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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Just in case we need to vent

domingo, 29 de abril de 2012

Spreads

Já que a discussão está rolando, é melhor que eu avise. Cedo ou tarde (mais tarde do que cedo - já explico) haverá um post meu a respeito.

A demora vem em parte porque estou enrolado com muitas coisas. Isto não costuma ser um problema quando trato de um assunto que já estudei/pesquisei; no caso de um assunto novo, é.

Os números são muito piores do que esperava. Alhos e bugalhos estão misturados, mas não quero usar isso para dizer que não há conclusão; quero chegar a alguma conclusão, ainda que condicional aos problemas dos dados. E aí tarda, mas vai chegar.

Possíveis aperitivos: erros de medida nos spreads, seja pelo universo das operações cobertas, seja pela ponderação; o peso reduzido de hipotecas na comparação internacional. Há muita coisa a explorar, mas chego lá.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Zen e a arte de manipulação de dados


Ao longo dos anos (e não são poucos!) como economista fui aprendendo a reconhecer alguns truques retóricos. Um dos mais comuns consiste em apresentar grandezas sem escalas que permitam uma comparação efetiva dos valores envolvidos.

Pensando bem, talvez esta não tenha sido a minha frase mais feliz como articulista, mas o que quero dizer é bem mais simples.

Concretamente, quando alguém menciona um determinado valor (tipicamente “bilhões de reais”), sem dizer, contudo, como isto se compara à evolução de outras variáveis, como o produto, as receitas do governo, ou qualquer outra grandeza que possa ser relevante para o assunto em questão, não tenham dúvida: o argumento não está sendo feito de forma equilibrada (ia dizer “honesta”, porém poderia soar algo injusto), mas sim com o objetivo de reforçar um dos lados da história.

Exemplos abundam. “O Bolsa-Família custa ‘X’ bilhões por ano”, sem mencionar que, seja relativamente ao PIB, seja na comparação com as despesas do governo, trata-se grandeza irrisória. Ou “a dívida pública no Brasil atingiu ‘Y’ trilhões”, sugerindo um processo descontrolado, quando, na verdade, mesmo a dívida bruta tem se mantido entre estável e decrescente na comparação com o PIB, mostrando precisamente o inverso.

Nesta linha de argumentação li recentemente, a respeito da proposta de nova renegociação das dívidas estaduais, mesmo tema da minha última coluna (ah, estas obsessões!), que certos governos já tinham feito pagamentos equivalentes a uma vez e meia o valor original da dívida, mas, apesar disto, o montante a pagar ainda era cinco vezes maior que o inicial. É impossível ler uma afirmação como esta e não concluir que a dívida seria impagável nas atuais condições, necessitando de uma repactuação urgente.

Quase impossível, aliás, pois o treinamento a que me referi no primeiro parágrafo praticamente exige o exame dos números antes de concordar com a afirmação, dados estes disponíveis no sítio do Banco Central.

De fato, segundo tais números, a dívida dos estados junto à União por conta da renegociação ocorrida na segunda metade dos anos 90 atingira R$ 137 bilhões em dezembro de 2000, mas, a despeito de amortizações desde então, chegou a R$ 369 bilhões no final do ano passado, 2,7 vezes maior do que o valor registrado 11 anos antes.

Seria assim insustentável, exceto, é claro, por dois outros desenvolvimentos relacionados: o PIB, que em 2000 era R$ 1,2 trilhão, atingiu R$ 4,1 trilhões em 2011; em linha com isto, a arrecadação estadual, R$ 93 bilhões em 2000, chegou a nada menos do que R$ 365 bilhões no ano passado. Assim, se é verdade que a dívida cresceu 2,7 vezes, também é verdade que o PIB aumentou 3,5 vezes e a arrecadação nada menos do que 3,9 vezes no mesmo período.

Posto de outra forma, a dívida, que representava 11,6% do PIB em 2000 (equivalente a um ano e meio de arrecadação), caiu para 8,9% do PIB (equivalente a um ano de arrecadação) em 2011. Vista por esta ótica já não parece insustentável. Pelo contrário, as condições hoje vigentes são mais favoráveis do que as observadas no início da década passada, quando a dívida chegou a quase 13% do PIB (ou 1,6 ano de arrecadação).

Há duas morais nesta história.

