teste

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Nassif, de novo

Voltando a um tema de alguns meses atrás:

A firma Dinheiro Vivo, do patriota Luis Nassif, é dispensada de licitação e vende seus serviços à Petrobrás de julho de 2010 até fevereiro de 2011 por módicos... 880 mil reais! (contrato # 4600312034).

Não podemos deixar este assunto morrer.

Agora para terminar o ano bem, com um senso de dever cumprido, vale lembrar este clássico de Diogo Mainardi:

Nassif, o banana

“Luis Nassif foi demitido da Folha pela suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Falei sobre o episódio com o diretor da Folha. Ele confirmou. Com a carreira arruinada, Luis Nassif refugiou-se na internet, como Mengele em Bertioga”

Eu sou lobista de Daniel Dantas. É o que diz o blogueiro Luis Nassif. Como foi que eu ajudei Daniel Dantas? Acusando-o de ter financiado Lula. E também acusando Naji Nahas de ter financiado Lula. O fato de eu ter publicado uma série de documentos judiciais sobre Naji Nahas e a Telecom Italia me incrimina, segundo Luis Nassif. Entende-se: em meu lugar, ele teria picotado e obedientemente engolido esses documentos, que denunciam as ilegalidades cometidas pela empresa e pelo governo. Quem patrocina o site de Luis Nassif? A Telecom Italia. Quem impediu que ele falisse e perdesse até as cuecas? O BNDES.

Eu já ridicularizei Luis Nassif três anos atrás, demonstrando que ele reproduziu integralmente em sua coluna a nota de um lobista ligado a Luiz Gushiken. Ele foi demitido da Folha de S.Paulo pouco tempo depois, por causa de um fato ainda mais nauseabundo: a suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Em 2004, Luis Nassif convidou o secretário Saulo de Castro para um fórum de debates organizado por sua empresa, Dinheiro Vivo. O detalhe sórdido era o seguinte: para o secretário poder participar do evento, o governo paulista teria de desembolsar 50.000 reais. Saulo de Castro negou o pedido.

Em 2005, Luis Nassif voltou à carga, cobrando uma tarifa ligeiramente mais modesta, de 35.000 reais. A assessora de Saulo de Castro mandou um e-mail para o chefe com este comentário: “Não é à toa que a empresa se chama Dinheiro Vivo”. Saulo de Castro negou o pedido mais uma vez. Luis Nassif decidiu retaliar. Em sua coluna, passou a atacar sistematicamente o governo Alckmin, em particular o secretário Saulo de Castro. Quando o diretor da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, foi informado das suspeitas em torno de Luis Nassif, demitiu-o imediatamente. Nesta semana, falei sobre o episódio com Otavio Frias Filho. Ele confirmou.

Com a carreira no jornalismo arruinada, Luis Nassif refugiou-se na internet, onde seu passado era desconhecido, como o de Mengele em Bertioga. O bando de Luiz Gushiken arranjou-lhe uma sinecura no iG. Enquanto fazia um blog para meia dúzia de leitores, ele era obrigado a escapar de seus credores no BNDES, que queriam penhorar seus carros e apartamentos para tentar recuperar uma parte do rombo de 4 milhões de reais da Dinheiro Vivo. No fim de 2007, depois de um misterioso encontro com a diretoria do BNDES, ele conseguiu fechar um acordo judicial altamente lesivo para o banco, que lhe garantiu os seguintes mimos: o abatimento de 1 milhão de reais de sua dívida, o prazo de dez anos para saldá-la, a retirada de todas as garantias para o pagamento do empréstimo e a dispensa de uma multa de 300.000 reais. Algumas semanas depois, ele retribuiu a generosidade estatal usando o único método que conhece: uma campanha de mentiras descaradas contra mim e contra VEJA, tidos como inimigos do governo.

