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domingo, 29 de junho de 2014

Painel Globo News (Argentina)

Debate sobre a questão recente da dívida argentina com Zeina Latiz e Alberto Pfeiffer.

Link aqui.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Desviei, mas não fui eu...

Que a “contabilidade criativa” é a principal contribuição da atual equipe econômica para o progresso do país não resta a menor dúvida, mas seria injusto desconsiderar demais exemplos de criatividade no setor, em particular o esforço hercúleo do Banco Central em explicar porque – a despeito de todas suas promessas – não conseguiu entregar a inflação na meta nos últimos 4 anos; e não deverá fazê-lo nem este ano, nem em 2015.

Tempos atrás, o problema viria dos preços dos alimentos (era o “feijãozinho”, depois substituído pelo tomate). Confrontada, porém, com medidas de inflação que mostravam aceleração mesmo desconsiderando preços de alimentos, assim como aumento persistente dos preços dos serviços, a desculpa mudou. O problema passou a ser a “resistência da inflação” resultante de “mecanismos regulares e quase automáticos de reajuste (...) que contribuem para prolongar (...) pressões inflacionárias”.

Na última ata do Copom, porém, a criatividade do BC atingiu novos patamares. Segundo o documento há “dois importantes processos de ajustes de preços relativos ora em curso na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres”.

Trocando em miúdos, trata-se do impacto da desvalorização do real (durante bom tempo, diga-se, perseguida com afinco pelo próprio BC) por um lado e, por outro, a necessidade de corrigir preços que ficaram defasados por conta das medidas recentes de controles, notadamente (mas não apenas) energia e combustíveis.

De fato, em entrevista a um órgão oficial de imprensa, uma “fonte (também) oficial” (cuja linguagem próxima da ata não deixava dúvida quanto a ser um diretor do BC) afirmou candidamente que “as projeções para 2015 estão bastante sensibilizadas pela questão dos preços administrados” e que “se a inflação de preços administrados neste ano fosse de 1,5%, perto do ano passado, em vez dos 5% esperados, a inflação ficaria 1 ponto percentual menor”.

A declaração é merecedora do Prêmio Nobel da Obviedade, mas, além disto, reflete a nova desculpa: a inflação não cai por conta dos preços administrados, os mesmos que – sujeitos ao controle governamental – têm sido a principal estratégia (equivocada, claro) de combate à alta do índice de preços.

É curioso, mas a “fonte oficial” não parece ter percebido que seu mesmo argumento poderia ter sido exposto como “se a inflação de preços administrados tivesse sido de 5% em 2013 (para evitar as distorções causadas pelo controle destas tarifas), a inflação do ano passado teria sido 1 ponto percentual maior (isto é, 6,94%) e perderíamos inclusive o teto da meta”.

Na prática a afirmação equivale a reconhecer que a política monetária tem sido inadequada para conter as pressões inflacionárias disseminadas observadas ao menos desde 2012, dependendo de “puxadinhos” como controle de preços. Significa também que o BC, supostamente o responsável pela estabilidade do poder de compra da moeda, abandonou esta função há tempos.

Francamente não saberia dizer se tal postura reflete convicções da diretoria do BC, ou apenas subserviência ao governo de plantão (ou ainda uma mistura das duas), mas a esta altura do campeonato a distinção é acadêmica. O (triste) fato é que não há ninguém cuidando da inflação, que cresce, saudável e indômita, como há tempos não se via. E, diga-se também, esta postura frouxa não impediu o crescimento anêmico, que não deverá chegar à média de 2% ao ano neste governo.


Em tal contexto é difícil evitar pensar que, caso o BC tivesse dedicado à questão uma fração da criatividade empregada na criação de desculpas, nosso desempenho poderia ter sido bem melhor do que a lastimável atuação dos últimos anos. Por outro lado, como ávido leitor de ficção e fantasia, anseio pela nova geração de desculpas a serem apresentadas mais à frente.

Desviei, mas não fui eu...