Se a renda familiar cresce bem mais que sua dívida, não há como evitar a conclusão que capacidade de pagamento da família aumentou. O mesmo vale para qualquer governo, estadual, federal, ou municipal, assim como qualquer empresa. Neste sentido, pedir mais uma renegociação porque a dívida seria “impagável” equivale a nova rodada de subsídios, cujo custo recai sobre a população dos estados que não foram originalmente favorecidos, ou seja, os mais pobres.

A outra retorna ao tema do meu primeiro parágrafo. Sempre que forem mencionados números absolutos, desvinculados de qualquer referência, desconfie. Alguém está tentando, de forma nada sutil, obter benefícios às nossas custas.

A retórica e a mão leve...
(Publicado 25/Abr/2012)

domingo, 22 de abril de 2012

I am sorry 2 bother you but...

... Together wendy we'll live with the sadness
I'll love you with all the madness in my soul
Someday girl I don't know when we're gonna get to that place
Where we really want to go and we'll walk in the sun...



terça-feira, 17 de abril de 2012

JG

Pequena participação no Jornal da Globo de ontem.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Outro milhão de palavras

Outro gráfico "emprestado" do Drunkeynesian, especial para quem duvida do efeito da educação na divergência entre Coreia do Sul e Brasil

Não tem nada a ver com educação, viu?
Fonte

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Ctrl-C Ctrl-V


Todos conhecem a história do sapo na panela, aquele que não pula, mesmo quando a temperatura se torna insuportável, desde que a água vá esquentando bem devagarinho. Ao final do conto o anfíbio entorpecido morre escaldado, incapaz de perceber as mudanças que afetaram o ambiente ao seu redor.

É difícil não pensar a fábula do sapo como uma metáfora para a mudança do padrão de política econômica no país de uns anos para cá. O tripé macroeconômico – câmbio flutuante, metas para a inflação e superávits primários – se tornou praticamente irreconhecível. Só alguém muito desatento poderia crer que o regime cambial no Brasil é flutuante quando ministros de Estado afirmam “não administrar o câmbio” ao mesmo tempo em que prometem “tentar manter essa taxa aí [R$ 1,80/dólar]”.

Da mesma forma, nem a lendária Velhinha deTaubaté acreditaria que o BC – que, otimista, prevê a inflação quase um ponto acima da meta no próximo ano, mas mesmo assim estimula a economia – segue de fato um regime de metas para a inflação.

Já do lado fiscal as notícias não são melhores. Trabalho recente (PDF) dos economistas do Itaú revela, por exemplo, que o superávit primário “estrutural” do setor público (livre da contabilidade criativa, particularmente intensa nos últimos anos, assim como dos efeitos do ciclo econômico sobre despesas e receitas públicas) caiu persistentemente comparado aos níveis registrados entre 2003-05. Enquanto naquele período a diferença “estrutural” entre receitas e despesas não financeiras superou o equivalente a 4% do PIB, nos últimos quatro anos teria atingido cerca de 2% do PIB em média, uma expansão fiscal considerável.

Por onde quer que se olhe, é inevitável perceber que a água fica mais quente a cada dia, muito embora o sapo tenha permanecido, pelo menos até agora, confortavelmente chapado. A água, porém, vai se aquecer ainda mais caso se materializem as propostas ventiladas neste final de semana acerca da possibilidade da re-renegociação das dívidas dos estados.

Não é segredo que a reestruturação das dívidas estaduais na segunda metade dos anos 90 foi, em conjunto com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a pedra fundamental na mudança da sua postura fiscal. Os estados, é bom que se diga, foram pesadamente subsidiados quando a União assumiu suas dívidas (cujo custo era bastante superior ao pago pelo governo federal) e lhes emprestou a taxas muito favoráveis.

Em contrapartida, contudo, foram obrigados a ajustar suas contas, resultado não muito diferente daquele que ocorreria na Europa, caso os países da Zona do Euro enveredassem por este caminho. Não por acaso, os estados – deficitários até 1998 – têm contribuído regularmente para o superávit primário do setor público após a reestruturação.

Também não é segredo que, a despeito do imenso subsídio, governadores tentaram desde o início sabotar este acordo, sem, é claro, ameaçar as condições favoráveis para si, mas buscando solapar exclusivamente sua obrigação de pagar o que devem para a União. Sempre quiseram, a todo custo, se livrar da camisa-de-força fiscal que os obriga a gerar superávits primários.