Luis Nassif é um banana. Ninguém dá bola para ele. Por isso mesmo, minha idéia era persegui-lo apenas judicialmente. De fato, estou processando o iG. Tenho uma tonelada de mensagens, documentos e testemunhas que desmoralizam toda a imundície publicada em seu blog. Mas suas calúnias ganharam outro peso depois que Daniel Dantas e Naji Nahas foram presos. Claramente, o pessoal que o emprega está preocupado com o rumo que esse inquérito pode tomar. Há um empenho para impedir que os dois sejam associados a Lula, como eu sempre fiz. Quando Daniel Dantas e Naji Nahas foram presos, eu comemorei. Luis Nassif deve ter pensado em todos os documentos que terá de picotar e engolir. E em todos os patrocinadores que poderá ganhar.

Silogismo

MANTEGA:QUEM DUVIDA SOBRE CUMPRIMENTO DE SUPERÁVIT NÃO ENTENDE NADA

São Paulo, 10 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, rebateu há pouco declarações de fontes ligadas ao governo federal de que o Brasil corre o risco de não cumprir a meta de superávit primário para este ano. De acordo com ele, quem fez a análise "se equivocou redondamente". "Porque o responsável por isso sou eu. E eu estou te falando que nós vamos cumprir a meta rigorosamente este ano. E nós próximos anos, enquanto eu estiver à frente do Ministério da Fazenda", disse o ministro, acrescentando que sempre cumpriu as metas fiscais.

"Só em 2009 pedimos autorização ao Congresso e diminuímos a meta por causa da crise, porque nós tínhamos que atuar e o mundo inteiro fez isso. E, neste ano, nós vamos cumprir a meta e cheia, ou seja, sem abater o PAC que poderíamos abater, que a lei nos permite, mas nós não vamos abater", disse o ministro. "Então, quem falou isso, não sabe, não entende de contas públicas, você pode me cobrar quando terminar o ano, se fizemos ou não fizemos. Eu aposto com você e com quem quiser uma garrafa de vinho, ou uma caixa, mas tem de ser um vinho bom. Eu vou usar no Réveillon", acrescentou.

(Francisco Carlos de Assis)

Brasília, 28 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recuou, admitindo pela primeira vez a possibilidade de não cumprimento da meta cheia de superávit primário das contas do setor público em 2010, de 3,1% do PIB. "Estamos trabalhando para o governo (Central) cumprir a meta cheia, mas há algumas dificuldades para Estados e municípios. A União vai cumprir os 2,25%, mas não sei se serão atingidos os 3,1%", afirmou há pouco na portaria do Ministério da Fazenda.

* * *

E meus agradecimentos especiais ao Alessandro Drago, que selecionou os trechos acima.

Silo... o quê?

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Vladimir Safatle: produto de um sistema educacional falido

Eu costumo ter uma paciência de Jó quando leio as obras de nossos “cientistas humanos,” pelo mesmo motivo que não fico impaciente quando meu cachorro se recusa a ler a bíblia. Mas paciência é finita, enquanto a capacidade de zurrar asneiras de algumas bestas que se passam por intelectuais pode ser infinita. Então vou dedicar algumas linhas para aquele que talvez seja o maior charlatão posador em atividade no Brasil.

Veja o que o metrequefe intelectual do Vladimir Safatle escreveu na Folha de hoje:

Virou lugar comum usar a Coréia do Sul como modelo de desenvolvimento educacional. (...) para alguns, seria ótimo imitar o modelo de um país que, no fundo, nem sequer conhece o que é pesquisa em ciências humanas e não tem sequer um pólo real de influência em várias áreas do saber. Pois tais pessoas não acreditam que “educação” seja o nome que damos para um processo de formação do pensamento crítico, de desenvolvimento da criatividade e da força de mudança, de consolidação da capacidade de se indignar moralmente, de refletir sobre a vida social e de compreender reflexivamente as múltiplas tradições que nos geraram. (...) Para elas, “educação” é só o nome que damos ao processo de formação de mão de obra para empregos precários e mal pagos. Mesmo do ponto de vista do desenvolvimento social, tal escolha é catastrófica.

Mein gott, Camarada Safatle.