(Publicado 18/Jun/2014)

terça-feira, 10 de junho de 2014

Humores

Hoje “humor” é entendido como um estado de espírito, mas houve época em que era visto como algo físico, fluidos que controlavam, entre outras coisas, o próprio temperamento das pessoas (o fleumático, por exemplo, seria dominado pela “fleuma”, humor procedente do sistema respiratório). Doenças eram atribuídas a desequilíbrios entre humores; daí prescrições de tratamentos como sangrias e afins, supostamente para recuperar o equilíbrio perdido.

A falta de base científica, porém, da teoria dos humores ficou clara com o desenvolvimento da medicina, levando ao seu abandono, do qual se salvaram apenas expressões como “mau humor”, utilizadas, é claro, num contexto bastante distinto do original.

É irônico, portanto, que a mesma visão medieval ressurja expressa na noção que a prostração da economia brasileira – aparente no “pibículo” do primeiro trimestre, assim como o que nos espera ao longo deste ano – se deva ao mau humor dos empresários.

Obviamente a confiança empresarial anda baixa, e não apenas ela: medidas da confiança do consumidor também não são nada animadoras, mas, isto dito, é um erro acreditar que alterações de humor, de empresários ou consumidores, surjam do nada e, a partir daí, afetem o desempenho econômico. A relação entre causa e efeito parece ser precisamente a inversa: é o desempenho da economia que afeta o estado de espírito a que chamamos de “confiança” ou “humor”, ou qualquer nome que se queria dar à sensação que algo está muito errado no país.

Em particular, colhemos agora os frutos da política econômica adotada, de forma gradual, de 2009 para cá. Ao longo destes anos o compromisso com a meta fiscal foi substituído pela “contabilidade criativa”: o governo finge que cumpre a meta, à custa de uma perda sem precedentes da transparência (e credibilidade) das contas públicas e lamenta que os analistas não compartilhem de sua fantasia.

Da mesma forma, a meta de inflação foi abandonada. A política monetária passou a se guiar por outros objetivos: crescimento em alguns momentos, a taxa de câmbio em outros. De outra forma como explicar o comportamento de um Banco Central, que afirma prever a inflação acima da meta tanto este ano como no próximo e, no entanto, interrompe o processo de aperto monetário?

Não por acaso as expectativas de inflação se aproximam do limite superior da meta em 2014 e sugerem inflação superior a 6% no ano que vem, expressão mais nítida da desconfiança com relação à política econômica.

No campo microeconômico as frequentes (e desencontradas) intervenções do governo também minam a capacidade de planejamento. Como esquecer o fracasso da primeira rodada de concessões rodoviárias, em que o suposto “filé” entre as estradas federais (a BR-262) não atraiu sequer um candidato, ou mesmo o leilão do campo de Libra, em que apenas um consórcio foi formado?

Mais recentemente os controles de preços (resultado direto do descaso no front inflacionário) adicionaram novas complicações. Os que acreditaram, por exemplo, na retórica governamental e investiram em biocombustíveis agora amargam os prejuízos decorrentes da manutenção dos preços de combustíveis em patamares inconsistentes com níveis internacionais.

Empresas distribuidoras de energia também sofrem com estes controles e, se alguém ainda acredita que isto não terá qualquer impacto em seus planos de investimento, haverá de se decepcionar.

Instabilidade macroeconômica, mudanças de regras, controles de preços formam um caldo de cultura muito pouco propício ao crescimento econômico e não deveria ser surpreendente que a confiança dos agentes econômicos fosse abalada por estes desenvolvimentos.


À luz disto, atribuir o crescimento medíocre ao humor empresarial é uma piada de mau gosto, de quem tenta afastar de si a responsabilidade pela visão medieval que tem dominado nossa política econômica nos últimos anos.