Este sonho ancestral está prestes a virar realidade. O governo federal acena com alterações nas regras do jogo que, se postas em prática, não apenas permitirão que os estados reduzam seus saldos fiscais, mas também representarão a primeira modificação relevante na LRF, abrindo a porteira para novas mudanças. Não é preciso muito para concluir que isto levará à deterioração adicional das contas públicas.

Não se trata da primeira (nem segunda) vez que este problema aparece, nem é meu primeiro artigo a respeito. A novidade é que, desta vez, as chances de uma derrapada fiscal estão se tornando bem maiores. Já disse não nutrir ilusões sobre a capacidade de artigos de jornal mudarem o mundo, mas, por Tutatis, como gostaria de estar enganado.

- Já passamos por aqui?
(Publicado 11/Abr/2012)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mais que mil, vale um milhão de palavras

Hat tip: Drunkeynesian

Taxa de câmbio, né?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Assim avança a idiocracia

O fascismo dos idiotas altivos me surpreende novamente. Veja essa matéria do excelente blog do Paulo Roberto de Almeida, sobre o avanço da idiocracia fascista no Brasil. Qual o seu último passo? Exigir que bonecas negras sejam tão caras quanto bonecas brancas, sob o pretexto que a raça negra estaria sendo desvalorizada se as bonecas negras forem vendidas a um preço mais barato.

Despachos da clausura

Finalmente eu consegui driblar a segurança de minha morada provisória e um dos visitantes (muito obrigado!) me trouxe um I-Pad com conexão 3G, então posso voltar a blogar!

That seventies show! Vejam a apresentação de nossos senhores sobre a política econômica para aumentar o crescimento do PIB e salvar a manufatura brasileira. Não, esta apresentação não é uma paródia feita para ridicularizar as idéias protecionistas e dirigistas que dominaram nossa política econômica mais fortemente durante a ditadura militar nos anos setenta. O geiselismo está de volta e desavergonhado.



Que saudades do Ford Maverick!


Idiota ou cortesão?
Uma das figuras mais bizarras da burritzia brasileira é o Professor Luis Gonzaga Belluzzo, uma espécie de Bresser Pereira caipira, sub-marxista e ainda mais ignorante de economia que o Leonardo da Vinci da 9 de Julho (para quem não lembra, Belluzzo é aquele ex-presidente do Palmeiras de doce memória). Recentemente ele concedeu uma entrevista memorável ao Estadão. Sua entrevista mereceria um longo post discutindo as inúmeras bobagens que proferiu, mas gostaria de focar em uma:

“É que alguns economistas (de mercado) ficam com essa avaliação, pois dizem que o PIB potencial é de 4%, 4,5%. Mas isso é curioso, pois só eles e Jeová sabem quanto é o PIB potencial do Brasil.”

Pergunto-me: quem seriam esses economistas de mercado tão pessimistas que acreditam que o produto potencial seria 4%, 4,5%? Das duas uma, ou Belluzzo é tão out of touch com o pensamento do mercado que não sabe que somente os mais otimistas e ufanistas dos economistas profissionais acreditam que a taxa de crescimento do produto potencial pode ser tão alta quanto 4% sob políticas vigentes; ou Belluzzo estava tentando agradar aqueles no poder que acham que a meta de crescimento de 4,5% convergindo para 6% sem reformas estruturais é factível.

John Cochrane é um idiota arrematado. Ninguém pode negar que atiro para a direita e a esquerda. John Cochrane já havia queimado o filme de Chicago ao tentar defender a idéia que gastos do governo não podem estimular a economia porque o financiamento do gasto público desloca o gasto privado em 100%, uma idéia absolutamente ridícula em um mundo com livre movimentos de capitais – inclusive ouvi de um de seus colegas na Booth que ele era “embarassing”. Mas agora ele dá sua ‘mantegada’ no tópico de economia de saúde:

“Remember, adverse selection is about information the patient has, but the insurance company doesn't have. If they do all the data mining, then the company has great information -- maybe better than the patient, and adverse selection disappears!”

Well, well, well... se a seguradora tem melhor informação que os segurados, o mercado de seguros desaparece.