Primeiro, a hipérbole final sobre a catástrofe é patética. O resultado de qualquer política educacional coreana – a qual você claramente desconhece – não foi catastrófico, como o próprio sucesso econômico e de desenvolvimento social da Coréia do Sul atesta. Na pior das hipóteses, o modelo educacional coreano não evitou que aquele país agrário, cheio de homens raquíticos e destruído pela guerra se tornasse rico, saudável e industrializado

Segundo, o papo furado de desenvolvimento da criatividade e força de mudança é isso, papo furado. A Coréia do Sul se reinventou de país agrário para país de economia avançada em duas gerações. Se criatividade e força de mudança fossem algo que eles não tinham (uma idéia despudoradamente ridícula), tudo que o sucesso coreano provaria é a desnecessidade daquilo que Safatle define como criatividade. Ainda mais se lembrarmos que somos do Brasil, um dos países de produção cultural mais pífia do mundo, onde até o texto de dar vergonha do Chico Buarque merece prêmios literários.

Terceiro, o mesmo vale para a pesquisa em ciências humanas. Se os coreanos não sabem de ciências humanas e ainda assim conseguiram se tornar mais ricos, mais educados, mais lidos, mais saudáveis, mais altos, mais longevos que os brasileiros, isto é uma condenação de nossa atenção a meu ver excessiva às ciências humanas, não do modelo coreano.

Mas o mais bizarro é que apesar de também lançar sua rabugice desinformada e estereotipada contra o status quo brasileiro, o Professor Safatle não explica quais são as bases do modelo coreano nem menciona o que seria seu modelo ideal. Meu cinismo me sugere que seu artigo não foi escrito para defender um modelo educacional para o Brasil, mas sim o status quo do quinhão do FFLCH na divisão de verbas da universidade.

Por exemplo: é possível saber que importância o professor quer dar para considerações de equidade na educação brasileira? E qual sua opinião sobre a regulação das escolas privadas? Bem, em um universo alternativo em que o professor Safatle é um intelectual honesto que tenta aprender sobre o que escreve antes de escrever, ele se sentiria obrigado a mencionar que o conceito de equidade é central ao sistema educacional coreano (em total oposição ao nosso sistema), e que o sistema educacional coreano por décadas praticamente aboliu por meio de regulação a possibilidade que a elite econômica pudesse se perpetuar por meio de acesso a escolas privadas diferenciadas.


O Professor Safatle (acima) gostaria de privilegiar uma educação que consolida a capacidade de se indignar moralmente – talvez para compensar o déficit de indignação moral daqueles que o batizaram?

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Faça a coisa certa

Na semana passada foi divulgada a taxa de desemprego relativa a novembro, 5,7%, a menor da série iniciada em 2002. Mesmo ajustando o dado à sazonalidade favorável do período, o desemprego teria caído para pouco mais de 6%, ainda o mínimo histórico. A despeito do crescimento mais lento da produção no terceiro trimestre deste ano, o mercado de trabalho continua a registrar ganhos, o que, dado o alto custo associado à demissão e contratação de trabalhadores no país, sinaliza um setor empresarial bastante otimista acerca da produção futura, disposto a incorrer em tais custos.

Não são apenas as empresas que parecem otimistas. Um dado notável é o aumento da proporção da população em idade ativa engajada no mercado de trabalho, que tem ficado sistematicamente acima da média histórica, impedindo, inclusive, queda ainda mais rápida do desemprego (que, sem este efeito, teria registrado 4,9% no mês passado, ou 5,6% sazonalmente ajustado).

No entanto, não é só o otimismo que leva estas pessoas ao mercado; também o crescimento dos salários conduz à elevação da quantidade ofertada de trabalho. Apesar da aceleração da inflação, o rendimento médio real estimado pelo IBGE aumentou quase 8,5% no ano até novembro, fato que deve ter desempenhado papel importante na ampliação da oferta.

Não há, contudo, indicação que o aumento da produtividade do trabalho no Brasil tenha sido próximo a este valor (considerando que o PIB deverá crescer pouco menos de 8% este ano, um aumento de produtividade de 8,5% requereria queda do emprego no país, fenômeno bem diferente do que acabamos de descrever). Vale dizer, este aumento deve obrigatoriamente ter se transformado em aumento do custo unitário do trabalho.

