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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Esqueci o que escrevi

O médico examina o paciente: acima do peso, pouco exercício, ingestão diária de 5 mil kcal. A recomendação é óbvia: “ou o senhor reduz as calorias, ou aumenta a carga de exercício, ou uma combinação dos dois; sem estas providências, continuará a ganhar peso”. Ao que o paciente responde: “mas doutor, prometo não aumentar a ingestão para 6 mil kcal/dia; assim devo perder peso mesmo que não me exercite mais, certo?”.

Ainda não pensei na resposta do médico, que deve oscilar entre mandar o paciente embora ou discretamente pedir para que experimente uma camisa-de-força, “só para ver se cabe em outra pessoa com o mesmo tipo físico, sabe?”, mas, se alguém acha este diálogo irreal, bem, aí sugiro que leia as declarações do presidente do BC à Comissão Mista do Orçamento feitas na quarta-feira passada.

Naquele fórum, explicou o que queria dizer o parágrafo 21 da Ata do Copom, que mencionava a criação de “condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”, ou seja, que o governo passe a controlar seus gastos. Segundo ele “olhando para frente, entendemos que criam-se (sic) as condições para que não tenhamos um balanço do setor público menor que neste ano”.

Em outras palavras, a definição de “neutralidade” da política fiscal segundo o BC é equivalente à manutenção do balanço do setor público no mesmo nível de um período para outro, independente deste ser um déficit de 10% do PIB, ou um superávit de 10% do PIB. Desde que seja mantido no mesmo nível, ele seria neutro, e, portanto, não requereria – do ponto de vista da meta de inflação – qualquer ajuste compensatório da política monetária.

A esta altura, os 18 fiéis, mais do que acostumados ao uso intensivo da metáfora alimentar, já compreenderam o problema da definição de “neutralidade” fiscal do BC. Ela é rigorosamente equivalente a manter uma ingestão cavalar de calorias e esperar que o paciente, no caso o Brasil, perca peso sem se exercitar, isto é, consiga reduzir a inflação sem alterar a política monetária.

A verdade é que, exceto em casos de economias muito deprimidas, o gasto público disputa o produto com o gasto privado. Quanto maior é o primeiro, tanto menor deve ser o segundo, se o objetivo for manter a produção próxima ao nível máximo que a economia consegue sustentar sem gerar pressões inflacionárias (isto é, o “produto potencial”).

No caso, como é a taxa de juros que tem o papel de conter o dispêndio privado, déficits públicos elevados acabam gerando a necessidade de taxas de juros altas para conter a inflação e vice-versa. Obviamente se o déficit for crescente, a taxa de juros que mantém o produto ao redor do “potencial” também o será, mas a relação original se dá entre o nível do balanço fiscal e o nível da taxa de juros, não entre a variação do balanço público e o nível da taxa Selic.

Não é por outro motivo que os modelos desenvolvidos e empregados pelo BC para prever o comportamento da inflação usam como insumo o nível do superávit primário, medido como proporção do produto. Caso a definição mencionada pelo presidente do BC fosse a adequada, os modelos teriam que utilizar a variação do superávit primário para prever a inflação, o que, felizmente, não fazem.

Isto dito, o presidente da instituição é coautor do artigo que detalha a formulação original do modelo de projeção de inflação, ainda hoje (devidamente aperfeiçoado e atualizado) o principal instrumento empregado na definição da política monetária. Seria surpreendente, pois, se desconhecesse os temas acima discutidos, a menos que tivesse esquecido o que escreveu.


Neste sentido, a definição de “neutralidade” fiscal adotada parece um artifício para justificar a bem conhecida leniência do BC no que se refere à sua tarefa de entregar a inflação na meta. Ou um caso grave de amnésia intelectual.

Como é que era mesmo?


(Publicado 25/Set/2013)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Ah, “mardita”!

Esta semana, a presidente afirmou ser “importante que as empresas privadas cresçam junto com a produção de óleo e gás no país para evitar que o país sofra da chamada ‘maldição do petróleo’, quando uma nação é rica em recursos, mas o povo é pobre”. Ao ler isto quase me empolguei, pois seria sinal que, finalmente, algo importante mudaria no que diz respeito à exploração de petróleo, mas, ao ler a matéria, vi que os problemas continuam rigorosamente no mesmo lugar.

