). Assim, se há 30 anos muita gente ainda resistia à hipótese de ER, hoje a maioria dos economistas a incorpora.

Por fim, mesmo que não se possa (ou seja muito difícil) testar diretamente a hipótese de ER, é ainda possível testar as conclusões dos modelos que se utilizam desta hipótese. Assim, se as proposições testáveis do modelo sobrevivem ao teste empírico, a despeito de hipóteses irrealistas, o modelo segue como verdade provisória (até ser rejeitado, ou superado por outro modelo). Caso não sobrevivam, propõe-se um novo modelo (talvez sem ER, talvez sem outra hipótese, talvez incorporando algo que tenha ficado de fora na formulação original) e continuamos testando. É assim que funciona.

Ajudou?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ésquilo, Sófocles e a meta de inflação

Mais uma vez aproxima-se o momento de definição da meta de inflação (no caso para 2011) e, como de hábito, os argumentos equivocados contra sua redução já começam a aparecer. Os suspeitos de sempre se opõem à meta menor alegando que a busca por um patamar mais baixo de inflação imporia limites à queda das taxas de juros. Lembram, ademais, que a política monetária do segundo semestre do próximo ano – precisamente o período eleitoral – já será calibrada com base na meta para 2011, elevando os riscos de juros maiores num momento politicamente delicado.

Este problema, porém, é falso. Fosse verdadeiro, os mesmos que defendem que uma meta mais baixa de inflação implicaria juros maiores deveriam também concluir que uma meta mais alta possibilitaria uma redução mais pronunciada da taxa de juros. Mas, se acreditam nisto, parecem manter silêncio obsequioso a respeito. O que é positivo, diga-se, pois se trata de uma visão muito errada.

Para entender o porquê imagine que seja anunciada uma meta de inflação mais elevada, digamos, 8%. Neste caso, sabendo que o Banco Central teria que acelerar a inflação relativamente aos níveis atuais, a população não iria ficar passiva; pelo contrário, revisaria para cima suas expectativas e, com elas, a inflação.

Delírios de economista? Não. Peço ao leitor que observe no gráfico a evolução das expectativas de inflação para 2009, estimadas a partir do comportamento das taxas nominais e reais de juros dos títulos públicos federais no período anterior e posterior à definição da meta de inflação para este ano, que ocorreu em meados de 2007. Antes da escolha (o ponto zero no eixo horizontal) as expectativas relativas a 2009 se encontravam em níveis bastante reduzidos, convergindo para patamares próximos a 4% quando este valor foi ventilado como a possível meta. Após a decisão de manter a meta em 4,5% as expectativas se ajustaram, não por coincidência, em torno deste mesmo valor.

Vale dizer, a escolha de uma meta de inflação acima das expectativas correntes não foi (nem é) capaz de ganhar qualquer espaço adicional para a redução da taxa de juros. Apenas convidou ao ajuste para cima das expectativas, convite este prontamente aceito.

Será que teríamos uma reação assimétrica no caso de uma redução da meta, isto é, expectativas não se ajustando para baixo? Dificilmente, à luz da conquista de credibilidade pelo Banco Central. Mais importante, todavia, é que as expectativas de inflação relativas a 2011 já se encontram em valores inferiores a 4,5%, como mostra a segunda linha no gráfico. Não haveria sequer a necessidade de convencer os formadores de expectativas daquilo em que já acreditam.

Enquanto nas tragédias gregas é a tentativa de fugir do destino que leva à fatalidade, na versão local é a insistência em buscar metas “fáceis”, fixando-as acima das expectativas, que acaba levando à sua deterioração. Não devemos, portanto, nos surpreender quando as expectativas de inflação relativas a 2011 começarem a subir. Há quem nunca perca a chance de perder uma oportunidade.




(Publicado 27/Mai/2009)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A gentileza de estranhos

Há certo consenso que o Brasil estará entre primeiras economias que se recuperarão do forte choque externo. Em que pese o impacto negativo da queda das exportações, a verdade é que, em contraste com episódios anteriores, a crise internacional não se traduziu em contrapartida doméstica. Não vivemos uma crise fiscal, nem uma crise financeira, nem, por fim, uma crise do balanço de pagamentos, graças às políticas responsáveis adotadas antes do colapso global.