Obviamente, nos setores sujeitos à competição internacional, a capacidade de repasse desses custos fica limitada pelo desempenho da taxa de câmbio. Não por outro motivo, apesar da demanda forte, a inflação de bens duráveis atingiu meros 0,8% no ano (segundo o IPCA-15).

Por outro lado, onde a competição externa não alcança, o desempenho é muito distinto: a inflação de serviços, não por acaso, registra 7,6% nos últimos 12 meses, mostrando aceleração quase ininterrupta desde o começo do ano.

Não falta, é claro, quem veja neste fenômeno algo da “inflação estrutural” analisada pelo meu colega de coluna Mário Mesquita na quarta passada, contra a qual nada se poderia fazer, o que, segue o argumento, justificaria uma postura relaxada do Banco Central a respeito. Mas isto só seria verdade se: (a) o aumento de salário não estivesse refletindo o aperto do mercado de trabalho; e (b) o aumento do preços dos serviços não estivesse refletindo, por sua vez, a elevação dos preços do seu principal insumo (mão-de-obra). Nenhuma destas condições, porém, encontra amparo na evidência disponível.

A rigor, ademais, uma postura relaxada do Banco Central só tende a ampliar o problema. Em algum grau, as demandas salariais hoje refletem a inflação esperada, pois, durante o período em que os salários estão fixos, é a inflação futura que determinará seu poder de compra. Assim, caso o BC seja percebido como leniente com respeito à inflação, as demandas salariais (e a inflação de serviços) se aceleram imediatamente. A este respeito note-se que as expectativas de inflação têm se descolado bastante da meta, em contraste com o observado no período de 2005 para cá (exceção feita ao ano da crise e da forte desvalorização cambial).

Não cabe, portanto, ao BC cruzar os braços na crença que nada pode fazer para conter a inflação, nem passar ao setor privado a mensagem que a convergência só ocorrerá em prazos muito mais longos, o que justificaria maiores reajustes agora. O próprio BC sugere que ainda há tempo para fazer a inflação voltar à meta em 2011, mas isto não ocorrerá sem que se faça o que deve ser feito.

(Publicado 22/Dez/2010)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Two minutes in heaven are better than one minute in heaven



It is business time!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Vergonha

Minha primeira reação à defesa de tese do Mercadante foi, confesso, de escárnio. Pensei: “se restava ainda alguma dúvida que um doutorado em Economia [corrigi depois que fui alertado] pela Unicamp e nada fossem a mesma coisa, o senador a dirimiu e, com isso, finalmente fez alguma coisa servindo ao interesse público”.

Entretanto, a conclusão lógica é bem pior do que minha afirmação (não que ela deixe de ser verdadeira, longe disso). A rigor, se ele conseguiu o título de doutor em Economia “defendendo” uma tese que consiste numa inédita homenagem à sabujice, para que vale o título mesmo?

A mensagem (apropriada para que demonstra tamanha subserviência a um presidente que, sempre que pode, louva sua própria falta de educação) é simples e direta: todos vocês que ralaram para completar seus doutorados, passando noites em claro, conciliando (como vi de perto) a necessidade de trabalhar com a ambição de terminar uma tese, são uns otários.

Basta colocar no papel uns tantos elogios ao governante de plantão, juntar meia dúzia de compadres dispostos a participar da farsa, achar um departamento que se sujeite a este tipo de coisa e, parabéns, você é o mais novo doutor em Economia do Brasil, sem ter feito qualquer, minúscula, mísera migalha de contribuição para o desenvolvimento da ciência. De quebra, desmoralizou um título que muita gente boa teve que trabalhar duro para conquistar.

Talvez dê para descer um pouco mais, mas, sinceramente, vão ter que se esforçar.

O grande momento da defesa (e sem se pendurar no saco!)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Holland de Brito, a obra (parte 1)

A tarefa do dia é decifrar o que se passa na cabeça do Professor Márcio Holland de Brito, o novo secretário de política econômica de Mantega.

Como eu sei menos do que gostaria, fui ao IDEAS procurar por suas publicações e artigos. A publicação mais recente é esta:

Luiz Carlos Bresser-Pereira & Marcio Holland, 2009. "Common currency and economic integration in Mercosul," Journal of Post Keynesian Economics, M.E. Sharpe, Inc., vol. 32(2), pages 213-234, December.