Amargo regresso

Sim, sou obsessivo, mas nem eu gosto tanto assim de revisitar temas sobre que escrevi repetidas vezes e apresentar argumentos já vistos à exaustão. Porém, como o tema da “desindustrialização” teima em voltar a cada fraquejada da produção manufatureira local, não tenho escapatória, mas regressar a ele e mostrar de novo que – embora exitosa (e como!) em sua tarefa de arrancar recursos dos crédulos – a tese não faz sentido.

Seus defensores voltam a apresentar dados sobre a redução da participação da indústria no PIB como prova irrefutável de que o Brasil está regredindo economicamente (pelas lágrimas deste pessoal imagino que em breve retornaremos às cavernas). Eu choraria pela indústria nacional, mas minha solidariedade com o resto da humanidade me impede.

De fato, considerando que, segundo a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), a participação da indústria no PIB mundial caiu de 27% para 16% entre 1970 e 2010, guardo meus pêsames para a desindustrialização planetária, sem dúvida provocada pela tendência inexorável da apreciação da taxa de câmbio global (não sei ainda se contra o tanpi marciano ou o druggat de Tatooine, mas pretendo descobrir).

Obviamente, para me manter alinhado com o lobby nacional, desconsidero que o enriquecimento e o consequente aumento da demanda por serviços possam ter qualquer papel relevante a desempenhar no processo de redução de peso da indústria no PIB. Pensando bem, quem quer escola e médico quando fica mais rico, se há sempre a possibilidade de comprar mais uma geladeira? Isto dito, é conveniente deixar de lado também a queda expressiva dos preços das manufaturas relativamente aos serviços, seja no Brasil, seja no mundo, pois isso não justificaria a busca de mais subsídios.

As dificuldades óbvias da tese se sustentar face à tendência global de perda de relevância da manufatura aumentam ainda mais quando se considera que o Brasil tem mantido sua participação na produção industrial global. Segundo os dados da UNIDO o Brasil representava cerca de 1,7% da produção manufatureira global em 2000, repetindo o valor em 2010.

Podemos checar esta informação usando outras fontes, a saber, as estimativas da produção industrial global produzidas pelo CPB, assim como as estimativas nacionais, frutos do galhardo esforço do IBGE. O gráfico mostra a razão entre a produção industrial brasileira e a global de janeiro de 1999 a janeiro de 2012, tomando, por conveniência, a média do período como base 100.

Como se vê, a produção nacional não aparenta ter perdido a relevância global. Houve, é claro, momentos em que o Brasil saltou à frente da produção, assim como períodos nos quais ficamos um tanto atrás. Ao longo dos últimos 12 anos (a partir da adoção do câmbio flutuante), todavia, a razão entre produção local e global parece oscilar ao redor da média, comportamento consistente com as estimativas da UNIDO.

Fonte: Autor (dados do IBGE e CPB)
É verdade que, a partir de meados de 2010 nossos dados sugerem perda de participação da indústria brasileira na produção global (que, de qualquer forma, apenas reverteu à média do período), mas, como argumentei em minha última coluna neste espaço, boa parte disso resultou da redução da demanda interna, fruto do aperto monetário que se materializou do segundo trimestre de 2010 ao terceiro de 2011. Com o afrouxamento das condições monetárias há plenas condições para a recuperação da produção industrial no futuro próximo, sugerindo que a reversão à média, mais que acidente, faz parte da operação normal da economia.

Obviamente, desmentir a tese da “desindustrialização”, por maior prazer pessoal que me traga, tem escasso efeito prático. O lobby já convenceu os crédulos e, na expressão imortal de Armínio Fraga, “o meu, o seu, o nosso dinheiro” já está sendo devidamente canalizado para os suspeitos de sempre, agora numa escala algo maior. Diz-se que “o que os olhos não veem, o coração não sente”, mas o que fazer quando os olhos veem?

* * *
Dois comentários a propósito do artigo de José Augusto de Castro na Folha de S. Paulo de 1º de abril: (a) repetir um argumento errado não o torna certo, apenas duas vezes errado; e (b) as exportações do Brasil para seus 5 maiores mercados latino-americanos atingiram US$ 30 bilhões em 2007, 6,74% das importações daqueles países (US$ 445,5 bilhões); em 2011 foram US$ 39,2 bilhões exportados contra importações de US$ 583,3 bilhões, participação de 6,73%. A perda de participação de 0,01% foi beeem real...

Dê mais uma graninha para os suspeitos de sempre
(Publicado 5/Abr/2012)