Vamos drenar este mau-humor

(Publicado 11/Jun/2014)

terça-feira, 3 de junho de 2014

Pibículo

Ouvi (na verdade li) esta expressão de uma amiga e na hora me encantei. Não usamos tanto esta forma de diminutivo (preferimos o “inho”, para diversão dos vizinhos latino-americanos; às vezes o “ito”, ou ainda o “ico”), mas, assim como “corpúsculo”, “pedúnculo” e “homúnculo”, “pibículo” captura perfeitamente a dimensão diminuta, não só do ocorrido no primeiro trimestre, mas principalmente do que nos espera à frente.

De fato, a expansão de apenas 0,2% na comparação com o final de 2013 (já corrigida a sazonalidade) é reveladora da nossa fraqueza. Mesmo com a revisão para cima do aumento do PIB no ano passado (de 2,3% para 2,5%), pela incorporação de medidas mais atualizadas da produção industrial, o que se observa é a virtual estagnação do país nos últimos 9 meses, quando o crescimento médio ficou em 0,1% ao trimestre.

Em que pese a perda de fôlego do consumo das famílias no começo deste ano, o “pibículo” no período mais recente não pode ser atribuído apenas a este fenômeno, mas, principalmente, ao desempenho lastimável do investimento. Segundo os dados agora revisados, registramos a terceira queda consecutiva da formação de capital, que acumula redução de mais de 5% desde o segundo trimestre de 2013.

Trata-se de um problema crucial. Em parte porque, no curto prazo, o investimento é um dos elementos cruciais para a determinação do ritmo de expansão da demanda interna; as consequências mais sérias, porém, dizem respeito à nossa capacidade de crescimento de longo prazo.

Medido como proporção do PIB, o investimento, que já não era particularmente brilhante, vem caindo de forma consistente: havia atingido o pico de 19,5% do PIB ao final de 2010 e agora marca 18,1% do PIB nos últimos 4 trimestres. Esta redução implica menor capacidade de crescimento à frente, um impacto negativo da ordem de 0,5% ao ano.

Em contraste, o consumo do governo ultrapassou 22% do PIB no período, o nível mais elevado da série histórica iniciada em 1995, consolidando o Brasil como um dos poucos países em que esta grandeza supera o próprio investimento. Não por acaso, a poupança doméstica atingiu novos recordes de queda, levando a um novo milagre às avessas: apesar do baixo investimento, o déficit externo aumentou, alcançando seu maior valor desde 2001.

Por outro lado, a divulgação do PIB permite novas estimativas da expansão da produtividade do trabalho. Ignorando as flutuações cíclicas desta medida, chegamos a um número inferior a 1% ao ano (0,8% aa, caso queiram saber), também o mais baixo dos últimos 11 anos.

Isto dito, se o passado não nos traz motivo de orgulho, tampouco o faz o futuro imediato. À luz do resultado do primeiro trimestre, assim como indicações de fraqueza nos dados já disponíveis para o segundo trimestre, fica claro que mesmo uma expansão do PIB na casa de 1,5% para este ano, como, por exemplo, sugerido pela pesquisa Focus do BC, parece improvável, pois requereria uma aceleração notável na segunda metade do ano.

Tudo indica que nos encaminhamos para um número mais perto de 1% do que 1,5% em 2014. Se confirmado, o crescimento médio do PIB no governo Dilma ficaria em 1,8% ao ano, o pior desempenho desde a estabilização da economia.

Eis o resultado da “nova matriz econômica”, anunciada com fanfarra há alguns anos, e hoje pouco defendida, seja pelo governo, seja pelos nossos “keynesianos de quermesse”: crescimento medíocre, inflação em alta, desequilíbrio externo, queda do investimento e desarrumação geral da economia.


Pensando bem, meu encantamento pelo “pibículo” vai além do diminutivo pouco usual, ainda que preciso; rima com “ridículo”, esta sim uma expressão que define bem o desempenho do país nos últimos anos, assim como o modelo de política econômica adotada no período, além, é claro, de descrever exatamente o que penso dos formuladores e defensores desta política.

Viva a nova matriz macroeconômica

(Publicado 4/Jun/2014)