... cujo abstrato diz o seguinte: “Latin America has a long history of attempts to achieve regional integration, yet success has been modest. This paper contends that this is essentially due not so much to protectionist practices in the various countries, but to the lack of a common currency or, at least, of a tightly managed exchange rate band. We reviewed the optimum currency area criteria that indicate it is prudent to increase economic integration before attempting to establish exchange rates coordination. It seems fair to say that diminishing exchange rate instability could encourage trade and investment flows across Latin American economies. We also performed a very simplified exercise to understand how feasible efforts would be between policymakers in two large economies (Brazil and Argentina) to achieve exchange rate parity stability and step toward adopting a common currency.”

Perguntem-se a si mesmos: se o Professor Bresser Pereira, o gênio renascentista da Nove de Julho, lhes convidassem a escrever um artigo sobre uma proposta de moeda comum para o Mercosul, vocês (a) aceitariam; (b) teriam um ataque de riso; (c) ou ouviriam pacientemente para depois esquecer do assunto?

Devido à sua afiliação profissional, o Professor Holland de Brito tem boas razões para não escolher a alternativa (b). Mas que ele tenha escolhido a alternativa (a) sobre a (c) diz quase tudo que nós precisamos saber para esboçar o perfil psicológico do sujeito e inferir sua capacidade de influenciar política econômica proativamente e independentemente.

O Mantega de fato escolheu-o a dedo.

Preciso colorir?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nunca antes na história deste país...

Como todos sabemos, por 500 anos o Brasil foi tratado como um país sem futuro pelos países ricos, nunca tendo sido governado por um homem do povo ou um civil nordestino.

Na revista Time de 6 de dezembro de 1954:

Na chamada da capa: The New President of the World's Biggest Republic

The Brazilian dream is made of more than dream stuff. Brazil is indeed a giant.

... In area (3,287,842 sq. mi.) it is the world's biggest republic, big as the U.S. with a second Texas thrown in.

... a new breed of Brazilian businessmen is changing the face of the land with a zeal unmatched in all of Latin America.

... in Brazil there was one big difference: the first stirring of new hope in a new leader, a man who symbolizes a break with a troubled past and a promise of a brighter today—President Joao Café Filho.

... Joao Fernandes de Campos Cafe Filho was the son of a low-rung civil servant in the state of Rio Grande de Norte's finance department. In those days an imaginary social-economic boundary divided the state capital of Natal (turn-of-the-century pop. 16,000) into two distinct dietary sections. On the lower ground, near the sea, lived the canguleiros, the poorer people who ate a cheap fish called the cangulo; on the higher ground lived the more prosperous xarias', who could afford to eat a more succulent fish called the xareu. The part-Indian Cafes were canguleiros.

...At 13, Joao finished up at the Porter school, went on to Natal's public high school. Recalls one of his old teachers: "He was a restless, unruly, rebellious boy with a strong dislike for study. I never dreamed he would amount to anything." Restless Joao never finished high school.

...Since war's end, Brazil's gross national product has increased at a rate of 6% a year, keeping well ahead of population growth (2.3% a year).

Jesse James, Bruce Springsteen

Não consigo mais parar de ouvir o CD do Bruce Springsteen ao vivo em Dublin.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Noel Rosa - Gago Apaixonado

Centenário do nascimento de Noel: não posso deixar passar em branco.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Para entender a “guerra cambial”

Como saber se um país está “manipulando” sua taxa de câmbio? Em tese, bastaria comparar a taxa observada àquela que deveria prevalecer em equilíbrio. Caso a taxa observada permaneça sistematicamente mais fraca do que o indicado pela taxa de equilíbrio, há bons motivos para acreditar que o país em questão está distorcendo o valor da sua moeda. O único (e nada trivial) problema consiste em determinar a taxa de câmbio de equilíbrio, mas a teoria econômica pode nos dar algumas pistas a respeito.

Em termos teóricos, esta taxa ideal é aquela congruente com o equilíbrio interno e externo de um dado país. Por equilíbrio doméstico vamos entender uma situação na qual o produto da economia esteja próximo ao seu potencial e, portanto, que a inflação também se encontre ao redor da meta.