A “maldição de recursos naturais”, da qual o petróleo é um caso particular, tipicamente ocorre quando um recurso valioso em determinado país tem sua exploração controlada, em geral, pelo governo, de modo que a renda gerada por aquela atividade se torna objeto de disputa política. A exploração mineral (petróleo, “diamantes de sangue”, etc) costuma se prestar bem a este tipo de arranjo, pois as jazidas são geograficamente concentradas, facilitando ao poder público exercer seu monopólio.

Em contraste, a exploração de recursos agropecuários, por exemplo, não oferece caracteristicamente as mesmas oportunidades monopolistas, tratando-se de atividade dispersa, dificultando o controle governamental.

Em países com instituições políticas ruins (“extrativistas”, para usar o termo de Daron Acemoglu e James Robinson), o controle governamental abre espaço para que determinados grupos se aproximem do centro político com o objetivo de extrair as rendas associadas à exploração daquele recurso. Casos mais extremos podem, inclusive, redundar em conflito (armado até) de diferentes grupos pelo poder, precisamente pelo acesso que este oferece às fontes de renda.

Mesmo sem conflitos abertos, este arranjo acaba implicando baixo crescimento, pois será sempre mais interessante investir na proximidade com o setor público, em busca dos seus favores, do que na inovação e competição, as molas mestras da expansão capitalista. Isto está documentado cuidadosamente no livro “Why Nations Fail” dos autores acima, que recomendo a todos interessados no assunto.

Assim, ao ler que a presidente via as empresas privadas como uma forma de lidar com a “maldição”, sofri um lapso de empolgação. Quem sabe alguém no governo teria afinal compreendido que nosso modelo de exploração de petróleo, que coloca o governo no centro do processo, apresenta chances consideráveis de exacerbar as tentativas de extração de renda, minando ainda mais nosso parco crescimento?

Mas, não. O papel das empresas privadas a que a presidente se referia não é análogo ao adotado nos EUA (com imenso sucesso, diga-se) para a exploração do gás de xisto, responsável pelo aumento de 30% da produção americana nos últimos seis anos. A produção de petróleo seguirá devidamente monopolizada pelo setor público, concedida a quem se dispuser a se associar aos diferentes braços do governo.

Às empresas privadas nacionais caberá o papel de fornecimento dos equipamentos, com reserva de mercado. A pretexto, portanto, de evitar a “maldição do petróleo”, o que se oferece ao setor privado é a oportunidade de partilhar as rendas da exploração deste recurso através da redução da competição externa, permitindo preços mais elevados, precisamente o fenômeno descrito por Acemoglu e Robinson.

Não é por outro motivo que nosso desempenho nacional tem sido medíocre nos últimos anos, quando se esgotaram a abundante mão-de-obra e o efeito positivo do aumento dos preços internacionais de commodities. Uma vez vencida a etapa do crescimento “fácil”, pela incoporação dos desempregados, a expansão econômica agora exige que a produtividade tome as rédeas do processo.


No entanto, o governo ainda acredita na distribuição de favores – em oposição aos incentivos à produtividade – como estratégia para crescimento. Os bafejados pelos favores governamentais ficarão ricos, mas não será isto que nos tirará da pobreza.



(Publicado 18/Set/2013)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Oito personagens em busca de uma desculpa

Na última ata do Copom, de resto praticamente idêntica à sua versão anterior, os diretores do BC apresentaram uma escassa novidade. No lugar de sua crença anterior acerca do “balanço expansionista do setor público”, agora acreditam que “criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”.

Independente do portugûes particularíssimo que ilumina os documentos do BC, o significado desta expressão é simplemente “acreditamos que o governo vai controlar seus gastos nos próximos dois anos, o que terá implicações para nossas próximas decisões acerca da taxa de juros”.