Já examinei aqui o papel central da mudança do perfil da dívida pública. Por conta da acumulação de reservas e da atuação do BC no mercado de derivativos, a dívida deixou de ser majoritariamente denominada em moeda estrangeira; ao contrário, o governo se tornou credor líquido em dólares, de modo que a depreciação da moeda reduziu a dívida pública, aliviando, ao invés de agravar, a situação fiscal.

Um fenômeno semelhante – a mudança do endividamento para o investimento direto – se passou no campo do financiamento externo da economia, também colaborando para a estabilidade do país face à crise e, portanto, para as condições de retomada à frente. Entre 2003 e 2008 o ingresso de investimento direto estrangeiro atingiu pouco mais de US$ 140 bilhões, enquanto o investimento brasileiro no exterior ficou pouco aquém de US$ 75 bilhões. Nesse mesmo período a dívida externa, líquida de reservas, caiu US$ 145 bilhões.

A contrapartida desta mudança ficou aparente na evolução da conta corrente, em particular no que se refere ao serviço do capital estrangeiro. O pagamento de juros caiu à metade do que era, mas o pagamento de dividendos, pouco superior a US$ 5 bilhões/ano entre 2001 e 2003, chegou a quase US$ 34 bilhões no ano passado.

Poderia parecer um mau negócio, pois o retorno do investimento é, pelas razões examinadas abaixo, geralmente superior ao custo da dívida. Há, porém, motivo para crer que, ao final da história, foi uma boa escolha, dadas duas diferenças cruciais entre juros e dividendos.

Em primeiro lugar, o pagamento de dividendos se move em linha com o desempenho econômico: em bons anos paga-se mais, mas nos anos ruins, quando os lucros encolhem, os montantes caem. Em contraste, o pagamento de juros tipicamente não se altera com o estado da economia. Faça chuva ou faça sol, o pagamento é devido, o que, em épocas de vacas magras, pode se tornar um problema, como, aliás, a história revela.

Além disso, o pagamento de juros é usualmente denominado em moeda estrangeira, enquanto os dividendos são calculados sobre lucros gerados em moeda doméstica. Assim, a depreciação da moeda não altera o montante de juros devidos (em dólares), embora reduza o pagamento de dividendos.

Assim, no primeiro trimestre deste ano o déficit em conta corrente encolheu cerca de US$ 6 bilhões na comparação com o mesmo período em 2008. Destes, US$ 5 bilhões são devidos à menor remessa de dividendos, refletindo tanto a reversão cíclica como a desvalorização da moeda. Em outras palavras, quase 90% do ajuste externo se deu à custa do investidor estrangeiro, dentro, é bom dizer, das regras do jogo.

Vale notar que esta mudança no padrão de financiamento não ocorreu por acaso, mas resulta também de decisões de política, como, por exemplo, as medidas de liberalização na área cambial e de capitais, pois não há quem coloque recursos onde existam riscos de não poder retirá-los. Continuamos, pois, a colher os frutos das políticas “ortodoxas” ao mesmo tempo em que flertamos com seu abandono. O que restará para colher nos próximos anos?

(Publicado 13/Mai/2009)

terça-feira, 5 de maio de 2009



INFLATION OR DEFLATION?
By Merle Hazard

As we go through this recession
As farther down we slip
Will our central bank get traction soon, or
Will it lose its grip?

It’s a mini-Great Depression
Our markets went berserk
The Fed is printing trillions now, but
Will their efforts work?

Inflation or deflation?
Tell me, if you can
Will we be Zimbabwe
Or will we be Japan?

Credit markets came undone
And still are in distress
Will the dollars in my mattress
Buy much more next year or less?

It’s a desperate situation
When you’re at the zero bound
If a tree falls in a forest,
Is it making any sound?

New money makes inflation
If folks who have it spend
But if it only sits there,
Then the misery will not end

Inflation or deflation?
The choice is looking grim
I wonder what John Maynard Keynes would say
If we asked him

Inflation or deflation?
Tell me, if you can
Will we be Zimbabwe
Or will we be Japan?