Há, porém, várias combinações consistentes com esta situação. Se, por exemplo, a demanda interna estiver muito fraca, tal fraqueza poderia ser compensada por uma taxa de câmbio bastante desvalorizada, que produzisse uma demanda externa forte, mantendo a economia próxima ao seu potencial. Da mesma forma, uma taxa de câmbio mais forte, que levasse à redução das exportações (líquidas das importações), poderia ser compensada por uma demanda doméstica mais aquecida.

A manutenção do equilíbrio doméstico nos termos acima definidos implica, de maneira geral, uma relação direta entre a taxa de câmbio e o ritmo de expansão da demanda interna: a demanda forte requer uma taxa de câmbio forte para manter a economia operando sem pressões inflacionárias, enquanto a fraqueza da demanda doméstica precisa ser compensada com uma taxa de câmbio fraca para evitar a deflação. Se, porém, a demanda estiver forte com o câmbio fraco, a inflação ficará acima da meta, isto é, em desequilíbrio interno.

A definição do equilíbrio externo é um pouco mais complicada. Em princípio seria um nível do déficit externo considerado “sustentável”. A dificuldade aqui é a noção de “sustentável”, que pode (e deve) significar coisas diferentes em momentos (ou países) distintos. Para fins da presente discussão, aceitemos que o equilíbrio seja um saldo externo zerado, sem, como veremos, grande perda de generalidade.

Imagine, pois, um país em que a demanda interna cresça vigorosamente, requerendo um aumento das importações além das exportações. Para manter as contas externas equilibradas, a taxa de câmbio tem que se desvalorizar. Da mesma forma, se a demanda interna fraqueja, a taxa de câmbio pode se apreciar sem prejuízo à manutenção do saldo zerado. A relação neste caso é inversa à observada no anterior: para manter o equilíbrio externo uma economia forte precisa de câmbio fraco e vice-versa. Assim, se observarmos demanda fraca acompanhada de câmbio desvalorizado, o balanço de pagamentos mostrará superávit, revelando desequilíbrio externo.

 Na China observamos simultaneamente tensões inflacionárias e grandes superávits externos, duas características do câmbio demasiadamente depreciado. Caso permitisse que a taxa de câmbio se apreciasse, tanto a inflação quanto os saldos externos cairiam, trazendo a economia para o equilíbrio. Por outro lado, os EUA, que enfrentam riscos de deflação no contexto de déficits externos, apresentam uma taxa de câmbio excessivamente apreciada, requerendo um dólar mais fraco para retornar ao equilíbrio.

Entretanto, enquanto o dólar flutua (e se deprecia), o yuan é fixo com relação a esta moeda, de modo que sua correção só se dá (lentamente) pela aceleração da inflação interna, exigindo uma desvalorização ainda maior do dólar face às demais moedas. Se há, portanto, algo de artificial é a fixação da taxa de câmbio chinesa, atitude alegremente aceita pelas mesmas autoridades que acusam os EUA de fomentar uma “guerra cambial”, revelando incompreensão assustadora de um assunto tão relevante.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Hans Rosling's 200 Countries, 200 Years, 4 Minutes - The Joy of Stats - ...

Dica do Mankiw...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma proposta modesta

A proposta (a rigor um balão de ensaio, como de praxe) do ministro da Fazenda – definir um novo índice de preços, o IPCA sem alimentos e combustíveis, como meta para a política monetária – tem sido atacada como mais um casuísmo para, pretensamente, ganhar espaço para uma redução artificial da taxa de juros. Trata-se de uma injustiça inominável: a valer a experiência recente, caso tivesse sido adotada, esta nova definição do índice referencial para o regime de metas teria, pelo contrário, impedido a queda mais acentuada da taxa de juros no Brasil. Assim, me parece que, ao propor a nova medida, o ministro quis, na verdade, se mostrar ainda mais severo no combate à inflação do que o próprio Banco Central.