Trata-se de afirmação curiosa. O superávit primário do governo como um todo, devidamente expurgado da criatividade contábil que assola o Tesouro Nacional, encolheu para menos de 1% do PIB no período de 12 meses encerrado em julho deste ano. É um valor ainda menor do que o registrado no fim de 2009, quando a economia ainda se recuperava da crise internacional.

Para fins de comparação, entre 2003 e 2008 esta mesma medida registrou um superávit médio equivalente a 3,2% do PIB, reduzindo-se à metade no período 2009-2012. Por qualquer ótica que se adote, a política fiscal nunca foi tão frouxa, pelo menos desde 1998, ainda antes da adoção do regime de metas para a inflação e do câmbio flutuante.

Sim, o orçamento federal enviado recentemente ao Congresso promete um superávit superior a 2% do PIB em 2014, mas o orçamento para 2013 igualmente assegurava um saldo bastante superior ao que deverá ser observado no final deste ano. É também impossível ignorar tanto as eleições do ano que vem, como a atitude desta mesma equipe econômica no último pleito. Em 2010, apesar dos sinais mais que claros de recuperação da economia (quando o PIB cresceu 7,5%), não houve o menor esforço para tirar o pé do acelerador fiscal, pelo contrário.

À luz do estado atual das finanças públicas, assim como do histórico deplorável da atual equipe no que tange ao desempenho fiscal em anos eleitorais, nenhum economista minimamente atento estaria disposto a comprar, a valor de face, a noção que “o balanço do setor público se deslocará para a zona de neutralidade”, ou, na língua de Camões, que o governo esteja disposto a fazer um ajuste digno deste nome no ano que vem.

No entanto, foi exatamente isto que o BC não apenas comprou, mas fez questão de deixar (literalmente) registrado em ata.

É bem verdade que o comportamento recente da inflação não qualifica os membros do Copom para a categoria dos “economistas minimamente atentos”, mas nem mesmo eles poderiam ter caído tão ingenuamente no conto da “austeridade fiscal no ano que vem”. Neste caso, por que teriam deixado de lado a postura (moderadamente) crítica com relação à política fiscal e expressado publicamente sua fé nas promessas governamentais?

A resposta pertence ao Copom, mas posso arriscar uma hipótese: porque o BC sabe que enfrenta limites políticos à elevação da Selic e terá que encerrar o processo de aperto monetário nos próximos meses, com a taxa de juros ainda abaixo de 10% ao ano.

As próprias projeções do BC sugerem que isto não será suficiente (a inflação permaneceria bem acima da meta até meados de 2015, pelo menos), mas neste caso o BC teria a desculpa de “ter sido traído” (a mesma que tentou emplacar, injustificadamente, nos últimos meses), com a vantagem de ter, desta vez, registrado por escrito sua crença inabalável nas juras do governo.


A valer esta conjectura, nada mais há na mudança de postura do BC que o reconhecimento de sua submissão ao governo, apenas levemente disfarçada pela aparente ingenuidade acerca dos compromissos fiscais. São oito personagens em busca de uma desculpa, evitando cuidadosamente cumprir as funções que a sociedade delegou ao Banco Central.

Uma desculpinha pelo amor de Deus


(Publicado 11/Set/2013)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Sem alívio

Volto hoje à questão do mercado de trabalho, em parte por obsessão pessoal, em parte porque acredito que o entendimento do que vem ocorrendo lá deve ser crucial para a compreensão do que nos espera nos próximos 12 a 18 meses. Como notei no mês passado, há sinais de algum enfraquecimento na geração de emprego, em que pese o desempenho de julho ter compensado a surpresa negativa registrada em junho.

Independente dos dados de alta frequência, porém, a ocupação nas 6 regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE cresceu 1,2% de janeiro a julho deste ano contra 1,9% no mesmo período do ano passado, muito embora o crescimento deste ano até junho, sem ser brilhante, tenha batido por larga margem o observado no mesmo período de 2012. A verdade é que, como destacado na minha coluna mais recente, o desempenho do emprego no ano passado é difícil de reconciliar com o “pibinho” então registrado.