É bom que se diga que a ideia em si, se não presenciou o Dilúvio, certamente pisou na lama. Desde a adoção do regime de metas no país tem havido uma discussão profunda sobre os prós e contras da definição de um índice para a meta de inflação que fosse menos sujeito às variações acidentais de preços do que o IPCA “cheio”. Não por acaso, ainda nos primeiros anos de vigência do regime o Banco Central definiu três medidas distintas do “núcleo” de inflação (o núcleo por exclusão de alimentos e preços administrados, o núcleo por médias aparadas, e o núcleo por médias aparadas com suavização de preços administrados), precisamente para obter uma visão do processo inflacionário que refletisse de forma mais clara os desequilíbrios entre demanda e oferta agregadas.

Mais recentemente, às três medidas originais o Banco Central adicionou duas novas definições, aumentando seu arsenal analítico: o IPCA-EX (que exclui do cálculo alguns bens e serviços mais voláteis) e o IPCA-DP (que modifica os pesos do índice, reduzindo aqueles associados a produtos cujos preços que apresentem maior volatilidade).

Realçando, pois, obsessão nacional com a inflação, hoje temos nada menos que cinco medidas de núcleo, além dos oito índices normalmente divulgados (14 vezes) ao longo de um mês, já descontando os menos famosos, assim como algumas medidas locais. Não que nós, economistas que ganham a vida acompanhando minuciosamente cada divulgação, estejamos reclamando, mas eu não descartaria a possibilidade de haver certo exagero na coisa.

De volta, porém, à vaca fria, como teria se comportado um índice de preços que excluísse o preço de alimentos (no domicílio) e combustíveis nos últimos anos? O gráfico mostra o comportamento desta medida relativamente ao IPCA “cheio” de 2004 para cá, revelando que, à exceção de período de meados de 2007 ao segundo trimestre de 2009, o IPCA sem alimentos e combustíveis acumulado em 12 meses superou o índice “cheio”. De fato, este fenômeno ocorreu em cerca de 70% das observações naquele período.


Fonte: IBGE

Mais grave, porém, é que, ao contrário do índice “cheio”, que ficou pouco abaixo da meta nos últimos meses de 2009, justificando a política monetária praticada pelo BC, o IPCA ex-alimentos e combustíveis ficou persistentemente acima dela. Vale dizer, a redução da taxa de juros ocorrida em 2009 não teria acontecido caso a meta tivesse sido definida nos termos defendidos hoje pelo ministro. Se restava ainda alguma dúvida acerca de sua severidade inabalável no trato com a inflação, creio que esta proposta seja suficiente para dispersá-la.

Isto dito, é possível argumentar que, além dos preços dos alimentos em casa, deveríamos também deduzir os preços dos alimentos consumidos fora do domicílio, mas isto não alteraria muito as conclusões. Concretamente, ao invés de uma medida de inflação que supera o IPCA “cheio” em quase 70% das observações, teríamos uma medida que faz isto apenas 63% dos casos.

Ademais, a alimentação fora do domicílio apresenta uma dinâmica muito diferente da alimentação em casa. Não é incomum, por exemplo, observarmos valores muito baixos para a inflação de alimentos no domicílio (0,59% em 2005, -0,13% em 2006, e 0,88% em 2009) acompanhada de observações bastante distintas fora do domicílio (6,90%, 5,92% e 7,75% respectivamente), revelando que a alimentação fora do domicílio apresenta características mais próximas à inflação de serviços, incluindo o hábito condenável de se manter invariavelmente acima da meta.

Nem tudo está perdido, porém. Se o que precisamos é de uma medida de inflação que justifique juro baixo, não faltam candidatas. Minha favorita é parente (distante) do núcleo por médias aparadas. Enquanto este descarta as variações exageradas para cima e para baixo, o núcleo por altas aparadas excluirá tudo o que sobe num determinado mês. No caso bastante provável (se tal medida for adotada) em que todos os preços subam, o núcleo será necessariamente zero.

Com isto garantimos inflação e juros baixos e, de quebra, uma passagem só de ida para Buenos Aires. Não é bem mais vantajoso que o rigor antiinflacionário do ministro?


Aqui não vejo inflação alguma
 (Publicado 2/Dez/2010)