A hipótese do “entesouramento do trabalho” postula que, em face de custos de ajuste da força de trabalho – incluindo crucialmente os riscos de não conseguir recontratar trabalhadores qualificados quando a retomada se materialize – as empresas tendem a reter mais mão de obra do que necessitam imediatamente. Na prática não reduzem seu quadro de trabalhadores, à espera da retomada, para evitar perder o investimento em treinamento e qualificação.

Se isto é verdade, o número de horas pagas por trabalhador tenderia a cair nos momentos de crescimento mais lento, revertendo o processo quando expansão se mostra algo mais vigorosa. Posto de outra forma, a evolução no tempo da variável (horas/trabalhador) deveria mostrar um padrão muito claro, oscilando ao redor de determinada média, sem uma tendência discernível.

De fato, aplicando o teste estatístico a esta variável, tomando os dados de horas pagas e emprego industrial do IBGE, concluímos que esta razão costuma flutuar, sem tendência, em torno de sua média. Afora isto, estimamos também a velocidade de reversão desta variável, medida pelo tempo necessário para cobrir metade da distância entre uma observação qualquer e a média histórica, correspondente a algo entre 2 e 3 meses, sugerindo que a convergência costuma ocorrer de forma razoavelmente rápida.

Estes achados reforçam minha convicção, já expressa na minha última coluna, que a hipótese de “estesouramento do trabalho” parece bastante consistente com o padrão observado no país nos últimos anos. Caso isto seja verdade, o crescimento algo mais forte do produto não deve se materializar em aumento comensurável do emprego, ao menos em seus estágios iniciais, já que as empresas devem inicialmente trazer as horas por trabalhador de volta à sua média histórica. Mais à frente, porém, com as horas ajustadas, o emprego voltaria a crescer mais forte.

Uma hipótese alternativa (mas não necessariamente excludente) postula que o crescimento mais forte do emprego no ano passado reflete uma mudança setorial: o setor de serviços tem crescido mais vigorosamente que a indústria de transformação e, como demanda mais mão de obra por unidade de produto, isto se traduziria numa expansão mais forte do emprego, embora o ritmo de crescimento do produto como um todo tenha perdido fôlego.

Neste caso, se o crescimento for rebalanceado para a indústria de transformação (por exemplo, por conta da taxa de câmbio mais depreciada), a expansão lenta do emprego face ao aumento algo mais forte do PIB tenderá a ser um fenômeno de maior persistência. Em outras palavras, haveria menor pressão sobre o mercado de trabalho por um período mais longo, mesmo com alguma recuperação da economia.

Para testar esta hipótese estimamos os requerimentos de mão de obra por unidade de produto (o inverso da produtividade do trabalho em cada setor). Como estes são fortemente afetados pelo ciclo econômico, aparentemente aumentando nos períodos de crescimento mais lento e caindo quando há aceleração, estimamos sua tendência, de modo a “limpar” os efeitos cíclicos.


De posse destes parâmetros simulamos como deveria ter evoluído a ocupação nas seis regiões metropolitanas cobertas pelo IBGE e a comparamos à ocupação observada. Caso a hipótese da mudança setorial seja uma boa aproximação aos dados, a simulação deveria mostrar uma evolução semelhante à observada.

Fonte: Autor, com dados do IBGE

Na prática, porém, não foi o que ocorreu, como ilustrado pelo gráfico. Os níveis de emprego observados no segundo trimestre deste ano, por exemplo, superam em 265 mil os requeridos pela mudança setorial. Em geral, a hipótese da mudança setorial não parece ser consistente com o desempenho do emprego.

Isto mantém o “entesouramento” do trabalho ainda como a hipótese mais promissora para entender o ocorrido. Suas implicações, como notado, são fortes: a relativa fraqueza do mercado de trabalho deve ser um fenômeno transitório, observado enquanto as horas por trabalhador revertem à média.

Dado que o crescimento em 2013 e 2014 deve ser melhor que o pífio resultado de 2012, embora ainda na casa dos 2-2,5%, o cenário mais provável sugere estabilidade do mercado de trabalho entre o final deste ano e o final de 2014. Em outras palavras, se alguém contava com a mudança setorial, agora no sentido de um desempenho relativamente mais forte da indústria, para moderar as pressões no mercado de trabalho e, consequentemente, a inflação, é melhor repensar o problema.

Entesourando


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Eis um homem de visão!


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fantasmas das decisões passadas

Na última sexta participei de um painel dos mais interessantes, em companhia de Monica de Bolle e Pérsio Arida. Um tema comum na conversa foi o pessimismo acerca do potencial de crescimento do país, que acabou originando perguntas relevantes da plateia, em particular de Jim O’Neil, o criador do termo BRICs para se referir às grandes economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China), questionando  o porquê da avaliação pessimista, dado que, há relativamente pouco tempo, nosso ritmo de expansão se encontrava na casa de 4% a 4,5% ao ano. O que teria mudado?

Minha resposta então, que agora compartilho com os 18 leitores, é a seguinte: a única alteração que ocorreu refere-se à percepção do que seria nossa verdadeira velocidade de expansão sustentável, ao invés da velocidade em si. Não parece claro, mas me explico.

É verdade que a expansão do PIB passou por aceleração visível entre 2004 e 2010, quando atingiu 4,2% ao ano, contra 2,5% ao ano na década anterior. Não é menos verdade, porém, que este crescimento foi acompanhado de queda persistente da taxa de desemprego nas 6 regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, que caiu de 12,3% para 6,7% da força de trabalho, isto é, 0,8% por ano.

Não há, é claro, problema algum em reduzir o desemprego dos níveis em que se encontrava em 2003 para valores como os observados em 2010, pelo contrário. A questão, na verdade, é saber se este tipo de desenvolvimento é sustentável, no sentido de poder ser mantido indefinidamente.

Não é o caso. Se a taxa de desemprego continuasse caindo em torno de 0,8% por ano, impulsionada por crescimento pouco superior a 4% ao ano, por volta de 2018 ela chegaria a zero, uma possibilidade matemática e uma impossibilidade econômica. Independente de sabermos com precisão qual é a taxa de desemprego consistente com a estabilidade da inflação (às vezes referida como “taxa natural de desemprego”, ou pela sigla em inglês, NAIRU), é óbvio que a taxa de desemprego não pode cair indefinidamente.

Neste aspecto, o ritmo de crescimento em torno de 4% ao ano que muitos (eu inclusive) tomaram como uma medida do potencial de expansão da economia brasileira, não era sustentável. Pôde ser mantido por um período razoavelmente longo porque, entre outras coisas, havia ainda disponível um contingente considerável de mão de obra ociosa, permitindo a expansão do produto. Nas condições de hoje, porém, com a taxa de desemprego em torno de 5,5%, isto não é mais possível.

Para manter o desemprego inalterado o crescimento do PIB passa a ser dado em parte pelo aumento da população em idade ativa, hoje da ordem de 1% ao ano, acrescido da expansão do produto por trabalhador.

Este último, tomado ao pé da letra, não oferece nenhum grande motivo de otimismo. Nos últimos 4 trimestres (até junho deste ano) o PIB cresceu 1,9%, enquanto a ocupação aumentou 1,8%, revelando virtual estagnação do produto por trabalhador.

Esta variável é, porém, bastante cíclica; melhor observar a evolução da sua tendência, que vem crescendo na casa de 1% ao ano. Fosse a produtividade um parâmetro escrito em pedra, a conclusão inescapável seria a incapacidade de o país crescer persistentemente mais do que 2% ao ano, 2,5% com boa vontade.

Por sorte, ela não é, muito embora não seja nada trivial elevar o ritmo da tendência de crescimento do produto por trabalhador. No médio prazo isto depende ainda de uma aceleração mais decisiva do investimento (em particular em infraestrutura) que, embora tenha aumentado nos últimos trimestres, ainda não conseguiu voltar ao pico de 2010.


Sem, porém, esforços para aumentar a poupança pública, e mantido o modelo das concessões de infraestrutura, não parece que teremos condições de atingir níveis de investimento que façam diferença para o crescimento da produtividade. Os fantasmas das decisões passadas continuam a nos assombrar.

Grilhões


(Publicado 4/Set/2013)